Dia: 8 de abril, 2021
Pesquisas revelam que é possível julgar pessoas pelo gosto musical
A máxima de não julgar um livro pela capa pode continuar valendo, mas agora a ciência está autorizando julgar as pessoas pelo gosto musical.
Bom, quem é que estamos enganando? Quase todo mundo que tem uma ligação forte com a música faz isso há tempos, mas pelo menos você pode ter um embasamento para isso daqui pra frente!
Uma reportagem do The Hill uniu resultados de pesquisas feitas ao longo dos últimos anos que comprovaram cientificamente essa possibilidade. O que elas encontraram foi que as preferências musicais estão intimamente ligadas à forma como enxergamos o mundo e às atitudes que tomamos com relação a ele.
O psicólogo musical David Greenberg é um dos grandes responsáveis pelos estudos na área, tendo publicado um dos mais relevantes em 2015 ao lado de outros profissionais de renomes da área, como Simon Baron-Cohen (que, sim, é primo de Sacha Baron-Cohen, o Borat).
Por lá, eles explicam como as preferências musicais estão conectadas aos estilos cognitivos. Usando um exemplo bem claro, a empatia é considerada mais presente em pessoas que ouvem músicas leves — como R&B e Soft Rock — do que naqueles que ouvem Heavy Metal, uma vez que estes possuem um pensamento mais lógico e sistematizado, menos afetado pela emoção.
É claro que isso não quer dizer que as pessoas que ouvem Heavy Metal não são capazes de mostrar empatia. Mas, por conta da ligação entre a empatia e a capacidade de reagir emocionalmente e fisiologicamente, é natural que aqueles mais conectados com músicas com atributos “gentis, confortáveis e sensuais” — ou seja, canções mais poéticas e sentimentais — tenham mais facilidade em processar essas coisas na “vida real”.
Estudos de David Greenberg sobre psicologia musical
Em 2016, outro estudo de Greenberg trouxe resultados bastante interessantes. Intitulado The Song Is You, a pesquisa buscava mostrar como as três “dimensões” principais da música refletiam nas personalidades dos ouvintes.
Essas dimensões, segundo o psicólogo, são a “excitação”, a “valência” e a “profundidade”. A primeira mede o nível de energia da música, enquanto a segunda representa o espectro de emoções entre tristeza e felicidade na música e a última mede a presença de sofisticação e profundidade emocional das canções. A partir disso, ele faz uma ligação com os cinco grandes traços de personalidade: abertura, consciência, extroversão, concordância e neuroticismo.
O resultado é o mais simples possível e mostra que você provavelmente estava certo nos seus julgamentos esse tempo todo. Pessoas que gostam de músicas positivas, com uma valência alta, têm uma tendência a serem mais confiantes e “de bem com a vida”. O contrário também é válido, mas é importante dizer que o estudo também identifica as pessoas “cabeça aberta”, que, segundo Greenberg, são aquelas mais propensas a curtir todo tipo de música sem se preocupar com gêneros.
Gosto musical e o teste das 16 Personalidades
Outra pesquisa pra lá de interessante é a do site 16 Personalities, famoso aqui no Brasil e no mundo por ser um dos lugares mais acessíveis de fazer o teste de Myers-Briggs que te enquadra como uma das 16 personalidades básicas.
Eles relacionaram esses tipos com as preferências musicais e há alguns resultados bem curiosos. O Punk, por exemplo, tem a maioria dos seus ouvintes encaixados no estereótipo do “Lógico” — o que parece bastante contrário ao que se esperaria, mas esse tipo de personalidade tem um forte desprezo pela tradição, o que definitivamente colabora para curtir bandas como The Clash e Yeah Yeah Yeahs, que rejeitam o status quo tanto na política quanto na música.
Já o Rock, por exemplo, é a preferência dos Inovadores. A tendência ao debate é marcante tanto na cena musical quanto na pessoal da vida dessas pessoas, que possuem opiniões fortes e não resistem a um desafio intelectual. Não é de se surpreender, portanto, que eles curtam um gênero cheio de pensamentos provocativos.
Como o estudo original só está disponível em inglês, resolvemos listar abaixo alguns dos resultados. Você pode fazer o teste das 16 Personalidades em português por aqui. Não deixe de contar pra gente nos comentários do Facebook e Instagram se deu certo pra você!
