Calor e seca: pesquisas mostram efeitos da mudança climática na agricultura

Os eventos de calor e seca podem coincidir com mais frequência devido à mudança climática, com consequências negativas para a agricultura mundial. É isso que revela um novo estudo publicado na Nature Food.

O rendimento das culturas geralmente cai durante as estações quentes de crescimento, mas o calor e a seca combinados podem ter efeitos ainda mais amplos.

Além das perdas causadas apenas pelas altas temperaturas, os efeitos combinados do calor e da seca causarão reduções adicionais de rendimento de milho e soja de até 20% em partes dos Estados Unidos, e de até 40% na Europa Oriental e no sudeste da África.

Em lugares onde os climas frios atualmente limitam o rendimento das culturas, como no norte dos Estados Unidos, Canadá e Ucrânia, os efeitos combinados de temperaturas mais altas e menos água podem diminuir os ganhos de rendimento projetados com o aquecimento.

Projeções anteriores de risco climático futuro haviam identificado um perigo para as culturas devido ao aquecimento global, mas ignoravam o potencial de efeitos compostos do calor e da disponibilidade de água sobre as culturas de alimentos.

Com base em dados históricos, os rendimentos de milho e soja eram cerca de 40% mais sensíveis ao calor em locais onde o calor é acompanhado por secas, em comparação com as terras agrícolas onde o clima mais quente não significa menos água. Isto pode ser devido ao fato destas culturas serem particularmente sedentas sob o poder secante do ar quente, e porque a terra seca não pode esfriar com a evaporação e fica especialmente quente sob os raios do sol. Os impactos compostos do calor e da seca foram menos importantes para outras culturas, como o trigo ou o arroz.

Segurança alimentar ameaçada

O estudo mostra que, sem cortes fortes e rápidos de emissões, os alimentos básicos poderiam ser cada vez mais afetados por extremos climáticos compostos. Isto aumenta os riscos de preços mais altos dos alimentos e reduz a segurança alimentar, mesmo em países desenvolvidos.

“Nosso estudo descobre um novo risco para a produção agrícola decorrente do aquecimento do clima que acreditamos ter sido negligenciado nas avaliações atuais. Como o planeta continua a aquecer, a água e o calor podem se inter-relacionar mais fortemente em muitas regiões, tornando as secas mais quentes e as ondas de calor mais secas”, afirma Corey Lesk, autor principal do estudo e pesquisador do Departamento de Ciências da Terra e Meio Ambiente (DEES) da Universidade de Columbia e do Lamont-Doherty Earth Observatory (LDEO).

“AS PLANTAS TERÃO CADA VEZ MAIS FALTA DE ÁGUA QUANDO MAIS PRECISAM DELA, E HISTORICAMENTE ISTO TEM SIDO ESPECIALMENTE PREJUDICIAL PARA AS CULTURAS.”

Para o pesquisador, o estudo deve servir de motivação para adaptar colheitas e técnicas de cultivo. “Por exemplo, precisamos de novas variedades de culturas para suportar o aumento da temperatura, mas isto não pode vir às custas de uma maior tolerância à seca. Os governos e as grandes empresas de sementes devem ser transparentes sobre seus planos de adaptação da agricultura ao aquecimento do clima”, completa Lesk.

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*Fonte: ciclovivo

Ausência de abelhas ameaça produção na agricultura

A ausência de abelhas em áreas rurais limita a produção de culturas agrícolas. É o que aponta um estudo recente realizado nos Estados Unidos que alerta para o fato de que o declínio da população de polinizadoras trará graves impactos à segurança alimentar no mundo.

Espécies selvagens de abelhas estão sofrendo com a falta de habitat e floração natural, o uso de agrotóxicos e pesticidas e com as variações de temperatura provocadas pela mudança climática. Abelhas criadas em apiários podem contar com alguma proteção, mas também são ameaçadas pelos mesmos fatores, além de doenças.

Pesquisadores temem que cerca de três quartos das culturas agrícolas podem ser afetados com a ausência destes insetos e os novos estudos mostram que este medo se justifica.

Efeito na produtividade

Um total de 131 plantações foram pesquisadas nos Estados Unidos, Canadá e Suécia. Das 7 culturas estudadas nos Estados Unidos, 5 apresentaram impactos negativos na produção com o declínio da população de abelhas.

