Dia: 12 de abril, 2020
É possível ser imparcial?
Em meio a novas discussões acaloradas todos os dias, um cenário cada vez mais apocalíptico parece se instalar para o discurso imparcial. Ficam as dúvidas então: podemos ser imparciais, ou somos seres fadados a escolher um lado? Será que evoluímos para sermos assim, ou já houve um dia que soubemos ser neutros?
Há ainda uma esperança, e podemos todos aprender com ela…
A história também é parte de nós
Cada dia parecemos estar mais divididos. Com uma guerra de ideias, pensamentos e ideologias, somos levados a escolher lados e defender nossas posições a todo custo. Este tipo de comportamento não é novo, aliás de certa forma ele é antecessor ao homem.
É claro que não haviam discussões verbais antes do homem, podemos ressaltar os primatas, que de certa forma “vocalizavam” em meio a disputas, mas não chegava a ser verbal.
Os seres vivos em sua maioria são tribais. E parece muito sensato afirmar, que nossa evolução social, só floresceu por causa deste comportamento. Deixando de lado o comportamento de outros animais que se organizam em castas, em grupos e tribos, vamos nos ater ao homem. Mas se quiser, exercite a memória e tente nos comparar a outros seres.
Pertencer é a palavra chave. Desde nossos primórdios como espécie, onde a vida era austera, pressionada por dificuldades naturais, busca por comida, abrigo e por disputas entre tribos. Pertencer a uma tribo era a melhor garantia de sucesso e sobrevivência. Mas a essência principal, era a de identidade. A criação de uma cultura, costumes e crenças. A ideia de unicidade, fez gerar o início do pensamento dicotômico: “Nós pensamos igual, temos as mesmas crenças. Juntos somos mais fortes e somos um só. Aqueles que não compartilham do mesmo são uma ameaça e devem ser convertidos. Se eles não concordarem conosco devemos eliminá-los, ou então, seremos eliminados por eles”.
Mas temos que entender que este comportamento não é benéfico. Além de ter sido praticado somente por tribos mais violentas e extremistas, o comportamento observado que resultava nas melhores chances de sobrevivência, eram aqueles nos quais as tribos cooperavam entre si.
Foi através de pensamentos contrários, que muitas discussões foram travadas ao longo da história, mas seus participantes estavam abertos a novas ideias. E assim o progresso foi feito.
Mas então porque será que estamos em guerra a todo momento por nossos ideais hoje? Será que voltamos a ser tribais? Onde isso pode ter começado?
A queda de um muro físico e o surgimento de um ideológico
Gosto de questionamentos como este, porque talvez eles estejam abertos a hipóteses nunca pensadas antes. Fiquem à vontade para deixar suas ideias, pois vou deixar a minha logo abaixo.
Tudo pode ter começado com a era pós-moderna. Para os sociólogos este período teve início logo após a queda do muro de Berlim. Mas foi Alain Ehrenberg quem deu o tom de maneira mais precisa para o que estamos procurando. Para ele a revolução pós-moderna começou numa quarta-feira à noite, no outono da década de 1980, quando uma certa Vivienne, uma mulher comum, na presença de 6 milhões de telespectadores declarou nunca ter tido um orgasmo durante seu casamento. Isso porque seu marido Michel, sofre de ejaculação precoce.
Por que começo da revolução? Porque repentinamente, as pessoas começaram a confessar coisas que eram a personificação da privacidade, da intimidade.
Foi esse o começo da ideia de que nós como indivíduos somos interessantes, todos nós.
Que nossa singularidade de alguma maneira, nos faz especiais. Acredito que a evolução dessa ideia trouxe um sentimento que valida a opinião como argumento. E hoje através das mídias sociais, estamos conectamos de maneira muito mais rápida e eficiente do que nas épocas passadas. Ter sua ideologia reconhecida e compartilhada gera uma química cerebral prazerosa acerca de que você está certo e que é o responsável por guiar os menos inteligentes. Parece um déjà vu, mas é uma velha história humana que se repete entre imperadores, faraós, ditadores, pensadores, etc. Não estamos somente nas redes sociais para sermos “famosos”, mas também para sermos aprovados. E foi através deste sentimento que começamos a nos segregar. Acreditamos que nossos ideais são superiores aos demais, e que devemos converter os demais, e se eles não se converterem, são portanto uma ameaça e devemos eliminá-los.
