Você pode ser bom e, ainda assim, mandar algumas pessoas se lascarem

Logicamente, por vivermos em sociedade, não poderemos agir como quisermos, falar o que vier à cabeça, nem levar a vida como bem entendermos, sem pensar em ninguém mais. Nossas ações alcançam mais pessoas do que imaginamos e somos responsáveis, até certo ponto, também com quem nos ama e faz parte de nossas vidas. Não podemos machucar as pessoas e achar que está tudo bem; não é assim que funciona o mundo.

O melhor a se fazer é tentar manter a consciência tranquila, sabendo que agimos da melhor forma, que vivemos de acordo com as batidas de nossos corações, sem pisar pessoas pelo caminho. Não conseguiremos agradar todo mundo, mas, agindo com responsabilidade, conseguiremos manter por perto quem realmente acrescenta algo em nossa jornada. Aliás, para nossa sobrevivência, teremos que nos libertar da necessidade de agradar o tempo todo, entendendo que, às vezes, teremos que escolher a nós mesmos e isso pode soar antipático a algumas pessoas.

A necessidade de agradar quase sempre está relacionada ao desconforto que muitos sentem quando percebem que tem alguém chateado com eles. Muitos de nós não sabemos lidar direito com as situações em que alguém fica bravo ou chateado conosco e isso incomoda. Aprender a lidar com essas situações, em que o outro se magoa ou fica bravo conosco, será providencial para nosso equilíbrio emocional. Caso não tenhamos sido injustos ou maldosos, o outro é que terá de ajustar sua conduta, nós não.

É preciso entender que dizer não, repreender, advertir, impor limites, também são atitudes de quem cuida, de quem quer ajudar, de quem ama de verdade. Quem se importa realmente com o outro não diz amém a tudo nem sorri o tempo todo, isso seria indiferença, seria tanto faz. Além disso, precisaremos nos conscientizar de que certas pessoas não merecerão um segundo de nosso dia, inclusive muitas delas deveremos mandar se lascar mesmo, para que nos deixem em paz de uma vez por todas.

As pessoas confundem muito ser bom com ser bonzinho e uma coisa não necessariamente tem a ver com a outra. Para ser bonzinho o tempo todo, é preciso um tanto de encenação, porém, bondade tem a ver com ser verdadeiro, com seguir em busca dos sonhos de maneira limpa e ética, mesmo que discordem de sua jornada. Somos bons, inclusive, falando o que deve ser dito, para o bem do outro, para o bem de nós mesmos. Não seja unanimidade, seja querido por quem vale a pena. E isso é tudo.

* O título desse artigo baseia-se em uma citação de Rafa Haui.

*Pro Marcel Camargo

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*Fonte: contioutra

Cientistas “conversam” pela primeira vez com pessoas durante o sonho

Pela primeira vez, pesquisadores conseguiram abrir uma linha de comunicação bidirecional em tempo real com voluntários adormecidos durante um sonho lúcido, que é quando alguém se torna autoconsciente durante o sono. Ou seja, nesse estudo, os cientistas conseguiram “conversar” com pessoas que estavam dormindo e sonhando.

A experiência é semelhante à vivida por personagens de “A Origem” ou “Matrix”. Trata-se de uma excentricidade psicológica que há muito tempo desperta os interesses dos pesquisadores.

Comunicação durante o sonho é feita por movimentos oculares

Cientistas da Northwestern University e de várias instituições europeias puderam conversar com os chamados sonhadores lúcidos e fazer perguntas, recebendo respostas em tempo real na forma de movimentos oculares específicos.

Os participantes da pesquisa, publicada na revista Current Biology, se comunicaram com cientistas movendo os olhos para a esquerda e para a direita. Além de responderem perguntas simples, alguns chegaram a resolver problemas matemáticos.

Os sonhadores relataram ter ouvido as vozes dos pesquisadores como uma espécie de narrador intangível, identificando-o claramente como algo vindo de fora de seu sonho.

Os cientistas conseguiram se comunicar com precisão com os sonhadores cerca de 18% das vezes. No entanto, outros 20% produziram respostas incorretas ou incoerentes, sugerindo que havia pelo menos alguma forma de comunicação em andamento.

Estudo pode desvendar mistérios sobre a estrutura do sono

Para Karen Konkoly, autora principal da pesquisa, comemora os resultados. “É um tipo de experimento imediatamente gratificante de se fazer. Você não precisa esperar para analisar seus dados ou algo parecido. Você pode ver isso aí enquanto eles ainda estão dormindo”, afirmou.

Estudos deste tipo pode ajudar os pesquisadores a obter um novo nível de percepção sobre o conteúdo e a estrutura do sono – sem mencionar a abertura de novas fronteiras para a tecnologia, entretenimento e, quem sabe, até mesmo comercialização de sonhos.

*Por Jennifer Cardoso

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*Fonte: ciclovivo

Cientistas criam um mapa 2D da Terra mais fiel à realidade

Três cientistas das universidades de Princeton e Drexel, ambas dos Estados Unidos, desenvolveram um novo método de representação do planeta Terra em uma imagem plana. A projeção, batizada de Double-Sided Gott, envolve a impressão do mapa como um círculo de dupla face na qual há a divisão de um globo em dois e a indicação separada dos hemisférios.

Ainda que modelos 3D ofereçam uma maneira mais precisa de se ilustrar o nosso lar no espaço sideral, existem diversos jeitos de torná-lo 2D. Entretanto, nenhum deles é perfeito, pois todos distorcem algum aspecto ou mais, a exemplo do Mercator, utilizado pelo Google Maps em regiões locais, e do Winkel Tripel, encontrado em mapas mundiais da National Geographic. Mesmo o segundo, explicam os especialistas, divide o Oceano Pacífico em dois.

Modelo é um dos menos distorcidos entre os propostos até então.Modelo é um dos menos distorcidos entre os propostos até então.

