Relações que nos desafiam são mais enriquecedoras. Relações que refletem exatamente um espelho de quem somos, são empobrecedoras

No livro de memórias de Isabel Allende: “A soma dos dias”, ela relata uma das brigas épicas que teve com o então marido, o advogado e escritor Willie Gordon: “Willie e eu tivemos uma dessas brigas que fazem história na vida de um casal e merecem nome próprio – feito “guerra de Arauco”, como ficou conhecida na família uma que fez com que meus pais andassem armados durante quatro meses – , mas agora, quando se passaram muitos anos e posso olhar para trás, dou razão a Willie (…) Foi um choque de personalidades e culturas”

Deixando de lado o fato da união ter acabado após 27 anos, e de ter sido marcada por tragédias: ela perdeu uma filha, enquanto ele perdeu dois; foi um relacionamento forte e bonito, pontuado pelas diferenças de cultura e de personalidade.

Choques de cultura e personalidade podem ser encarados como divisores de águas numa relação ou, ao contrário, como oportunidades de aprender, evoluir, e assimilar outras formas de responder aos desafios da existência. Se estivermos abertos o bastante para aceitar as diferenças como aprendizados e não afrontas, enriqueceremos como pessoas.

Quando desejo que o outro seja exatamente como sou, que aja precisamente como eu agiria se estivesse no lugar dele, que cumpra minhas expectativas e anseios da forma como imagino, que diga o que espero ouvir, que tenha atitudes semelhantes às minhas, que seja tão entusiasmado quanto eu por aquilo que me interessa, que tenha gostos semelhantes aos meus, que vibre com a mesma intensidade que eu, que se cale nos momentos que eu imagino como certos, que se comporte segundo os meus critérios, que se limite naquilo que eu acho justo que ele se contenha, que cumpra exatamente o meu script… quando desejo isso, estou empobrecendo a relação e, mais ainda, estou esgotando minhas possibilidades de evoluir e crescer como pessoa.

Precisamos de provocações. De sermos desafiados a encarar a vida com novo olhar; de sermos encorajados a tirar as lentes com que percebemos o mundo para enxergar outras possibilidades e maneiras de conduzir a existência. Precisamos começar a aceitar a singularidade do outro, entendendo que há outras formas de analisar, sentir e reagir a uma situação, e não somente a forma como aprendemos, e que, por isso, julgamos como certa. Precisamos estar bem confortáveis com a liberdade do outro, sem que isso seja apontado como uma afronta a nós mesmos.

Numa relação não existe somente a pessoa A encontrando com a pessoa B, e sim a história da pessoa A se deparando com a história da pessoa B, e essas diferenças precisam ser celebradas, e não lamentadas. Precisamos começar a rever nossas crenças – muitas vezes limitantes – e abrir-nos sem preconceitos ou resistências à maneira como o outro experimenta e vive a vida.

É preciso aprender a lidar bem com as diferenças, sem querer moldar o outro à nossa imagem e semelhança. Que as diferenças sejam motivos de celebração, e não de frustração ou decepção.

Segundo a psicanálise, a paixão é um equívoco. Pois a paixão é uma projeção. Projetamos no outro aspectos de nós mesmos (nossas neuroses, nossas formas de nos relacionar, nossas experiências e vivências, nossos traumas) ou projetamos aquilo que desejamos que o outro seja para nós. Porém, na maioria das vezes, estamos completamente enganados a respeito do outro.

Separada de Willie, Isabel Allende encontrou um novo amor aos 75 anos. Numa entrevista, comentou: “Sempre estou alerta, aberta ao mistério da vida, às coisas maravilhosas que nos esperam e às trágicas que ninguém deseja”. Ela tem razão. A vida não está aí para ser evitada ou lamentada, mas para ser vivida com coragem e espírito aberto, não deixando que nossas crenças nos limitem, mas que tenhamos uma alma jovem o bastante para se considerar sempre no processo e nunca pronta.

