Dia: 12 de setembro, 2018
Por que os robôs não vão assumir nossas tarefas domésticas tão rápido quanto gostaríamos
As tarefas domésticas são um fardo para muita gente.
Quem reclama que falta tempo e energia para se dedicar à manutenção da casa dificilmente recusaria uma ajudinha, por exemplo, para dobrar as roupas recém-lavadas, certo? Pois saiba que a tecnologia já permite que robôs dobrem calças e camisetas.
A versão hoje mais famosa é japonesa, uma máquina batizada de Laundroid. Ela recentemente ganhou uma concorrente americana, que funciona com um software desenhado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e hardware da empresa Rethink Robotics.
Mas não se empolgue muito. Enquanto os robôs têm grande capacidade de se concentrar nas tarefas para as quais foram desenhados, seu ritmo é às vezes angustiantemente lento. O Laundroid leva 4 minutos para dobrar uma peça. O ajudante da Rethink Robotics, quinze.
Os robôs podem estar chegando, mas talvez demore até chegar ao ponto em que farão toda a faxina.
Desenvolver robôs para ajudar em casa é algo útil não apenas para organizar o guarda-roupa – permite que pesquisadores entendam problemas centrais da inteligência artificial como um todo.
Um robô capaz de dobrar roupas tem vocação para uma série de outras tarefas, mais críticas, como atuar em situações de emergência, em cenários de recuperação de desastres ou no cuidado de doentes e idosos.
Direito de imagem Berkeley AI Research Lab/Berkeley Robot Learning
Image caption Quando ganhar agilidade, o ajudante da Rethink Robotics poderá fazer mais que dobrar roupas
Isso porque desenvolver assistentes para ajudar com tarefas domésticas é mais complicado do que parece. Enquanto esses afazeres são relativamente fáceis para os humanos, são surpreendentemente difíceis para um sistema autônomo.
Esse é o paradoxo, diz Mariana Pestana, cocuradora da mostra O Futuro Começa Aqui, no Museu Victoria & Albert em Londres, onde os robôs estão expostos até 4 de novembro deste ano. “(O robô desenvolvido pela Rethink Robotics) vem de um aprendizado profundo, com uma universidade que está na vanguarda da inteligência artificial, mas leva 15 minutos para realizar uma tarefa que fazemos inconscientemente em segundos.”
Uma casa-padrão tem elementos que variam constantemente – como crianças que não necessariamente entendem o sistema do robô e que podem dar-lhe objetos aos quais não estão habituados (pense nos pedidos que Siri, da Apple, recebe).
“Um assistente autônomo, para funcionar bem nesse contexto, teria que ser versátil, adaptável a mudanças no ambiente e fácil de se trabalhar”, diz Siddharth Srivastava, que ajudou a desenvolver o robô com uma equipe de cientistas em Berkeley.
Um dos desafios encontrados por ele e sua equipe era fazer o robô entender o nível de sofisticação das tarefas que lhe poderiam ser pedidas. “Assim como todo mundo que trabalha em equipe sabe, um assistente não ajuda muito se precisa de instruções a todo minuto”, diz.
Os robôs obviamente não têm um conhecimento “inato”. Por mais que gostássemos de dizer apenas “lave as roupas” ao assistente, o robô precisaria de muito mais informações, desde como mexer cada “articulação” até para onde olhar conforme realiza cada operação, além de como usar suas câmeras e sensores.
Essas dificuldades se complicam se queremos que o robô faça algo além de lavar as roupas.
Então um robô realmente útil precisa entender e desempenhar um leque variado de tarefas.
A questão, por outro lado, é que não é possível pré-programar o robô para que alterne automaticamente seus afazeres. “Em vez disso, precisamos desenvolver algoritmos para que ele faça um planejamento hierarquizado, com percepção e lógica que permitiram que ele detecte o que precisa fazer para realizar uma tarefa”.
Isso está longe de ser um problema resolvido – é uma área ativa de pesquisa, com diversas equipes desenvolvendo e testando possíveis soluções.
Se Srivastava consegue visualizar um futuro em que robôs domésticos sejam comuns? Para ele, a mudança será gradual, acompanhando outras aplicações robóticas e de inteligência artificial autônomas, como carros que se dirigem sozinhos. Aspiradores de pó robóticos já existem. Assim como assistentes virtuais inteligentes, como Alexa, da Amazon, capaz de interagir por voz.