Para conquistarem os resultados expressivos divulgados, J. Richard Gott, professor emérito de astrofísica, e David Goldberg, professor de física, se basearam em um sistema de pontuação criado por eles em 2007, capaz de determinar a acurácia de mapas planos. Quanto mais próximo de zero estiver um modelo, mais fiel será à realidade.

Considerando-se os seis tipos de distorções que os exemplares podem apresentar (formas locais, áreas, distâncias, flexão ou curvatura, assimetria e cortes de limite ou lacunas de continuidade), enquanto o Mercator chega a 8,296 e o Winkel Tripel marca 4,563, o Double-Sided Gott, sugerido pelos dois junto a Robert Vanderbei, professor de pesquisa operacional e engenharia financeira, atingiu a taxa impressionante de 0,881.

“Acreditamos que seja o mapa plano mais preciso da Terra até o momento”, defende a equipe.

Uma das grandes vantagens da proposta é que ela rompe com os limites das duas dimensões sem perda alguma de conveniências logísticas comuns a um mapa plano (armazenamento e fabricação, por exemplo).

“É possível segurá-lo na mão”, ressalta Gott, complementando que uma simples caixa fina poderia conter mapas de todos os principais planetas e luas do Sistema Solar – assim como ilustrações que carregassem dados físicos e a respeito de fronteiras políticas, densidades populacionais, climas ou idiomas, assim como outras informações desejadas.

Aliás, a novidade também pode ser impressa em uma única página de uma revista, afirmam os cientistas, pronta para o leitor recortar. Os três imaginam seus mapas em papelão ou plástico e, em seguida, empilhados como registros, armazenados juntos em uma caixa ou guardados dentro das capas de livros didáticos.

“Nosso mapa é na verdade mais parecido com o globo do que outros mapas planos”, destaca Gott. “Para ver todo o globo, você precisa girá-lo; para ver todo o nosso novo mapa, basta virá-lo. Se você for uma formiga, pode ir de um lado desse ‘disco fonográfico’ para o outro. Temos continuidade ao longo do Equador. A África e a América do Sul estão dobradas na borda, como um lençol sobre um varal, mas são contínuas”, detalha.

“Não se pode tornar tudo perfeito. Um mapa que é bom em uma coisa pode não ser em representar outras”, pondera o pesquisador, que, de todo modo, não deixa de comemorar: “Estamos propondo um tipo de mapa radicalmente diferente e vencemos Winkel Tripel em cada um dos seis erros.”

*Por Reinaldo Zaruvni

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*Fonte: tecmundo

Em chamada de Zoom, Beavis e Butt-Head anunciam novo filme da dupla

Beavis e Butt-Head estão de volta!

A própria dupla fez o anúncio através de uma chamada fictícia no Zoom. Por lá, os personagens contaram que estrelarão o longa a estrear no Paramount+, nova plataforma de streaming da Paramount.
O vídeo apareceu durante uma apresentação para investidores da ViacomCBS, e foi disponibilizado no YouTube nesta quinta-feira (25).

De forma divertida, a dupla se confunde com a tecnologia da chamada, e depois ainda tira um sarro do nome da emissora. Apesar do anúncio, por enquanto, outros detalhes como enredo e data de lançamento não foram revelados.

Além deste, a plataforma também vai ressuscitar clássicos como MTV Unplugged e o Behind the Music. Uma série com Dave Grohl e sua mãe também está confirmada.

*Por Stephanie Hahne

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*Fonte: tenhomaisdiscosqueamigos

Quem nunca pensou em arrumar as malas e sair pelo mundo?

Existem algumas fantasias que são comuns a grande parte das pessoas. É claro que essas fantasias variam de acordo com a época, cultura e localização em que a pessoa vive. Entretanto, pelo menos para a população ocidental com a qual eu me identifico, penso que será rara a pessoa que, pelo menos em sonho, nunca pensou em arrumar as malas e sair pelo mundo. Esse desejo de conhecer novos ares e lugares é algo comum na juventude, quando as descobertas e a possibilidade de sair do núcleo familiar torna-se mais palpável.

Quantos jovens buscam isso quando, literalmente, realizam viagens como mochileiros em rotas que contemplam descobertas que vão muito além da geografia, pois também possibilitam a resiliência física, financeira e emocional. Caminhando pelo mundo eles aprendem outros idiomas, percebem modos de vida diversos. Em um dia eles podem acordar com o nascer do sol mais lindo que já verão em suas vidas, em outro, perderão um ônibus e andarão durante hora a fio. Alguns terão dinheiro para dormir em um albergue de Londres ou mesmo experimentarão a sensação de jogar em um casino em plena Monte Carlo. Por que não?

O desejo e a curiosidade, entretanto, não terminam com a juventude. Há algo dentro do homem, em sua natureza, que clama por descobertas e aventuras e, talvez por causa disso, um dos autores mais traduzidos da história seja Júlio Verne, com obras publicadas em cerca de 148 idiomas. O autor, que viveu de 1828 a 1905, escreveu livros incríveis como “Cinco Semanas em Um Balão”, “Vinte Mil léguas Submarinas” e “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”.

Assim, na mensagem escrita há um século e meio, ainda existe algo que ressoa em nós e alimenta nossos sonhos e paixões. É isso que o torna um clássico.

Pensando nisso, o site de online casino Betway disponibilizou um infográfico (adoro infográficos) chamado “A volta ao Mundo em 80 horas) em que apresenta cálculos atuais sobre quanto tempo levaríamos nos para dar uma volta ao mundo utilizando meios de transporte como trens, carro, barco e avião.

Sabemos que os tempos mudaram e hoje, 150 anos depois, viajar se tornou algo mais fácil, acessível e rápido. Assim, as informações apresentadas no infográfico de forma breve, didática e colorida podem ser relevantes para instigar pessoas a saciar suas curiosidades temporais e quilométricas.

