Dia: 7 de abril, 2020
À medida que a camada de ozônio da Terra continua se recuperando, os cientistas relatam alegremente boas notícias
Faz mais de 30 anos que o mundo baniu os produtos químicos que estavam destruindo a camada protetora de ozônio da Terra e simultaneamente provocando algumas mudanças preocupantes na circulação atmosférica no Hemisfério Sul.
Agora, uma nova pesquisa publicada esta semana na Nature descobriu que essas mudanças foram interrompidas e podem até estar se revertendo por causa do Protocolo de Montreal – um tratado internacional que eliminou com sucesso o uso de produtos químicos que destroem a camada de ozônio.
“Este estudo aumenta as evidências crescentes que mostram a profunda eficácia do Protocolo de Montreal. O tratado não apenas estimulou a cura da camada de ozônio, mas também está causando mudanças recentes nos padrões de circulação de ar no Hemisfério Sul ”, disse a autora Antara Banerjee, pesquisadora visitante do CIRES da Universidade do Colorado Boulder, que trabalha na Divisão de Ciências Químicas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).
O buraco no ozônio, descoberto em 1985, vem se formando a cada primavera na atmosfera alta da Antártica. A destruição do ozônio resfria o ar, fortalecendo os ventos do vórtice polar e afetando os ventos até a camada mais baixa da atmosfera da Terra. Por fim, o esgotamento do ozônio mudou a corrente de jato de latitude média e as regiões secas na borda dos trópicos em direção ao Polo Sul.
Estudos anteriores vincularam essas tendências de circulação às mudanças climáticas no Hemisfério Sul, especialmente chuvas na América do Sul, África Oriental e Austrália, e às mudanças nas correntes e salinidade dos oceanos.
O Protocolo de Montreal de 1987 eliminou gradualmente a produção de substâncias destruidoras da camada de ozônio, como clorofluorcarbonetos (CFCs). A partir de 2000, as concentrações desses produtos químicos na estratosfera começaram a diminuir e o buraco na camada de ozônio começou a se recuperar. Neste estudo, Banerjee e seus co-autores mostraram que, por volta do ano 2000, a circulação do Hemisfério Sul também parou de se expandir em direção aos polos – uma pausa ou uma ligeira reversão das tendências anteriores.
“O desafio deste estudo foi provar nossa hipótese de que a recuperação do ozônio está de fato impulsionando essas mudanças na circulação atmosférica e não é apenas uma coincidência”, disse Banerjee.
Para fazer isso, os pesquisadores usaram uma técnica estatística de duas etapas chamada detecção e atribuição: detectar se é improvável que certos padrões de mudanças observadas no vento sejam devidos apenas à variabilidade natural e, nesse caso, se as alterações podem ser atribuídas a causas humanas. fatores, como emissões de produtos químicos que destroem a camada de ozônio e CO2.
Usando simulações em computador, os pesquisadores primeiro determinaram que a pausa observada nas tendências de circulação não poderia ser explicada apenas pelas mudanças naturais nos ventos. Em seguida, isolaram os efeitos do ozônio e dos gases de efeito estufa separadamente.
Eles mostraram que, embora o aumento das emissões de CO2 continue expandindo a circulação perto da superfície (incluindo a corrente de jato), apenas as mudanças de ozônio poderiam explicar a pausa nas tendências de circulação. Antes de 2000, o esgotamento do ozônio e os níveis crescentes de CO2 impulsionavam a circulação na superfície próxima. Desde 2000, o CO2 continua impulsionando essa circulação, equilibrando o efeito oposto da recuperação do ozônio.
“Identificar as tendências de pausa na circulação impulsionadas pelo ozônio em observações do mundo real confirma, pela primeira vez, o que a comunidade científica do ozônio há muito tempo previu a partir da teoria”, disse John Fyfe, cientista do Environment and Climate Change Canada e um dos co-autores do artigo.
Com a recuperação da camada de ozônio e os níveis de CO2 continuando a subir, o futuro é menos certo, inclusive para as regiões do Hemisfério Sul, cujo clima é afetado pela corrente de jato e para as que estão nas margens das regiões secas.
“Nós chamamos isso de ‘pausa’ porque as tendências de circulação em direção contrária podem retomar, permanecer uniformes ou reverter”, disse Banerjee. “É o cabo de guerra entre os efeitos opostos da recuperação do ozônio e o aumento dos gases de efeito estufa que determinarão as tendências futuras”.
No entanto, um relatório de 2018 da Organização das Nações Unidas diz que o famoso buraco na camada de ozônio pode ser totalmente curado na década de 2060 – e em algumas áreas do mundo, pode ser em 2030.
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*Fonte: pensarcontemporaneo
Coronavírus escancarou a conta do nosso egoísmo
Se antes bastava se cercar no próprio feudo e a guerra não chegaria ali, agora, para funcionar para mim, precisa funcionar para todo mundo
No último dia 22, no meio da pandemia de coronavírus, uma senhora de 90 anos faleceu na Bélgica após ter recusado o ventilador mecânico para ceder o equipamento em favor de alguém mais jovem. “Guarde para alguém mais jovem. Eu vivi uma boa vida” foi o que ela disse dias antes de falecer.