A complexidade, para a ciência da computação, do raciocínio e planejamento durante períodos longos de tempo, entretanto, é mais alta do que a da tecnologia hoje disponível – e envolve problemas que hoje não são críticos para os produtos já disponíveis.
Robôs precisam ser fáceis de usar e adaptáveis aos diferentes níveis de habilidade de quem eventualmente irá operá-los – pessoas que, na maioria dos casos, não terão um nível avançado de conhecimento de inteligência artificial ou robótica.
Além disso, eles precisam realizar tarefas que seus criadores possam não ter planejado.
“Diferentemente do domínio de operações dos robôs industriais e daqueles usados nos carros, os domésticos são muito menos estruturados e com uma expectativa de comportamento mais difícil de definir”, diz Srivastava.
“Para colocar em prática o potencial do benefício social dos sistemas de assistência de inteligência artificial, precisamos desenvolver novos princípios para desenhá-los de uma maneira que os torne mais fáceis de se trabalhar, entender e manter”.
Quando essas questões forem sanadas, porém, há uma série de possibilidades para outras aplicações: robôs podem ajudar a tratar ferimentos, a administrar de remédios e no preparo de comida para dietas especiais.
Muitos problemas precisam ser resolvidos antes que isso se torne uma realidade – mas pode haver um dia em que veremos os robôs que dobram roupas como o começo do fim das tarefas domésticas para a humanidade.
*Por Helene Schumacher
………………………………………………….
*Fonte: bbc/brasil
Japão, 30 mil suicídios por ano: riqueza, tecnologia, mas… Vazio na alma?
Bispo japonês atribui as causas dos suicídios à falta de sentido existencial, conectadas à profunda carência de espiritualidade e religiosidade.
Uma análise do período compreendido entre 1998 e 2010 apontou que mais de 30 mil pessoas se suicidaram no Japão em cada ano desse intervalo, taxa que, aproximadamente, continua se aplicando até o presente. Cerca de 20% dos suicídios se devem a motivos econômicos e 60% a motivos relacionados com a saúde física e a depressão, conforme recente pesquisa do governo.
O assunto é abordado pelo bispo japonês dom Isao Kikuchi em artigo divulgado pela agência AsiaNews. Ele observa que o drama se tornou mais visível a partir de 1998, “quando diversos bancos japoneses se declararam falidos, a economia do país entrou em recessão e o tradicional ‘sistema de emprego definitivo’ começou a colapsar”.
Durante os 12 anos seguintes, uma média superior a 30 mil pessoas por ano tirou a própria vida num país rico e avançado. O número, alarmante, é cinco vezes maior que o de mortes provocadas anualmente por acidentes nas rodovias.
Riqueza, tecnologia e… vazio na alma
Rodeados por riquezas materiais de todo tipo, os japoneses têm tido graves dificuldades em encontrar esperança no próprio futuro: perderam esperança para continuar vivendo, avalia o bispo.
Paradoxo: após histórica tragédia nacional, suicídios diminuíram
Um sinal de mudança, embora pequeno, foi registrado por ocasião do trágico terremoto seguido de tsunami que causou enorme destruição em áreas do Japão no mês de março de 2011: a partir daquele desastre, que despertou grande solidariedade e união no país, o número de suicídios, de modo aparentemente paradoxal, começou a diminuir. Em 2010 tinham sido 31.690. Em 2011, foram 30.651. Em 2012, 27.858. Em 2013, 27.283. A razão da diminuição não é clara, mas estima-se que uma das causas esteja ligada à reflexão sobre o sentido da vida que se percebeu entre os japoneses depois daquela colossal calamidade.
Motivos para o suicídio
Dom Isao recorda a recente pesquisa do governo que atrela 20% dos suicídios a motivos econômicos, enquanto atribui 60% a fatores de saúde física e depressão. Para o bispo, os estopins do suicídio são complexos demais para se apontar uma causa geral. No entanto, ele considera razoável e verificável afirmar que uma das razões do fenômeno é a falta de sentido espiritual na vida cotidiana dos japoneses.
O prelado observa que a abundância de riquezas materiais e o acesso aos frutos de um desenvolvimento tecnológico extraordinário são insuficientes para levar ao enriquecimento da alma. A sociedade japonesa focou no desenvolvimento material e relegou a espiritualidade e a religiosidade a um plano periférico da vida cotidiana, levando as pessoas a se isolarem e se sentirem vazias, sem significado existencial. E é sabido que o isolamento e o vazio de alma estão entre as principais causas do desespero que, no extremo, leva a dar fim à própria vida.
…………………………………………………………….
*Fonte: