Já não se fazem mais móveis, nem amores, como antigamente…

Um dos pressupostos que mais ouvimos falar é o de que o dinheiro é capaz de colocar ao nosso redor os estímulos necessários para que sejamos felizes, principalmente objetos.

Esse texto eu vi na FastCo.Exist, uma divisão da revista FastCompany, uma revista digital focada em inovação, tecnologia, ética econômica, liderança e design.

Na casa dos meus pais existe um aparador e um espelho que fazem parte da nossa história. Minha mãe tirou uma foto de frente para ele no dia em que se casou e eu também fiz parceria com ele quando, aos treze anos, dancei pela primeira vez uma valsa na festa de uma amiga debutante.

Os móveis duravam muito mais antes. Suportavam as mudanças, muitas vezes feitas em caçambas de caminhões, sacolejando até seu novo destino, amarrados, quando muito, por algumas cordas.
A madeira era de lei. O tecido que cobria as cadeiras e os sofás eram de ótima qualidade, chegavam a suportar duas gerações de crianças saltitantes sem rasgarem-se.

Tecidos de sofá lembram-me uma das histórias mais bonitas que já ouvi dentro do consultório quando uma – então paciente – hoje colega contou que, a cada relacionamento que terminava, ela mandava trocar o tecido do sofá. Foram três “casamentos” e muitas mudanças de endereço e com elas, ia junto o indestrutível sofá que, envolto em um novo tecido, simbolizava um recomeço. Iam-se os tecidos, mas o sofá ficava. Ela foi dessas mulheres que recebeu nome de rainha, que a natureza fez nascer bonita, que buscou incessantemente um amor tão forte quanto o sofá até descobrir o amor próprio, que hoje caminha com ela junto da beleza que também não a abandonou.

Ah, já não se fazem mais móveis, nem tampouco amores como os de antigamente, que duravam uma ou duas vidas, que suportavam as várias trocas de tecido, as várias camadas de verniz e a quantidade de viagens que fossem necessárias nos carretos informais.

Hoje, nem os móveis, nem os casamentos resistem ao fim do contrato de aluguel.

Antes que as caixas de presentes sejam todas abertas e colocadas para o uso, a relação despedaçou-se feito aquele emaranhado de resto de madeira que chamam de compensado quando enfrenta a primeira “tempestade”. Os casamentos terminam antes que se quebrem todos os copos do armário, antes que os lençóis da cama precisem ser trocados, antes que a madeira da mesa sofra o primeiro arranhão.

Não há mais como apegar-nos aos móveis como fazíamos na casa das nossas avós. As minhas mantiveram por muitos anos o mesmo jogo de jantar e os mesmos quadros na parede. Tínhamos uma identidade, e assim como os móveis da família, tínhamos uma história.

Hoje em dia vejo pessoas de vinte e poucos anos que já carregam na ficha dois casamentos, e uns dez relacionamentos abandonados. Deletam fotos e vivem como se cada um deles fosse um rascunho que se apaga e se joga fora diante da primeira adversidade.

Relacionamentos e móveis tornaram-se descartáveis hoje em dia e as fotos na parede sequer existem mais.
A geração nascida nos anos oitenta já trocou de aparelho celular muitas vezes e sequer conhece o que é ter o mesmo aparelho telefônico fixo, preso à parede por um fio que durava dez, vinte, trinta anos.

E por isso, tornaram-se imediatistas e consumistas. Não sabem o que é ter um sapato comprado há mais de dez anos e jamais viveram como eu, a particular experiência de usar na minha festa de quinze anos uma peça de roupa que minha mãe usou em sua formatura e que foi bordada pela minha tia avó.

As relações se sustentam tais quais aqueles móveis que sob o juramento do montador que diz profeticamente: este móvel não suporta uma mudança, se for desmontado não “para em pé” de novo. Tudo culpa do compensado de retalhos de madeira.

As estantes não suportam mais o peso dos livros, os jogos de jantar não são mais feitos para serem usados, os sofás desmoronam antes que se possa trocar o tecido e os aparadores com os espelhos perderam espaço. Não precisam mais durar em um mundo onde relações duram menos do que eles.

