Dia: 11 de dezembro, 2019
Dies irae – Clarice Lispector
Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece. E nem ao menos posso fazer o que uma menina semiparalítica fez em vingança: quebrar um jarro. Não sou semiparalítica. Embora alguma coisa em mim diga que somos semiparalíticos. E morre-se, sem ao menos uma explicação. E o pior – vive-se, sem ao menos uma explicação. E ter empregadas, chamemo-las de uma vez de criadas, é uma ofensa à humanidade. E ter a obrigação de ser o que se chama de apresentável me irrita. Por que não posso andar em trapos, como homens que às vezes vejo na rua com barba até o peito e uma bíblia na mão, esses deuses que fizeram da loucura um meio de entender? E por que, só porque eu escrevi, pensam que tenho que continuar a escrever? Avisei a meus filhos que amanheci em cólera, e que eles não ligassem. Mas eu quero ligar. Quereria fazer alguma coisa definitiva que rebentasse com o tendão tenso que sustenta meu coração.
E os que desistem? Conheço uma mulher que desistiu. E vive razoavelmente bem: o sistema que arranjou para viver é ocupar-se. Nenhuma ocupação lhe agrada. Nada do que eu já fiz me agrada. E o que eu fiz com amor estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia. E criaram o Dia dos Analfabetos. Só li a manchete, recusei-me a ler o texto. Recuso-me a ler o texto do mundo, as manchetes já me deixam em cólera. E comemora-se muito. E guerreia-se o tempo todo. Todo um mundo de semiparalíticos. E espera-se inutilmente o milagre. E quem não espera o milagre está ainda pior, ainda mais jarros precisaria quebrar. E as igrejas estão cheias dos que temem a cólera de Deus. E dos que pedem a graça, que seria o contrário da cólera.
Não, não tenho pena dos que morrem de fome. A ira é o que me toma. E acho certo roubar para comer. – Acabo de ser interrompida pelo telefonema de uma moça chamada Teresa que ficou muito contente de eu me lembrar dela. Lembro-me: era uma desconhecida, que um dia apareceu no hospital, durante os quase três meses onde passei para me salvar do incêndio. Ela se sentara, ficara um pouco calada, falara um pouco. Depois fora embora. E agora me telefonou para ser franca: que eu não escreva no jornal nada de crônicas ou coisa parecida. Que ela e muitos querem que eu seja eu própria, mesmo que remunerada para isso. Que muitos têm acesso a meus livros e que me querem como sou no jornal mesmo. Eu disse que sim, em parte porque também gostaria que fosse sim, em parte para mostrar a Teresa, que não me parece semiparalítica, que ainda se pode dizer sim.
Sim, meu Deus. Que se possa dizer sim. No entanto neste mesmo momento alguma coisa estranha aconteceu. Estou escrevendo de manhã e o tempo de repente escureceu de tal forma que foi preciso acender as luzes. E outro telefonema veio: de uma amiga perguntando-me espantada se aqui também tinha escurecido. Sim, aqui é noite escura às dez horas da manhã. É a ira de Deus. E se essa escuridão se transformar em chuva, que volte o dilúvio, mas sem a arca, nós que não soubemos fazer um mundo onde viver e não sabemos na nossa paralisia como viver. Porque se não voltar o dilúvio, voltarão Sodoma e Gomorra, que era a solução. Por que deixar entrar na arca um par de cada espécie? Pelo menos o par humano não tem dado senão filhos, mas não a outra vida, aquela que, não existindo, me fez amanhecer em cólera.
Teresa, quando você me visitou no hospital, viu-me toda enfaixada e imobilizada. Hoje você me veria mais imobilizada ainda. Hoje sou a paralítica e a muda. E se tento falar, sai um rugido de tristeza. Então não é cólera apenas? Não, é tristeza também.
— Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”.
Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
……………………………………………………………….
*Fonte: revistaprosaversoearte
Vídeo impressionante mostra como a lua está se afastando da Terra
A Lua está se afastando da Terra, lentamente, processo que teve início há bilhões de anos, quando o satélite natural foi formado.
Para explicar melhor esse fenômeno, o cientista James O’Donoghue, da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (AXA), criou um vídeo no qual é possível ver como o afastamento tem acontecido ao longo dos anos.
Conforme a hipótese do grande impacto, a formação da Lua se deu há 4,5 bilhões de anos, com a colisão entre a Terra e um objeto espacial denominado Theia, cujas dimensões seriam semelhantes às de Marte.
A partir daí, pedaços da crosta terrestre cobertos de magma foram lançados à nossa órbita, dando origem à Lua.
Nessa época, o satélite natural estava bem mais próximo do nosso planeta — cerca de 16 vezes mais perto do que a distância atual — mas com o passar do tempo ele se afastou milhares de quilômetros em relação à posição original, devido às interações entre ambos e também a impactos de meteoritos.
Veja o vídeo
Inicialmente, O’Donoghue pretendia apresentar uma imagem precisa da criação da Lua, como ele contou ao Business Insider. No entanto, ele se empolgou e criou uma animação que mostra toda a história, resumida em menos de 30 segundos.
O vídeo começa mostrando a posição atual da Lua e a seguir faz uma viagem no tempo, voltando ao momento da formação do satélite. Também é possível acompanhar a distância dela em relação à Terra, seu tamanho aparente e a velocidade do seu afastamento ao longo de bilhões de anos.
Como é medida a distância da Terra à Lua?
A Lua se distancia da Terra cerca de 3,8 centímetros a cada ano, atualmente, mas esse movimento nem sempre é constante.
*Por Davson Filipe
………………………………………………………………………..
*Fonte: realidadesimulada