Dia: 29 de outubro, 2021
Afinal, porque é tão difícil adotar uma vida saudável? A ciência responde
Hábitos tidos como importantes para se levar uma vida saudável são relativamente conhecidos da população em geral. Contudo, mesmo tendo um “mapa do tesouro”, para a maioria das pessoas é muito difícil mudar os hábitos e passar a se alimentar melhor e fazer mais atividades físicas.
Apesar de uma vida saudável ser algo que pareça individual, os comportamentos ruins relacionados à saúde podem causar um problema social sério no futuro. Estima-se que em 40 anos, seja necessário que uma em cada três pessoas precisem trabalhar com saúde para suprir a demanda.
Estimativas assustadoras
Estima-se que em 2060 a demanda necessária para atender a população seja de que um em cada três pessoas seja um profissional de saúde. Crédito: CC0/Domínio Público
Para efeito de comparação, hoje, apenas uma a cada sete pessoas trabalha na área da saúde, sendo que a preparação para atuar neste campo é bastante complexa e morosa. Porém, este problema tem uma possível solução amplamente conhecida, a adoção de uma vida saudável.
Mas se parece tão simples na teoria, por que é tão difícil para tanta gente mudar de hábitos? A resposta está em nosso cérebro. A dificuldade de mudar de hábitos vai desde alguns mitos, derrubados pela ciência, mas que ainda acreditamos, até em não sermos tão fortes quanto pensamos.
Não é só saber o que fazer
Um desses mitos é o de que basta um médico nos dizer que reduzir o peso corporal vai resolver uma série de problemas de saúde existentes e futuros. Hoje, se sabe muito mais sobre os benefícios da atividade física, por exemplo, do que formas de incentivar as pessoas a se exercitar.
Isso pode querer dizer que existe um clima geral de muito otimismo em relação à autossuficiência das pessoas com a saúde. Ou seja, o pensamento hegemônico é de que basta sabermos os benefícios de algo, sem necessariamente descobrir como convencer as pessoas sobre como adotar esse hábito.
Existe um ditado popular que diz que “de boas intenções, o inferno está cheio”, e boas intenções não são só as que são direcionadas para terceiros. Muitas vezes, nós temos boas intenções para nós mesmos, como comer menos doces ou a velha resolução de ano novo de perder alguns quilos.
“Fraqueza de vontade”
Preparar alimentos saudáveis é mais trabalhoso do que optar por alimentos como fast food, por exemplo. Crédito: CC0/Domínio Público
Porém, só boas intenções não são suficientes para ter uma vida saudável, já que hábitos saudáveis são trabalhosos. Por exemplo, é muito mais difícil levar uma marmita com uma comida caseira do que simplesmente passar em um fast food ou pedir algo no delivery na hora do almoço.
Isso acontece porque a zona de conforto não tem esse nome à toa, ela é bastante confortável. Por mais que tenhamos muita força de vontade, só isso, pode não ser o suficiente para ter uma vida mais saudável.
Prestar atenção em tudo
O desenvolvimento de uma rotina é fruto de uma série de normas e hábitos, desde a distância entre a casa e o trabalho, até o modal de transporte usado para fazer esse trajeto. Sendo assim, mudar toda uma rotina para ter hábitos melhores pode precisar de muito mais do que “só” força de vontade.
A maior parte das escolhas que fazemos no nosso dia-a-dia não é exatamente consciente, mas numa espécie de “piloto automático”. Isso significa que a maior parte da nossa rotina acontece sem que estejamos exatamente prestando atenção naquilo que nós estamos fazendo.
Porém, a adoção de hábitos que levem a uma vida saudável depende de prestarmos bastante atenção em cada passo que estamos tomando e, caso eles possam nos prejudicar, fazer um esforço, esse sim, consciente e até mesmo “antinatural” para mudá-los.
*Por Kaique Lima
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*Fonte: olhardigital
O uso prolongado de computadores e celulares afeta o seu sono desta forma
A tecnologia transformou o significado dos sonhos, fazendo da noite uma espécie de dia virtual
Os sonhos são a paisagem do nosso mundo interior. Enquanto dormimos, nossa imaginação transforma o real, e dessa maneira nos dá um contexto para a experiência diurna. A mente, em sua agitação noturna de imagens e histórias, cria um incessante jogo de esconde-esconde com os sentimentos, com a memória e com nossos interesses e preocupações do dia. Apesar de serem intrinsecamente ambíguos e estarem abertos a múltiplas interpretações, os sonhos têm uma gramática que nos oferece um panorama da arquitetura da mente e das camadas entretecidas de elementos psicológicos que a compõem. Nelas, a atualidade e as vivências do passado recente e remoto convergem em formas notavelmente fluidas.