“As plantações com mais abelhas tiveram uma produção significativamente maior”, garante Rachael Winfree, ecologista e especialista em polinizadores na Universidade de Rutgers e autora do artigo publicado sobre o tema na Royal Society. “Foi uma surpresa, não esperava que houvesse um limite tão grande”.

Abelhas selvagens são polinizadoras mais eficientes

Entre as descobertas do estudo está o fato de que as abelhas selvagens contribuem mais do que o esperado na polinização de culturas agrícolas, apesar destas não serem as plantas que originalmente as atrai. As abelhas selvagens são melhores polinizadoras do que as criadas em apiários, mas os pesquisadores descobriram que muitas destas espécies estão em perigo.

A mamangaba por exemplo foi a primeira espécie a ser declarada ameaçada de extinção nos Estados Unidos em 2017 depois de ter a sua população reduzida em 87% nas últimas duas décadas.

Monocultura e agrotóxicos

Nos Estado Unidos é possível encontrar tendências que se reproduzem em todo o mundo: a agricultura precisa produzir quantidades cada vez maiores de alimento para alimentar a população global, o que leva a monocultura, corte de flores nativas e uso de agrotóxicos, o que prejudica a população de abelhas que faria justamente a polinização destas culturas agrícolas.

De acordo com a Organização Americana de Alimentação e Agricultura, a produção agrícola do país depende de insetos e polinizadores, que tiveram um declínio de 300% em suas populações nos últimos 50 anos. O déficit de polinização pode tornar algumas frutas e vegetais uma artigo raro, e cada vez mais caro, levando a sérias deficiências na dieta da população.

Outros alimentos, como arroz, trigo e milho não seriam afetados uma vez que suas plantações são polinizadas pelo vento.

Ação urgente

“As abelhas produtoras de mel são mais frágeis do que eram no passado e a população de abelhas selvagens está em declínio, numa velocidade alta”, diz Winfree. “A agricultura está cada vez mais intensiva e cada vez temos menos abelhas, o que fará com que a polinização em algum momento seja bastante limitada. Mesmo que as abelhas não estivessem ficando mais frágeis, é muito arriscado acreditar que possamos contar com apenas uma ou duas espécies de abelha para esta função”.

A cientista aponta para um risco relevante. “É previsível que as únicas espécies restantes nos campos de monocultura serão alvo fácil para doenças e predadores. O estudo mostra que os agricultores precisam otimizar a polinização com a diversificação de plantações, além da atenção às quantidades e tipos de agrotóxicos usados”.

Para ela, nossa segurança alimentar está ameaçada. “Ainda não chegamos a uma situação irreversível, mas essa é a tendência se nada mudar. De acordo com o estudo, não é um problema que vamos enfrentar em 10 ou 20 anos, já está acontecendo”.

*Por Natasha Olsen

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*Fonte: ciclovivo

Técnica transforma areia do deserto em solo fértil para plantio

A empresa Desert Control, fundada pelo cientista norueguês Kristian Olesen, desenvolveu uma tecnologia chamada Liquid Nano Clay (LNC) que combina nanopartículas de argila e água e as transformam em um novo componente. O produto permite que até mesmo o solo árido do deserto se transforme em um local propício para plantio.

A areia do deserto tem baixa capacidade de retenção de líquido, o que impossibilita o cultivo da maioria dos alimentos. Quando misturado à areia do deserto, o LNC permite que o solo arenoso passe a reter água, tornando o deserto em um solo fértil.

O processo de transformação do solo árido em fértil é bem simples e feita diretamente no local. O componente é aplicado no sistema de irrigação comum ao longo da área afetada. O solo com o componente retêm a água como uma esponja, criando uma camada de 40 a 60 cm de terra fértil.

O processo de transformar um solo arenoso em um solo fértil leva cerca de 15 anos, já com o produto, isso pode ser possível em apenas 7 horas. Uma aplicação do LNC dura até cinco anos.

Testes no deserto

A metodologia já foi testada em 2005 em uma fazenda no deserto dos Emirados Árabes, uma região que fica necessita três vezes mais água para o processo de irrigação comparado a lugares de clima temperado. A economia no consumo de água apontada pelos testes foi de 50%, o que garante o dobro da área de plantio com a mesma quantidade do líquido.

Toda a água utilizada no deserto precisa ser comprada e transportada até o local. Por isso, ter acesso a uma técnica que maximize seu consumo sem aumentar os gastos é essencial. Esse sistema também possibilita o cultivo de variados tipos de alimentos, mesmo no deserto, outro benefício a ser levado em conta, principalmente nos Emirados Árabes, que importa 80% dos alimentos consumidos no país.