Em momentos de crise como os que vivemos atualmente devido a pandemia, uma das coisas que nos motiva a continuar é a possibilidade de um amanhã mais positivo, quando voltaremos a nos sentirmos seguros para ir e vir. Quando esse dia chegar e sair de casa para romper fronteiras voltar a ser uma opção, talvez seja a hora de realizar a tão sonhada “viagem dos sonhos”.

*Por Josie Conti

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*Fonte: contioutra

Empresa suga gás carbônico da atmosfera e o transforma em combustível

A empresa canadense Carbon Engineering publicou um estudo onde afirma poder retirar CO2 da atmosfera um custo mais barato do que outras tecnologias já desenvolvidas. Eles estimam que a cada tonelada de carbono capturada, o custo gasto é de $100 dólares canadenses.

A tecnologia que a empresa patrocinada pelo bilionário americano Bill Gates desenvolveu é parecida com a técnica utilizada pela empresa suíça Climeworks. O maior diferencial entre as duas é o valor do processo. Quando foi inaugurada um ano atrás, o custo do processo feito pela empresa suíça era de $600 dólares por tonelada, com previsão de barateamento para $100 dólares apenas em 2025, valor este que é o inicial da técnica da Carbon Engineering.

Carbono vira combustível sintético

Outro diferencial é o modo como o CO2 retirado da atmosfera é utilizado. A empresa canadense usa o gás para transformá-lo em combustíveis líquidos sintéticos. A primeira planta funcional da empresa foi inaugurada em 2015 e retira e suga uma tonelada de carbono por dia. O gás puro é combinado com hidrogênio de água por meio de energia renovável, transformando-se em combustível sintético. Em média, a empresa consegue produzir de um barril de combustível por dia.

Em entrevista à BBC, David Keith, professor da Universidade Harvard e cofundador da Carbon Engineering, disse que “o plano de longo prazo é de (produzir) cerca de 2 mil barris por dia”.

Políticas governamentais

A Carbon Egineering está procurando investidores para construir uma nova usina e expandir a captura e transformação do carbono em combustível. No entanto, os observadores do setor afirmaram que a empresa vai ter dificuldade na expansão por falta de subsídios e incentivos governamentais.

Edda Sif Aradóttir, da empresa Reykjavik Energy, parceira da Climeworks no projeto islandês que transforma CO2 em rochas, disse à BBC que a falta de políticas governamentais para incentivar trabalho como estes é um grande problema. “As soluções técnicas para (combater) as mudanças climáticas já estão disponíveis, mas as legislações dos países não oferecem incentivos ou obrigações suficientes para que eles sejam usados em larga escala”, explicou.

Apesar disso, e de saber que pode haver outros vários motivos que atrapalhe o desenvolvimento do trabalho feito pela Carbon Engineering, David Keith afirmou que há muito a se fazer para reduzir o CO2 na atmosfera e para oferecer opções para meios de transportes que não podem utilizar eletricidade como fonte de combustível. “Para combustíveis líquidos, o caminho é essa abordagem, de CO2 do ar mais hidrogênio obtido de fontes renováveis”, afirmou ele para a BBC News.

*Por: Emily Santos

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*Fonte: ciclovivo

Duas em cada cinco espécies de planta podem estar ameaçadas de extinção

“Plantas precisam ser namoradas,” cita a Dra. Marli Pires Morim, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A paráfrase, atribuída à botânica Graziela Maciel Barroso, veio como parte da resposta a uma pergunta que jamais canso de fazer a todos os colegas envolvidos com a conservação de espécies vegetais: “Porque é mais fácil envolver as pessoas com a conservação de animais do que com a conservação de plantas?”

“Isso ocorre porque os animais se movimentam, emitem sons, e fazem despertar em nós sentimentos de ternura, companheirismo ou mesmo medo,” explica Morim. “Já as plantas, mesmo que presentes no nosso dia a dia, nas mais diferentes formas – roupa, comida, remédio, artefatos e etc., – são totalmente silenciosas e imóveis, e requerem que agucemos nossa sensibilidade para perceber seus odores, as matizes de cores muitas vezes presentes em uma só flor, o néctar que delas goteja e tantas outras belas nuances.”

A resposta de Morim parece ecoar o sentimento manifestado por diversos outros profissionais. “Nós nos importamos mais com o que podemos nos relacionar com mais facilidade, como mamíferos, ou identificar como belos, como aves,” diz a Dra. Eimear Nic Lughadha, pesquisadora Sênior do Grupo de Avaliação de Análise e Conservação do Royal Botanical Gardens (Kew). “Quando eu converso com alguém sobre uma espécie de planta ameaçada, ouço perguntas utilitárias, como: ‘ela serve como comida ou remédio?’ Às vezes eu tento chocar as pessoas respondendo: ‘você me perguntaria isso se estivéssemos falando de um beija-flor?’”

Compreender essa frustração se torna ainda mais fácil quando percebemos que esse tipo de viés repercute severamente no mundo da conservação. “Para vertebrados, dados sobre riscos de extinção de espécies são gerados há décadas,” continua Morim, “o que propicia que recursos financeiros para projetos de pesquisa e conservação em certos grupos de animais sejam mais facilmente obtidos. Em plantas estas avaliações são muito mais deficientes, e para fungos, quase inexistentes.”

Morim e Lughadha fazem parte da equipe internacional de cientistas que, em outubro de 2020, produziram o mais completo relatório sobre o estado de conservação de plantas e fungos da atualidade. Liderado pelo Kew, o ‘Estado das Plantas e Fungos do Mundo’ contou com a participação de 210 pesquisadores distribuídos através de 97 instituições e 42 países. Além do relatório, a iniciativa foi também responsável por uma edição especial da revista científica Plants, People, Planet, que contém artigos detalhando dados, análises e referências de informações contidas no documento original.

Toda a atenção e energia empregada por essa aliança internacional para aprimorar nosso conhecimento são há muito tempo necessárias. Enquanto a descoberta de novas espécies de grupos animais bem estudados (como os já mencionados mamíferos e aves) são hoje eventos relativamente incomuns, apenas em 2019, 1.942 espécies de plantas e 1.886 espécies de fungo foram descritas pela primeira vez.