O uso prolongado de computadores e celulares afeta o seu sono desta forma
Sigmund Freud observou que uma das propriedades do inconsciente é a tolerância às contradições. Elas aparecem com frequência nos sonhos e nos mostram uma habilidade especial da mente para associar coisas que aparentemente carecem de características comuns. O sonho cria novas categorias que de outro modo nunca teríamos notado. Isso não é raro, é parte de sua estranheza comum. Já aconteceu com todos nós: como quando sabemos nesse estado que alguém é o nosso melhor amigo, mesmo que não se pareça com ele. Em outras circunstâncias, insistiríamos em corrigir o mal-entendido, mas não aqui. O sonho é uma experiência subjetiva fora do nosso controle, que nos oferece uma apreciação da interação íntima entre nosso mundo interior e o mundo social em que nos locomovemos.
Por este prisma podemos penetrar nos mistérios da mente e em sua relação com a cultura e a tecnologia. É extraordinário que Freud descobrisse esta chave nas atividades mentais de uma pessoa adormecida. Os sonhos como guia do inconsciente foram a base de suas teorias sobre os pensamentos reprimidos, que afloram enquanto dormimos. O professor de psicologia Daniel Wegner, de Harvard, sustenta que essa descoberta de Freud cria uma ponte com os avanços atuais das neurociências cognitivas. Estudos de imagens cerebrais confirmaram: a desativação da função inibitória da área pré-frontal do córtex cerebral durante o sono permite liberar os pensamentos que foram suprimidos durante a vigília e que contêm fatos relacionados com a memória reprimida.
Ao ligar os aparelhos logo depois de acordar, as imagens digitais substituem o que vivemos enquanto dormíamos
A maioria das pesquisas do sono concorda que ele promove o processamento cognitivo e contribui para a plasticidade cerebral. E que a falta de sono altera a transmissão de sinais no hipocampo, que é a área do cérebro onde se processa a memória em longo prazo. Estas observações foram confirmadas em outras espécies. Os estudos com moscas Drosophila realizados por Jeff Donlea e seus colaboradores da Universidade de Washington mostram que o sono não restaura apenas a capacidade de aprendizagem, mas também melhora a duração das lembranças.
Entretanto, apesar do papel central dos sonhos nos processos mentais, seu significado veio se transformando sob o efeito da tecnologia, porque ela tem a capacidade de nos desvincular do nosso mundo interior. As imagens desses contextos empalidecem em comparação às da realidade aumentada à qual estamos constantemente expostos por meio dos dispositivos inteligentes. É como se fôssemos absorvidos por uma corrente de sonhos pré-fabricados. Fica difícil neutralizar a sobre-excitação que eles causam em nosso cérebro. O uso prolongado do computador, do celular ou da televisão altera o ciclo do sono e transformou a noite praticamente em um dia virtual. Por outro lado, ao ligá-los imediatamente depois de acordar, os sonhos e suas ressonâncias diurnas são deslocados pelas imagens digitais, que disputam nossa atenção e acabam nos seduzindo.
Não obstante, os sonhos continuam sendo a realidade virtual original. São uma experiência intensamente pessoal, e por isso extremamente relevante. Mantêm nossa mente aberta a perguntas nunca antes formuladas, permitem explorar tabus e a falta de sentido, sem que ninguém nos observe nem nos julgue; dão uma imagem a situações que geram ansiedade e a eventos traumáticos, o que ajuda a processá-los. Enquanto sonhamos, nossa experiência noturna nos induz a vislumbrar o vasto reino da imaginação e do pensamento criativo. Como afirma o psicanalista Thomas Ogden, os sonhos permitem brincar livremente com as ideias fora do entorno do controle consciente. Esta liberdade de sonhar é possível graças à proteção da privacidade.
Para o nosso cérebro, o simples fato de ter sonhado já é suficiente, mas aqueles que de vez em quando recordamos podem nos beneficiar significativamente em nossa vida diurna e nos ajudar a refletir sobre seu conteúdo. O que está em jogo é uma conexão essencial com nosso mundo interior. Que pensamentos vêm à mente? Que emoções provocam? O que pode ter precipitado o sonho daquela noite? E se ao despertar a lembrança se evapora, não é preciso se preocupar. De fato, só recordamos cerca de 10% deles. Pense que, afinal de contas, são apenas sonhos.
*Por David Dorenbaum
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*Fonte: elpais-brasil