Apenas isso vai evitar de um colapso global completo na próxima década

A sociedade humana está no caminho certo para um colapso nas próximas duas décadas se não houver uma mudança séria nas prioridades globais, de acordo com uma nova reavaliação de um relatório dos anos 1970, informou o Vice.

Nesse relatório — publicado no livro best-seller “Limites do crescimento” (1978, na edição brasileira) — uma equipe de cientistas do MIT (EUA) argumentou que a civilização industrial estava fadada ao colapso se corporações e governos continuassem a perseguir um crescimento econômico contínuo, sem se importar os custos para o planeta. Os pesquisadores previram 12 cenários possíveis para o futuro, a maioria dos quais previu um ponto onde os recursos naturais se tornariam tão escassos que um crescimento econômico adicional se tornaria impossível, e o bem-estar pessoal despencaria.

O cenário mais infame do relatório – o cenário de Negócios Como de Costume (NCC) – previu que o crescimento econômico mundial atingiria o pico por volta da década de 2040, e depois enfrentaria uma forte desaceleração, juntamente com a população global, a disponibilidade de alimentos e os recursos naturais. Esse “colapso” iminente não seria o fim da raça humana, mas sim um ponto de virada social que veria os padrões de vida cairem ao redor do mundo por décadas, escreveu a equipe.

Então, qual é a perspectiva para a sociedade agora, quase meio século depois que os pesquisadores do MIT divulgaram seus prognósticos? Gaya Herrington, pesquisadora de sustentabilidade e análise dinâmica de sistemas da consultoria KPMG, decidiu descobrir. Na edição de novembro de 2020 do Yale Journal of Industrial Ecology, Herrington se voltou para pesquisas que havia iniciado como estudante de pós-graduação na Universidade de Harvard no início daquele ano, analisando as previsões de “Limites para o Crescimento” ao lado dos dados mais atuais do mundo real.

Herrington descobriu que o estado atual do mundo — medido por 10 variáveis diferentes, incluindo população, taxas de fertilidade, níveis de poluição, produção de alimentos e produção industrial — se alinhava extremamente bem com dois dos cenários propostos em 1972, ou seja, o cenário NCC e um chamado Tecnologia Abrangente (TA), no qual os avanços tecnológicos ajudam a reduzir a poluição e aumentar o abastecimento de alimentos, mesmo com o escoamento dos recursos naturais.

Embora o cenário da TA resulte em um choque menor para a população global e o bem-estar pessoal, a falta de recursos naturais ainda leva a um ponto em que o crescimento econômico diminui drasticamente — ou seja, um colapso repentino da sociedade industrial.

“[Os cenários NCC] e TA mostram uma parada no crescimento dentro de uma década ou mais a partir de agora”, escreveu Herrington em seu estudo. “Ambos os cenários indicam, portanto, que continuar os negócios como de costume, ou seja, buscar crescimento contínuo, não é possível.”

A boa notícia é que não é tarde demais para evitar esses dois cenários e colocar a sociedade no caminho para a recuperação — o cenário do Mundo Estabilizado (ME). Ou seja limitar deliberadamente o crescimento econômico por conta própria, antes que a falta de recursos nos obrigue a fazê-lo.

“O cenário ME pressupõe que, além das soluções tecnológicas, as prioridades sociais globais mudem”, escreveu Herrington. “Uma mudança de valores e políticas se traduz em, entre outras coisas, família pequena, perfeita disponibilidade de controle de natalidade e uma escolha deliberada de limitar a produção industrial e priorizar serviços de saúde e educação.”

Em um gráfico do cenário de ME, o crescimento industrial e a população global começam a se nivelar logo após essa mudança de valores. A disponibilidade de alimentos continua a aumentar para atender às necessidades da população global; poluição diminui e o esgotamento dos recursos naturais começa a nivelar, também. O colapso social é evitado inteiramente.

Esse cenário pode soar como uma fantasia — especialmente quando os níveis de dióxido de carbono atmosférico disparam. Mas o estudo sugere que uma mudança deliberada ainda é possível.

Herrington disse à Vice.com que o rápido desenvolvimento e implantação de vacinas durante a pandemia COVID-19 é um testemunho da engenhosidade humana diante das crises globais. É inteiramente possível, disse Herrington, que os humanos respondam de forma semelhante à crise climática em curso se fizermos uma escolha deliberada e em toda a sociedade.

“Ainda não é tarde demais para a humanidade mudar propositalmente o curso para alterar significativamente a trajetória do futuro”, concluiu Herrington em seu estudo. “Efetivamente, a humanidade pode escolher seu próprio limite ou, em algum momento, atingir um limite imposto, momento em que um declínio no bem-estar humano se tornará inevitável.”