“As pessoas com frequência pensam que todas as espécies já foram localizadas e classificadas,” diz o Dr. Martin Cheek, pesquisador Sênior da equipe da África e Madagascar do Kew, no próprio relatório. “Ainda existe um vasto número de espécies no mundo sobre as quais nós não sabemos nada, e para as quais sequer demos um nome.”

O Brasil tem sido o constante líder em número de espécies novas de plantas descritas há mais de duas décadas, contribuindo mais de 200 espécies por ano (216 em 2019), seguido por países como China (com 195 espécies descritas em 2019), Colômbia (121), Equador (91) e Austrália (86). O fato de que essa taxa de descoberta não tem declinado ao longo dos anos é testemunha da riqueza de espécies que a ciência ainda desconhece. Espécies que podem ter potencial utilidade farmacêutica, gastronômica, indumentária, madeireira ou em qualquer outra indústria humana, e que mesmo antes de serem registradas, já podem estar ameaçadas de extinção.

Dentre as cerca de 350.000 espécies de plantas já identificadas em todo mundo, estima-se que 39,4% delas — mais de 137.000 — sofram algum grau de ameaça de acordo com os critérios da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN). Uma situação que parece estar lentamente se agravando. Além de tentar determinar quantas espécies correm o risco de desaparecer, um grupo de pesquisadores da iniciativa utilizaram dados de 400 espécies de monocotiledôneas (plantas com apenas uma folha embrionária – ou cotilédone – por semente, como gramas, orquídeas e palmeiras) e leguminosas (membros da família Fabaceae, como ervilhas e feijões) para tentar entender como o risco de extinção dessas espécies tem mudado ao longo do tempo. A técnica utilizada – o Índice da Lista Vermelha (Red List Index) – mostrou que existe uma leve tendência das espécies analisadas se moverem para categorias progressivamente mais ameaçadas, ou seja, em direção à extinção.

Os cientistas também estão atentos ao processo de débito de extinção. A relação direta entre a área de determinado ecossistema e o número de espécies que o mesmo comporta (ou simplesmente relação espécies-área) é um fenômeno conhecido pela biologia há muitas décadas. Essa relação dita que uma redução na área de determinado ambiente é seguida pela extinção local de um certo número de espécies. Estas perdas – causadas por reduções de recursos espaciais (como tocas e refúgios) e energéticos (alimento) associadas à diminuição do habitat, que acabam levando algumas espécies a números populacionais muito pequenos e instáveis – não ocorrem imediatamente. Estes desaparecimentos podem se estender por décadas, o que torna o cenário atual ainda mais preocupante.

Estima-se que cerca de 600 espécies de planta tenham desaparecido globalmente em tempos modernos, mas este número é muito menor que o esperado com base na perda de habitat observada em todo mundo. Isso significa que muito mais espécies provavelmente estão nos trilhos da extinção. Segundo Lughadha, isso torna imprescindível que medidas de manejo e conservação sejam tomadas o mais rápido possível. Mesmo que nosso conhecimento sobre o status de conservação de cada grupo seja imperfeito, ferramentas úteis para amenizar o problema já são bem conhecidas.

“Aprimorar a conectividade entre manchas de vegetação natural pode ajudar a mitigar algumas das consequências do débito de extinção,” diz a pesquisadora. “No entanto, o melhor a se fazer é manter a vegetação nativa em primeiro lugar, uma vez que mesmo projetos de restauração bem sucedidos raramente atingem níveis de biodiversidade encontrados em comunidades existentes há centenas ou milhares de anos.“

Estratégias de conservação denominadas ex-situ – fora do habitat natural onde essas plantas e fungos ocorrem, como o cultivo dos mesmos em jardins botânicos e armazenamento em bancos de semente – também oferecem alguma proteção à espécies ameaçadas. O número de espécies que estão depositadas nesses refúgios artificiais, no entanto, é limitado.

“Em termos globais, no mínimo 723 espécies de plantas medicinais deveriam estar conservadas ex situ em jardins botânicos do mundo,” diz Morim, ”assim como suas sementes armazenadas em bancos de sementes, uma vez que em seus ambientes naturais já estão expostas a algum grau de ameaça. Este quantitativo corresponde a 13% das 5.411 espécies de plantas avaliadas na Lista Vermelha da IUCN, embora o total de plantas documentadas como medicinais chegue a 25.791 espécies.”

Muitos estudos ainda continuarão a ser realizados para prover informações cada vez mais precisas a respeito da identidade e do status de conservação de plantas e fungos ao redor de todo o mundo, especialmente em lugares como o Brasil, onde ainda existe uma vasta biodiversidade a ser descoberta. Mas ainda que exista alguma incerteza a respeito da quantidade de espécies existentes e seu grau de ameaça, as medidas mais efetivas para a sua preservação já são bem conhecidas há décadas.

“Áreas protegidas são um dos mais importantes meios de assegurar a sobrevivência de espécies num futuro próximo,” conclui Lughadha. “Proteger espécies nessas áreas é quase sempre preferível à protegê-las fora de seu habitat natural, porque: (I) é mais custo-efetivo; (II) mais indivíduos podem ser protegidos, o que garante a manutenção de mais diversidade genética; (III) sua relação ecológica com outras espécies pode ser mantida; (IV) processos de seleção natural podem continuar a acontecer; e (V) a proteção efetiva de uma área pode proteger muitas outras espécies que também estão presentes naquele habitat, mas as quais ainda sequer conhecemos.”

*Por Bernardo Araújo

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*Fonte: oeco

Cidades estão ficando tão pesadas que começam a afundar

Em um estudo publicado recentemente na Advances, a revista da União Geofísica Americana (AGU), o geofísico Tom Parsons, da United States Geological Survey (USGS), aborda um tema urgente em relação às grandes metrópoles: os impactos na terra sólida e a concentração de peso em áreas relativamente pequenas para suportá-lo.

