Dia: 14 de junho, 2017
Infeliz na F1, Alonso se redescobre com experiência na Indy, acha rumo na carreira e leveza na vida
No fim de 2014, Fernando Alonso vinha amargurando um período de poucos resultados em meio a uma crise de gestão da Ferrari. Todos eram culpados, e as críticas vinham de todos os lados. O ambiente era pesadíssimo, e isso se refletia nas atitudes e declarações do espanhol, que, claramente, não tinha mais paciência para os italianos. De personalidade tão competitiva, a frustração pela ausência de um carro vencedor ficava mais evidente a cada corrida. E uma mudança em Maranello acabou sendo inevitável. O asturiano ainda tinha um ano a mais de contrato, mas decidiu encerrar antes seu vínculo com os vermelhos. E, na época, só havia um lugar a ir: a McLaren, que se preparava para reeditar com a Honda a parceria de sucesso que vivera lá no fim dos anos 1980.
Alonso acreditou no projeto. Foi só elogios ao comando de Ron Dennis e, realmente, embarcou na propaganda feita pelos japoneses. Só que as promessas não vingaram. A Honda se bateu – e ainda se bate – para fazer um motor minimamente decente. E, uma vez mais, o bicampeão se viu longe das brigas por vitórias e títulos. E a fase atual é ainda pior do que a vivida pela Ferrari, porque não há muita esperança de mudança a curto prazo.
A McLaren sofre igualmente. E Alonso novamente tem de encarar os fantasmas do passado e as críticas sobre suas escolhas na carreira. Porém, assim como a Ferrari, a cúpula da esquadra britânica também não suportou tanta derrota e decidiu mudar o comando das ações. Dennis foi obrigado a entregar o cargo e o escolhido para assumir o posto veio dos EUA. Um apaixonado pela F1, mas principalmente pela McLaren, Zak Brown chegou no fim do ano passado com uma significativa diferença no modo de ver a competição.
Só que nem ele conseguiu mudar o maior problema da equipe: a falta de confiabilidade das unidades da Honda. Começou 2017, e o motor entregue pela fabricante surgiu ainda mais problemático. Os abandonos se tornaram uma constante. Até que surgiu a ideia de atravessar o Atlântico e tentar algo realmente novo.
É bem verdade que Alonso já havia mencionado a vontade de correr atrás da Tríplice Coroa do automobilismo, mas quem abriu a porta mais viável para o sonho foi Brown. Foi ainda quando ambos estavam na Austrália. As conversas evoluíram. Zak ligou para o amigo Mark Miles e um carro, uma equipe e um motor foram providenciados.
O Alonso iria mesmo disputar as 500 Milhas de Indianápolis, abrindo mão da corrida em Mônaco – o circuito onde a McLaren teria provavelmente a melhor chance de um bom resultado em 2017.
O anúncio-bomba aconteceu no início do mês de abril, logo depois da segunda etapa da temporada 2017 da F1. A partir dali, Alonso embarcou de corpo e alma na aventura de correr em Indianápolis. Deu o pontapé inicial com uma visita à Indy no Alabama. Depois, participou do programa de novatos no IMS com a Andretti. Esse teste já deu uma pista do que ainda estava por vir. Mais de dois milhões de espectadores acompanharam a primeira vez do espanhol em um oval. Foi tudo ali, ao vivo e sem cortes, sem censura. Até as primeiras conversas com os engenheiros, com Michael Andretti e o ‘coach’ Gil de Ferrari foram disponibilizadas.
Daí para frente, Alonso virou um fenômeno de mídia e se apaixonou pela Indy. E foi correspondido. Centralizou as atenções todas em Indianápolis. E se entregou. Participou pacientemente de todas as entrevistas, atendeu aos fãs, postou tudo que estava acontecendo nas redes. Sorria, enfim.
Fernando não ganhou a Indy 500. Mas fez bonito. Andou bem e provou o quanto é grande neste esporte chamado automobilismo. Um dos melhores de todos os tempos, sem dúvida. Mas, mais do que isso, foi contagiado pelo clima mais alegre e divertido da Indy e levou isso consigo quando deixou a ‘Capital Mundial do Automobilismo’. É uma pessoa melhor, como disse algumas vezes.
Duas semanas depois da aventura no IMS, o asturiano voltou à F1 e ao calvário habitual com a McLaren Honda. Foi também bombardeado de perguntas sobre a Indy e seu futuro. Reclamou da maneria como a principal categoria do esporte a motor entende seus protagonistas. E disse que vai esperar até setembro para decidir o que vai fazer em 2018.
Veio, então, um episódio que deixou ainda mais claro o quanto o mês de maio mudou sua cabeça. No sábado à noite, Alonso ligou para a TV americana, no meio da corrida do Texas, para dizer que a série de Indiana não está assim totalmente fora do seu radar. De fato, a F1 não tem mais o mesmo peso.
No domingo, o piloto não completou a corrida, uma vez mais. Só que, quando parou o MCL32 a duas voltas do fim, foi para a galera. Falou que tinha apenas vontade de jogar as luvas para o público, como uma forma de retribuir todo o carinho dos canadenses, mas foi além. Subiu as arquibancadas e desapareceu no meio do povo. Chegou rindo ao paddock.
“Eu esperava apenas dar a eles as luvas, mas a arquibancada estava longe demais, então achei não daria certo apenas jogar as luvas. Então, pensei em subir lá e aí jogar. Mas, uma vez que entrei, não conseguia mais sair. Nós sempre recebemos muito apoio toda vez que a F1 vem aqui, então era hora de dar algo em troca”, disse.
Alonso é uma pessoa diferente, sem dúvida. Aquele cara difícil da F1, de semblante sempre sério e sisudo, deu lugar a um ser sorridente e bem-humorado.
