Dia: 14 de janeiro, 2023
Teoria da autodeterminação: por que autoconhecimento é a melhor ferramenta para encontrar motivação
No início do ano, muita gente naturalmente pensa nas metas para os próximos meses. E, ao fazer isso, vale a pena prestar atenção não só nos desafios em si, como também nos motivos que nos levam a persegui-los.
Digamos que você esteja planejando escrever um romance, por exemplo. Você pretende escrever pelo puro prazer de criar um mundo de ficção habitado por personagens curiosos? Ou por que você adora literatura e quer deixar uma contribuição valiosa para a cultura?
Talvez você queira simplesmente provar para si mesmo que é capaz de ter um livro publicado. Ou quem sabe você anseie pela fama, e escrever um best-seller pareça um ótimo caminho para reconhecimento.
A teoria da autodeterminação afirma que cada uma dessas questões representa uma fonte diferente de motivação com consequências distintas — boas e ruins — para o nosso desempenho e bem-estar.
As pesquisas indicam que, escolhendo as metas certas, pelas razões certas, você será mais engajado e determinado, obtendo maior satisfação com seu sucesso.
Uma recompensa em si
Como muitas ideias científicas, a teoria da autodeterminação vem sendo elaborada há anos.
Ela surgiu em estudos dos anos 1970, mas só começou a atrair interesse de verdade depois da publicação de um artigo pioneiro no ano 2000, que descreveu alguns dos seus principais conceitos relativos à motivação, desempenho e bem-estar.
A teoria parte da noção otimista de que a maioria dos seres humanos tem o desejo natural de aprender e se desenvolver.
“Ela se baseia na premissa de que as pessoas são orientadas para o crescimento”, explica Anja Van den Broeck, professora da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica.
A orientação para o crescimento é mais visível no interesse insaciável das crianças pequenas pelo mundo à sua volta. Mas os adultos também podem sentir fascínio e curiosidade inerentes por certas atividades, fazendo com que a simples realização de uma tarefa seja sua própria recompensa.
Pense em uma ocasião em que você ficou tão envolvido em uma atividade que não notou o tempo passar. Esta é a chamada motivação intrínseca.
Mas, muitas vezes, nossa motivação intrínseca pode não ser suficiente para realizar uma tarefa necessária para atingir nossos objetivos. Nestes casos, precisamos nos incentivar — ou ser incentivados — com diferentes formas de motivação extrínseca, como:
Identificação: você pode não gostar da atividade em si, mas ela pode ser importante para seus valores e objetivos mais amplos, o que fornece outra forma de motivação.
Para um professor, por exemplo, o reconhecimento da importância da educação e seu papel para melhorar o futuro dos alunos pode motivá-lo a passar mais horas corrigindo deveres de casa. Para o aspirante a romancista, a sensação de estar criando uma obra literária importante pode fazer com que ele revise seu original, mesmo se o ato de escrever propriamente dito possa, às vezes, parecer trabalhoso.
Introjeção: às vezes, nós nos pressionamos para preservar nosso ego e autoimagem. “Sua autoestima pode depender da atividade”, explica van den Broeck. Você receia que, se não atingir seu objetivo, sentirá vergonha e uma sensação de fracasso.
Regulação externa: às vezes, a motivação vem simplesmente de recompensas externas, como fama e fortuna.
Em alguns ambientes de trabalho, a regulação externa pode vir na forma de bônus de desempenho e aumentos salariais. Você continua a se concentrar no trabalho para conseguir o dinheiro, mesmo se achar que as tarefas em si são maçantes e sem sentido.
Se as pessoas não forem influenciadas por esses fatores, vem a desmotivação. E, como se pode esperar, pessoas desmotivadas normalmente apresentam baixa produtividade e comprometimento.
A desmotivação pode ser evidente na educação, com estudantes que aproveitam qualquer oportunidade para faltar aula e não têm intenção de se esforçar nos estudos.