Como meio de investigação para esse trabalho, Parsons utilizou um estudo de caso, no qual a cidade São Francisco, Califórnia (EUA), serviu como objeto de estudo para provar a sua hipótese de que as grandes cidades estão literalmente afundando sob o seu próprio peso, mesmo desconsiderando a elevação do mar provocada pelas mudanças climáticas.

Em sua coleta de dados, Parsons estimou que São Francisco pode ter afundado até 80 milímetros à medida que a cidade cresceu no decorrer dos tempos. Tendo em vista que a área da baía tem uma perspectiva de elevação do nível do mar, que pode chegar a 300 milímetros em 2050, esse afundamento extra não deixa de ser perturbador.

O peso de São Francisco

O estudo apresenta um cálculo do peso total da área urbana da Baía de São Francisco, realizando um inventário de todos os edifícios da cidade com o seu conteúdo, mas excluindo sua população de 7,75 milhões de habitantes. O total chega a 1,6 trilhão de quilos, o equivalente a 8,7 milhões de Boeings 747.

Para o pesquisador, esse peso sozinho já seria o suficiente para “entortar” a litosfera na qual o centro urbano está apoiado ou mesmo para aumentar as falhas geológicas (rupturas de blocos de rocha que compõem a superfície da Terra). Porém, a situação pode ser mais séria, pois os cálculos do estudo não levaram em conta veículos, pessoas e infraestrutura urbana.

Parsons teoriza que os resultados encontrados em seu estudo para a Baía de São Francisco podem provavelmente ser aplicados a qualquer centro urbano litorâneo, embora com gravidades variadas.

Para ele, “os efeitos da carga antropogênica nas margens continentais tectonicamente ativas são provavelmente maiores do que nos interiores continentais mais estáveis, onde a litosfera tende a ser mais espessa e rígida.”

A subsidência

De uma forma ou de outra, de acordo com o estudo, quando há aumento no peso de determinadas áreas, o principal impacto dessa adição é alguma forma de subsidência, o assentamento gradual para baixo da superfície do solo, que segundo Parsons, não é “insignificante” nas áreas metropolitanas construídas.

Conforme o autor mostra no estudo, à medida que as populações globais se deslocam de forma desordenada e desproporcional em direção às áreas costeiras, ocorre uma subsidência adicional que, conjugada com a elevação esperada do nível dos oceanos, pode agravar o risco de uma potencial inundação.

As inundações são, segundo Parsons, “o maior perigo associado à subsidência”. Para ele, as prováveis zonas de inundação deveriam ser objeto de cuidadosas análises à medida que o nível do mar for se elevando. Para isso, estudos e fotos de satélite ou aéreas poderiam ser utilizadas para subsidiar planos de contingência.

As conclusões do estudo, com base em proporção de populações urbanas e rurais feitas pela ONU, é que cerca de 70% da população mundial vai morar em cidades em 2050. As mudanças mais drásticas estão previstas para a África e o sul da Ásia, mas a urbanização é um processo esperado em praticamente todas as partes do planeta.

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*Fonte: tecmundo

Aprenda uma técnica de estudo simples para se lembrar do que acabou de ler

Sabe quando você lê um texto, mas se esquece rapidamente do que leu? Isso acontece porque nunca nos ensinaram o jeito correto de estudar.

Estudantes confundem “fluência na leitura” com “compreensão de texto”. Ou seja, imaginam que basta acompanhar o raciocínio do autor para incorporar os conceitos definitivamente em sua inteligência. Mas não é assim que funciona…

Faça o teste: leia uma página, feche o livro e tente explicar o que leu. Se você não consegue explicar aquilo que acabou de ler, isso significa que você não entendeu. Ou seja, você confundiu fluência com aprendizagem. E é claro, logo vai se esquecer daquilo que, na prática, você não aprendeu.

Somos uma plataforma dedicada ao conhecimento que só poderá continuar a existir graças a sua comunidade de apoiadores. Saiba como ajudar.

Essa ilusão de compreensão é uma das armadilhas mais traiçoeiras da leitura passiva — aquela em que você delega ao autor o exercício do raciocínio. Por isso, realizar autotestes no decorrer da leitura é uma forma ativa de aprendizado.

Veja mais no vídeo:

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*Por: Andre Azevedo da Fonseca
Fonte:  universoracionalista

Como se cria a ‘sorte inteligente’ para tirar o máximo proveito do inesperado

“Ele ainda está vivo”! Disse o policial ao encontrá-lo dentro do carro completamente destruído.

Embora vários anos tenham se passado, Christian Busch se lembra claramente dessas palavras. E aquele acidente mudaria sua vida.
Busch é professor da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, e da London School of Economics (LSE), no Reino Unido.

Como pesquisador, ele se especializou em empreendedorismo e liderança de impacto social, inovação de modelos de negócios e mercados emergentes.

Foi incluído nas listas “Top 99 Influencers” da revista Diplomatic Courier; “Ideas People”, da revista britânica The Economist; e “Davos 50”, do Fórum Econômico Mundial.

Recentemente, publicou o livro The Serendipity Mindset: The Art & Science of Creating Good Luck (“Mentalidade da serendipidade: a arte e a ciência de criar boa sorte”, em tradução livre), em que analisa a importância de dar sentido ao inesperado para encontrar oportunidades, não só profissionalmente, mas também a nível pessoal.

“Muita gente se mostra cética quanto à capacidade de tirar proveito do acaso. Mas quando olham os dados, fica claro como a luz do dia: o inesperado está sempre acontecendo, então faz sentido tentar estar pronto para ele. Hoje em dia, não é raro as empresas criarem cargos com títulos como serendipity spotter (algo como “identificador de serendipidade”) “, diz ele à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

‘Um alemão com sangue mexicano’

Busch cresceu na Alemanha e estudou e trabalhou em países como Rússia, China, Quênia e México, onde viveu por algum tempo.