- Punk: mais ouvido por Lógicos/INTP (51%), Mediadores/INFP (49%) e Virtuosos/ISTP (48%)
- Jazz: mais ouvido por Comandantes/ENTJ (64%), Protagonistas/ENFJ (64%) e Ativistas/ENFP (62%)
- Música clássica: mais ouvida por Comandantes/ENTJ (79%), Arquitetos/INTJ (78%) e Inovadores/ENTP (76%)
- Rock: mais ouvido por Inovadores/ENTP (84%), Mediadores/INFP (82%) e Lógicos/INTP (82%)
- Rock alternativo: mais ouvido por Inovadores/ENTP (88%), Mediadores/INFP (86%) e Advogados/INFJ (84%)
- Reggae: mais ouvido por Aventureiros/ISFP (46%), Empresários/ESTP (42%) e Ativistas/ENFP (42%)
- Música ambiente: mais ouvida por Ativistas/ENFP (65%), Aventureiros/ISFP (64%) e Animadores/ESFP (62%)
- World Music: mais ouvida por Ativistas/ENFP (62%), Protagonistas/ENFJ (52%) e Advogados/INFJ (46%)
- Pop: mais ouvido por Animadores/ESFP (88%), Cônsules/ESFJ (80%) e Aventureiros/ISFP (78%)
- Heavy Metal: mais ouvido por Empresários/ESTP (50%), Lógicos/INTP (48%) e Arquitetos/INTJ (42%)
- Hip Hop: mais ouvido por Empresários/ESTP (58%), Animadores/ESFP (57%) e Executivos/ESTJ (57%)
- Música eletrônica: mais ouvida por Empresários/ESTP (79%), Ativistas/ENFP (75%) e Comandantes/ENTJ (70%)
- Religiosa: mais ouvida por Executivos/ESTJ (48%), Defensores/ISTJ (42%) e Cônsules/ESFJ (39%)
- Blues: mais ouvido por Ativistas/ENFP (52%), Protagonistas/ENFJ (52%) e Cônsules/ESFJ (47%)
- Country/Sertanejo: mais ouvido por Cônsules/ESFJ (53%), Animadores/ESFP (52%) e Protagonistas/ENFJ (46%)
- Soul: mais ouvido por Ativistas/ENFP (58%), Cônsules/ESFJ (57%) e Animadores/ESFP (56%)
*Por Felipe Ernani
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*Fonte: tenhomaisdiscosqueamigos
Robert Waldinger: “A solidão mata. É tão forte quanto o vício em cigarros ou álcool.
Cientistas decidem mapear as vidas de 268 estudantes da instituição, buscando compreender as relações entre saúde física e mental, entre saúde e felicidade. Dentre os participantes, estavam nomes como John F. Kennedy e o editor do Washington Post, Ben Bradley.
Foram quase oito décadas de acompanhamento. A pesquisa, chamada de Harvard Study of Adult Development, tornou-se o mais amplo estudo já realizado sobre a felicidade humana.
Ao longo dos anos, a pesquisa foi estendida aos filhos dos participantes. Há uma década, também às mulheres dos participantes*. Durante todo este tempo, foram analisados fracassos e sucessos pessoais, registros médicos, qualidade dos casamentos e muitas outras questões que interligavam dados de saúde física a percepções emocionais.
(*Mulheres não participaram do estudo original, pois, em 1938, Harvard era exclusiva para homens)
A conclusão foi surpreendente para todos: “descobrimos que a felicidade que sentimos nos nossos relacionamentos tem um poder incrível sobre nossa saúde”, explicou Robert Waldinger, diretor do estudo.
Waldinger é um caso à parte e merece um espaço para conhecer seu trabalho.
Quem é Robert Waldinger?
Professor de Medicina de Harvard, este psiquiatra, psicanalista e professor Zen ganhou o mundo após a publicação de sua palestra no projeto TED, uma das 10 TED Talks mais assistidas de todos os tempos.
Na palestra, ele responde as perguntas mais básicas que movem os seres humanos: o que nos mantém felizes e saudáveis durante a vida? Waldinger reúne as conclusões do estudo aos seus aprendizados práticos na psiquiatria e no Zen Budismo em três lições fundamentais para construir uma vida repleta de sentido.