O custo da tecnologia, no entanto, ainda é bastante caro. Um hectare tratado com essa técnica custa pelo menos USD$ 1.800,00 dólares americanos. A ideia da Desert Control é vender inicialmente a argila líquida para governos regionais para depois expandir para o público consumidor.

Confira o vídeo do projeto feito pela organização WWF (em inglês):

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*Por Emily Santos / Fonte: ciclovivo

 

Agricultores voltam ao método antigo: combater pragas plantando flores silvestres em vez de usar produtos químicos

O uso de pesticidas já comprovou que prejudica o meio ambiente. Com isso, muitos agricultores estão voltando a utilizar antigos métodos para controlar o número de pragas existentes em plantações. Essa método antigo, se chama método biológico de controle das pragas. Muito eficaz, o método consiste em plantar flores que evitam de maneira natural que as pragas destruam as plantações.

Os métodos que comprovam riscos para a saúde de um modo geral e até mesmo para o cultivo, são os típicos de agricultura que utilizam os pesticidas para controlar as pragas que interferem do crescimento e no lucro das lavouras.

Outras questão que causa preocupação são os prejuízos que os pesticidas nocivos causam para as abelhas, além disso estes afetam ainda a saúde os trabalhadores que estão trabalhando nas lavouras. Como se não bastasse as pragas acabam se fortalecendo e aumentando suas capacidades para suportar a exposição contínua dos pesticidas. Espera-se portanto, que esse método antigo seja muito mais eficaz contra os pragas nas plantações.

O método de plantar flores silvestres estão em volta das novas plantações. De fato é um processo utilizado desde muitos anos pelos antigos agricultores e fazendeiros. De modo que os canteiros de flores oferecem um lar para os predadores benéficos de pragas, como é o caso de vespas parasitas. As vespas são insetos que agem beneficiando porque gostam de comer pulgões e suas larvas.

As tiras de flores que agora estão sendo cultivadas se chamam “estradas dos insetos”. Elas ficam plantadas entre as plantações. Para se ter uma ideia, quando misturados com ervas, estudos evidenciam que essas tiras de flores são muito ativas na diminuição de prejuízos das folhas associado às culturas.

Nesse sentido, constata-se que o método antigo acrescenta a biodiversidade e solicita o controle seguro e natural de pragas, embora esse método não combata inteiramente a existência de algumas pragas nas lavouras, no entanto colabora para uma população de pragas fraca a ponto de não danificar expressivamente e nem interferir no desenvolvimento da colheita. Um fator muito importante quanto o controle de pragas.

*Por Rejane Regio

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*Fonte: cantinholive

O lança-chamas na agricultura são a nova técnica que evita pesticidas

Nossa comida é uma parte fundamental da vida e do estilo que decidimos levar. Se comermos de forma saudável, seremos mais fortes e com menos problemas de saúde. É algo que parece lógico, no entanto, eles também influenciam de uma maneira ou de outra a maneira como obtemos nossa comida.
Nesse processo, os agricultores orgânicos implementaram uma nova tecnologia, baseada em lança-chamas, exatamente como parece. É um novo sistema que evita os pesticidas questionados, tem muitas boas propriedades e funciona muito bem.
A operação é bastante simples e simples, como mostra o vídeo aqui.

E na agricultura, ervas daninhas e entidades indesejadas são combatidas com pesticidas e herbicidas. Não existe uma fórmula mágica que possa evitá-los; portanto, das poucas soluções, essa é viável. Agora este novo método apareceu.

Parece tirado de um filme, mas não. Por mais fantasioso que possa parecer, é real e muito eficaz.

Este trator, equipado com gás e lança-chamas, aparece depois de colhido e é hora de plantar novamente. Queime o chão inteiro, matando ervas daninhas e pragas indesejadas. Destrua a estrutura celular da planta, queimando sua raiz e impedindo que ela cresça novamente.

Este novo sistema tem muitas vantagens, por exemplo, o fato de remover grande parte da erva daninha, sua velocidade, impede o crescimento de raízes danificadas e não precisa de pesticidas ou herbicidas.

Obviamente, eles são úteis para eliminar insetos e ervas daninhas que afetam nossas culturas, mas também podem ser prejudiciais à nossa saúde. Os benefícios que essa maneira de “limpar” as culturas pode trazer é bastante benéfica e de vanguarda.