Não é hidroxicloroquina ou cloroquina que irão nos salvar dessa vez.
O inimigo dessa vez é invisível e implacável: fez os líderes das grandes nações parecem crianças assustadas, fez o Papa sozinho e cabisbaixo perdoar os nossos pecados, fez judeus e muçulmanos rezarem juntos.
As nossas tradicionais armaduras falharam. De nada adiantou o poderio militar nuclear dos mísseis ou os inalcançáveis imóveis de luxo do Central Park: o gramado agora está cheio de tendas de hospital de campanha. Nossos planos de saúde caros não foram suficientes para tirar o receio da falta de equipamentos de nossas cabeças e tampouco nossos celulares e televisões sofisticados foram capazes de entreter no meio dessa solidão sentida e vivenciada por todos.
Sentimo-nos amedrontados, perdidos, sozinhos. E aí, diante de algo que não sabemos como nem quando vai acabar, fomos obrigados a ajoelhar. E para ajoelhar, todos nós fomos obrigados a aprender que é necessário sair dos nossos tronos, das nossas bolhas, das nossas coberturas, das nossas realidades e aproximar a cabeça do chão, frágeis e despidos.
Quando a gente se abaixou, acabamos esbarrando as cabeças uns nos outros e o milagre começou a acontecer. Começamos a perceber que a doença que mata a minha mãe também mata a mãe de quem mora do outro lado do mundo. Vimos que o mesmo problema que quebra o meu negócio desemprega o meu funcionário mais simples. Passamos a enxergar a importância de profissões que muitas vezes considerávamos pouco importantes ou dispensáveis. Constatamos que o medicamento que me falta também faltará para quem mora na favela. Sentimos que a mesma solidão que se abate sobre mim angustia o outro que tem nome, cor, origem e religião diferentes dos meus.
Despedaçados perante nossos medos mais ocultos, enfim fomos obrigados a admitir aquilo que já sabíamos mas não queríamos aceitar: somos todos iguais. No final das contas, após todo o dinheiro, todo o status, todos os privilégios, encolhemo-nos de medo das mesmas coisas e sentimos uma compaixão comum diante dos números que crescem, seja na Itália, nos Estados Unidos ou na nossa cidade.
Se antes bastava se cercar no próprio feudo e a guerra não chegaria ali, agora, para funcionar para mim, precisa funcionar para todo mundo. Para que eu seja protegido, preciso proteger os outros. A conta do nosso egoísmo chegou, cara e sem nenhum desconto.
Mas com o milagre, percebemos que essa conta pode ser paga de outra forma. Dito e repetido, não são hidroxicloroquina ou cloroquina que encerrarão esses tempos obscuros. Já descobrimos a cura e ela se chama amor. Pode parecer piegas, não é mesmo? Mas a verdade é que chegamos no ponto decisivo, na curva da inflexão na qual ou nós mudamos a maneira de convivermos enquanto sociedade ou estaremos sempre à mercê de nosso próprio egoísmo disfarçado de vírus, guerras, crises econômicas ou governantes inescrupulosos.
Para muito além do desespero e caos que estafam a nossa mente, o Brasil que se apresenta agora é o Brasil dos profissionais de saúde exaustos que se revezam incansavelmente para salvar pessoas que nem conhecem. É o Brasil de empresários assumindo prejuízos para não demitir seus funcionários. É o Brasil de pessoas parando suas atividades para garantir o bem-estar de outros. É o Brasil dos entregadores, garis, caminhoneiros e caixas de supermercados. É o Brasil de pessoas que doam o pouco que tem para que quem tem menos ainda possa ter algo. É o país do amor ao próximo e de gente que se preocupa com gente, de forma real e para além de qualquer discurso vazio e hipócrita.
Esse país de gente solidária, trabalhadora e resiliente pode afinal ser o gigante que acordou, ainda que tantos discursos e personagens irresponsáveis tentem macular nosso foco. A reflexão sobre qual lado da história iremos (e optaremos por) estar nunca foi tão necessária.
Tempos difíceis servem para algumas coisas, entre elas grandes aprendizados e reflexões incômodas. Quando aquela senhora heroína na Bélgica cedeu seu equipamento, a afirmação dela pode e deve ser repetida aqui: “guarde para alguém mais jovem”. E dessa vez, não é sobre o equipamento. É sobre o legado e a história que estamos construindo nesse momento decisivo. É a hora de abaixarmos as nossas bandeiras ideológicas e substituí-las por empatia, bom-senso e álcool em gel. Fiquemos em casa e ajudemos uns aos outros, irrestritamente. Construamos, unidos, nesse momento difícil, uma nação melhor e mais solidária, para que possamos deixar, após a crise, um país melhor “guardado para os mais jovens”. É essa a real cura para o temido vírus.
*Pedro Aihara é bombeiro militar, mestre em Direitos Humanos, especialista em Gestão e Prevenção de desastres, professor e palestrante. Atuou em crises como as de Brumadinho, Mariana, Janaúba, entre outras.
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*Fonte: elpais