Leia mais sobre o relatório no Vice.com (em inglês).

*Por Marcelo Ribeiro
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*Fonte: hypescience

O modelo matemático que diz ser possível voltar ao passado

Por enquanto, viajar é apenas um exercício mental que nos ajuda a entender as leis do universo

Imagine que você tem uma máquina do tempo com a qual pode viajar ao passado.

Nesse momento, você teria a possibilidade de voltar ao final de 2019 e evitar o desencadeamento da pandemia do coronavírus. Sua missão seria encontrar o paciente zero, pouco antes de ele ser infectado.

Parece bom, não? O problema é que um pequeno detalhe o impediria de completar essa missão.

É verdade que algumas interpretações da física teórica afirmam que a viagem no tempo é possível. Albert Einstein, por exemplo, estava ciente de que suas equações permitiam, em princípio, viagens no tempo.

Essa possibilidade teórica, entretanto, esbarra no que os cientistas chamam de “paradoxo”, que tornaria logicamente impossível que a viagem acontecesse.

Esses paradoxos são um desmancha prazeres para os entusiastas de viagens no tempo, mas agora novas pesquisas afirmam que eles podem ser evitados.

Quais são esses paradoxos e por que este novo estudo afirma que é possível evitá-los para viajar ao passado?

Um neto que mata seu avô
Para entender o que é um paradoxo, vamos voltar à história da pandemia

Se você viajar ao passado e evitar que o paciente zero seja infectado, um paradoxo é criado imediatamente.

Ou seja, se você conseguisse impedir o início da pandemia, hoje não teríamos uma pandemia, portanto, não haveria motivo para viajar ao passado. Assim, você não viajaria ao passado e não poderia evitar que a pandemia se desencadeasse.

Esse é o paradoxo, um ciclo infinito que cria uma inconsistência lógica e destrói a ilusão da viagem no tempo.

Existem muitos paradoxos, mas este é um dos mais famosos. É chamado de “paradoxo do avô”, porque sua versão original apresenta um cenário em que um neto viaja ao passado para matar seu avô antes de ele ter seu pai.

O problema é que se ele matasse o avô, o viajante jamais poderia ter nascido. E, se ele não nascesse, sua viagem no tempo também não seria possível.


Evitar o paradoxo

Para resolver este paradoxo, vários exercícios mentais foram propostos, mas agora, dois pesquisadores na Austrália propõem uma solução matemática para evitá-lo.

Os pesquisadores queriam analisar como a dinâmica de um corpo, ou seja, seu movimento no espaço-tempo, se comporta ao entrar em uma curva de viagem ao passado.

Para isso, criaram um modelo matemático com o qual calcularam que um “agente” que entra em um ciclo de viagem ao passado poderia seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações.

O exercício abstrato mostra que vários agentes podem se comunicar no passado e no presente, sem uma relação de causa e efeito.

Isso significa que “os eventos se ajustam, de modo que sempre haverá uma solução única e consistente”, diz Germain Tobar, estudante de física da Universidade de Queensland, na Austrália, e autor do estudo, supervisionado pelo professor Fabio Costa, filósofo e físico teórico.

E o que isso significa?
Voltando ao exemplo da pandemia, o que o estudo diz é que se você viajar ao passado, poderia fazer o que quiser, mas seria impossível mudar o resultado dos eventos.

Ou seja, você teria livre arbítrio, mas não conseguiria evitar que a pandemia se desencadeasse.

Poderia acontecer, por exemplo, que enquanto você estivesse tentando deter o paciente zero, outra pessoa se contagiaria, ou mesmo você.

De acordo com o modelo de Tobar, os eventos mais relevantes seriam calibrados constantemente para evitar qualquer inconsistência (paradoxo) e, assim, atingir sempre o mesmo resultado, neste caso, o início da pandemia.

Entendendo o universo
O estudo de Tobar é aplicável apenas de forma abstrata no campo da matemática.

“É um trabalho interessante”, diz Chris Fewster, professor de matemática da Universidade de York, no Reino Unido, que estuda modelos de viagem no tempo.

Fewster, no entanto, adverte que agora “resta saber se as condições abstratas que (os autores) impuseram são satisfeitas nas teorias da física atualmente conhecidas”.

Segundo Tobar, esse é exatamente o desafio que eles têm agora: colocar seu modelo à prova.

Por enquanto, embora seu trabalho esteja longe de tornar a viagem no tempo uma realidade, Tobar argumenta se tratar de um passo rumo à compreensão das leis que governam o Universo.

*Por Carlos Serrano
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*Fonte: bbc-brasil