“Meus amigos brincavam dizendo que eu era ‘um alemão com sangue mexicano’ (…) Foi uma das melhores experiências da minha vida.”

“Uso qualquer desculpa para voltar à América Latina, sinto falta das pessoas, da qualidade de vida e da língua”, diz ele sobre suas recentes atividades no Chile.

De acordo com Busch, muitas vezes as pessoas que chamamos de “sortudas” passaram por um processo de criatividade muito interessante depois de enfrentar uma situação que não esperavam.

Mas será que há pessoas que por natureza são melhores do que outras em identificar mais oportunidades em situações inesperadas?

“Elas fazem algumas coisas de maneira diferente”, afirma. “Um aspecto desafiador, mas importante, de cultivar a serendipidade é aceitar que não podemos planejar ou saber tudo.”

“Aceitar a imperfeição como parte da vida nos permite aproveitar o momento se erros inesperados acontecem”, acrescenta.

A seguir, você confere a entrevista que ele concedeu à BBC News Mundo.
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BBC News Mundo – Em uma palestra em fevereiro, você lembrou do acidente de carro que sofreu. Qual foi o impacto disso na sua vida?

Christian Busch – O acidente acabou com meu senso de controle. Antes dessa experiência de quase morte, eu sentia que podia controlar muitas coisas, e percebi como a vida pode acabar rapidamente e que as coisas realmente importantes podem estar fora do meu controle.

Lembro de me perguntar: “Se eu tivesse morrido, teria valido a pena? Fiz algo significativo com a minha vida?”

O acidente me colocou em uma busca intensa para dar sentido à minha vida. Comecei a ler o livro maravilhoso do Viktor Frankl, Em busca de sentido, que me ajudou a entender essa crise e me fez perceber que o que eu mais gosto e faz sentido para mim está conectando a pessoas e ideias inspiradoras.

BBC News Mundo – Você ressalta que, em um mundo cheio de incertezas e que muda muito rápido, uma habilidade fundamental é cultivar a serendipidade. Como isso pode ser desenvolvido?

Busch – A covid-19 tem sido um lembrete gritante de que, ao longo da história, o progresso dependeu da capacidade dos seres humanos de aproveitar ao máximo o desconhecido.

No contexto de uma pandemia que mudou o curso da vida diária e exacerbou as desigualdades, estamos testemunhando como os indivíduos e as empresas abraçam o inesperado com criatividade. Por exemplo, destilarias (na Alemanha) que, em vez de fechar, começaram a produzir desinfetantes para as mãos à base de álcool a um preço acessível.

E indivíduos que se reinventaram e se conectaram não apenas com o que é realmente importante para eles, mas com as pessoas que são de fato valiosas em suas vidas.

Em tempos de crise, esses tipos de esforços tendem a ser impulsionados pela necessidade. Mas pesquisas nas áreas de ciências sociais e naturais também mostram que os grandes avanços e oportunidades são muitas vezes uma questão de serendipidade — a sorte inesperada que resulta de momentos não planejados, em que decisões proativas levam a resultados positivos.

Essa “sorte inteligente” é diferente da sorte “cega” que simplesmente acontece (como nascer em uma família amorosa). É uma força oculta que nos cerca, desde os pequenos acontecimentos do dia a dia até as descobertas que mudam a vida e, às vezes, o mundo.

Os encontros mais mundanos, como esbarrar com alguém na academia ou em uma chamada de Zoom com vários participantes, podem mudar sua vida para sempre. A maioria de nós é capaz de mencionar pelo menos uma vez em que passou por isso.

Há muitos exemplos de serendipidade na ciência e na medicina

Veja o exemplo do medicamento sildenafil. Quando os cientistas britânicos usaram a droga para pesquisar uma cura para problemas cardíacos, como angina, não esperavam que fossem causar uma ereção no pênis dos pacientes participantes do estudo. Eles foram surpreendidos.

O que a maioria das pessoas nessa situação teria feito? Simplesmente aceitado que era um efeito colateral desagradável do tratamento? Ignorado? Ou desenvolvido outra forma de tratar a angina sem o efeito colateral?

Os três pesquisadores não fizeram nada disso. Na verdade, eles viram uma oportunidade de desenvolver um medicamento que poderia curar a disfunção erétil. E o Viagra, uma das invenções de maior sucesso de todos os tempos, nasceu.

O que esses casos têm em comum é que alguém reagiu a um gatilho inesperado de serendipidade, ligou os pontos e, de maneira crucial, seguiu em frente. Quando percebemos que a serendipidade não é simplesmente sobre um único evento que acontece conosco, mas sim sobre o processo de identificar e conectar pontos, começamos a ver pontes onde outras pessoas veem abismos.

De acordo com o pesquisador, é possível ‘nos posicionar para a sorte inteligente’

Sempre fui fascinado pela questão de saber se algumas pessoas são capazes de criar condições para que coincidências positivas aconteçam com elas com mais frequência do que outras. Você consegue detectar esses momentos e transformá-los em resultados positivos? Podemos aprender a navegar pelo inesperado e criar nossa própria “sorte inteligente”?

Por definição, não podemos conhecer ou programar resultados fortuitos, pois deixariam de ser. O que podemos fazer é provocar que coincidências positivas cheguem até nós com mais frequência e com melhores resultados. Uma mentalidade de serendipidade nos permite fazer isso, e é um músculo que podemos desenvolver.

Em nosso trabalho, descobrimos que muitas das pessoas mais inspiradoras do mundo desenvolveram, muitas vezes inconscientemente, um músculo para o inesperado que as ajuda a liberar a criatividade e a engenhosidade, impulsionando o sucesso e o impacto em um mundo que muda rapidamente.

Cultivar a serendipidade se torna uma abordagem ativa para lidar com a incerteza, em vez de passiva.

BBC News Mundo – Como se cria uma “boa sorte”?