Resultado: 23 milhões de pessoas assistiram à fala de Waldinger.
(Vídeo legendado: escolha a língua de sua preferência)
Relacionamentos íntimos, mais do que fama ou dinheiro, são a fonte da felicidade através da vida. Estes laços protegem as pessoas das frustrações, ajudam a retardar doenças degenerativas físicas e mentais e são parâmetros mais eficientes na análise da longevidade – mais do que classe social, QI ou até mesmo a genética.
Os pesquisadores analisaram uma infinidade de dados: centenas de relatórios médicos, entrevistas e questionários encontraram uma forte correlação entre o florescimento da vida destes homens e de seus relacionamentos com família, amigos e comunidade. Muitos estudos descobriram que o nível de satisfação com seus relacionamentos, na idade de 50 anos, foi mais importante para avaliar a saúde física do que níveis de colesterol por exemplo.
Quando reunimos tudo que tínhamos sobre os participantes aos 50 anos, vimos que não eram as taxas de colesterol que previam quantos anos eles viveriam. Era muito mais sobre a satisfação destas pessoas em suas vidas pessoais. As pessoas mais satisfeitas aos 50 anos eram os mais saudáveis aos 80”, explicou o professor Waldinger.
Os pesquisadores também descobriram que a felicidade no casamento tem um poder de proteção sobre a saúde mental. Pessoas que tiveram casamentos felizes, aos 80 anos, relataram que nem mesmo dores físicas eram capazes de abalá-los. Aqueles que tinham casamentos infelizes sofriam de mais dores físicas e emocionais.
Aqueles que mantêm relacionamentos calorosos vivem mais e com mais felicidade, disse Waldinger, e aqueles que se sentem solitários morrem mais cedo.
“A solidão mata. É tão forte quanto o vício em cigarros ou álcool.”
Os pesquisadores também avaliaram que a força dos relacionamentos reduzia a necessidade destes vícios. Ainda, que os laços sociais eram capazes de frear a degeneração mental durante a velhice. Atualmente, o estudo prossegue com os familiares dos participantes originais e aproveita tecnologias não disponíveis em 1938 para refinar as conclusões com testes de sangue e ressonância magnética.
O psiquiatra e psicanalista George Vaillant, que entrou na equipe da pesquisa em 1966, liderou o estudo de 1972 até 2004. Ele também enfatiza o papel dos relacionamentos para vidas mais saudáveis e longevas: “Quando o estudo começou, ninguém ligava para empatia ou laços. Mas, a chave para a velhice saudável são os relacionamentos, os relacionamentos e os relacionamentos”, argumenta Vaillant. Em sua obra, Ageing Well, escrito com base na pesquisa de Harvard, Vaillant descreve lições extraídas dos “homens de Harvard”.
Os seis fatores da longevidade:
– atividade física
– redução de álcool
– parar de fumar
– desenvolver mecanismos maduros para lidar com as adversidades
– manter um peso saudável
– ter um casamento estável
O estudo mostrou que o papel da genética e de ancestrais longevos se provou menos importante para conquistar uma vida longa e saudável do que os níveis de satisfação aos 50 anos, atualmente reconhecidos como fatores preditivos para a qualidade de vida na velhice. A pesquisa também desmistificou a ideia de que vidas não saudáveis na juventude prejudicariam a velhice. “Aqueles que eram trens descarrilados aos 20 ou 25 anos se tornaram ótimos octogenários. Mas, por outro lado, alcoolismo e depressão pode sim levar pessoas que começaram suas vidas maravilhosamente bem a um fim desastroso.”, explica Vaillant.
Perguntado sobre as lições que extraiu do estudo, Waldinger diz que passou a praticar mais meditação e a investir tempo e energia em seus relacionamentos. “É tão fácil se isolar, se afundar no trabalho e esquecer dos amigos”, diz o professor. “Então, apenas presto mais atenção aos meus relacionamentos.”
Em entrevista, Robert Waldinger compartilha algumas de suas lições sobre relacionamentos e fala de sua própria viagem em direção à felicidade e à resiliência.
Qual é o grande segredo para uma vida repleta de significado e felicidade?