Estamos voltando às épocas tribais.
As mídias nunca serão imparciais
Desista. Não adianta fazer protesto, brigar, discutir ou vandalizar. Mídias são um comércio, e o comércio não pode ser imparcial. Não é muito intuitivo pensar que o jornalismo seja um comércio, mas jornais impressos não vendem se as notícias desagradam seu público, assim como o telejornal perderá audiência se noticiar muita coisa contra o consenso. Ou você já viu muitas matérias sobre aborto ou benefícios da maconha? Queira você ou não, é a maioria que vence essa guerra, e a maioria quase sempre está errada.
Não é de se estranhar, se nós somos seres parciais, enviesados, não seria diferente com o que disseminamos por aí. Lembre-se que a ideia é sempre agrupar mais pessoas na mesma tribo. Ou agradar a maior tribo possível.
Mas as pessoas vivem questionando como o jornalismo deveria ser imparcial. E esta ideia não poderia estar mais errada. O que as pessoas devem entender é que os veículos terão vieses, e que nós devemos ser capazes de reconhece-los. Então tendo inúmeros veículos, com inúmeros vieses, sermos capazes de racionalizar sobre toda a informação. Pesquisar por conta própria e assim separar o que é um bom conteúdo de um conteúdo ruim. Como já ouvimos dizer, sempre há dois lados da história. Não quer dizer que um esteja errado e o outro certo, somente que haverá algumas versões e você deveria ser capaz de discernir qual se encaixa melhor na realidade.
O tribalismo moderno
Bauman discorre de forma exata sobre nosso comportamento tribal no Facebook.
“Nós somos uma rede, e não mais uma comunidade.”
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Nossos laços estão fixados em uma rede que nos separa dos laços humanos pessoais. Uma rede só existe por causa de suas conexões e desconexões. A maior atratividade é exatamente poder se desconectar. Desfazer uma conexão com alguém pessoalmente é sempre uma experiência traumática. Online esta ação só está a um clique de distância.
O tribalismo moderno, parte do pressuposto de uma conexão que não cria mais laços. Sem a intimidade, nossas ações ficam focadas em causas impessoais, a ligação pessoal se desfaz. A relação com sua tribo torna-se puramente ideológica, com pouquíssima empatia pelos seus pares ou seus ímpares. Agora é o ideal que prevalece em detrimento e sacrifício dos indivíduos, em nome de algo maior. Esta nova tribo é extremista e violenta, e aqueles que pensam diferente devem perecer.
É pela falta de contato pessoal que nos esquecemos das nuances de cada unidade. De que mesmo compartilhando um ideal, é impossível que seus desdobramentos sejam os mesmo para todos. A cultura ao longo dos tempos foi moldada desta maneira. De forma pessoal, o toque do indivíduo no coletivo, adaptava uma comunidade a outra, um pensamento ao outro, possibilitando o convívio e a evolução social.
Mas é claro que o tribalismo moderno não se encarcera dentro dos limites da internet. Ainda há muitos conflitos, principalmente religiosos, que carregam uma carga tribal gigantesca. A crítica é que criamos ferramentas incríveis capazes de conectar pessoas de cantos diferentes do mundo, e através de um comportamento irracional estamos nos separando das pessoas que estão dentro da nossa própria casa.
A política é agravante
Em tempos políticos extremos e delicados, a maior derrota é a falta de diálogo. O meio termo se perde e as verdadeiras soluções ficam à margem de qualquer discussão. Somos impelidos a acreditar em ideologias e muitas vezes estaremos cegos para os fatos. Nos afundamos em trincheiras ideológicas, longe da imparcialidade, e defendemos pessoas, que por vezes não se dão sequer o trabalho de lutar por nossos direitos. Ficamos envoltos em uma névoa de publicidade, feita para atrair e confundir.
