Brasileiros precisarão de autorização de viagem para entrar na Europa a partir de 2021

O Parlamento Europeu aprovou nesta quinta-feira (5) um novo sistema de autorização de viagens para turistas de países que não precisam de visto para entrar nos países da União Europeia (UE), entre eles o Brasil. A autorização prévia à viagem passará a ser exigida a partir de 2021.

O sistema, conhecido como Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem (ETIAS, na sigla original em inglês), foi aprovado por 494 votos a favor, 115 contra e 30 abstenções. Agora a lei precisa ser adotada formalmente pelo Conselho de Ministros, que já tinha entrado em um acordo sobre ela. Depois, será publicada no Diário Oficial.

O países que aplicarão o ETIAS são os do Tratado de Schengen, que inclui 22 nações do bloco europeu, e mais quatro países da UE: Romênia, Bulgária, Croácia e Chipre (veja o mapa abaixo). O Reino Unido não exigirá a autorização, já que está entre os que não fazem parte do Tratado de Schengen.

Antes de viajar à Europa, os turistas terão de preencher um formulário eletrônico com dados pessoais, informações do documento de viagem e o país em que entrará. Além dos brasileiros, turistas de outras 60 nacionalidades serão afetados, como canadenses, americanos, australianos e latino-americanos.

A autorização será válida por três anos e vai custar 7 euros (cerca de R$ 32), a não ser para viajantes menores de 18 anos ou maiores de 70 anos, para quem será gratuita.

Mas a decisão final para entrar na União Europeia continua com a segurança de fronteira de cada país.

Por que uma autorização prévia?

O objetivo é comparar as informações proporcionadas por cada cidadão com as de distintas bases de dados europeus para identificar, antes de sua saída, as pessoas que apresentem “um risco de migração irregular ou de segurança”.

Com esse sistema automatizado, inspirado no formulário ESTA, um dispositivo em vigor nos Estados Unidos, a UE pretende proteger melhor suas fronteiras exteriores, detectando antes de sua saída para a Europa alguns indivíduos potencialmente perigosos.

O que acontece se for detectado um risco?

Os pedidos serão processados automaticamente e é esperado que o sistema ETIAS aprove a grande maioria das autorizações quase imediatamente.

Mas se o cruzamento de dados detectar alguma informação relevante para o risco de segurança, o pedido será processado manualmente. A decisão de aprovar ou não a autorização deverá ser feita em até 4 semanas. As recusas devem ser justificadas e o solicitante tem o direito de recorrer.

 

 

 

 

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*Fonte: g1

Procura-se felicidade perdida. Recompensa-se bem a quem encontrá-la

Destino ou sorte? Podia estar catando cadáveres de crianças na Síria. Podia estar morrendo de insolação num bote sobre o Mar Mediterrâneo. Podia estar domando balas perdidas numa favela do Rio de Janeiro. Podia estar me lixando para o que acontece à minha volta. De uma forma ou de outra, os sofrimentos alheios acabam sempre me afetando. E não adianta dizer que Deus escreve certo por linhas tortas. Um escritor, simplesmente, se importa. E escreve. Sem endeusamentos à vista. Para se libertar.

Simone evita bebês. Meu pênis levita. Que mágica será essa? Nua, ela balança o corpo, sonolenta. Joga as madeixas de lado. Engole uma pílula de extratos espermicidas. Nem precisava. Já tenho atadas as minhas nobres serpentinas. Ela é um deslumbre da natureza. De tão linda, chega a me doer os olhos. Cavalgamos sobre as divertidas molas da cama, infantilizados e sacanas, até suar o bigode, até soar o gongo, até que a vida real nos separe. É hora de parar de escrever e partir. Um sol de rachar mamona penetra pelas brechas da persiana. São os falos de luz a deflorar o quarto. “Será preciso consertar a droga desse ar condicionado”, ela resmunga com as palavras ainda úmidas de sêmen. Fecho o laptop, tomo uma ducha, escovo as ideias, coo o café, ganho as ruas.

O meu dia pela cidade já começa meio perdido. Zoeira, fumaça, barulho de motor, desempregados jogando baralho, as pessoas se odiando, tudo assim, numa péssima vibração. A cidade parece a desgraceira de sempre. Estranhos ao volante amaldiçoam-se como se já fossem da família. “Esse foi Deus que me deu”, diz o adesivo colado no para-brisas de um carro que avança o sinal vermelho. Nada posso naquele que me enfraquece. Há tíbias fraturadas no asfalto. O sangue nos olhos faz com que uma legião de assalariados se esprema dentro dos ônibus lotados, rumo a empregos que eles, solenemente, abominam. Nenhum porco merece ser tratado como gente. Ninguém deveria trabalhar numa profissão que detesta.

O calor é de lascar o cano. Caminho pela calçada num desânimo pegajoso. Faz dias que o meu carro pifou. Bem feito para a hora do rush. Isso me deixa isento, minimamente animado. “Mal súbito da bobina”, atestou o especialista em virabrequins. Previsão de vários dias na oficina, de acordo com ele, o mecânico que nasceu para esfolar o meu salário até a última quirela. Odeio ter que me curvar ao dinheiro. Odeio ser enganado. Chateia-me, profundamente, pisar em bosta humana pensando que fosse de cachorro. Gente que mora na rua. Tristeza que vive no peito.

Adiante, deparo-me com uma turba silente. Por quem dobram as filas da esquina? São os clientes de uma lotérica que fazem uma fezinha. É véspera de um sorteio recorde. Há milhões em jogo. Não caio nessa esparrela. Tem um letreiro dependurado na fachada informando que, daquele humilde estabelecimento, saiu o último bilhete vencedor da loteca. Almas em desgraça, esperançosas em encher o rabo com cédulas de 100, enfileiram-se na calçada, ocupando corpos comportados, semelhantes na pequenez, desafiando o calor pernicioso e os paradigmas do horário comercial. “Essa cambada não deveria estar trabalhando?”, vocifero com os meus botões.

Tem todo tipo de gente na fila. Só não tem crianças. Crianças não são bestas de sonhar com a riqueza. Elas gostam de querer crescer para se tornar um adulto notável, como um mágico, um médico, um místico ou um módico músico interiorano. Se nada disso der certo, há poesia, o estado da graça, o grau máximo de excelência em termos de humanidade.

A turma é eclética. Uma empregada doméstica que sonha em ganhar o primeiro prêmio para, primeiramente, mandar a patroa às favas e, em seguida, viajar para qualquer lugar do mundo onde não haja louças na pia e roupas para serem quaradas no varal. Uma freira à paisana com o hábito da fé. Um policial à parmegiana respingado de sangue dos tipos de A a Z. Um escritor medíocre que não decola nem se empurrado de um avião. Uma grávida cujo pai da cria ela desconhece. Um palhaço triste, tristinho. Um cego, ceguinho, sem visão de futuro. Um cadeirante que espera ficar rico para andar de carrão com motorista e tudo. Há também um amontoado de velhos no guichê de atendimento prioritário. Além da legislação que lhes garante prioridade para morrer, gozam também da prerrogativa de apostar na sorte primeiro do que todo mundo e de aumentar a minha desilusão.

Sigo mastigado por pensamentos ruminantes, ávido por chegar em casa para voltar a escrever e gangorrear com o meu amor numa cama de molas, leve como uma pluma, alegre como um menino, livre como um velho que já não sonha com fortunas em dinheiro.

Por: Eberth Vêncio

 

 

 

 

 

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*Fonte: revistabula