Robert Waldinger: É tudo sobre relacionamentos. A mensagem final é que relacionamentos nos farão felizes. Porém, a mensagem completa é que precisamos aprender a trabalhar dentro destes relacionamentos – e há muito trabalho a ser feito. Nunca chegaremos a um lugar em que poderemos dizer “Ok, minha relação está boa. É isso. Não preciso fazer mais nada.” As pessoas estão sempre mudando, nós estamos sempre mudando. Portanto, as relações também sempre mudam. Cuidar dos relacionamentos é um projeto contínuo, mas que vale a pena. Vale o investimento.
Então, como podemos manter um relacionamento forte e saudável?
Robert Waldinger: A primeira lição é prestar atenção. Isso vem da minha base Zen. Estamos constantemente distraídos. Estamos com os outros, mas estamos ligados aos nossos smartphones. Quantas vezes você se sentou com alguém para tomar um drinque e todos ao redor estavam no telefone? Meus alunos, nos seminários que ministro, precisam desligar seus smartphones e devem levar este ensinamento para suas vidas.
A solução é simples: observe o outro com atenção. Se você fizer isso, sempre saberá onde o outro está – como é sua vida, seu dia enfim. Você precisa saber que é este tempo de atenção a alguém que mantém a relação saudável.
Como esta lição sobre relacionamentos afeta nossa cultura de trabalho?
Robert Waldinger: Tenho um filho que é um típico membro da geração Millenial e que trabalha em uma típica empresa Millenial. Nestas empresas, há muito mais ênfase na qualidade da vida profissional e na comunidade. É mais importante criar um espaço e uma cultura em que as pessoas se sintam engajadas umas com as outras. Esta conexão fará com que as pessoas queiram ficar nas empresas, queiram ir trabalhar diariamente e cada vez mais; elas não se sentirão isoladas, mas sim conectadas e lutando por uma causa comum. Sim, há muito falatório sobre como as empresas investem na qualidade das relações dos trabalhadores, mas creio que há sim mais atenção real a isso hoje em dia. Desenvolver ambientes de trabalho e horários de trabalho que promovam mais este laço é algo que vejo como muito positivo.
Como um professor Zen, com grande prática meditativa – alguém que está especialmente atento e focado – como você enxerga o complicado equilíbrio entre trabalho e vida pessoal?
Robert Waldinger: É um projeto em constante progresso. Estou sempre encontrando equilíbrio e perdendo equilíbrio. A minha experiência me mostra que você nunca alcança um lugar de perfeito equilíbrio, onde poder ficar para sempre – a harmonia é um ato de calibração.
Eu não era um grande adepto da meditação ou até mesmo muito envolvido com o Zen quando meus filhos eram jovens. Mas, quando eles foram para a escola e não se importavam mais onde eu estava, comecei a ter liberdade de ir a diversos lugares. Participei de retiros e meus filhos nem notavam que eu não estava em casa! Mas, quando eles eram pequenos, foi crucial que eu estivesse lá para eles, tão disponível quanto fosse possível.
Claro, sua ideia de equilíbrio depende da fase da vida em que você se encontra. Para mim, agora, eu e minha esposa adoramos trabalhar, então, trabalhamos muito. Talvez, até demais, mas temos muito prazer no que fazemos. Como disse, a ideia de equilíbrio está sempre mudando – é isso que você precisa saber.
E como suas práticas lhe ajudam atualmente?
Robert Waldinger: Estar atento é parte do meu equilíbrio: me obriga a parar e observar. É como um marcador de cada dia analisar exatamente onde estou naquele momento. Grande parte de nós não para por isso. A ideia de fazer nada é radical nesse sentido, é a ideia de não agir, de apenas observar onde estamos naquele momento.
Saúde, longevidade, produtividade e, claro, felicidade. A conquista dos pilares da qualidade de vida foi tema da conferência da psicóloga canadense Susan Pinker no Fronteiras do Pensamento. A fala, intitulada O efeito aldeia, teve base em seu livro, The village effect, em que apresenta suas pesquisas sobre o poder das relações presenciais.
A partir de seus estudos, a psicóloga pontuou dois fatores cruciais para o desenvolvimento de uma vida próspera: relações próximas, as pessoas em quem podemos confiar; e a integração social, ou seja, os laços mais frágeis, as pessoas com quem cruzamos todos os dias.
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*Fonte: pensarcontemporaneo