No meio dessas novas guerras tribais, talvez o maior culpado tenha sido os cenários políticos. Radicalizando muitos que eram antes, mais neutros. Os maiores culpados pela eleição de Trump foram os Democratas. Os maiores culpados por uma possível eleição de Bolsonaro são a Esquerda. A revolta acontece sempre em oposição, e com força desproporcional ao antigo Status Quo. É como pressionar uma mola, depois que ela se solta suas extremidades nunca param no mesmo local. Elas tendem a se estender além do ponto inicial.
O extremismo político invadiu outras áreas, e hoje discussões que não possuem quase ou nenhuma relação com política, são distorcidas e levadas a tal.
Há uma fórmula para a imparcialidade
Nós somos tribais. Nós somos enviesados. Nós escolhemos lados.
Parece impossível ser imparcial e não estar lutando cegamente por um lado.
Cognitivamente falando, é mesmo muito difícil fugir destas armadilhas. Nós fomos programados ao longo da evolução para nos agruparmos. Mas como tantas outras armadilhas que nós vencemos, essa não é a mais difícil delas.
Acredito que a ciência vem trazendo para a luz as maiores dúvidas da humanidade. Mas além de seu lado frio e técnico, a beleza filosófica do pensamento científico nos dá uma visão mais justa e social da vida que temos.
E foi através das palavras ditas pelo cientista Neil deGrasse Tyson, que pude realmente enxergar uma possibilidade de solução para o dilema da imparcialidade. Antes que eu conclua meus pensamentos, deixo à vocês cinco simples regras dadas por ele para uma sociedade mais coerente:
1.Questione a autoridade. Nenhuma ideia é verdadeira só porque alguém disse, inclusive eu.
2. Pense por si mesmo. Questione-se. Não acredite em nada só porque você quer. Acreditar em algo não faz com que seja verdade.
3. Teste ideias pela prova obtida após observação e experiências. Se a ideia preferida não passar por um teste bem elaborado, então está errada. Esqueça-a.
4. Siga a prova aonde quer que ela o leve. Se não houver prova, não julgue.
5. E, talvez, a regra mais importante de todas. Lembre-se, você pode estar errado. Até os melhores cientistas já estiveram errados em algumas coisas. Newton, Einstein e todos os outros grandes cientistas da história, todos cometeram erros. Mas é claro, eles eram humanos.
A ciência é um jeito de não enganarmos a nós mesmos, e aos outros.
Se os cientistas erram? Claro. Já usamos mau a ciência, assim como qualquer outra ferramenta à nossa disposição. E é por isso que não podemos deixá-la nas mãos de poucos poderosos. Quanto mais a ciência pertencer a todos nós, menor a probabilidade de ser mal utilizada.
Esses valores abortam os valores do fanatismo e da ignorância, e, afinal, o Universo é basicamente escuro, com algumas ilhas de luz.
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Tenha em mente que não somos uma moeda. Não temos só dois lados. Somos um dado multifacetado, cheio de possibilidades e soluções. Porém se deixarmos ele não mão de duas “tribos”, estaremos fadados a experimentar um jogo corrupto, onde só se consegue dois resultados.
*Por Luan Verone
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*Fonte: ciencianautas
Crise de identidade na atualidade
Nunca se teve tamanha necessidade de se encontrar, criar ou recriar sua identidade, chegamos a uma era onde o que mais vemos são pessoas sem saber o que são, voltando um pouco no tempo, nos anos 80 podíamos ver os grupos de disco, de rock, os fãs de esportes, os religiosos, caseiros, cada um em seu círculo social todos bem definidos.
Anos 2000 em diante, explode a filosofia que você pode ser quem você quiser… legal, logo todo mundo livre para escolher o que quer ser, mas o que quero ser? pergunta simples ? ninguém sabe responder, ser, significa trazer para si um ou mais elementos culturais ,sociais que vai designar sua identidade, mas voltando a uma velha e clássica pergunta; o que você vai ser quando você crescer? Mas você cresce todos os dias, então todos os dias você precisa ser alguém, como decidir, a que caminho seguir…
Na era do feudalismo por volta do sec.V d.c acreditava-se que você nascia em um certo grupo social e você pertenceria a esse grupo, logo se você fosse de uma família de lavradores, lavrador você seria, de certa forma a organização social estava estruturada a “modus operandi”.