Os mais felizes são os consumidores, felizes em comer vegetais sem pesticidas e ainda mais saudáveis.

 

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*Fonte: sabervivermais

Agricultores voltam ao método antigo: combater pragas plantando flores silvestres em vez de usar produtos químicos

O uso de pesticidas provou afetar o meio ambiente de maneira negativa. Muitos agricultores agora estão retornando a antigas abordagens ambientalmente corretas relativas ao controle de pragas. Um método é conhecido como o método biológico de controle de pragas. Este método envolve o plantio de tiras de flores que impedem naturalmente as pragas com a ajuda de insetos que comem pragas.

Os métodos típicos de agricultura têm usado pesticidas como uma maneira de controlar pragas e outros insetos que podem interferir no desenvolvimento e no lucro das culturas agrícolas. Esse uso de pesticidas tem um risco considerável.

Uma preocupação significativa é que os pesticidas estão tendo um impacto negativo nas populações de abelhas. Outra preocupação é que eles podem afetar negativamente a saúde dos trabalhadores nas fazendas. Além disso, à medida que o tempo avança, as pragas aumentam sua capacidade de resistir a pesticidas com a exposição contínua. Espera-se que este novo método lute contra as pragas de maneira mais natural, sem o impacto negativo dos pesticidas.

O método planta flores silvestres em torno das culturas que estão sendo plantadas. Esta é realmente uma prática antiga que consiste em cultivar flores dentro e ao redor de fazendas. Os canteiros de flores fornecem um lar para predadores benéficos de pragas, como vespas parasitas. Essas vespas são benéficas porque comem pulgões e larvas de pulgões.

As tiras de flores que estão sendo plantadas são conhecidas como “estradas dos insetos”. Eles são plantados entre as culturas. Quando misturados com ervas, estudos mostraram que essas tiras de flores são eficazes na redução do dano das folhas associado às culturas.

Este método aumenta a biodiversidade e promove o controle seguro e natural de pragas. Apesar disso, esse método não elimina completamente a presença de algumas pragas nas lavouras. O método, no entanto, contribui para uma população de pragas reduzida a ponto de não prejudicar significativamente o crescimento da colheita. Tão importante quanto a redução do uso de pesticidas.

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*Fonte: pensarcontemporaneo

Fazendas produzem alimentos no topo de edifícios de Nova Iorque

Mais de 36 toneladas de vegetais orgânicos são cultivados em plantações que ficam nos topos de edifícios de Nova Iorque, todos os anos. Mais do que alimentar as pessoas, os tetos verdes também impedem que muitos poluentes cheguem aos rios da cidade.

Cobrindo uma área de 2,3 hectares, as fazendas estão localizadas no topo de 3 edifícios históricos. O solo tem apenas 25 centímetros de profundidade, mas absorvem milhões de litros de água de chuva por ano – impedindo que a água chegue aos drenos da cidade.

Problema antigo, solução sustentável

Há tempos, Nova Iorque tem um problema conhecido como inundação por esgoto combinado, quando as chuvas alagam as plantas de tratamento de água da cidade, levando o esgoto diretamente para os rios Hudson e East (Leste).

A cidade melhorou nas última décadas, investindo cerca de US$ 45 bilhões desde os anos 80 no tratamento de águas residuais. Mas, com mais de 70% de sua área pavimentada e mais de 8 milhões de habitantes, a inundação por esgoto combinado continua frequente quando chove muito.

Soluções multifacetadas

Brooklyn Grange, empresa responsável pelas 3 plantações nos topos dos edifícios históricos, construiu sua primeira fazenda em 2010. O investimento se pagou no primeiro ano, passou a dar lucro no segundo ano e hoje emprega 20 pessoas em tempo integral e 60 pessoas em trabalhos temporários.

Tetos verdes ajudam a reduzir o calor nas áreas urbanas, absorvendo a radiação que seria refletida por tetos convencionais. Com isso, também reduzem o consumo de energia elétrica gerado por aparelhos de ar condicionado.

As plantações nos tetos verdes usam resíduos orgânicos (restos de alimentos) para produzir adubo. Metade da produção é vendida para restaurantes e a outra parte vai para dois mercados ou é entregue para as pessoas por meio de uma iniciativa comunitária de apoio à agricultura urbana, que conecta diretamente produtores e consumidores. Além disso, os espaços abrigam cerca de 40 colmeias de abelhas.