*Por Fabíola Simões

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*Fonte: asomadetodososafetos

Por que Microsoft deixou 855 computadores no fundo do oceano por dois anos

Dois anos atrás, a Microsoft colocou um centro de dados no fundo do mar na costa de Orkney, um arquipélago no norte da Escócia, em um experimento radical.

Esse centro de dados agora foi recuperado do fundo do oceano, e os pesquisadores da Microsoft estão avaliando agora como tem sido seu desempenho durante esse tempo e o que podem aprender com ele sobre eficiência energética.

A primeira conclusão deles é que o cilindro forrado de servidores teve uma taxa de falha menor do que um centro de dados convencional.

Quando o contêiner foi retirado do fundo do mar, a cerca de 800 metros da costa, após ser colocado lá em maio de 2018, apenas oito dos 855 servidores a bordo falharam.

Isso é um bom índice quando comparado com um centro de dados convencional.

“Nossa taxa de falhas dentro da água foi um oitavo do que temos em terra”, disse Ben Cutler, que liderou o que a Microsoft chama de Projeto Natick.

A equipe levantou a hipótese de que o desempenho melhor pode estar ligada ao fato de que não havia humanos a bordo e que nitrogênio, em vez de oxigênio, foi bombeado para a cápsula.

“Achamos que tem a ver com essa atmosfera de nitrogênio que reduz a corrosão e é fria, e sem as pessoas mexendo em tudo”, diz Cutler.

Orkney foi escolhida para o teste pela Microsoft em parte porque era um centro de pesquisa de energia renovável em um lugar de clima temperado — um pouco frio até. A hipótese central é de que o custo do resfriamento dos computadores é menor quando estão debaixo d’água.

O cilindro branco emergiu das águas frias com uma camada de algas, cracas e anêmonas após um dia de operação de retirada.

Porém, por dentro, o centro de dados estava funcionando bem — e agora está sendo examinado de perto pelos pesquisadores.

Na medida em que mais e mais dados nossos são armazenados em “nuvem” hoje em dia, existe uma preocupação crescente com o vasto consumo de energia por centros de dados.

Mais ecológico

O Projeto Natick tratava em parte de descobrir se os clusters de pequenos centros de dados subaquáticos para uso de curto prazo poderiam ser uma proposta comercial, mas também uma tentativa de aprender lições mais amplas sobre eficiência energética na computação em nuvem.

Toda a eletricidade de Orkney vem de energia eólica e solar, mas não houve problemas em manter o centro de dados subaquático alimentado com energia.

“Conseguimos funcionar muito bem em uma rede que a maioria dos centros de dados baseados em terra considera não confiável”, disse Spencer Fowers, um dos membros da equipe técnica do Projeto Natick.

“Estamos com esperança de poder olhar para nossas descobertas e dizermos que talvez não precisemos ter tanta infraestrutura focada em energia e confiabilidade.”

Os centros de dados subaquáticos podem parecer uma ideia estranha. Mas David Ross, que é consultor do setor há muitos anos, diz que o projeto tem um grande potencial.

Ele acredita que eles podem ser uma opção atraente para organizações que enfrentarem um desastre natural ou um ataque terrorista: “Você poderia efetivamente mover algo para um local mais seguro sem ter todos os enormes custos de infraestrutura de construir um edifício. É flexível e econômico.”

A Microsoft é cautelosa ao dizer quando um centro de dados subaquático poderá ser um produto comercial, mas está confiante de que a ideia tem valor.

“Achamos que já passamos do ponto de experimento científico”, diz Ben Cutler. “Agora é simplesmente uma questão de o que queremos projetar — seria algo pequeno ou grande?”

O experimento em Orkney terminou. Mas a esperança é que ele ajude a encontrar uma forma mais ecológica de armazenamento de dados tanto em terra quanto debaixo d’água.

*Por Rory Cellan-Jones
Correspondente de Tecnologia

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*Fonte: bbc-brasil