Sobre relacionamentos modernos e a disputa de quem se importa menos

Se por muito tempo permanecemos adormecidos pelo feitiço do amor romântico, a partir do momento em que nos damos conta de que tudo era uma farsa e de que o tal príncipe destinado a nos tirar daquele sono solitário jamais viria, o jogo vira bruscamente.
Ao declarar morte ao sentimentalismo meloso e às demonstrações exageradas de afeto, muitas das idealizações e juras de amor eterno deram lugar a uma suposta racionalidade caracterizada pelo desapego e pela disputa de quem se importa, demonstra e cobra menos dentro de um relacionamento.
Nessa de levar uma vida moderninha, ninguém quer assumir o papel antiquado de ser a pessoa que se interessa mais do que a outra na relação.

Desde situações mais simples, como ser a primeira a mandar mensagem no dia ou chamar para sair, a outras mais complexas, como se abrir ou exigir respostas em momentos mais tensos, há sempre uma barreira que nos impede de agir espontaneamente, levando-nos a um calculismo prévio para cada movimento e proporcionando um desgaste imenso.

Isso porque, basicamente, os relacionamentos modernos sustentam-se em jogos psicológicos tão subliminares que não servem para outra coisa senão encher nossas cabeças com futilidades.

Dentro dessa nova moda, por exemplo, a regra diz que, se ele levou duas horas para te responder no WhatsApp, isso quer dizer que você deve esperar mais duas para responder e não parecer a desesperada que olha o celular de minuto em minuto, certo? Errado.

O medo da entrega e de um lance mais sério tem nos levado ao ridículo da covardia amorosa. Se após a primeira ou segunda noite de sexo rola a menor demonstração de intimidade, a primeira resposta é correr.

Carinho na frente dos outros nem pensar. Falar sobre aquela música que te faz lembrar de vocês dois? Brega. A ideia de demonstrar seu gostar te enche de calafrios por saber que a recíproca não virá. Dizer um “te amo”, então, é declarar a própria morte em praça pública.
Afinal de contas, para que se arriscar tanto se expressando se já fazemos o suficiente através de interações nas redes sociais?

A verdade é que um like não é sinônimo de amor e que é preciso muito mais atitude do que demonstrar suas emoções através de um clique. Dessa forma, enquanto permanecermos compenetrados nesta fria competição de ver quem “está mais nem aí”, o melhor orgasmo da sua vida deixará de ser compartilhado, assim como seus melhores momentos juntos nunca serão recordados em voz alta.

Seguindo esse caminho fatal, provavelmente seus relacionamentos incipientes serão rompidos assim, do nada, com um deixando a vida do outro sem saber de sua importância e significado durante o tempo em que estiveram juntos.
Ah! E é claro que isso acontecerá através da internet, sem qualquer exigência de uma conversa cara a cara, já que você pode até sofrer e chorar as pitangas por aquele término, mas ninguém precisa saber.

Seja por uma síndrome de querer ser a diferentona que não se machuca ou seja por medo de perder a pessoa amada — já que a mãe Diná não está mais aqui para trazê-la de volta —, estamos nos enfiando cada vez mais em uma lógica de modernidade tóxica na qual a entrega é terminantemente proibida e se permitir sentir está fora de cogitação.

Ao desprender tanta energia desconstruindo filmes da Disney e se convencendo de que tudo não passa de mera ficção, fugimos cada vez mais de nossa própria realidade e da constatação de que sim, ainda gostamos de nos envolver, andar de mãos dadas, gostar, gozar e, se der vontade, se sentir livre e à vontade para dizer que quer repetir tudo mais uma vez.
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Autora: Bianka Vieira / Fonte: siteladom.com.br
*Fonte: fasdapsicanalise

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O que acontece quando um atleta independente ganha medalhas na Olimpíada?

Os Atletas Olímpicos Independentes são esportistas que não podem representar seus países na Olimpíada, geralmente por causa de sanções internacionais. Esse ano, o evento reúne nove pessoas, que competem na esgrima, no tiro e na natação. Mas vem cá… Se esses atletas não competem por país nenhum, o que acontece quando eles ganham medalhas? Que hino toca? Que bandeira é erguida? Eles pode homenagear seus países de algum jeito?

Essa foi a situação enfrentada por Fehaid Al-Deehani, um atirador de 49 anos, nascido do Kuwait. O cara ganhou a medalha de ouro na fossa double (ou tiro a dois pratos), na quarta (10), mas estava competindo como independente porque seu país foi banido dos eventos esportivos internacionais em outubro de 2015, pela Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI). O motivo: a delegação esportiva do país não tinha autonomia em relação ao governo, um requisito do COI.

Aí, para receber sua medalha, Al-Deehani subiu ao pódio sem o hino nacional e a bandeira do Kuwait – na verdade, não havia nenhuma marca do país a não ser ele próprio. No lugar, tocou o Hino Olímpico e o atleta ficou sob a bandeira dos Jogos. A conta das medalhas vai para os Atletas Olímpicos Independentes, e não para o país de origem do esportista. Isso é especialmente ruim para o Kuwait, que jamais ganhou medalhas de ouro – e tem apenas uma de bronze, ganha pelo próprio Al-Deehani, em 2012.

Al-Deehani foi o primeiro atleta independente da história a ganhar uma medalha de ouro – e o quarto a conquistar uma medalha. Tá certo que não faz tanto tempo assim que a “delegação” existe: ela foi criada nos Jogos de Barcelona, em 1992, para que esportistas da Iugoslávia pudessem participar. Isso porque o país tinha sido cortado da olimpíada pela ONU, por causa dos massacres na Guerra da Bósnia.

Além de ser o primeiro a criar a delegação dos “sem pátria”, o evento de 1992 também teve a maior desses atletas: foram 58 esportistas, que conseguiram as três medalhas que precederam a de Al-Deehani – Jasna Sekaric conquistou a prata na pistola de ar, Aranka Binder ganhou o bronze na carabina de ar e Stevan Pletikosic também descolou o bronze, na categoria de tiro deitado.

A delegação independente não é a única que reúne atletas sem pátria: em 2016, o COI criou também a delegação dos esportistas refugiados. Enquanto a primeira reúne pessoas de países que foram proibidos de participar do evento, a segunda é formada por quem, por motivos de guerra e conflitos, não pode voltar ao país de origem. É a primeira vez que o COI compõe um time de refugiados – no total, são 10 atletas, que vêm da Síria, do Sudão do Sul, da República Democrática do Congo e da Etiópia.

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*Fonte: superinteressante

REUTERS/Stoyan Nenov
REUTERS/Stoyan Nenov