Dia: 7 de maio, 2018
Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor
Às vezes a gente sonha, imagina um futuro, cria expectativas e, contrariamente ao que queríamos, a tudo que planejávamos, a vida nos leva por outros caminhos. Tempestades fortes, com rajadas de vento geladas, destroem tudo que construímos com enorme esforço. Como se não bastasse, o céu se abre, não para nos iluminar, mas para derrubar torrentes de água que parecem cair somente em nós, como se o universo buscasse de algum modo nos sufocar, transformando-nos em grandes silêncios contínuos de tristeza e desilusão.
A vida em sua extrema exuberância não nos permite compreendê-la e, assim, inevitavelmente sentiremos o peito esmagado pela angústia de não saber para que lugar estamos indo ou pior, não saber perfeitamente o que é o mundo em que vivemos. Com os fracassos que vamos adquirindo, a angústia muitas vezes se converte em tristeza e desesperança, de tal maneira que nosso coração fica tão seco e duro, que perdemos a capacidade de sentir e sonhar.
Desse modo, o viver se torna mecânico, o olhar cinza, os pés completamente presos ao chão. O sujeito sem alma e, por conseguinte, desanimado, perde a vontade de continuar a caminhar, com medo das novas tempestades que sabe que encontrará. Medo de tentar, de cair, de fracassar. Todavia, há outra maneira de viver, senão flertar com o fracasso? Há outro modo de viver, senão enfrentar “Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo infantil de ter pequenas coragens”?
Não há como viver sem estar disposto a enfrentar o mundo e inevitavelmente fracassar. Não há como sentir prazer, sem antes tropeçar na dor, não há como saber o que é alegria, sem conhecer a tristeza. A vida se equilibra em contrastes, o que de um lado traz medo e confusão, e de outro, cor, brilho, felicidades, pois são os contrastes que fazem emergir o novo, o inconcebível, o permanente.
Assim sendo, os fracassos são, antes de qualquer coisa, contrastes entre a doçura e o amargor, o conhecimento e a ignorância, a imensidão da dor e as lacunas de felicidades, a infinitude da vida e a finitude do homem, a secura de uma alma e a alegria da descoberta. Ser parado pelos fracassos é desistir de ser homem, de ser poeta, de ser sonhador e perder a dura, mas maravilhosa, capacidade de dobrar a realidade e dar ao mundo fantasia.
É bem verdade que por vezes as circunstâncias nos levam a querer desistir e a pensar que a melhor coisa é logo morrer para que o sofrimento dessa terra selvagem se estanque. Entretanto, essa é somente a escolha mais fácil, um fracasso último que não permite outros. Ora, mas o que somos nós senão o resultado dos fracassos que tivemos? O crescimento, a maturidade, as reinvenções, as epifanias, as maravilhosas loucuras, as belezas descobertas em lugares jamais imaginados, os caminhos desbravados que levaram às maiores alegrias. Tudo construído pelos fracassos, pelas novas rotas que nós fomos obrigados a tomar.
Fracassos são dolorosos, mas inerentes à vida e ao prazer. Sem eles não passamos de rabiscos inexpressivos, porque só cai, quem está disposto a se jogar no reino dos mistérios, atravessar o vale da sombra da morte e encontrar o caminho de felicidade a que estamos destinados.
Samuel Beckett disse: “Não importa. Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor”. Eu vos digo, os fracassos são quedas que nos levam às depressões e nos fazem querer chegar às montanhas, mas o alto da montanha não é o mais importante. O mais importante, o que realmente importa, é nunca parar de subir. É escorregar em uma rocha solta, cair e subir novamente. É perceber as belezas que passam em raros momentos de grandiosidade infinita entre a queda e o passo de dança, a depressão e a montanha, o real e a poesia, o homem e o divino e, sobretudo, entre o fracasso e o sucesso daqueles que tentam outra vez, fracassam outra vez e fracassam sempre melhor.
*Por: Erick Morais
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*Fonte: genialmentelouco
Japão, 30 mil suicídios por ano: riqueza, tecnologia, mas… Vazio na alma?
Bispo do país atribui as causas à falta de sentido existencial, conectada à profunda carência de espiritualidade e religiosidade.
Uma análise do período compreendido entre 1998 e 2010 apontou que mais de 30 mil pessoas se suicidaram no Japão em cada ano desse intervalo, taxa que, aproximadamente, continua se aplicando até o presente. Cerca de 20% dos suicídios se devem a motivos econômicos e 60% a motivos relacionados com a saúde física e a depressão, conforme recente pesquisa do governo.
O assunto é abordado pelo bispo japonês dom Isao Kikuchi em artigo divulgado pela agência AsiaNews. Ele observa que o drama se tornou mais visível a partir de 1998, “quando diversos bancos japoneses se declararam falidos, a economia do país entrou em recessão e o tradicional ‘sistema de emprego definitivo’ começou a colapsar”.
Durante os 12 anos seguintes, uma média superior a 30 mil pessoas por ano tirou a própria vida num país rico e avançado. O número, alarmante, é cinco vezes maior que o de mortes provocadas anualmente por acidentes nas rodovias.
Riqueza, tecnologia e… vazio na alma
Rodeados por riquezas materiais de todo tipo, os japoneses têm tido graves dificuldades em encontrar esperança no próprio futuro: perderam esperança para continuar vivendo, avalia o bispo.
Paradoxo: após histórica tragédia nacional, suicídios diminuíram
Um sinal de mudança, embora pequeno, foi registrado por ocasião do trágico terremoto seguido de tsunami que causou enorme destruição em áreas do Japão no mês de março de 2011: a partir daquele desastre, que despertou grande solidariedade e união no país, o número de suicídios, de modo aparentemente paradoxal, começou a diminuir. Em 2010 tinham sido 31.690. Em 2011, foram 30.651. Em 2012, 27.858. Em 2013, 27.283. A razão da diminuição não é clara, mas estima-se que uma das causas esteja ligada à reflexão sobre o sentido da vida que se percebeu entre os japoneses depois daquela colossal calamidade.
Motivos para o suicídio
Dom Isao recorda a recente pesquisa do governo que atrela 20% dos suicídios a motivos econômicos, enquanto atribui 60% a fatores de saúde física e depressão. Para o bispo, os estopins do suicídio são complexos demais para se apontar uma causa geral. No entanto, ele considera razoável e verificável afirmar que uma das razões do fenômeno é a falta de sentido espiritual na vida cotidiana dos japoneses.
O prelado observa que a abundância de riquezas materiais e o acesso aos frutos de um desenvolvimento tecnológico extraordinário são insuficientes para levar ao enriquecimento da alma. A sociedade japonesa focou no desenvolvimento material e relegou a espiritualidade e a religiosidade a um plano periférico da vida cotidiana, levando as pessoas a se isolarem e se sentirem vazias, sem significado existencial. E é sabido que o isolamento e o vazio de alma estão entre as principais causas do desespero que, no extremo, leva a dar fim à própria vida.
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*Fonte: revistapazes