O futuro dos empregos depende de uma criatividade que ainda não existe

“A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada,
ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.”
ALBERT EINSTEIN

Se todas as profecias dizem que, em breve, não haverá mais empregos, e que teremos terríveis abalos em toda a estrutura econômica do mundo, o que pode ser feito para mudar esse fatídico destino?

A criatividade que “criou” esse mundo o fez sob os auspícios do conhecimento acumulado até aqui. Infelizmente, parece que deu algo errado. As consequências de se ter uma sociedade como a de hoje exige um tipo de imaginação disruptiva, que se reinventa à medida que a realidade se descortina logo à sua frente. Claro, muitos diriam que a velocidade de transição está cada vez mais acelerada, mas apenas dizer isso não fará o mecanismo desacelerar. O mundo parece rápido porque, talvez, ainda estejamos presos a modelos e formatos de aprendizado de um tempo há muito ultrapassado.

Consumimos o entretenimento atual com imensa facilidade. Então, por que não aprendemos com a mesma facilidade? Por que a educação não é tão divertida, mesmo com toda a tecnologia disponível?

Gosto muito de uma das cenas de Ex Machina, na qual vemos uma das questões mais enigmáticas do filme, o que resume bem o drama e os dilemas vividos hoje em dia: “será que no futuro as máquinas vão olhar para nós como olhamos para os dinossauros?”. O modelo de mundo que conhecemos bem é esse em que pagamos impostos para que o governo cuide de nós; em que pagamos escolas incumbidas de preparar nossos filhos para o mercado de trabalho e, assim, continuarem a pagar impostos, mantendo a roda girando.

Não é comum vermos pessoas autônomas, totalmente livres para dar asas às suas ideias.

Felizmente, uma sociedade alternativa está surgindo das cinzas deixadas por esse modelo antigo, na qual se vê a necessidade de repensar urgentemente todos os métodos de aprendizado. Conhecimentos dinâmicos e contextualizados, úteis a um mercado de constante inovação, onde não há mais ortodoxia, padrões e nem mesmo previsibilidade.

As mudanças estão acontecendo e, de muitas e inevitáveis formas, teremos que enfrentar transições que vão nos cobrar uma conta muito alta.

Imagine governos totalmente guiados por IA’s, quando a maioria dos mecanismos estatais forem administrados por sistemas digitais. Uma massa de gente que trabalha em setores burocráticos será demitida. E esse é só um pequeno exemplo. O desemprego vai colocar muita gente na rua. Infelizmente, o modelo educacional que possuímos hoje, dificilmente se dedica a propor métodos colaborativos. Ainda vemos claro o poder da competição como mote central da cultura escolar.

Em um mundo sem emprego, com milhões de pessoas à beira do caminho, e sem uma noção clara e objetiva do valor da colaboração e do empreendedorismo, correremos sérios riscos.

A criatividade que já foi concebida historicamente como um dogma, restrita a seres escolhidos por uma força maior, começa a perder suas vestes sagradas e se despir, mostrando a sua verdadeira vergonha, ou seja, a de que jamais deveria ter sido elevada a nenhuma altura. Seu lugar sempre foi ao alcance de todos os mortais. Agora, com a sobrevivência de um mundo inteiro em risco, nos resta resgatar a nossa própria humanidade na qual reflete o poder da criatividade, enquanto, ironicamente, construímos máquinas sofisticadas o bastante para, talvez, tornar isso desnecessário.

Eis o dilema.

Em artigo para o Fórum Econômico Mundial, Joanna Cea e Jess Rimington, ambos ligados ao Stanford University Global Projects Center, falam da exclusão da maior parte do que chamamos de engenhosidade no mundo e seus enormes custos. “Estamos sufocando a inovação que uma comunidade agregada e integrada poderia oferecer. Há consequências imensuráveis por não ouvir a maioria das pessoas do mundo – em nosso país ou nas cidades. Se não prestarmos atenção, se não houver inclusão e engajamento de um maior volume de vozes, não apenas obteremos resultados mais fracos e também cometeremos erros evitáveis, mas também inventaremos um futuro de trabalho codificado com as mesmas patologias sociais profundas e sistêmicas”, afirmam. Para eles, a manutenção de um sistema ultrapassado nos manterá alinhados com o status quo que reforça ativamente tristes valores como o racismo sistêmico, a guerra, as mudanças climáticas, o sexismo e o feminicídio.

Os autores afirmam que para criar uma existência próspera, bela e mais justa, precisamos inverter os paradigmas que institucionalizaram a exclusão da dignidade, da engenhosidade, da criatividade e da liderança na maior parte do mundo. Para Scott Rosenberg, uma vez que mundos inteiros podem ser simulados para os sentidos, “a única maneira de assegurar a integridade da imaginação do público seria tirar esse poder das mãos de uma elite e colocá-lo ao alcance de todos”, defende.

Em uma sociedade livre para se valer de suas ideias, sem barreiras, conectada e consciente do poder de suas capacidades, empenhadas no trabalho colaborativo, será muito mais fácil lidar com os problemas que batem à nossa porta. Caso contrário, os resultados serão complicados, colocando a humanidade cada vez mais perto de algum tipo de risco de extinção. Imagina só!

*Por William Barter

 

 

 

 

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*Fonte: updateordie