Até o momento, as plantações receberam 50 mil jovens em visitas educacionais a respeito de agricultura orgânica nas cidades. São oferecidas capacitações que ensinam de produção orgânica de corantes a molhos apimentados. Os espaços também são palcos de aulas de yoga e até casamentos.

Impacto positivo

Os fundadores da Brooklin Grange acreditam que a agricultura urbana comercial pode ajudar as cidades a se tornarem mais limpas e verdes. Eles medem o sucesso das suas iniciativas usando o lucro, o impacto ambiental e impacto social dos projetos.

A empresa ampliou sua atuação para o planejamento e construção de mini plantações em topos de edifícios e casas para clientes particulares em toda a cidade.

A previsão é de que quase 70% da população mundial esteja vivendo em cidades até 2050. Ao mesmo tempo que os espaços urbanos impulsionam a economia, eles são responsáveis por ¾ das emissões globais de CO2.

Projetos como estes são cada vez mais importantes para que as cidades cumpram as metas de Desenvolvimento Sustentável e os objetivos do Acordo de Paris.

*Por Natasha Olsen

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*Fonte: ciclovivo

Uruguai poderá alimentar 50 milhões de pessoas

Um médico de Nova York entra em um supermercado, vai até o setor de carnes, vê um corte de que gosta, pega o telefone celular, escaneia o código QR na embalagem e o aplicativo mostra quando o animal foi abatido, onde cresceu, que tipo de alimentação teve e até oferece um link caso queira conhecer o local onde o gado foi criado.

Esta tecnologia ainda não está disponível, mas pode ser uma realidade muito em breve, graças a programas como o Sistema Nacional de Informação de Criação de Gado, implementado pelo Uruguai. Por meio desse método, é possível conhecer com precisão cada um dos períodos de criação e processamento do animal, desde sua fazenda no campo uruguaio até um supermercado em Manhattan. Todos esses dados, incluídos em um rótulo, fazem parte da demanda crescente dos países desenvolvidos por mais conhecimento sobre a origem dos alimentos, a forma como são processados e o tratamento dado aos animais cuja carne é consumida.

50 milhões

Essa é uma oportunidade que o Uruguai quer aproveitar. Esse país, com quase três milhões de habitantes, passou de uma produção de alimentos para nove milhões de pessoas, em 2005, para suprir as necessidades de 28 milhões atualmente, e sua ambição é chegar a 50 milhões de consumidores.

O fato de as 12 milhões de vacas que pastam nos campos uruguaios terem um chip na orelha, que permite coletar todas essas informações, é um dos passos que o país deu para se transformar no que as autoridades chamam de “agrointeligente”. O ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Tabaré Aguerre, esteve em Washington para compartilhar esta visão com vários organismos, entre eles o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Aguerre assumiu seu cargo há pouco mais de três anos e se propôs a desenvolver sua gestão sobre três eixos: “Desenvolvimento rural, com políticas diferenciadas para a agricultura familiar, tendo como chave a adaptação à mudança climática e a geração de capacidades para a gestão dos solos”.

Intensificação sustentável

Aumentar a produção explorando mais a terra e desmatando é relativamente fácil e, de fato, é o modelo seguido por outras nações. Mas fazer isso de maneira sustentável, ou seja, com pouco ou nenhum impacto para o meio ambiente, é um autêntico desafio.

“Estamos produzindo 54% mais leite sem aumentar a superfície dedicada à produção de vacas leiteiras”, explicou Aguerre, para exemplificar que é possível alcançar tal meta, fomentar o desenvolvimento e cuidar do meio ambiente, através do que qualifica como “intensificação sustentável”. Segundo explicou o ministro, no Uruguai, 63% dos produtores são “famílias”, mas eles ocupam apenas entre 15% e 20% das terras produtivas. Por isso, sua visão também inclui a participação dessas pessoas nos benefícios de desenvolvimento associados a um país agrointeligente.

“O Uruguai tem uma oportunidade de crescer no mundo, mas tem que gerar oportunidades de inserção competitiva para os produtores familiares, para que a oportunidade que o mundo nos dá seja também uma chance para que esses pequenos produtores se desenvolvam”, acrescentou.

Isso explica por que o Sistema de Informação de Criação de Gado, por exemplo, é gerido pelo Estado, de modo que todos os produtores “desde os que têm 10 vacas até os que têm 2.000 tenham acesso aos mesmos canais de comercialização”, destacou Aguerre.