Busch – Há vários passos imediatos para desenvolver um músculo da serendipidade e criar a “sorte inteligente”. Por exemplo, aqueles que podemos dar em nossas interações diárias, como fazer boas perguntas e estar aberto a respostas inesperadas.

Imagine que você está em uma conferência virtual e encontra com alguém pela primeira vez. Muitos de nós podemos entrar no piloto automático e fazer a temida pergunta: “Então, o que você faz?” Isso tende a colocar a outra pessoa em uma caixa da qual é difícil sair.

Nos posicionarmos para a sorte inteligente significa fazer perguntas mais abertas como: “O que você achou mais interessante no…?” ou “como está seu humor?”

Essas perguntas abrem conversas que podem levar a resultados intrigantes e frequentemente aleatórios.

Também podemos estabelecer ganchos de serendipidade, usando pontos da conversa marcantes ​​ou envolventes, para nos abrirmos à serendipidade. Por exemplo, quando Oli Barrett, fundador de várias empresas em Londres, conhece pessoas, ele lança vários ganchos que permitem possíveis sobreposições.

Se perguntam a ele: “O que você faz?”, responderá algo como: “Adoro conectar pessoas, abri uma empresa na área de educação, recentemente comecei a pensar em filosofia, mas o que realmente gosto é de tocar piano”.

Essa resposta inclui pelo menos quatro gatilhos possíveis para a serendipidade: uma paixão (conectar pessoas), uma descrição do trabalho (dirigir uma empresa de educação), um interesse (filosofia) e um hobby (tocar piano).

Se ele simplesmente respondesse: “Trabalho com educação”, a oportunidade para outras pessoas ligarem os pontos seria pequena.

Com sua resposta, Oli permite que o outro escolha o gancho que se relaciona com sua vida e torna mais provável a ocorrência de serendipidades.

BBC News Mundo – Como podemos transformar situações inesperadas, algumas negativas, em algo positivo?

Busch – Há muitas coisas que podemos fazer, uma importante é esperar o inesperado. Estar alerta é fundamental para detectar situações que não prevemos e transformá-las em resultados positivos

Temos a tendência de subestimar a probabilidade do inesperado e, muitas vezes, tratamos a vida como linear e controlável, embora seja cheia de reviravoltas.

Quem nunca apresentou o currículo como se sua vida fosse um plano coerente e racionalmente organizado ou uma ideia como se fosse rigorosamente derivada de fatos e não da intuição?

Criar um propósito artificial para nossas ações obscurece muitos encontros inesperados e o verdadeiro processo de aprendizagem.

Nossa pesquisa mostra que as pessoas muitas vezes se sentem pressionadas a mostrar que têm tudo sob controle, embora saibam que nem sempre é esse o caso.

Alcançar o sucesso geralmente não se trata de controlar qual será o resultado exato, mas sim equilibrar um senso de direção com uma apreciação pelo desconhecido.

Esse senso de direção, que é uma ambição, curiosidade ou interesse mais amplo que nos guia consciente ou inconscientemente, nos ajuda a seguir em frente para localizar e conectar os pontos.

Isso pode significar deixar de lado uma carreira específica e, em vez disso, aproveitar situações inesperadas como oportunidades para explorar novas direções.

Também podemos criar um diário de serendipidade, que pode nos ajudar a refletir sobre situações inesperadas: como reagimos, o que faríamos de forma diferente na próxima vez. Nos permite refletir sobre como explorar cada conversa ou encontro, virtual ou presencial, como uma oportunidade para a serendipidade acontecer.

BBC News Mundo – Situações inesperadas podem gerar ansiedade em algumas pessoas porque há uma sensação de perda de controle ou de que algo ruim vai acontecer. Como você pode enxergar o inesperado com outra visão?

Busch – Como alguém que cresceu na Alemanha com uma mentalidade de planejamento, a incerteza e a ambiguidade sempre me deixaram um pouco ansioso.

Mas um dos motivos pelos quais gosto da serendipidade é que ela repensa o inesperado: afastando a ameaça e colocando você diante de uma cesta infinita de possibilidades.

Ela desafia a suposição de que só porque algo não saiu conforme o planejado deve ser tratado como um fracasso.

Algo que me ajudou muito é dizer em todas as situações ambíguas: Do que tenho medo? Por que estou preocupado? E percebi que o que mais lamento não é decorrente de agir sobre o inesperado, mas, nas palavras de Mark Twain, de não agir adequadamente.

Há muitos exercícios, inclusive para pessoas mais introvertidas, que podem nos ajudar a ficar menos ansiosos diante do inesperado. Por exemplo: o diário da serendipidade que já mencionei.

Nas empresas, práticas para identificar a serendipidade podem ser eficazes. Por exemplo, nas reuniões podemos perguntar: o que o surpreendeu na semana passada?

Podemos aprender com empresas como a Pixar a enquadrar as conversas em torno da noção de que não existe uma “ideia perfeita”. Com isso, as pessoas ganham confiança psicológica para ter ideias que podem parecer “malucas”.

Isso nos ajuda a ver o inesperado menos como uma ameaça, e mais como uma oportunidade.

BBC News Mundo – Você fala sobre transformar erros em oportunidades. Como podemos ver os erros de forma que nos ajude a crescer? Por que não devemos ter medo de cometer erros e enfrentar crises?

Busch – Em um mundo que muda rapidamente, geralmente não sabemos que tipo de soluções vamos precisar amanhã

Com frequência, a experimentação é crucial, e precisamos olhar o mundo com outros olhos, enquadrando os erros ou fracassos inevitáveis ​​como experimentos.

Um método que tem sido útil para mim é repensar as situações, como mencionei antes, e ver que as crises podem ser uma oportunidade e que as restrições de recursos são uma possibilidade de ser criativo.

Repensar é tentar olhar para as situações de maneira diferente. Muitas vezes, trata-se de ver uma oportunidade onde os outros veem um problema ou um erro.

