Dia: 15 de março, 2022
Tubos de água, porcas e parafusos: pneus sem ar caseiros são colocados para rodar a mais de 160 km/h
Um piloto de corrida e um engenheiro mecânico construíram pneus sem ar caseiros basicamente a partir de tubos de água, tiras de borracha, parafusos e porcas. O experimento foi postado no canal Driven Media, no YouTube, com um veículo rodando sobre tais itens do-it-yourself (faça-você-mesmo, DIY) a 160 km/h.
O britânico Scott Mansell (sem relação com o campeão mundial de Fórmula 1 de 1992, Nigel Mansell) pilotou um Caterham Seven 270R tendo como parceiro o engenheiro mecânico Callum McIntyre. O leve veículo de corrida foi a opção escolhida para enfrentar, com os pneus criados, desafios consideráveis, em uma experiência barulhenta e bem divertida.
Pneus sem ar têm sido observados como uma solução para a mobilidade (inclusive para o meio ambiente). O funcionamento desses itens têm um princípio simples: em vez de ar, a banda de rodagem se conecta à roda por meio de materiais flexíveis, capazes de se adaptar ao solo de acordo com a superfície do asfalto e a direção.
É justamente a partir daí que surgem os benefícios, já que pregos e cortes nas paredes laterais do pneu deixam de ser danos irreparáveis. Também não haveria mais a necessidade de verificar a calibragem dos pneus, nem comprar estepes, macacos ou infladores.
300 parafusos e porcas e muito barulho
A ideia dos pneus sem ar caseiros traz uma roda de aço de 14 polegadas de um velho Ford Mondeo recebendo 15 pedaços de cano de água instalados ao seu redor. Para reduzir a vibração, vários tubos menores foram adicionados entre os itens maiores, antes de serem revestidos na banda de rodagem padrão do pneu. 300 porcas e parafusos sustentam toda a engenharia.
Instalados no Caterham Seven 270R preparado para corrida, os pneus acabaram criando uma experiência de condução barulhenta e irregular. E quando falamos de barulho, é necessário citar que os inventores chegaram a medir com um decibelímetro o som, que quase chegou a 100 dB (um barulho na linha de uma britadeira ligada, daquelas de quebrar asfalto).
Um dos detalhes mais preocupantes da artimanha ficou por conta de algumas porcas e parafusos se desprendendo após apenas uma volta na pista. Porém, os pneus sem ar suportaram testes bem rígidos, como uma cama de pregos, que simplesmente passaram “sem furar”, animando a dupla. Confira o vídeo:
Sem ar e em alta velocidade
Além dos pregos, nas cenas temos que houve corrida sobre lombada no asfalto a 64 km/h. Na mesma velocidade, o carro com pneus sem ar caseiros enfrentou um buraco considerável. Quando em uma pista “off-road”, o Caterham correu sobre a grama.
Os pneus sem ar rodaram a mais de 160 km/h, com o design não sofisticado se saindo melhor do que o esperado. Mesmo que, em um determinado momento, McIntyre peça para Mansell parar o carro porque viu uma parte do pneu soltando (um dos tubos pequenos).
O engenheiro mecânico – que em muitos momentos se mostrou “divertidamente apreensivo” – gostou do experimento. “Os pneus aguentam pregos, buracos e até mesmo condução [pesada]. Para rodas caseiras criadas a partir de canos de drenagem, um pneu cortado e parafusos, isso não é ruim”
Por Ronie Mancuzo
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*Fonte: olhardigital
Kerouac, 100
Jack Kerouac mudou minha vida de todas as formas concebíveis. Já escrevi essa frase antes, referindo-me a Bob Dylan. Mas a verdade é que o motivo primordial pelo qual Dylan transubstanciou por completo minha trajetória foi justo o fato de, por meio da obra dele, eu ter chegado à obra de Kerouac. Dylan abriu as portas da percepção para mim, e depois arrancou-as dos batentes. Mas foi graças a Jack que me tornei tradutor, editor e escritor. Aos 22 anos, traduzi On the Road/ Na Estrada, a mais conhecida obra de Kerouac e aquela que apresentou ao mundo a chamada Geração Beat, da qual Jack, junto com Ginsberg e Burroughs foi o principal avatar. Graças a isso, pude fazer a transição do jornalismo para o mundo editorial e acabei traduzindo e editando várias outras obras dos beats, bem como de autores influenciados por eles, tais e quais Charles Bukowski, John Fante, Sam Shepard e por aí vai. Orgulho-me, portanto, de ter ajudado desencaminhar duas, talvez três, gerações de leitores.
Embora nascido nos EUA, Jack Kerouac era de origem franco-canadense e até os 6 anos de idade falava apenas o joual, um dialeto do francês. Numa terra obcecada pelas consoantes, Jack amava as vogais, e dessa forma, conseguiu, por vias transversas, capturar a prosódia do inglês, o som das ruas, o linguajar dos marginais e alterativos, forjando a mística do rebelde cheio de causas, do viajante solitário, do hipster, do white negro. Kerouac deu voz aos que tinham sido calados pelo sonho de consumo e afluência do tal “american way of life”, esse sonho vazio a flertar com o pesadelo existencial. Aditivado por colossais doses de benzedrina, ele inventou a “prosa espontânea”, uma escrita frenética, similar às furiosas pinceladas de Jackson Pollock e à espiral de notas impossíveis do sax de Charlie Parker.
Feito um cruzado rumo à Terra Santa, peregrinei várias vezes – como Dylan – ao túmulo de Jack. Visitei a casa onde ele nasceu e a casa onde ele morreu. Percorri as trilhas que ele palmilhou e refiz em 1979 a viagem de carona que ele fez de Nova York a San Francisco, esticando-a até Porto Alegre. Passei a emular seu estilo literário, seu ímpeto e fulgor, sua cascata de palavras, vertendo adjetivos aos borbotões. Passei a acreditar só em mim e a ignorar os muxoxos de quem jamais fora capaz de largar tudo e meter o pé na estrada. Estimulei minhas filhas, amigos, mulheres e ex-mulheres a abandonar o lar, desatar os laços, desfazer os nós, soltar as amarras, zarpando pelos mares de morros e mares nunca dantes navegados. Carrego Jack Kerouac no coração e na mente, a cada passo do caminho. E se você perguntar para onde estamos indo, digo só que chegaremos lá.
Jack Kerouac nasceu em 12 de março de 1922. Para mim, sempre caudaloso e dado aos excessos, esse século foi todinho dele.
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*Texto de Eduardo Bueno, publicado em sua coluna semanal no jornal Zero Hora, de Porto Alegre