A Indy lhe fez muito bem. Não só por colocá-lo de volta em uma posição competitiva de novo, mas, principalmente, por mostrar que existe felicidade fora da F1.
Seja lá o que o futuro lhe reserva, Alonso se encontrou na carreira. O presente é um presente a Alonso: o piloto que há em si tem como ser feliz.
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*Fonte: grandepremio
Para sociólogo, política está privatizada e mercantilizada por empresas
Depois da absolvição da chapa Michel Temer-Dilma Rousseff, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o país parece estar em um beco sem saída. Agora, à espera da denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar contra Temer na próxima semana. Para o sociólogo Cândido Grzybowski, assessor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), a encruzilhada em que o país se encontra, mais do que uma crise conjuntural, é sintoma de uma estrutura contaminada. “Estamos num beco sem saída porque o sistema é corrupto. O modo de fazer política no Brasil é privatizado e mercantilizado pelas empresas.”
Para ele, o paralelo que se pode fazer entre a crise dos anos 1980 e o atual impasse mostra que o problema brasileiro é estrutural. Para a crise de hoje ser superada, será preciso instaurar um novo processo constituinte.
A reportagem é de Eduardo Maretti e publicada por Rede Brasil Atual – RBA, 12-06-2017.
“O primeiro movimento das ‘Diretas Já’ acabou na Constituinte de 1988. Naquele momento acabou no ‘Centrão’. Lembrando o ‘Centrão’ daquela Constituinte, a maioria do Temer é muito parecida. Isso mostra que a política não mudou. Houve avanços em direitos civis, políticos e sociais, mas nada na economia, em questões de propriedade ou tributárias. E com os governos do PT se adotou a conciliação como estratégia”, diz Grzybowski. O “Centrão” dos anos 1980 era formado pela ala conservadora do PMDB mais PFL, PDS, PTB e partidos menores. “Para usar a mesma imagem, o ‘Centrão’ de hoje está perdendo eficácia”, diz.
Na opinião do sociólogo, a encruzilhada a que chegou o país não é apenas para os setores progressistas. “Temer não tem condições mínimas de governar, mas só não caiu porque eles não têm solução no bolso. Quem eles podem colocar de imediato? Se tivessem, ele já teria caído. Mas o fato é que ele já não está mais servindo.”
Grzybowski acredita que a saída são as eleições diretas, mas dentro de um processo o mais democrático possível. Sem essa condição, nem uma saída via eleições pode ser favorável ao país. “Por exemplo, se o Lula se eleger e não se renovar o Congresso, é como não resolver nada. A eleição direta têm a vantagem de recuperar a legitimidade mínima. Mas ela só pode acontecer sem condicionalidades. Tem que ser levada às ultimas consequências. Se houver ‘Diretas Já’, precisa ser também para deputados e senadores junto. No mínimo, para criar legitimidade e se constituir uma aliança que talvez produza algumas alternativas.”
Se Temer será afastado, se alguma nova bomba está a caminho, se a denúncia de Janot vai redundar no fim do governo Temer ou não, ainda não se pode prever. “Mas precisávamos hoje de alguém um tanto neutro, como um Itamar Franco pós-Collor. Hoje não tem esse nome”, avalia o sociólogo. Seja quem for, essa personalidade “neutra” precisaria ser alguém “com compromisso de garantir que as eleições do ano que vem fossem democráticas, as mais diretas possíveis, sem interferência empresarial e como um pacto para se pensar numa Constituição nova, porque a atual Constituição foi desfigurada”.
Para Grzybowski, não está claro o que pretendem os grupos por trás dos atuais governantes e seus aliados. “Há personagens pequenos como Temer, Romero Jucá, figuras que não tem por que valorizá-las. E não é a movimentação de Fernando Henrique, Nelson Jobim e outros que interessa. Mas a dos grandes grupos, Bradesco, Itaú, a própria JBS. Em que jogada estão apostando? O ciclo da democratização revela a mesma coisa. Os personagens são diferentes, mas Sarney, que era vice, vinha do regime militar e virou presidente; o Temer, um vice, deu o golpe. São dois vices. O ‘Centrão’ hoje se chama base.”
Capitalismo selvagem
Na opinião do analista, o país tem hoje implantadas “as bases de um projeto do tipo capitalismo selvagem como no tempo militar”. A principal missão do governo Temer já foi feita: “a reforma constitucional da maldade”, que congelou os gastos com educação e saúde, além de inúmeras outras limitações. A Emenda 95 tirou o sentido do que tinha de melhor na Constituição de 1988, os direitos sociais, avalia.
“Se eles completarem as duas outras mudanças (trabalhista e previdenciária) precisará de muito tempo para mudar isso. Já impuseram uma agenda de longo prazo ao país. Para desfazer isso, só com um movimento de ‘Diretas Já’, capaz de gerar um impasse diferente: uma constituinte soberana que coloque o país nos trilhos.”
Na opinião de Grzybowski, a situação já esteve melhor para os atuais donos do poder. “Já há sinais como a greve (geral, de 28 de maio). As manifestações já são um sinal. E a mídia também não é mais um bloco só. Há evidências demais (contra Temer). Nada como um dia depois do outro. As contradições sempre contêm as soluções nelas mesmas. Podem levar a um impasse ou a uma crise ainda maior, mas não vejo como não ser a crise o berço da solução”, diz. “Nunca se deve dizer que a barbárie está fora do horizonte. Um pai da pátria pode aparecer como salvador. Estão fazendo muito para que seja assim. Mas isso não significa que vão sair ganhando.”
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*Fonte: Instituto Humanitas Unisinos