Você pensa por si mesmo ou como a mídia quer que você pense?

Várias obras da literatura e do cinema destacam o papel da mídia como um instrumento importante no controle social. Sabendo que somos seres significantes, isto é, que constroem a consciência a partir da atribuição de juízos de valor e signos em relação às coisas, é notório que os meios de comunicação possuam enorme importância na formação desses signos. Sendo assim, de que modo se constrói a liberdade do pensar humano em um mundo cada vez mais dominado pela força da mídia?

Essa problemática aparece, por exemplo, no filme (baseado em uma HQ) “V de Vingança”, em que V (Hugo Weaving) diz em dado momento a seguinte frase: “Pensa por você mesmo ou como eles querem que você pense?”. Na sociedade do filme, a mídia é totalmente subserviente às vontades da ordem estabelecida. Na nossa, parece-me, que as coisas não são tão diferentes. Somos bombardeados diariamente com toneladas de informações que repetem à exaustão a mesma coisa, a saber, as vontades da ordem dominante e, consequentemente, do capitalismo consumista.

Dessa maneira, a consciência do indivíduo é formada através de informações ideologizadas em um único sentido, de modo tiranizado, lembrando Milton Santos, embora estejam fantasiadas de uma pseudodemocracia libertária. Obviamente, nenhuma ideia é desprovida de ideologia, todo pensamento existe a partir de um determinado viés ideológico. No entanto, o grande problema se estrutura na medida em que o sujeito recebe apenas um tipo de “informação”, dada como se fosse a única forma de pensar e agir, sem a existência de outras possibilidades. Ou seja, a cosmovisão ou consciência do sujeito é limitada aos valores sígnicos que recebe, valores estes unilaterais e impostos por pessoas que se beneficiam da homogeneização social.

Com a criação de uma espécie de consciência que funciona em uníssono, há uma padronização, em que todos devem agir, se comportar, falar e, sobretudo, comprar igualmente. Como disse, nenhuma ideia será desprovida de ideologia, mas, novamente, o problema está em apresentar uma única saída, como se todos fossem iguais, como se a liberdade do indivíduo não possuísse valor e, portanto, devesse ser extirpada, colocando em seu lugar grilhões que fazem com que todos caminhem sempre na mesma direção, afinal, para os donos do poder, como aparece em “Robocop (2014)”: “As pessoas não sabem o que querem até dizermos o que querem”.

Nesse prisma, o indivíduo deixa de pensar por si mesmo ou de, pelo menos, fazer uma escolha baseada em sua capacidade reflexiva, para ser somente um servo do sistema, que age como tirano ao mesmo tempo em que faz com que o sujeito acredite ter o controle pleno de todas as suas ações.

“Quando a máquina luta, sinais são enviados ao cérebro do Alex e ele pensa que está no controle, mas não está. É uma ilusão.” (Robocop, 2014)

Diante disso, a liberdade no contexto contemporâneo se tornou um elemento extremamente frágil, uma vez que o desenvolvimento tecnológico possibilitou a exponencialização da capacidade de interferência ingerente em todos os setores da vida de uma pessoa e como todos estão submetidos, mais ou menos, à vida em sociedade, todos de algum modo acabam sendo permissivos e/ou omissos em relação ao domínio da “máquina”.

Assim, a grande questão em relação a toda essa discussão, a meu ver, é perceber de um lado o exercício do poder por meio da linguagem, porque informação/mídia/publicidade também é linguagem, e, por outro lado, a diminuição da capacidade reflexiva do homem, que ao estar submetido a um estilo de vida que ele próprio consentiu, tornou-se mais automatizado e cansado, de modo a digerir e executar com enorme facilidade tudo que consome, como se os olhos ao ver, não enxergassem; cegueira típica de quem se acostumou tanto a desligar o cérebro, que já não lembra como fazê-lo voltar a funcionar.

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*Fonte: genialmentelouco / Erick Morais

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