Quando deixamos, por exemplo, de considerar as restrições orçamentárias como um problema, e, em vez disso, tentamos aproveitar ao máximo o que temos em mãos, as soluções mais criativas e fortuitas aparecem.

É quando as empresas de design começam a produzir máscaras ou quando os artistas cujas apresentações foram canceladas começam a atrair novos públicos ensinando um instrumento online.

Um exemplo é o Reconstructed Living Labs, que criou uma metodologia de educação para pessoas de baixa renda que permite que desenvolvam suas próprias habilidades, negócios e plataformas.

A principal pergunta da equipe ao entrar em uma nova comunidade onde há escassez de recursos não é “como podemos ajudar?”, porque essa abordagem coloca seus membros na posição de beneficiários ou até mesmo de “vítimas”, e muitas vezes leva a um atitude passiva.

Em vez disso, eles buscam se integrar e complementar os ativos existentes nessa comunidade, olhando para eles sob uma nova perspectiva.

Pessoas que antes eram consideradas “não qualificadas” se tornam colaboradores valiosos. É uma abordagem que organizações e governos agora usam.

Com frequência, quando vemos o mundo não tanto em termos de necessidade de recursos, mas em termos de soluções criativas para problemas, o que percebemos como passivo pode se tornar um ativo, e a situação que seria de impotência vira uma oportunidade. É assim que a serendipidade pode acontecer em ambientes com recursos limitados.

Mas é claro que nossas posições iniciais quando se trata de potencial de serendipidade são muito diferentes, e trabalhar para lidar com as desigualdades estruturais deve andar de mãos dadas com esses tipos de abordagens.

Também fazem parte rituais em que as pessoas compartilham abertamente ideias que não funcionaram e o que aprenderam com pessoas de outros departamentos.

Não se trata de celebrar o fracasso, mas de comemorar o aprendizado de algo que não funcionou. Isso pode ajudar a legitimar a ideia de que compartilhar coisas que não funcionam, muitas vezes é a maneira pela qual aprendemos mais, e a maneira pela qual muitas serendipidades podem acontecer, quando as pessoas concordam que uma ideia pode não ter funcionado em um contexto, mas pode funcionar em outros.

BBC News Mundo – Infelizmente, a pandemia tirou mais de 1 milhão de vidas, milhões de pessoas ficaram doentes, milhares de empregos foram perdidos. De que ferramentas precisamos para navegar em tempos tão difíceis?

Busch – 2020 tem sido um ano difícil, muita “falta de sorte” sobre a qual realmente não podemos fazer nada, mas pode ser eficaz focar em desenvolver determinação e resiliência.

Sempre me inspirei profundamente em Frankl e em sua abordagem para encontrar sentido nas crises.

Quando tive uma manifestação severa de covid-19 em março, seu livro, que mencionei anteriormente, foi uma das coisas que me ajudou a sobreviver.

A ideia de que temos que tentar encontrar sentido nas situações mais difíceis, aceita, reconhece que a situação atual é terrível. Não a deixa cor de rosa.

Mas também diz: vamos ver onde podemos encontrar significado e fazer algo a respeito desta situação. Pode nos ajudar a repensar como estruturamos nossa vida, qual é nosso enfoque no trabalho, como vemos nossas amizades? Pode nos ajudar a reavaliar o que é realmente importante? Olhe no longo prazo, tenha perspectiva e tire o melhor proveito da crise.

As crises trazem à tona o que há de melhor ou pior nas pessoas, e geralmente separam os verdadeiros líderes do resto. As pessoas continuarão perguntando nos próximos anos como os líderes agiram durante esse período.

Esta pode ser uma grande oportunidade para se comprometer realmente com seus próprios valores e aprimorar uma cultura corporativa verdadeiramente significativa.

BBC News Mundo – Nos últimos meses, a forma como interagimos mudou. Muitas pessoas viram os planos pessoais e profissionais estagnarem ou simplesmente decidiram esquecê-los. Que tipo de mentalidade precisamos para encontrar oportunidades neste contexto?

Busch – O distanciamento físico nos roubou muitas oportunidades de serendipidade que surgem das interações pessoais.

Muitos pontos de partida tradicionais da serendipidade, como encontrar casualmente com alguém, estão acontecendo menos.

Mas ainda há muito que podemos fazer para provocar a serendipidade, o que é crucial em tempos de incerteza. Afinal, é em tempos de incerteza que muitas soluções, ideias e oportunidades tendem a surgir de lugares inesperados.

Então, o que podemos fazer para desencadear a serendipidade nestes tempos estranhos?

Se nos concentrarmos em conseguir um trabalho específico ou fazer algo em particular, restringimos nosso escopo de possíveis oportunidades ou soluções. Se, em vez disso, olharmos para todas as oportunidades que podem estar disponíveis para alguém com nossas habilidades e estivermos abertos para as oportunidades inesperadas que alguém pode vir comentar com a gente, é aí que a mágica acontece.

Uma ótima maneira de iniciar esse processo é trabalhar junto a pessoas (ou organizações, por exemplo: como um estágio) que admiramos. É uma forma proveitosa de nos colocarmos no radar deles e estarmos lá quando uma vaga surgir inesperadamente.

E ter uma visão de longo prazo é vital. A covid-19 e a turbulência econômica que a pandemia desencadeou são um lembrete que não podemos planejar tudo, menos nossas carreiras.

Uma pergunta chave é: o que será realmente importante (em termos pessoais) daqui a dez anos?

A “falta de sorte” geralmente depende de quando paramos de contar a história. Por exemplo, se um trabalho fracassa, devemos ter uma visão de longo prazo e tentar repensar a situação como uma oportunidade de crescimento, reflexão, mudança e desenvolvimento de resiliência.

No espaço entre o estímulo e a resposta é onde, no longo prazo, nosso crescimento e serendipidade residem.

*Por Margarita Rodriguez
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*Fonte: bbc-brasil