Etarismo: o que é e como se manifesta o preconceito contra pessoas mais velhas

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 13% da população brasileira tem mais de 60 anos de idade. Os mesmos dados apontam que em 2031, o país será formado por mais idosos do que crianças. Apesar dessa previsão e da atual parcela de pessoas nessa faixa etária já ser significativa, o etarismo ainda é um tema pouco discutido no Brasil.

Pensando nisso, respondemos abaixo as principais dúvidas sobre o assunto, que deveria ser tratado com mais consciência e cuidado pela sociedade.

O que é etarismo?

Etarismo é o preconceito contra pessoas idosas. No geral, ele se refere a uma forma de discriminar o outro tomando como base estereótipos associados à idade, mas afeta principalmente quem já é mais velho. Também pode ser chamado de ageísmo, um aportuguesamento de “ageism”, expressão criada pelo gerontologista Robert Butler em 1969.

Discutido desde a década de 1960 nos Estados Unidos, o termo teve seu uso reformulado por Erdman Palmore em 1999. No Brasil, apesar de ser um assunto pouco conhecido, o etarismo costuma ser praticado contra pessoas que nem idosas são consideradas ainda. Segundo um relatório realizado pela Organização Mundial da Saúde com mais de 80 mil pessoas de 57 países, 16,8% dos brasileiros acima dos 50 anos já se sentiram discriminados por estarem envelhecendo.

O etarismo pode se manifestar de muitas formas, desde práticas individuais até institucionais. E todas elas tendem a acontecer mais intensamente “em sistemas onde a sociedade aceita a desigualdade social”, é o que diz Vania Herédia, presidente do departamento de gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Na maioria das vezes, o preconceito assume uma roupagem sutil. Um exemplo é quando idosos escutam, em tom de “brincadeira”, comentários como “Você está velho demais para isso”. Empresas que não contratam novos funcionários com mais de 45 anos ou que obrigam pessoas a partir de determinada idade a se aposentar, mesmo que isso não seja do interesse delas, também são casos de etarism

Um tipo de prática etarista menos comentada é a benevolente. Ela é praticada quando o idoso é infantilizado pelos membros da família, que parecem estar somente sendo gentis. O comportamento é problemático porque, por trás de um suposto cuidado, existe a ideia de que a pessoa não possui mais discernimento próprio.

“Um exemplo é quando eu proíbo a minha mãe, idosa, de assistir ao jornal na televisão, por considerar “violento demais” para ela. Outro é quando o idoso vai ao médico e só o cuidador se manifesta: todos os sintomas são descritos por outra pessoa e o idoso nem é questionado”, comenta a psicóloga Fran Winandy.

Quais são os efeitos do etarismo sobre as vítimas?

A discriminação etária causa diversos problemas para suas vítimas a longo prazo. A saúde mental costuma ser uma das áreas mais abaladas. Idosos que são constantemente desrespeitados, tratados com desprezo, agredidos ou humilhados têm mais chances de desenvolver baixa autoestima, tendências ao isolamento e depressão

Como contribui para piorar a saúde geral da pessoa, o etarismo também está relacionado à morte precoce. Idosos discriminados tendem a adotar um comportamento de risco, se alimentando mal, exagerando na bebida alcoólica e no cigarro. Dessa forma, a inexistência de hábitos saudáveis provoca uma queda na qualidade de vida.

Mas não para por aí. Práticas etaristas ainda estão associadas ao surgimento de distúrbios crônicos. As vítimas desse tipo de discriminação podem desenvolver como consequência doenças cardiovasculares e cognitivas, tendo maior risco de sofrer com atrite ou demência, por exemplo.

O acesso à saúde também é afetado pelo etarismo. Diversos hospitais e instituições médicas consideram a idade dos pacientes para decidir se eles devem ou não receber determinados tratamentos. De acordo com a segunda edição da Pesquisa Idosos no Brasil, organizada pelo Sesc São Paulo e pela Fundação Perseu Abramo, 18% dos idosos entrevistados disseram que já foram discriminados ou maltratados em um serviço de saúde.

Por que o etarismo acontece?

A discriminação etária ocorre porque idosos estão associados a estereótipos negativos. Envelhecer, apesar de ser um processo natural, é visto como algo ruim pela sociedade, que o trata como sinônimo de tristeza, incapacidade, dependência e senilidade.

“O envelhecimento é um processo inexorável e traz desgastes naturais. E isso é interpretado erroneamente como um estado global de fragilidade e perda de independência e autonomia. É importante frisar que o envelhecimento varia de pessoa para pessoa e os idosos não são todos iguais”, afirma Ana Laura Medeiros, geriatra do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em entrevista para o UOL.

O fato de grande parte dos idosos não trabalharem mais também pode contribuir para uma visão negativa dessa fase da vida. “No capitalismo, o idoso pode perder seu valor porque não está no mercado de trabalho, gerando renda. Mas é fundamental não se apegar aos rótulos e à naturalização do preconceito”, explica Alexandre da Silva, gerontólogo e professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí.

É preciso entender desde a infância que o envelhecimento é um processo natural.

Para combater o etarismo, é necessário, começando dentro da própria casa, atualizar a interpretação preconceituosa enraizada pela sociedade do que significa envelhecer. “As crianças precisam compreender o processo de velhice, que faz parte da vida, e a necessidade do respeito. É preciso promover o conhecimento sobre o envelhecimento e aumentar ações para inseri-los na sociedade”, conclui Medeiros.

É importante pontuar que qualquer prática discriminatória, agressão física ou verbal pode ser denunciada para o Estatuto do Idoso. Os culpados podem ser punidos com multa ou reclusão.

*Por Roanna Azevedo
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*Fonte: hypeness

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