Conheça a verdadeira origem dos “travesseiros da Nasa”

De tempos em tempos, alguém aparece revoltado no Twitter ao descobrir que foi enganado a vida inteira pelos “travesseiros N.A.S.A.”. Na embalagem de uma das marcas mais populares do produto — a que traz o ex-astronauta e hoje ministro Marcos Pontes —, o acrônimo não é “National Aeronautics and Space Administration”, que nomeia a agência espacial norte-americana, mas “Nobre e Autêntico Suporte Anatômico”.

Desnecessário dizer, a Nasa não fabrica os travesseiros nem os astronautas testaram esses itens enquanto tiravam um cochilo a caminho da Estação Espacial Internacional. Porém, nem tudo é enganação: a espuma viscoelástica, que é usada nesses produtos, foi mesmo inventada pela agência dos Estados Unidos e até entrou para o Hall da Fama Espacial.

Seu desenvolvimento começou em 1966, quando dois engenheiros terceirizados da Nasa, Charles Yost e Charles Kubokawa, criaram uma espuma de “alta dissipação de energia” para ser utilizada nos assentos das espaçonaves e que amortizaria o impacto nos astronautas em caso de colisões. Feito de poliuretano, o novo material absorvia até 340% mais energia do que as tecnologias disponíveis até então. Como se moldava ao corpo, a espuma distribuía o peso uniformemente, evitando o risco de lesões mais graves.

Mas a história de como o material saiu das naves espaciais em Houston para prateleiras e memes brasileiros começou cerca de dez anos depois, em 1976, quando a patente se tornou domínio público e mais empresas passaram a usá-la. A “espuma da Nasa” começou a aparecer em novos produtos, como acessórios esportivos — o time de futebol americano Dallas Cowboys usou-a em seus capacetes — e, claro, colchões e travesseiros. O Brasil não ficaria de fora dessa.

Em um ano com Marcos Pontes como garoto-propaganda dos “travesseiros N.A.S.A”, faturamento de empresa cresceu cinco vezes (Ilustração: Feu)

Um sonho brasileiro

O primeiro registro nacional da tecnologia em produtos voltados para o sono é de 1999, quando a fabricante norte-americana Tempur-Pedic começou a atuar no Brasil. Mas os travesseiros de viscoelástico só se tornaram os “travesseiros da Nasa” depois que a Marcbrayn, uma empresa de Santa Catarina, começou a fabricar o produto e contratou Marcos Pontes para promovê-lo. “Precisávamos de uma personalidade que preenchesse os requisitos da campanha”, diz o dono, Claudio Marcolino, em um vídeo de 2007 — que, pelo visual, poderia ter sido gravado durante a corrida espacial. “Marcos Pontes, o astronauta brasileiro, foi quem nos gerou mais confiança.”

Tenente-coronel da Aeronáutica e engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Pontes conquistou a confiança da empresa de travesseiros ao realizar uma missão de dez dias no espaço, em 2006. Depois de anos de treinos na Nasa e adiamentos da viagem, que seria feita em um veículo norte-americano, o governo brasileiro optou por uma solução alternativa: fechou um acordo com a agência espacial russa e, por US$ 10 milhões, enviou Pontes ao espaço a bordo da nave Soyuz.

Assim que voltou à Terra, aos 43 anos, o astronauta se aposentou das Forças Armadas e iniciou uma nova carreira. Ele abriu uma empresa de turismo, tornou-se palestrante e passou a figurar nas embalagens dos travesseiros.

Segundo Marcolino, com o ex-astronauta como garoto-propaganda, em um ano seu faturamento foi multiplicado por cinco. Até hoje o contrato segue em vigor. A empresa não diz quantas unidades já vendeu nem quanto paga a Pontes.

Fora de moda?
Uma nova geração de empresas que fabricam produtos para o sono surgiu no Brasil nos últimos anos, e elas tentam desbancar a popularidade do viscoelástico. Em vez do material utilizado pela Nasa, a marca paulistana Guldi usa outra espuma, “de alta resiliência”, em seus colchões. A carioca Flow faz o mesmo. Outras, como a mineira IWS (“I Wanna Sleep”), afirmam ter desenvolvido um material próprio.

