Os 6 traços de personalidade associados ao sucesso no trabalho

Você é curioso, consciente e competitivo? Você também tem qualidades mais misteriosas, como “fácil adaptação”, “aceitação de ambiguidade” e “abordagem de riscos”? Se sim, parabéns! Segundo uma pesquisa de psicologia, esses seis traços constituem uma personalidade de “alto potencial” que o levará longe na vida.

A verdade, obviamente, tem um pouco mais de nuances. É que os mesmos traços, em excesso, também podem prejudicar sua performance, e talvez o verdadeiro segredo para o sucesso seja saber exatamente onde você está em cada espectro e como aproveitar melhor suas forças e responder por suas fraquezas. Mas essa nova estratégia promete ser um passo importante para entendermos como nossos traços de personalidade afetam nosso trabalho.

Há um longo histórico de tentativas de entender nossa personalidade no trabalho. Um dos testes mais populares utilizados hoje é o Indicador de Tipos Myers-Briggs (MBTI), que classifica as pessoas de acordo com vários estilos de pensamento, como “introversão/extroversão” e “pensamento/sentimento”. Nove em cada dez empresas americanas usam o teste Myers-Briggs para classificar seus funcionários.

Infelizmente, muitos psicólogos sentem que a teoria por trás das diferentes categorias é atrasada e não inclui as medidas reais de performance. Um estudo sugeriu que o MBTI não é bom na previsão de sucesso de gestão. Alguns críticos até dizem que se trata de pseudociência.

“Como início de conversa é uma boa ferramenta, mas se você está usando em larga escala para prever uma performance ou para tentar encontrar candidatos de alta performance, não funciona”, diz Ian MacRae, um psicólogo e coautor do livro High Potentia (Alto Potencial, em tradução livre).

Pensando que avanços recentes nas pesquisas de psicologia poderiam ser melhores, MacRae e Adrian Furnham, da UCL (University College London), recentemente identificaram seis traços que estão consistentemente ligados ao sucesso no trabalho e que foram agora acrescentados ao Indicador de Traços de Alto Potencial (HPTI).
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Image caption Alimentar sua curiosidade pode ajudá-lo a aprender mais facilmente, aumentar sua satisfação com o trabalho e protegê-lo do burnout

MacRae diz que, em casos extremos, cada traço pode ter limitações, o que significa que há um valor ideal para cada um. Ele também enfatiza que a importância relativa de cada traço será determinada pelo trabalho que você está fazendo, então os limites teriam que ser adaptados a depender da área em que você queira se dar bem em um cargo técnico, por exemplo. Mas a versão do teste que eu vi era focada em posições de liderança.

Com isso em mente, os seis traços são:

Consciência

Pessoas conscientes se dedicam aos seus planos e os levam até o fim. Elas são boas em controlar seus impulsos e pensar sobre a sabedoria de suas decisões a longo prazo. Depois de QI, a consciência é frequentemente considerada um dos melhores indicadores de sucesso educacional. No trabalho, uma alta consciência é essencial para um bom planejamento estratégico, mas em excesso pode significar que você é muito rígido e inflexível.

Adaptação

Todo mundo tem ansiedades, mas as pessoas com capacidade alta de adaptação conseguem lidar melhor com elas sob pressão sem deixar que elas influenciem negativamente seu comportamento e suas decisões. Pessoas com pontuações baixas nessa escala parecem ter uma performance ruim no trabalho, mas você pode combater esses efeitos com a mentalidade certa. Vários estudos mostraram que encarar uma situação estressante como uma potencial fonte de crescimento – em vez de uma ameaça ao seu bem-estar – pode ajudar as pessoas a se recuperarem de situações negativas mais rapidamente e de maneira mais produtiva.

Aceitação de ambiguidade

Você é o tipo de pessoa que prefere que as tarefas sejam bem definidas e previsíveis? Ou você gosta do desconhecido? Pessoas com uma tolerância alta para ambiguidade podem incorporar mais pontos de vista antes de tomar uma decisão, o que significa que elas são menos dogmáticas e suas opiniões têm mais nuances.

“Uma tolerância menor a ambiguidade pode ser considerada um tipo de característica ditatorial”, afirma MacRae. “Eles vão tentar destilar mensagens complicadas em um argumento fácil de vender e isso pode ser um traço típico de liderança destrutiva.”

O mais importante é que alguém capaz de aceitar ambiguidade achará mais fácil reagir a mudanças – como um clima econômico em evolução ou o surgimento de uma nova tecnologia – e lidar com problemas complexos e multifacetados. “Nós estamos tentando identificar a habilidade de líderes de ouvir opiniões diferentes, ouvir argumentos complexos e tentar entendê-los de uma maneira proativa em vez de simplificá-los”, acrescenta MacRae. “E nós descobrimos que, quanto mais sênior você é em uma posição de liderança, mais importante isso se torna para a tomada de decisão”.

