Se você ‘fala’ com as mãos, provavelmente também ‘pensa’ com elas, diz estudo

A fala é uma ferramenta de comunicação que utiliza cerca de uma dúzia de músculos da laringe, as cordas vocais, língua, lábios, dentes e boca – mas não somente. Para falar, a maioria das pessoas também utiliza as mãos. O que os cientistas da Universidade Metropolitana de Osaka, no Japão, buscaram descobrir em pesquisa recente foi se nossos gestos afetam também nossa forma de pensar. E sim, nós também pensamos com as mãos.

O estudo buscou entender o efeito do uso das mãos na compreensão do sentido das palavras

De acordo com o estudo, a conexão entre as mãos e a fala se estabelece principalmente na forma como entendemos as palavras, e é chamada de “cognição incorporada”, conectando, por exemplo, uma palavra à ação diretamente ligada a seu significado. Como a palavra “garfo” e o ato de fincar as pontas do objeto em um alimento, e levar a comida até a boca. É fundamental pensar em gestos para compreender seu sentido mais profundo e prático.

A cognição incorporada relaciona um copo com o ato de levar a bebida até a boca, por exemplo

Assim, o que a pesquisa chama de “aterramento simbólico” consiste em compreender o significado de uma palavra através da interação com o corpo e o ambiente. Para medir o efeito das mãos na forma como pensamos, os pesquisadores estimularam participantes da pesquisa com palavras referentes a objetos diversos, medindo as reações cerebrais diante das palavras, mas ora com as mãos livres, ora com as mãos presas.

A relação entre o impedimento gestual e as atividades cerebrais foi medida por infravermelho

A medição das atividades cerebrais foi feita com espectroscopia funcional no infravermelho próximo (fNIRS), e mostrou que o lado esquerdo do cérebro teve as reações consideravelmente reduzidas com as mãos presas diante de objetos manipuláveis – como copo, colher ou vassoura. Dessa forma, concluiu-se que a cognição incorporada é parte determinante da eficácia de nosso pensamento. Ou seja, restringir as mãos afeta nossa capacidade cognitiva, afinal também pensamos com as mãos.

A pesquisa pode ser usada na melhoria das compreensões de inteligências artificiais, por exemplo.


*Por Vitor Paiva

……………………………………………………………………….
*Fonte: hypeness

Compatibilidade amorosa é destino ou dedicação? Como essa lógica pode afetar seu relacionamento

Em um episódio memorável da série Sex and the City, Carrie (Sarah Jessica Parker) admite estar totalmente encantada com seu novo namorado, Jack Berger (Ron Livingston). “Tudo é novo, tudo é a primeira vez, tudo são preliminares”, diz ela, descrevendo sua primeira vez juntos. “Até uma visita a uma loja de departamentos pode ser uma tarefa emocionante… e, claro, aqueles primeiros beijos são os melhores do mundo.”

Mas, nas duas primeiras vezes em que eles trocam intimidades, Carrie acha a experiência muito frustrante. “Mande embora”, aconselha Samantha (Kim Cattrall), acrescentando uma paródia impublicável do ditado comum em inglês “engane-me uma vez, a culpa é sua; engane-me duas vezes, a culpa é minha”.

O episódio da sexta temporada da série – seu título é Great Sexpectations (algo como “grandes expectativas sexuais”) – chamou a atenção da psicóloga Jessica Maxwell, professora sênior de psicologia da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

“Fui pega de surpresa quando os personagens simplesmente consideraram que o sexo deveria ser relativamente fácil e como eles estavam dispostos a jogar a toalha em um relacionamento se o sexo for ruim”, afirma ela. E conversas com suas amigas indicaram que muitas pessoas seguiam o comportamento de Samantha na vida real.

Esses pensamentos levaram Maxwell a pesquisar as formas em que nossas crenças podem influenciar os relacionamentos íntimos a curto e longo prazo.

De um lado, existe a “mentalidade do crescimento sexual” – a crença de que a satisfação requer trabalho e esforço. Por outro, existe a “mentalidade do destino sexual” – a ideia de que a compatibilidade natural entre os parceiros sexuais é o principal fator que permite que os casais mantenham a satisfação sexual. Ou seja, qualquer dificuldade em um relacionamento sexual pode ser um sinal de que ele está destinado ao fracasso.

Em uma série de estudos, Maxwell concluiu que essas mentalidades podem ditar as formas como as pessoas lidam com problemas na cama, com enormes consequências para a qualidade dos seus relacionamentos. Sua pesquisa indica que, formando expectativas sexuais mais construtivas, todos nós poderemos ter uma vida amorosa mais saudável e feliz.

Destino amoroso?
As conclusões de Maxwell são parte de um conjunto crescente de literatura que examina os efeitos da mentalidade em muitos setores diferentes da vida.

Os estudos mais famosos são os de Carol Dweck, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Ela examinou, em décadas de pesquisa, se as pessoas acreditam que a capacidade acadêmica é fixa e não pode ser alterada, ou se elas consideram suas capacidades como algo que pode crescer com a prática.

De forma geral, as pessoas com mentalidade de crescimento parecem mais dispostas a assumir novos desafios e mais capazes de lidar com seus fracassos. E as tentativas de promover a mentalidade de crescimento, aplicadas em um ambiente educacional de apoio, aparentemente aumentam o desempenho médio dos estudantes, de forma que crianças que enfrentam dificuldades possam explorar melhor seu potencial.

Inspirados pelas descobertas de Dweck, psicólogos em todo o mundo vêm explorando o papel dessa mentalidade em muitas outras áreas, incluindo o comportamento de saúde e preparo físico das pessoas, a paixão pelo trabalho e a estabilidade dos seus relacionamentos amorosos.

Se você tem uma “mentalidade de destino amoroso”, você é mais propenso a concordar com afirmações como: “ou os potenciais parceiros de relacionamento são compatíveis, ou não são” e “os relacionamentos que não começam bem inevitavelmente irão fracassar”. E você provavelmente acredita em amor à primeira vista.

Mas, se você tiver a “mentalidade de crescimento amoroso”, você poderá enxergar o amor como algo que floresce à medida que as pessoas se conhecem. Você mais provavelmente concorda com frases como “o relacionamento ideal desenvolve-se gradualmente ao longo do tempo” e “desafios e obstáculos em um relacionamento podem deixar o amor ainda mais forte”.

Esses dois conjuntos de crenças não são necessariamente exclusivos entre si, o que significa que você pode ter notas altas (ou baixas) nas duas medidas. Você pode, por exemplo, esperar que a compatibilidade tenha alguma importância e desejar ter química instantânea com seu futuro parceiro, mas também reconhecer a necessidade de muito trabalho para construir uma conexão mais profunda. E a pesquisa indica que essas crenças podem influenciar profundamente a interação entre os parceiros.

Por exemplo, pessoas com alto grau na escala da mentalidade de destino podem se sair bem na primeira fase do romance, mas são mais propensas a perder o interesse pelo relacionamento em tempos difíceis. “A ideia é que, se meu parceiro e eu estamos em conflito, isso quer dizer que não somos compatíveis”, afirma Dylan Selterman, professor da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (Estados Unidos). Para ele, “as pessoas se afastam da reparação e do compromisso.”

Em um estudo recente, Selterman pesquisou cerca de 500 pessoas sobre as vezes em que elas traíram parceiros em um relacionamento. Ele concluiu que as pessoas com mentalidade de destino eram mais propensas a culpar fatores como negligência do seu parceiro. Quando elas achavam que tudo estava ruindo, elas simplesmente se sentiram menos comprometidas a permanecer fiéis.

Já as pessoas com alto grau na escala de mentalidade de crescimento tendem a lidar melhor com os conflitos, pois elas acreditam que podem trabalhar para superá-los. “Os conflitos podem ser vistos como uma oportunidade para aprender mais sobre o parceiro e crescer junto com ele em uma direção positiva”, segundo Selterman.

No seu estudo sobre a traição, as pessoas com mentalidade de crescimento eram muito menos propensas a culpar problemas como baixo compromisso com seu relacionamento existente pela sua infidelidade.

Sexo dá trabalho
Por mais interessantes que fossem esses estudos, o foco foi no lado romântico e não no lado físico do relacionamento.

Maxwell suspeitou que nosso comportamento com relação ao sexo poderia ter a mesma importância e trazer consequências únicas para os nossos relacionamentos. Para descobrir, ela projetou um conjunto de escalas paralelo, que media a “mentalidade do destino sexual” e a “mentalidade do crescimento sexual”.

Como seu equivalente amoroso, a mentalidade do destino sexual concentrou-se na crença de que a compatibilidade sexual é instantânea e reflete a adequação geral do seu parceiro. Ela se reflete em pessoas que concordam com frases como “se os parceiros sexuais estiverem destinados a ficar juntos, o sexo será fácil e maravilhoso” e “fica claro desde o princípio como a satisfação da vida sexual do casal será ao longo do seu relacionamento”.

Já a mentalidade de crescimento sexual é medida concordando-se com frases como “assumir compromissos por um parceiro é parte do bom relacionamento sexual” e “o relacionamento sexual satisfatório, em parte, é questão de aprender a resolver as diferenças sexuais com o parceiro”.

Em uma série de estudos, Maxwell e seus colegas confirmaram que a mentalidade sexual das pessoas influenciou sua satisfação sexual e a qualidade geral do seu relacionamento – mais que as suas mentalidades amorosas.

A mentalidade de destino sexual foi especialmente importante quando os casais enfrentaram discordâncias sobre a vida sexual. “Eles deixam o que acontece na cama infiltrar-se e afetar suas impressões gerais sobre o relacionamento”, segundo Maxwell. Já a maior adoção de crenças sobre o crescimento sexual tende a produzir relacionamentos mais felizes, na cama e fora dela.