E mesmo aquelas que ainda usam a invenção da Nasa, como a empresa paulistana Zissou, fogem da estratégia de associar a tecnologia à agência espacial norte-americana, desgastada pelos anos de propaganda dos travesseiros. “A gente tenta ser transparente com os nossos clientes e também não ficar discutindo especificações técnicas e coisas com as quais eles não se importam. Preferimos falar sobre as sensações que os produtos causam- no consumidor”, diz Amit Eisler, um dos fundadores da empresa. Os “travesseiros da N.A.S.A”, afinal, são mesmo únicos.

*Por Bruno Fávero

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*Fonte: revistagalileu

Como a cerveja criou as civilizações

Até cerca de 12 mil anos atrás, os seres humanos viviam basicamente de frutas que caíam e dos bichos que caçavam. Por isso, eram chamados de caçadores-coletores. Isso mudou quando eles começaram a domesticar as primeiras plantas e criaram a agricultura. Ao manipular a natureza, não precisavam mais andar para cima e para baixo o tempo inteiro à procura de comida. Podiam se estabelecer, e nesses assentamentos surgiram as cidades. Com mais tempo livre, desenvolveram linguagens, ferramentas e tudo mais que evoluiria até hoje. Foi a chamada Revolução do Neolítico.

A evolução das religiões também seria uma consequência, já que quem não podia parar quieto em um lugar para viver não se daria o luxo de erguer um templo para chamar de seu. Mas um sítio arqueológico no sul da Turquia, perto da fronteira com a Síria, está questionando isso. Descoberto há duas décadas, Göbekli Tepe é um dos mais antigos templos de que se tem notícia, com pilares e altares de 11.600 anos. Em um cantinho desse templo, os arqueólogos acharam recipientes com resíduos microscópicos de gazelas e auroques, além de oxalato, um composto químico que indica a mistura de grãos e água. Em outras palavras, carne e cerveja, um belo de um churrasco em que esse álcool pré-histórico serviria para lubrificar o contato das pessoas com o plano espiritual (como outras bebidas e drogas fizeram e fazem em outras culturas).

 

 

 

 

 

Göbekli Tepe, Turquia (Divulgação/Divulgação)

Além disso, segundo os cientistas, a festança teria motivos pragmáticos: motivar a própria construção do templo. Os caçadores-coletores labutavam para trabalhar essas pedras de até 16 toneladas e seriam recompensados com a comilança – da mesma forma que você ajuda um amigo a pintar a casa dele e é pago em cerveja. Göbekli Tepe, concluíram os estudiosos, levou as pessoas a se estabelecerem na região para se congregar mais vezes (e aumentar o templo, consequentemente). Ou seja, a religião teria sido um dos motivadores para homens e mulheres se assentarem, e não uma consequência desse novo estilo de vida.

A segunda suspeita que o sítio sustenta é que não foi o pão que liderou a Revolução da Agricultura. Mas a cerveja. Uma das evidências mais antigas de grãos domesticados, um trigo chamado einkorn, foi encontrada a poucos quilômetros de Göbekli Tepe. Não há nada conclusivo, até porque o oxalato não garante que houve fermentação dos grãos (o que indicaria a produção de cerveja). Mas é bem possível. Por volta de 7.000 a.C., em Jiahu, na China, havia bebidas fermentadas de arroz, frutas e mel. Na mesma época, os habitantes da região passaram da fase caçador-coletor para a fazendeiro. Isso reforça a teoria da cerveja ser anterior ao pão, algo que começou a ser discutido já nos anos 1950. Se diferentes povos em lugares distantes uns dos outros têm experiências semelhantes, é porque, provavelmente, tem algo a mais nessa história. Pesquisas no México mostraram que o antepassado do milho usado lá servia muito bem para fazer cerveja, mas não para pão ou outras comidas.

Os humanos já conheciam o álcool obtido da fermentação natural. A chicha de batata, na América do Sul, e o vinho de palma, na África e na Ásia, têm cerca de 15 mil anos. Ao aprofundar esse conhecimento de produção de bebidas, e de como ela poderia deixar a vida menos difícil, faz sentido acreditar que a cerveja é tão antiga assim. O que seria mais útil para o florescimento das artes e das religiões? Pão? Acho que não.

“Primeiro a gente bebe, depois a gente vê”, teriam pensado nossos ancestrais. E aí a cerveja nos fez humanos.

*Por Felipe van Deursen

 

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*Fonte: superinteressante