É no copo meio cheio que encontramos força e sentido. Priorizar o lamento é torturar a si mesmo

Celular não carrega. Testo cinco tomadas diferentes. Viro de cabeça para baixo, bato na mesa, peço ajuda aos deuses que não estão ocupados com a guerra na Síria e os hospitais infantis. Resmungo. Tento mais cinco tomadas. Mas o infeliz está morto — assim como meu humor. A assistência técnica fica a 35 km, tenho que escrever o texto da semana, não possuo computador, preciso falar com minha mãe, quero olhar o Instagram e bater meu recorde no Candy Crush. Em ímpeto movido pela inabilidade de administrar imprevistos vou ao supermercado mais próximo — desses que oferecem queijo brie, cadeiras de praia e eletrodomésticos — e compro um aparelho novo. Despesa extra. Péssimo dia!

Foram longas horas destinadas a maldizer o celular pifado, mas nenhuma dedicada à satisfação de ter o problema solucionado. Foi testa franzida e dentes rangidos em protesto contra o gasto inesperado, mas zero sorriso em agradecimento pelo privilégio de poder imediatamente adquirir o novo objeto. Foi mais uma vez o espírito mimado, volúvel aos inevitáveis contratempos cotidianos, reagindo com furor às contrariedades e ignorando, solenemente, a parcela positiva da vida.

Era só um celular sem importância em um dia comum. Às vezes é o pneu do carro, outras o atraso do médico, a briga conjugal, a conta estourada e a dor na coluna. E como não torcer o nariz? É legítima a vontade de jogar o sapato na parede, de fechar os vidros do carro e gritar um palavrão, de abraçar o travesseiro em noites cinzas nas quais o peito só quer descansar em silêncio. Pretender exterminar dores e irritações é negar a própria condição humana, é render-se à descaradamente utópica ideia de que felicidade é questão de boa vontade. Há que ser equilibrista na corda bamba que alterna bem estar e dissabores. No entanto, eleger lamentos como muleta é atirar no próprio pé enquanto segue a travessia.

Sempre tive um pouco de resistência aos que acordam cantando e gargalham sem motivo. Olhava com desconfiança para aquela criatura que parecia brotar de um musical da Disney em plena segunda-feira de trânsito pesado e boletos atrasados. Apostava comigo mesma que mais cedo ou mais tarde os passarinhos verdes haveriam de ceder espaço ao Demônio da Tasmânia que mora em cada um de nós e a hashtag “gratidão” daria lugar a indiretas amargas no Facebook. Até que entendi que, com exceção de alguns poucos que forjam positividade para alimentar vaidades, há um número enorme de pessoas ensinando genuinamente as vantagens de enxergar o mundo com olhos mais otimistas.

É o velho e pertinente clichê que nos provoca a olhar o copo meio cheio e abrir mão do vício emocional de asfixiar bons momentos com doses cavalares de reclamações. Uma espécie de convite para percebermos na cama quente, na casa segura, no filho saudável e na comida farta algo maior que mera trivialidade. Não é fácil (e como eu sei) romper com os murmúrios que direcionam o holofote para a falta. Não é fácil reconciliar-se consigo na decisão de dar ênfase à fatia próspera da vida, na qual residem força e sentido para seguirmos adiante. Porém, é necessário jogar no ralo o veneno da lamúria e nutrir a alma reconhecendo as alegrias que nos dão sustentação. Em cada dádiva aparentemente banal está a possibilidade de suportar com semblante leve percalços incômodos.

Quatro dias após a compra do novo celular (já devidamente lançada na fatura do cartão de crédito), resolvi tentar carregar o antigo, por simples curiosidade. Funcionou. Xinguei baixinho… com um discreto e inusitado riso no canto da boca.

 

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*Fonte: revistabula /LarissaBittar

11 dicas científicas para manter a força de vontade

Resoluções são sempre desafiadoras: emagrecer, parar de beber ou fumar, economizar e aprender algo novo estão entre as mais comuns. Pelo menos um terço das pessoas que criam estas metas, no ano novo, por exemplo, desistem antes do fim de janeiro, como mostrou uma pesquisa da empresa FranklinCovey.

Para aumentar as chances de alcançar esses objetivos, a psicóloga Kelly McGonigal, autora do livro Os Desafios À Força De Vontade, tem algumas dicas. Durante anos, McGonigal ministrou um curso bastante popular na Universidade de Stanford dedicado à ideia de que a força de vontade não é um aspecto inalterável do ser humano, mas uma reação complexa da mente e do corpo, que pode ser comprometida por noites mal dormidas, estresse e alimentação inadequada.

Mas com um pouco de prática, essa característica também pode ser fortalecida. Publicadas pelo site Open Culture, as estratégias de McGonigal poderão ajudá-lo a manter a força de vontade necessária para completar suas metas:

1. A força de vontade funciona como um músculo. Quanto mais você o desenvolve, mais poderá usá-lo em sua rotina. McGonigal sugere começar com desafios menores antes de encarar as metas mais complicadas.

2. Selecione uma meta que deseja muito alcançar, não algo que conhecidos sugeriram ou que você acha que deveria querer. Pense em um objetivo que poderia contribuir positivamente para seu crescimento pessoal.

3. Inspire-se em alguém que alcançou aquilo que você tanto deseja fazer. Tente conviver com familiares e amigos que também apoiam sua vontade: mudanças nem sempre são alcançadas sem alguma companhia.

4. A força de vontade normalmente enfraquece ao longo do dia, conforme ficamos cansados. Portanto, algumas metas podem ser mais fáceis de completar no período da manhã, como fazer exercícios. E tome cuidado para não retomar hábitos ruins após o fim da tarde.

5. Estresse e força de vontade são incompatíveis e sempre que estivermos desequilibrados emocionalmente, encontrar determinação será uma tarefa mais árdua. O estresse costuma nos encorajar a apenas prestar atenção em metas de curto prazo; o autocontrole, por outro lado, mantém o foco mais amplo. “Aprender a controlar essa ansiedade é uma das coisas mais importantes para melhorar a força de vontade”, afirmou McGonigal. Quando se sentir estressado, até uma caminhada de cinco minutos pode ajudar a acalmar os ânimos.

6. Dormir menos de seis horas por noite faz com que o córtex pré-frontal perca o controle das regiões cerebrais responsáveis pelas suas vontades, como o desejo incontrolável de comer alguma coisa. A ciência mostra que dormir pelo menos uma hora a mais por noite ajuda a evitar que dependentes químicos tenham recaídas — o mesmo pode funcionar se seu objetivo for resistir a um cigarro ou a uma barra de chocolate.

7. A alimentação também tem um papel importante. “Uma dieta com mais vegetais e menos alimentos processados oferece mais energia ao cérebro e pode melhorar todos os aspectos necessários para manter a determinação com suas metas de ano novo”, observou McGonigal.

8. Não se convença de que “será diferente amanhã”. McGonigal explica que temos mania de pensar que acordaremos com mais motivação e energia no dia seguinte. “Quando acreditamos que faremos uma escolha diferente no próximo dia, quase sempre cedemos às tentações no momento atual.”

9. Entenda seus limites e prepare-se para quando eles surgirem. “As pessoas que consideram ter autocontrole são as primeiras a falhar em suas resoluções”, disse. “É preciso saber onde estão suas falhas, como e quando você costuma cair em tentação e passa a ignorar os objetivos.”

10. Seja específico, mas flexível: delimite bem a sua meta para entender o que será necessário para alcançá-la, mas deixe espaço para mudar o passo a passo caso precise.

11. Dê recompensas a si mesmo durante todo o processo. Pesquisas sugerem que, ao associar tarefas a um pequeno “prêmio”, o cérebro passa a encará-las como algo saudável e positivo. Mas se a ideia for parar de fumar, por exemplo, escolha qualquer coisa menos o cigarro como recompensa.

 

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*Fonte/Texto: revistagalileu

 

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