Mas uma aceitação menor de ambiguidade nem sempre será um problema. Em algumas áreas, como em regulação, pode ser melhor ter uma estratégia de ordem que passa tudo a limpo no processo. Saber onde você está nesse espectro pode evitar que você saia muito de sua zona de conforto.

Curiosidade

Comparada a outros traços mentais, a curiosidade foi negligenciada por psicólogos. Ainda assim, pesquisas recentes mostram que um interesse inerente em novas ideias traz mais vantagens no local de trabalho: pode significar que você é mais criativo e flexível nos procedimentos que usa, pode ajudá-lo a aprender com mais facilidade, aumenta sua satisfação com o trabalho de maneira geral e o protege do burnout.

Em excesso, porém, a curiosidade também pode levá-lo a ter uma “mente borboleta” – que voa de projeto em projeto sem entrar de cabeça.

Abordagem de risco (ou coragem)

Você fugiria de um confronto potencialmente desagradável? Ou você encara sabendo que o desconforto de curto prazo resolverá a situação, trazendo benefícios a longo prazo? Previsivelmente, a capacidade de lidar com situações difíceis é crucial para posições de gestão nas quais você precisa agir por um bem maior, mesmo quando há oposição.

Competitividade

Há uma linha tênue entre buscar sucesso profissional e ter uma inveja não saudável dos outros. Na melhor das hipóteses, a competitividade pode ser uma motivação poderosa que o leva além; na pior, pode dividir equipes.

Juntos, esses seis traços consolidam a maior parte do conhecimento que temos até hoje das diferentes qualidades que influenciam a performance no trabalho, particularmente para aqueles que buscam posições de liderança.

Tão interessante quanto esses citados são os traços de personalidade que MacRae e Furnham não incluíram. A escala de extroversão-introversão, por exemplo, pode determinar como lidamos com algumas situações sociais, mas parece fazer pouca diferença na performance geral do trabalho. Nossa capacidade de concordar com os outros também não parece influenciar no sucesso profissional.

Para medir cada traço no Indicador de Traços de Alto Potencial (HPTI), os participantes precisam marcar quanto concordam ou discordam de uma série de afirmações, como “Eu fico frustrado quando não sei exatamente o que é esperado de mim no trabalho” (para descobrir a aceitação de ambiguidade) ou “meus objetivos pessoais vão além dos da minha organização” (o que mede consciência).

Líderes de multinacionais

MacRae agora validou o HPTI em vários setores, acompanhando a performance de líderes de organizações multinacionais ao longo de vários anos, por exemplo.

A pesquisa ainda está em andamento, mas outra pesquisa publicada no ano passado indicou que esses traços podem prever medidas subjetivas e objetivas de sucesso. Em uma análise, as respostas dos participantes explicaram cerca de 25% da variação de renda – o que é uma correlação razoavelmente forte (e comparável à influência da inteligência) mesmo que isso deixe muitas diferenças sem explicação. Nesse estudo, competitividade e aceitação de ambiguidade se tornaram indicadores mais fortes de remuneração, enquanto consciência pareceu prever melhor as medidas subjetivas de satisfação.

Os pesquisadores também examinaram a relação desses traços com o QI – outro fator importante em relação ao sucesso profissional – encontrando uma pequena correlação entre os dois.

Como parte de um processo de recrutamento, o HPTI pode ser usado para avaliar candidatos de alto potencial, mas MacRae diz que isso também pode ajudar no desenvolvimento pessoal, para que você possa identificar suas próprias forças e fraquezas e como lidar com elas. Também pode ser útil para construir uma equipe equilibrada, que reflete o espectro inteiro dos traços de “alto potencial”, considerando a fartura de pesquisas indicando que grupos se beneficiam com estilos diferentes de pensamento. Quase todos não terão todas as qualidades em níveis excelentes, mas isso não precisa ser um problema se temos colegas que podem nos dar um reforço.

Mas alguém chega a ser aprovado em todos esses critérios? MacRae me disse que ele pensa em algumas pessoas que passam em todos os critérios, incluindo o CEO de um banco do Canadá. “Ele era excelente em todos os traços”, diz MacRae. “E eu devo dizer que isso era muito intimidador”. Apesar desse sentimento assustador, os benefícios dessa personalidade única ficaram aparentes na reunião. “Mesmo que seja um pouco assustador trabalhar com esse tipo de pessoa, você sabe exatamente o que esperar – é alguém que você pode acreditar, confiar e respeitar.”

*Por David Robson

 

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*Fonte: bbc-brasil

Por que as pessoas ficam irritadas quando estão com fome?

