Dia: 17 de junho, 2021
O Que Você Herdou Dos Seus Filhos?
O que você herdou dos seus filhos? Eu herdei paciência. Capacidade de suportar desorganização e caos. Frieza pra lidar em situações críticas, como fraturas e cortes com sangue jorrando.
Herdei “desnojo” para limpar vômito e caca, e comer biscoito babado. Herdei medo de morrer. Medo de trânsito. Medo da noite. E o único medo de perder verdadeiro. Mas herdei coragem também. Muita.
De um, herdei a necessidade de desacelerar. De outro, herdei atenção difusa. E de outro, sagacidade para responder questões difíceis. Eu herdei vontade de montar árvores de natal, de aprender a fazer bolo de festa e assistir desenho animado.
Herdei a capacidade de fazer remédio a partir de beijo, desespero e lágrimas. Eu herdei rugas, varizes, olheiras e estrias. E as gargalhadas mais incríveis. Herdei emoções colhidas nas coisas mais bobas. Herdei força sobre-humana. Herdei sentidos mais apurados. Herdei um grito que se acha poderoso o suficiente para parar um trem
Herdei uma capacidade ilimitada de sentir culpa. E o cacoete irremediável de sempre olhar quando alguém grita ‘mãe’”.
Texto de Rita Almeida, psicóloga e psicanalista com ênfase nos seguintes temas: psicanálise, saúde pública, saúde mental, educação, educação inclusiva, teorias da aprendizagem
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*Fonte: portalraizes
Ler, escrever, contar, respeitar: França volta ao básico na educação
A escola francesa – fábrica de cidadãos, motor da meritocracia e pilar histórico da identidade da França republicana – volta ao básico. Ler, escrever, contar, respeitar. Estes são os fundamentos nos quais deverá se concentrar, de acordo com Jean-Michel Blanquer, ministro da Educação Nacional do Governo do presidente Emmanuel Macron. No ano e meio em que está no comando, Blanquer, que deu impulso à proibição de telefones celulares nas classes, também tem promovido o aprendizado de latim e grego.
“A principal questão da nossa época”, diz ele em um encontro com EL PAÍS e outros meios de comunicação europeus, “é como este mundo cada vez mais tecnológico pode ser um mundo cada vez mais humano”.
O reforço das línguas clássicas no ensino, progressivamente enfraquecido nos últimos anos, está entre as prioridades do Governo francês. Blanquer (Paris, 1964), um tecnocrata especialista em América Latina, que dirigiu a escola de negócios ESSEC, promoveu o aumento das horas de ensino nestas disciplinas opcionais, horários que as tornem mais acessíveis e um sistema de pontuação que lhes dá maior peso no ensino médio. Nenhuma dessas medidas é revolucionária. Não há planos, por exemplo, de tornar essas línguas obrigatórias, mas sim incentivar seu estudo a fim de reverter o declínio progressivo dos estudantes nos últimos 20 anos.
Na França, 12,25% dos alunos estudam latim e 0,85%, grego. Para o ministro, as línguas antigas representam mais que duas simples disciplinas. Para Blanquer, elas podem ser algo como as paredes principais do sistema. “Devemos estar atentos para que este novo mundo, caracterizado pela Internet e as novas tecnologias, não nos dê soluções enganosas. Quanto mais entramos neste mundo em que temos que saber programar, mais interessante é conhecer a história grega e latina”, diz ele. “A aprendizagem do latim e do grego contribuem para o desenvolvimento da lógica, facilitam a aprendizagem de outras línguas e permitem estabelecer uma ligação entre diferentes conhecimentos”.
Uma das críticas a Blanquer é que suas medidas são mais simbólicas do que profundas, uma política de gestos e mensagens. E é verdade que não propõe uma transformação radical do sistema educacional, mas sim uma soma de pequenas mudanças que, juntas, refletem uma abordagem centrista e muito macroniana: uma mistura de liberalismo com estatismo republicano; de senso comum ao modo tradicional com teorias inspiradas nas mais recentes inovações da neurociência.
Blanquer dividiu as classes dos primeiros anos do ensino básico nas zonas desfavorecidas, fixando um número máximo de alunos por sala, medida considerada chave para reduzir as desigualdades. Mas a principal medida foi a proibição dos celulares nas escolas de ensino básico e médio, até os 15 anos. “É uma mensagem para toda a sociedade”, diz Blanquer, porque “os pais devem administrar o mesmo problema em casa” e “é um vício que, infelizmente, não atinge apenas os adolescentes”.
Os sindicatos criticam o ministro pelo corte de postos de trabalho de professores, pela reforma do exame de bacharelado e pelas avaliações padronizadas dos alunos e das instituições. Na semana passada, ele enfrentou a primeira greve, que teve adesão limitada. Blanquer também é criticado por ter uma visão conservadora, em alguns aspectos antiquada, da educação, e por “reproduzir o funcionamento de uma economia e de um mundo que hoje estão esgotados”, como escreveu recentemente, em uma coluna no jornal Le Monde, um grupo de professores e especialistas em educação. Os setores mais duros da direita o condenam por defender o ensino de árabe nas escolas públicas.
“O árabe é uma língua importante, assim como outros grandes idiomas da civilização, o russo e o chinês”, argumenta Blanquer. “Devemos questionar a maneira como se ensina essa língua hoje”, acrescenta, em referência às aulas de árabe em âmbitos religiosos − como as escolas corânicas −, onde se fomentam “desvios comunitaristas, muitas vezes fundamentalistas”. “Não podemos fingir que não vemos isso. E isso justifica ainda mais que este ensino ocorra na escola da República, onde está protegido das forças obscurantistas e pode ser ensinado sem conotações religiosas”, prossegue. “É uma das maneiras de lutar contra o fundamentalismo religioso.”
A França tem um instrumento particular de integração: a laicidade, cujos princípios estão definidos na lei de 1905 que estabelece a liberdade de culto e a neutralidade do Estado em relação às religiões. Às vezes isso também foi visto da forma oposta, como um instrumento de discriminação que impede a manifestação das particularidades de cada comunidade.
Foi devido à laicidade que se proibiu, em 2004, a ostentação de símbolos religiosos na escola. Para Blanquer, a laicidade é uma garantia da presença do Estado e dos valores republicanos na escola diante da “dissolução da autoridade, um laxismo que conduz à lei do mais forte”. “E em alguns bairros, a lei do mais forte é o fundamentalismo muçulmano”, acrescenta.
O problema da violência aflorou em outubro, quando foram divulgadas imagens de um aluno de 15 anos, em uma escola da periferia de Paris, apontando uma arma falsa contra sua professora. As imagens provocaram um debate sobre a necessidade de colocar policiais nas escolas. “Acima de tudo, queremos criar um contato entre as crianças e a polícia, para que as crianças se acostumem a ter uma visão positiva sobre o que é um policial”, diz o ministro. “Minha filosofia consiste em abrir a possibilidade, mas sem generalizar, como têm falado. Não se trata, de jeito nenhum, de militarizar a escola ou de torná-la policial.”
*Por Marc Bassets
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*Fonte: elpais