Dia: 12 de agosto, 2020
Para prevenir novas pandemias é preciso investir na natureza
Economia mundial registra 2,6 trilhões de dólares gastos com o combate à Covid-19. Combater o desmatamento e o tráfico de animais silvestres são as medidas essenciais.
Um estudo publicado na revista científica Science, em julho, sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus na economia mundial, reafirma a necessidade de combatermos o tráfico de animais silvestres (ou selvagens). Segundo os pesquisadores, se quisermos impedir o surgimento de novas zoonozes é necessário também controlar o desmatamento das florestas tropicais.
O artigo avalia quanto nos custa não investir em ações ecológicas. “Atualmente, investimos relativamente pouco na prevenção do desmatamento e na regulamentação do comércio de animais silvestres”. O estudo mostra que que os custos associados ao combate à Covid-19 por países e empresas em esforços preventivos “seriam substancialmente inferiores aos custos econômicos e de mortalidade”.
As regiões bordas (fronteiras) das florestas tropicais são potenciais territórios para o surgimento de novas doenças transmitidas ao homem por animais. E quanto mais desmatamos e retiramos a fauna silvestre de seu habitat natural e invadimos seus territórios, mas estaremos expostos. Segundo os autores, nas regiões onde 25% ou mais da vegetação original foi queimada ou desmatada, o risco de novos focos de transmissão por vírus aumenta. A redução destes índices é fundamental para evitar este ciclo.
Os pesquisadores acreditam que o desenvolvimento desordenado dos centros urbanos, a migração, a guerra, a monocultura de animais e, também, agrícola levaram ao surgimento do que chamam de “transbordamento” de novos vírus. A taxa de transmissão de uma zoonose depende da densidade de seres humanos e animais domésticos em ambientes não urbanos ou rurais. Quanto mais construirmos e nos desenvolvemos a partir de um sistema não ecologicamente sustentado, mais aumentamos o risco de colapsos ambientais, econômicos e sociais como o que estamos assistindo com a pandemia.
Investir para prevenir
Os dados apresentados no periódico revelam que seriam necessários 22 bilhões de dólares para preservar o ambiente no planeta. Parece um valor muito alto, mas ainda assim é bem menor do que os 2,6 trilhões de dólares que já foram perdidos pela economia mundial no combate à Covid-19, que já tirou a vida de quase 700 mil pessoas, até o momento.
Os pesquisadores dizem que adiar uma estratégia global para reduzir o risco de pandemia levará a humanidade a gastos crescentes contínuos. E pedem para que fundos dos países para a recuperação da economia pós-pandemia reservem recursos suficientes para desenvolver estratégias que incluam o combate ao desmatamento e ao tráfico de animais para evitar novos desastres sanitários e humanos como o que estamos vivendo.
*Por Manuella Soares
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*Fonte: animalcare
Quando a única coisa que evolui é o atraso: para incentivar a leitura no Brasil, governo quer aumentar o preço dos livros
A literatura, definitivamente, não é o entretenimento que mais seduz o brasileiro. Com a concorrência da internet e de serviços de streaming como a Netflix, a leitura fica relegada a um terceiro ou quarto plano na preferência dos que aqui têm a sorte de serem letrados — e, sim, no Brasil, isso é um privilégio. Como se não fosse suficiente esse cenário desanimador, o mercado literário atravessa ainda uma crise vinda desde antes da pandemia, o que pode ser percebido claramente pelo pedido de recuperação judicial das duas maiores livrarias do país, a Cultura e a Saraiva. É partindo desses pressupostos que se chega à conclusão de que o novo tributo proposto pelo governo é absurdo, podendo representar a pá de cal que faltava para destruir o mercado brasileiro de livros.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil confirma algo que se percebe no cotidiano: o brasileiro lê pouco. Apesar de uma melhora dos índices em relação à mostra anterior, dados revelam que 44% da população não têm o hábito da leitura e 30% sequer compram livros. O patamar de 4,96 livros lidos anualmente por pessoa, em média — sendo apenas metade deles lidos até o fim —, demonstra que estamos longe de ser uma pátria preocupada com a educação de seu povo. Diferente de lugares como Buenos Aires, por exemplo, onde há basicamente uma livraria em cada esquina, por aqui parece reinar a indiferença com relação ao incentivo da leitura para a população. Há quem diga que enobrecer o espírito crítico do cidadão seria um tiro no pé para os dirigentes políticos, já que poderia ser prejudicial aos fins eleitoreiros dos governantes em um país cuja taxa de analfabetismo ainda está em quase 7%. Faz um pouco de sentido.
Reflexo disso e de outros fatores, a indústria literária passa por uma crise profunda. Além da quebra das grandes empresas, a alteração do perfil do leitor com a adoção de novas tecnologias fez surgir um período de adaptação no setor. Em meio a tudo isso, é evidente que escrever no Brasil é verdadeiramente um ato de amor. O mercado editorial não permite que os autores façam dinheiro como em outras profissões, mas ainda assim o objeto final acaba encarecido. O livro, no país, é consideravelmente caro. Por causa do mercado consumidor pequeno, as vendas seguem a mesma proporção, mas a confecção dos exemplares não custa menos por isso. Existem gastos fixos que, devido à tiragem tradicionalmente baixa, fazem com que o preço final acabe pesando para o consumidor.
Esse panorama, que já é lamentável em todo o seu ciclo, agora pode se tornar ainda mais insustentável. Apesar de a Constituição prever imunidade tributária para livros, não havendo, portanto, incidência de impostos sobre eles, um projeto de lei visa instituir uma contribuição que, no fim das contas, implicará uma taxação das obras literárias. É que, apesar de imunes a tributos, eles não são isentos de contribuições sociais, e essa manobra interpretativa resultaria no encarecimento de seu valor final. Seria uma quebra na tradição nacional de favorecer o conhecimento por intermédio da isenção tributária de bens que promovam a disseminação de conhecimentos, num retrocesso tão absurdo quanto desarrazoado.
É importante lembrar que em outros países essa imunidade tributária se faz presente justamente graças à sua fundamental importância para o crescimento intelectual da sociedade. O barateamento dos livros é de interesse de qualquer nação que valorize a leitura como método transformador, uma vez que ler é o caminho mais prático para se desenvolver uma comunidade culturalmente forte e plural. Com a criação da contribuição sobre os livros, o Brasil apenas demonstra que ser uma pátria educadora não está entre suas prioridades. A devastação no setor será grande, mas os reflexos em uma sociedade de evolução intelectual já notoriamente precária serão ainda piores.
O país das prioridades invertidas subverte sempre a lógica, e dá inveja a qualquer enredo trágico de livro. Ou de série da Netflix, que é uma alternativa mais barata e politicamente mais aceitável.
*Por Matheus Conceição
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*Fonte: revistabula