Vivemos em um mundo de descartáveis, nos quais raramente encontramos pessoas – como aquela dona do sofá que tem nome de rainha – dispostas a reciclar e reciclarem-se na busca de construir uma história na qual haja perseverança, fé, apego e força. Pessoas capazes de carregar suas lembranças mesmo nos dias difíceis da mudança, capazes de dar chances e tempo a si e ao outro para escrever um livro da vida e não um rascunho que se descarta diante da primeira nova opção.

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*Fonte: resilienciamag

A escolha mais importante da sua vida, de acordo com um neurocientista

De acordo com o neurocientista Moran Cerf, da Universidade Northwestern (EUA), a maneira mais fácil de maximizar a sua felicidade não tem nada a ver com experiências, bens materiais ou filosofia pessoal. Cerf estuda o processo de tomada de decisões há mais de uma década.

De acordo com o pesquisador, a chave para fazer boas escolhas, e consequentemente ser feliz, é eleger com sabedoria com quem você passa mais tempo.

 

Por quê

Existem duas premissas que levam Cerf a acreditar que esse é o fator mais importante para a satisfação a longo prazo.

A primeira é que a tomada de decisões é muito cansativa. Diversas pesquisas descobriram, por exemplo, que os seres humanos têm uma quantidade limitada de energia mental para dedicar ao ato de fazer escolhas.

Todos os dias precisamos fazer diversas deliberações: que roupa vestir, onde comer, o que comer quando chegamos lá, que música ouvir, entre milhões de outras coisas simples ou complexas que precisamos ponderar. Sim, é exaustivo.

A segunda premissa é que os humanos acreditam falsamente que estão no controle de sua felicidade ao fazer essas escolhas. Em outras palavras, nós pensamos que, se fizermos as escolhas corretas, ficaremos bem.

Não é bem assim

Cerf não crê nisso. A verdade é que a tomada de decisões é repleta de preconceitos que atrapalham nosso julgamento.

As pessoas confundem experiências ruins como boas, e vice-versa. Elas também deixam suas emoções transformarem uma escolha racional em uma irracional. Por fim, usam pistas sociais, mesmo inconscientemente, para fazer escolhas que de outra forma evitariam.

Como escapar de todos esses obstáculos, e fazer boas escolhas inconscientemente?

Diga-me com quem andas, e te direi quem és

A pesquisa de Cerf revelou que, quando duas pessoas estão na companhia um do outro, suas ondas cerebrais começam a parecer quase idênticas.

Um estudo em particular, com espectadores de cinema, mostrou que os trailers mais envolventes produziram padrões semelhantes no cérebro das pessoas.

Ou seja, apenas estar ao lado de certas pessoas, realizando alguma atividade juntos, já pode alinhar seu cérebro com os delas.

“Isso significa que as pessoas com quem você anda realmente têm um impacto no seu envolvimento com o cotidiano além do que você pode explicar”, afirma Cerf.

Não pense no que fazer, mas com quem fazer

Você pode reparar neste efeito por conta própria: quando um mal-humorado chega em um ambiente, o humor de todas as pessoas em volta piora; quando alguém que fala rápido entra em uma conversa, o ritmo da conversa aumenta; um comediante consegue fazer com que as pessoas ao seu redor se sintam mais leves ou engraçados e etc.

A partir dessas premissas, a conclusão de Cerf é que, se as pessoas querem maximizar sua felicidade e minimizar o estresse, elas devem fazer menos decisões ao se cercarem de pessoas que possuem as características que elas preferem.

Ao longo do tempo, naturalmente, elas passarão a ter atitudes e comportamentos parecidos com os de suas companhias, que são os desejáveis. Ao mesmo tempo, podem evitar decisões triviais que prejudicam a energia necessária para escolhas mais importantes.

Em outras palavras, se você deseja se exercitar mais, aprender um instrumento musical ou tornar-se mais sociável, encontre pessoas que fazem o que você quer fazer e comece a andar com elas. [ScienceAlert ]

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*Fonte: hypescience