A sociedade prosseguiu e com o tempo a maioria do mundo veio se tornar estado de nações democráticas, onde o cidadão da polis era livre para escolher seu próprio caminho, esperávamos que no futuro como narra a canção Future World ¹….,
“Todos nós vivemos felizes
Nossas vidas são cheias de alegria
Nós falaremos sobre o mundo de amanhã sem medo
Nós amamos nossas vidas e nós sabemos que vamos ficar
Pois todos nós vivemos no mundo futuro
Um mundo que é cheio de amor
Nossa vida futura será gloriosa.”
O futuro chegou, dúvida ? Estamos no século 21. Na era mais moderna e avançada da história da humanidade. É um mundo totalmente diferente daquele dos nossos pais, que dirá de nossos avós. Nosso cotidiano mudou em comparação tem pouco a ver com a realidade de 30, 40 ou 50 anos atrás. Para você ter uma ideia, hoje já temos a tecnologia para explorar o espaço de várias formas. O telescópio espacial Hubble, por exemplo, lançado ao espaço em 1990, permitiu ao homem pela primeira vez ver mais longe do que as estrelas da nossa própria galáxia.
Logo, imaginamos que a profecia da canção do Helloween se cumpriu, todos estão felizes dentro de suas identidades no futuro…. O que vemos é exatamente o contrário, vemos pessoas e mais pessoas, perdidas nesse mundo, sem saber qual caminho seguir, qual verdade ouvir , ninguém sabe o que são ou o que deveriam ser…
Bem, antigamente, íamos ao supermercado e só tinhas 3 sabores de um biscoito recheado: morango, chocolate e baunilha, em um desses três nós tínhamos nosso sabor favorito, que normalmente era chocolate haha, hoje nas prateleiras há uma imensidade de sabores, logo ficamos confusos em qual sabor escolher, isso vale para os campos artísticos, serviço de streaming de música ou vídeo com uma galeria quase que infinita, e nós com vontade de ver tudo, nem paramos para pesquisar a fundo o que realmente nos interessaríamos, só vamos seguindo submersos nessa montanha de opções, logo, a pergunta, o que queremos ser dá extensão a uma outra pergunta, o que queremos consumir ?
Bem, antes precisamos seguir uma filosofia oriental que é muito válida, pouco é muito, precisamos operar em nossas vidas com do micro para o macro, não do macro para o micro. Precisamos inicialmente conscientizar para nossas vidas o que deixamos entrar nela , e ter o controle do que realmente operaremos nela. Primeiro passo é seguir aquele velho conselho, não ser Maria vai com as ouras, na nossa atualidade essa expressão pode ser entendida como “modinha”, onde a mídia, o “mainstreaming”, dita algo como bom, o mais consumido, problema é mídia é rotativa, todo dia vai ter algo “bom”, algo “mais consumido”, convenhamos, precisamos desacelerar, quando foi à última vez que escutamos a discografia do nosso artista favorito? Quem são nossos artistas favoritos? Qual nosso autor favorito? Qual nosso filme favorito, qual nossa saga favorita ? Qual nosso gênero de filme, música, livro favorito, precisamos resgatar essas questões para começara montarmos uma identidade mais sólida, não siga modas, comece a montar sua própria moda, use a internet para conhecer estilos, gêneros que a mídia “mainstreaming” diz que é o melhor, entre na internet coloque lá, história do country, rock, jazz, blues, vai conhecendo a cronologia, os artistas e bandas que consagraram o gênero musical.
Pesquise a fundo sobre tal obra, seja literária, cinematográfica, game, musical, tecnológica.
Aproveite esse tempo você que está nesse isolamento para conhecer e se conhecer fora da caixinha.
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*Fonte: equilibrioemvida