Os psicólogos que estudam a teoria da autodeterminação elaboraram diversos questionários para avaliar cada um desses tipos de motivação em vários contextos diferentes. E, ao longo das últimas duas décadas de pesquisa, surgiram alguns padrões muito claros.
Van den Broeck, por exemplo, analisou recentemente 104 documentos que examinam a motivação no ambiente de trabalho. E, como era esperado, a motivação intrínseca — o interesse ou prazer inerente causado pelo trabalho em si — previa uma melhor satisfação profissional, dedicação e proatividade, além de proteger fortemente contra o burnout.
A identificação — sensação de que o trabalho é importante ou significativo — também foi excelente para o bem-estar, e provou ser ainda mais importante para o desempenho profissional.
Já os efeitos dos outros tipos de motivação tendem a ser mais ambíguos.
A introjeção (a relação entre o trabalho e a autoestima) parece garantir um melhor desempenho profissional, mas também aumenta o estresse e o risco de burnout, o que é um preço alto a pagar pelo sucesso profissional.
E a regulação externa — os incentivos puramente financeiros para alcançar um bom desempenho — provou ter as piores consequências. Como fonte principal de motivação, seus efeitos sobre o engajamento e o desempenho se mostraram limitados, além de prejudicar o bem-estar.
Há até algumas evidências de que as pessoas que são motivadas unicamente pelas recompensas extrínsecas são mais propensas a agir com desonestidade, como mentir sobre seu desempenho, para conseguir o reconhecimento que desejam.
O que você realmente quer?
É importante fazer uma ressalva ao analisar estas conclusões, segundo o psicólogo do trabalho Ian MacRae, autor de livros como Motivation and Performance (“Motivação e desempenho”, em tradução livre), em parceria com Adrian Furnham.
Embora observe a importância de distinguir os diferentes tipos de motivação, MacRae destaca que sua importância relativa dependerá das circunstâncias mais gerais.
Por exemplo, se alguém estiver enfrentando dificuldade com a crise do custo de vida, motivações “externas” como a promessa de um pacote de aumento salarial podem fazer toda a diferença.
“Você precisa ter cuidado ao tirar conclusões para todos os setores do mercado de trabalho”, ele adverte.
Mas, se as suas necessidades básicas estiverem sendo atendidas, a motivação intrínseca se torna muito mais significativa, segundo MacRae. Por isso, se você estiver em uma posição financeira relativamente estável, talvez possa repensar começar um projeto ou aceitar um cargo novo apenas pelo dinheiro extra — a menos que você ache que a proposta também despertaria sua curiosidade ou ofereceria sensação de propósito e significado.
MacRae sugere que, ao questionar suas fontes de motivação, você pode melhorar sua experiência no seu emprego atual.
“A autoconsciência tem importância fundamental. Um dos principais pontos é entender o que você realmente quer do trabalho — se é uma questão de relacionamento profissional com outras pessoas ou de aprender e se desenvolver, por exemplo.”
Você pode então procurar oportunidades para capitalizar esses elementos.
Do ponto de vista da gestão, MacRae afirma que é essencial que os líderes ouçam atentamente quando seus funcionários expressam essas motivações — e devem fazer um esforço genuíno para fornecer os recursos necessários que permitam aos funcionários buscar esses interesses.
Isso pode ser muito mais eficaz para revitalizar a força de trabalho do que oferecer um bônus de final de ano ao membro mais produtivo da equipe.
Van den Broeck concorda. Ela destaca que oferecer senso de autonomia aos funcionários influencia as formas intrínsecas e de identificação da motivação.
Isso não significa dar aos funcionários total liberdade para fazer o que quiserem, mas que é possível oferecer alguma possibilidade de escolha dentro das atividades que realizam, e explicar o propósito das tarefas inevitáveis que forem atribuídas a eles — para que possam pelo menos entender como seu trabalho se encaixa na missão da equipe.
O princípio do prazer
A teoria da autodeterminação não se refere apenas ao mundo do trabalho. Ela também pode servir para os nossos hobbies.
Você pretende aprender uma língua estrangeira, por exemplo, simplesmente para impressionar as pessoas? Ou porque você tem um interesse genuíno pela cultura ou uma necessidade específica de se comunicar com falantes daquele idioma?
Se a sua inspiração for esta última, você vai achar o inevitável trabalho árduo muito menos penoso do que alguém que quer aprender o mesmo idioma pelo status social de ser poliglota.
Já em relação à preparação física, você talvez possa se pressionar a fazer a atividade mais difícil que puder, simplesmente porque quer provar suas habilidades para si mesmo ou para outras pessoas — e pode sentir que está fracassando de alguma forma se não se esforçar ao máximo.
Mas nenhuma dessas razões reflete muita motivação intrínseca. Por que então não escolher uma atividade um pouco menos extenuante, mas muito mais prazerosa? Pesquisas recentes indicam que as pessoas que escolhem seus exercícios físicos desta forma apresentam maior persistência do que as que não consideram seus interesses ou prazer nas atividades.
Por isso, mesmo que as sessões sejam um pouco menos cansativas, se você tiver mais chance de continuar praticando a atividade, o compromisso de longo prazo renderá dividendos maiores.
Afinal, a vida é curta, e há um limite para o que podemos alcançar com o tempo que nos é dado. A teoria da autodeterminação é um lembrete de que precisamos ser seletivos em relação às atividades que buscamos realizar.
Se você se concentrar nas metas que sejam pessoalmente mais significativas e agradáveis, ignorando as que foram inspiradas ou impostas por outras pessoas, o autodesenvolvimento não precisa ser uma obrigação — mas, sim, uma fonte de alegria.
*Por David Robson
……………………………………………………………………
*Fonte: bbc-brasil
13 músicas de David Bowie sobre o espaço
De estrelas a roqueiros que fazem contato com alienígenas, o Universo sempre esteve presente na obra do músico
Os mistérios do Universo eram grande inspiração para Bowie, que escreveu um grande número de músicas fazendo menções espaciais. Abaixo, você confere as músicas que melhor expressam a relação do cantor com a fronteira final. Você pode ouvir todas elas em nossas playlists no Deezer e no Spotify.
Space Oddity (1969): o primeiro grande sucesso de Bowie foi lançado à mesma época que a missão Apollo 11, que chegaria à Lua. Foi um hit instantâneo, que tornou Bowie conhecido na Inglaterra, seu país natal, e no resto do mundo. Na letra, Major Tom é um astronauta que se comunica com o centro de controle sobre sua missão espacial… quando algo dá errado.
Life on Mars? (1971): Escrita para dar uma cutucada em Paul Anka, que comprou os direitos da versão francesa de uma de suas músicas (“Even a Fool Learns to Love”, que nunca foi lançada) e a transformou na famosíssima “My Way”, Life on Mars? foi considerada uma das 100 melhores músicas de todos os tempos no jornal The Daily Telegraph. Apesar de ter os mesmos acordes do clássico de Frank Sinatra, a canção de Bowie não poderia ser mais diferente: fala sobre violência, enfado e sonhos destruídos. Exausto com a realidade, o narrador se pergunta: “existe vida em Marte?”
Ziggy Stardust (1972): Escrita para o álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, essa canção conta a história do roqueiro de mesmo nome, que tocava guitarra ao lado de suas aranhas marcianas e servia de transmissor de mensagens espaciais. Ziggy foi um personagem criado e interpretado pelo próprio Bowie, conhecido pelo seu viés político, glam-rock e bastante sexualizado.
Lady Stardust (1972): Essa balada feita ao piano foi escrita para a turnê de Ziggy Stardust e ficou marcada como a música que, durante os shows, Ziggy se vestia de mulher. É uma balada sobre um rapaz que era ridicularizado pelos outros, até subir nos palcos – quando a “senhorita Stardust”, a versão feminina de Ziggy, cantava junto com ele. Dizem que o rapaz da música é Marc Bolan, um dos ídolos de Bowie e pioneiros do glam rock.
Starman (1972): A letra se refere ao “Starman”, um alienígena que envia mensagens de esperança para a Terra por meio do roqueiro Ziggy Stardust. A história é contada do ponto de vista de um garoto que escuta a palavra de Ziggy. Bowie disse, em uma conversa com o autor de ficção científica William S. Burroughs, que Ziggy não era extraterrestre, ao contrário do que se pensava – apenas um rock star que se comunicava com o espaço. A balada é uma das músicas mais famosas de Bowie e foi vendida como single antes de integrar o álbum “The Rise and Fall…”.
Moonage Daydream (1971-1972): Bowie lançou essa canção como single e a regravou para sua versão mais conhecida integrar “The Rise and Fall…”. Na letra, conhecemos as palavras de um alienígena messiânico falando para aproveitarmos enquanto dá tempo, já que o mundo está prestes a acabar. É uma combinação de tudo que fez Ziggy Stardust ser o fenômeno que foi: uma mensagem sobre rebelião, sexo e paixões sociais.
Five Years (1971-1972): O clima “carpe diem” de Moonage Daydream é consequência do que ouvimos nessa canção aqui, também da turnê de Ziggy Stardust: “o cara do jornal chorou e nos contou / a Terra está realmente morrendo / chorava tanto, seu rosto estava molhado / foi assim que eu soube que ele não estava mentindo”. É uma canção incrível sobre o fim do mundo, com as reações das pessoas à notícia de que o fim virá em apenas cinco anos. Praticamente um filme apocalíptico.
The Prettiest Star (1970): Essa animada canção ficou famosa por ter sido usada por Bowie para pedir sua mulher, Angela, em casamento. “Um dia, talvez um dia / eu e você vamos subir até o alto / Tudo porque você é / A estrela mais brilhante”, cantou ele. O pedido, é claro, funcionou: “Angie” e Bowie foram casados entre os anos 70 e 80.
Ashes to Ashes (1980): A canção tem uma clara referência ao astronauta Major Tom, de Space Oddity, desconstruindo sua imagem de “astronauta hippie” e o reconhecendo como um homem triste e dependente de drogas. Para Bowie, a canção serviu para amarrar todo o seu trabalho dos anos 80: “foi um bom epitáfio”, concluiu ele.
Hallo Spaceboy (1995): Bowie se inspirou na banda Nine-Inch Nails para compor a canção que, de acordo com ele, resultou em algo como “Jim Morrison (da banda The Doors) industrial”. O narrador conversa com um garoto do espaço, falando sobre caos e dias terríveis, mas garante, à guisa de consolo: “poeira da Lua vai cobrir você”.
New Killer Star (2003): A música tem uma referência sutil aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 às torres gêmeas do World Trade Center. A música fala sobre a descoberta de uma nova estrela, enquanto o clipe, de forma surreal, mostra um astronauta quase aterrisando nos Estados Unidos moderno.
The Stars (Are Out Tonight) (2013): Fazendo uma homenagem à primeira fase de seu trabalho, Bowie brinca com o significado da palavra estrela: se refere a pessoas famosas como se fossem astros no céu.
Blackstar (2015): Na música-título de seu último trabalho, Bowie se despediu afirmando que não era uma estrela do rock, e sim uma “estrela negra”. No clipe, lançado em novembro de 2015, uma mulher encontra um astronauta morto e, em tom um tanto quanto lúgubre, realiza rituais com sua caveira. A crítica recebeu seu último trabalho como “maravilhosamente estranho”, como não podia deixar de ser, tratando-se de David Bowie.
*Por Claudia Fusco
…………………………………………………………………
*Fonte: revistagalileu