Duas semanas depois de começar uma dieta com restrição ao consumo de carboidratos, a comediante Jess Fostekew se sentiu “hangry” – um neologismo em inglês que surgiu da junção de “hungry” e “angry”, respectivamente “esfomeada” e “irritada”.

“Eu perdi completamente a cabeça num incidente no trânsito”, lembrou Fostekew durante o programa Woman’s Hour, da BBC Radio 4. “O carro atrás de mim, que por acaso estava cheio de homens grandes, buzinou porque não atravessei a tempo o semáforo.”

Depois de sair do carro, desafiá-los para uma briga e ser recebida com risos, ela voltou à direção e deu a partida.

“Em seguida, eu estacionei e comecei a chorar de soluçar – soluços de raiva – e então prometi nunca mais deixar de comer carboidratos.”

Afinal, o que aconteceu com ela?

“Há muito tempo, a ciência sabe que a fome provoca irritação”, diz Sophie Medlin, professora de nutrição e dietética do Kings College London. “Mas o maravilhoso mundo das redes sociais mesclou as duas palavras e nós agora conhecemos (esse fenômeno) como ‘hanger’ (‘hunger’, fome, e ‘anger’, raiva)”.

“Quando o nível de açúcar do sangue cai, ao mesmo tempo sobem os de cortisol e adrenalina – nossos hormônios de luta ou fuga (ou mais conhecidos como do estresse)”, completa.

Além disso, quando o corpo precisa repor a energia com mais alimento, os neurônios liberam os chamados neuropeptídeos, que são substâncias que provocam a sensação de fome no cérebro. “Os (neuropeptídeos) que provocam a fome são os mesmos que provocam irritação, raiva e comportamentos impulsivos. Então, é por isso que você tem este mesmo tipo de resposta”, diz ela.

Todos já espumamos de raiva por causa do vazio no estômago, mas essa reação é frequentemente descrita na mídia como sendo mais aplicável às mulheres do que aos homens. Os artigos sobre essa sensação de fome e irritação geralmente são ilustrados com imagens de mulheres estressadas e aos gritos. Não à toa, fez bastante barulho o tuíte da snowboarder americana Chloe Kim durante as Olimpíadas de Inverno, em fevereiro:

“Eu deveria ter terminado o meu café da manhã, mas o meu ‘eu’ teimoso decidiu não fazê-lo”, escreveu a medalhista de ouro. “Agora estou ficando ‘hangry'”.

As mulheres são, então, mais vulneráveis a essa aflição?

“Absolutamente, não”, diz Medlin. “Isso pode acontecer com qualquer um e, talvez, do ponto de vista da neurociência, seja mais provável de acontecer com homens do que com mulheres”.

Curiosamente, homens têm mais receptores para os neuropeptídeos, ela explica. Essas substâncias, por sua vez, “são afetadas por coisas como a flutuação de estrogênio, então, pode acontecer de mulheres sentirem ‘hanger’ em momentos diferentes de seu ciclo”, diz Medlin.

Mas “bioquimicamente, na neurologia, os homens são muito mais propensos ao fenômeno do que as mulheres”. Isto por causa dos níveis mais altos de testosterona combinados com mais desses receptores.

Demonstração de raiva

Por isso, aquela visão da “hanger” feminina pode ser simplesmente mais um estereótipo de gênero, o que inclui ainda a estigmatização de homens que demonstram seus sentimentos. “Talvez seja por que (os homens) ainda não se sentem à vontade para falar da relação emocional que eles têm com a comida e a fome, e talvez essa seja a razão por que se acredita que sentir ‘hanger’ é coisa de mulher quando, na verdade, é do ser humano em geral”, diz Jess Fostekew.

“Todos têm uma relação bastante complicada com a comida”, concorda Sophie Medlin.

A “hanger” pode ter um impacto até nos relacionamentos, de acordo com um estudo de 2014 que mostrou que os baixos níveis de açúcar no sangue estão relacionados a mais agressividade entre casais.

Durante o experimento, cada participante enfiou um determinado número de alfinetes em um boneco de vodu que representava seu cônjuge – o número variava de acordo com o nível de irritação. Em seguida, o cônjuge irritado ainda emitia sons contra o parceiro, que usava um fone de ouvido. Enquanto isto, os níveis de açúcar eram medidos.

Sem muita surpresa, “os participantes que tinham baixos níveis de glicose enfiaram mais alfinetes no boneco de vodu e gritaram com mais frequência e mais alto contra seu cônjuge”.

E como evitar o temido ‘hanger’?

“Depende de quanto tempo haverá até a próxima refeição”, diz Medlin. “Preferivelmente, você precisa de algo que eleve um pouco o açúcar no sangue e que o mantenha lá. Então, um lanche com algum tipo de carboidrato salgado poder ser a melhor opção.”

*Por Sarah Keating

 

 

 

 

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*Fonte: bbc-brasil