Em seguida, Maxwell quis saber como as variações de mentalidade afetavam a vida sexual das pessoas no dia a dia. De forma geral, acredita-se que a avaliação das pessoas nas escalas de mentalidade seja relativamente estável ao longo do tempo, mas ela pode mudar em torno de um ponto médio definido.

Ela pediu às participantes que preenchessem um diário ao longo de três semanas, o que permitiu rastrear mudanças na mentalidade das pessoas e na qualidade geral das suas experiências sexuais. “Concluímos que a maior aceitação da ideia de que o ‘sexo dá trabalho’, em qualquer dado dia, traz benefícios”, segundo ela.

Como evidência adicional, Maxwell explorou as formas em que a mentalidade sexual influenciou a transição dos casais para a paternidade – um evento que é conhecido por afetar relacionamentos sexuais. E, seguindo a mesma linha das conclusões anteriores, as crenças sobre o crescimento indicaram maior satisfação para o indivíduo e seu parceiro durante essa época difícil, enquanto a forte crença no destino resultou em satisfação muito menor.

Maxwell e seus colegas agora vêm reproduzindo essas conclusões em outros contextos e ela parece feliz em saber que muitos outros pesquisadores estão investigando a importância da forma de pensar nos nossos relacionamentos sexuais. Eles demonstraram, por exemplo, que a mentalidade influencia como as pessoas lidam com baixo desejo sexual e a comunicação entre os parceiros sobre suas necessidades sexuais.

A cura sexual
Será que, no futuro, essas pesquisas poderão fornecer novas intervenções para casais com dificuldades de conexão?

Até aqui, existe alguma evidência de que as formas de pensar são maleáveis, ao menos temporariamente. Em um recente estudo da Universidade de Minnesota em Duluth, nos Estados Unidos, os pesquisadores pediram a alguns participantes que lessem uma reportagem (falsa) enfatizando a ideia de que o amor dos casais pode florescer com muito trabalho – um texto que foi projetado para preparar uma mentalidade de crescimento amoroso.

Os participantes foram questionados em seguida sobre seu comportamento em diversos tipos de infidelidade – desde flertar com alguém até o sexo virtual e o contato sexual direto. As pessoas que tiveram a mentalidade de crescimento preparada demonstraram maior propensão a conseguir perdoar o parceiro.

Maxwell realizou um experimento similar usando reportagens tentando manipular a mentalidade sexual das pessoas. Depois que os participantes leram as reportagens, ela fornecia feedback falso sobre sua compatibilidade como um casal, com base em uma pesquisa que eles haviam respondido 10 dias antes.

Ouvir que eles tinham baixa compatibilidade sexual com seu parceiro levou muitos participantes a reavaliar a qualidade do seu relacionamento, mas o efeito foi muito menos pronunciado entre os participantes que haviam recebido as crenças de crescimento. Isso indica que eles seriam menos pessimistas e derrotistas quando enfrentassem desentendimentos na vida real sobre suas necessidades sexuais.

Maxwell também concluiu que a reportagem que promovia a mentalidade de crescimento sexual aumentou a disposição dos participantes a acolher as necessidades sexuais dos seus parceiros. É desnecessário dizer que ela revelou a verdade aos parceiros posteriormente e explicou que a informação sobre a sua compatibilidade era falsa, para que ninguém saísse do laboratório com convicções erradas sobre os seus relacionamentos.

Maxwell enfatiza que estas conclusões sobre a manipulação de curto prazo são preliminares, mas ela está otimista e acredita que a educação sobre a mentalidade de crescimento poderá ajudar na terapia de casais. “Acho que precisaria envolver diversas exposições à ideia”, afirma ela, acreditando que os casais precisariam de incentivo para aplicar o que aprendessem.

As lições dos filmes
Maxwell também indica um estudo que pediu aos casais que assistissem a filmes ilustrando problemas de relacionamento, para depois refletir sobre o conteúdo e descrever como as mesmas lições poderiam ser aplicadas às suas próprias vidas.

Essa intervenção surpreendentemente simples reduziu significativamente as taxas de divórcio ao longo de um período de três anos. “Teve essencialmente a mesma eficácia da terapia de casal comum”, afirma ela.

A pesquisadora tem interesse em saber se o mesmo método poderia ser aplicado com foco maior sobre a mentalidade revelada pelos personagens e seus efeitos sobre os relacionamentos. Você poderá pedir aos casais que indiquem quando os personagens deixam de comunicar suas necessidades devido à mentalidade de destino, por exemplo, sugerindo formas em que os casais fictícios poderiam usar a mentalidade de crescimento para superar os problemas de forma mais construtiva.

Se der certo, pode ser hora de começar a assistir novamente aos episódios de Sex and the City.

*Por David Robson
……………………………………………………………………..
*Fonte: bbc-brasil