Satélites contra a erosão

Em relação ao manejo dos solos, o Uruguai criou um sistema totalmente informatizado que obriga os produtores a apresentarem um plano de rotação de cultivos para manter a qualidade dos nutrientes e evitar a erosão. Por meio de imagens de satélite, os especialistas do Ministério podem detectar os lugares com maior risco de erosão e entrar em contato com o produtor responsável para que ele explique os motivos de não ter cumprido seu plano de rotação de cultivos.

Esse aspecto é fundamental no caminho rumo a um Uruguai “agrointeligente”, porque, embora chova muito no país, a maior parte da água escorre e gera erosão. A rotação de cultivos ajuda, precisamente, a diminuir esse risco e a melhorar a qualidade do solo.

Com todos esses componentes e o apoio de parceiros internacionais como o Banco Mundial, a aspiração das autoridades é que a produção agrícola se transforme em uma opção real de crescimento econômico para todos os uruguaios.

“A tecnologia de ponta a serviço dos agricultores uruguaios não beneficia só o campo, mas, além disso, cria oportunidades econômicas sustentáveis para toda a sociedade, tratando-se de consumidores ou produtores, já que de uma maneira ou de outra dependem da agricultura”, disse Jesko Hentschel, diretor do Banco Mundial no Uruguai. Para Aguerre, o objetivo em longo prazo é claro: “Que a pessoa seja produtor agropecuário porque quer e porque lhe convém economicamente, não porque nasceu no campo”, afirmou o ministro.

*Por José Basig / Colaborou Juan Miguel Carzolio

 

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*Fonte: elpais

O “alarmante” uso de agrotóxicos no Brasil atinge 70% dos alimentos

Imagine tomar um galão de cinco litros de veneno a cada ano. É o que os brasileiros consomem de agrotóxico anualmente, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). “Os dados sobre o consumo dessas substâncias no Brasil são alarmantes”, disse Karen Friedrich, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Desde 2008, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial desse setor cresceu 93%, no Brasil, esse crescimento foi de 190%, de acordo com dados divulgados pela Anvisa. Segundo o Dossiê Abrasco – um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde, publicado nesta terça-feira no Rio de Janeiro, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos. Desses, segundo a Anvisa, 28% contêm substâncias não autorizadas. “Isso sem contar os alimentos processados, que são feitos a partir de grãos geneticamente modificados e cheios dessas substâncias químicas”, diz Friederich. De acordo com ela, mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil hoje são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam, anualmente, 70.000 intoxicações agudas e crônicas.

O uso dessas substâncias está altamente associado à incidência de doenças como o câncer e outras genéticas. Por causa da gravidade do problema, na semana passada, o Ministério Público Federal enviou um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendando que seja concluída com urgência a reavaliação toxicológica de uma substância chamada glifosato e que a agência determine o banimento desse herbicida no mercado nacional. Essa mesma substância acaba de ser associada ao surgimento de câncer, segundo um estudo publicado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) juntamente com o Inca e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Ao mesmo tempo, o glifosato foi o ingrediente mais vendido em 2013 segundo os dados mais recentes do Ibama.

Em resposta ao pedido do Ministério Público, a Anvisa diz que em 2008 já havia determinado a reavaliação do uso do glifosato e outras substâncias, impulsionada pelas pesquisas que as associam à incidência de doenças na população. Em nota, a Agência diz que naquele ano firmou um contrato com a Fiocruz para elaborar as notas técnicas para cada um dos ingredientes – 14, no total. A partir dessas notas, foi estabelecida uma ordem de análise dos ingredientes “de acordo com os indícios de toxicidade apontados pela Fiocruz e conforme a capacidade técnica da Agência”.

Enquanto isso, essas substâncias são vendidas e usadas livremente no Brasil. O 24D, por exemplo, é um dos ingredientes do chamado ‘agente laranja’, que foi pulverizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, e que deixou sequelas em uma geração de crianças que, ainda hoje, nascem deformadas, sem braços e pernas. Essa substância tem seu uso permitido no Brasil e está sendo reavaliada pela Anvisa desde 2006. Ou seja, faz quase dez anos que ela está em análise inconclusa.

O que a Justiça pede é que os ingredientes que estejam sendo revistos tenham o seu uso e comércio suspensos até que os estudos sejam concluídos. Mas, embora comprovadamente perigosos, existe uma barreira forte que protege a suspensão do uso dessas substâncias no Brasil. “O apelo econômico no Brasil é muito grande”, diz Friedrich. “Há uma pressão muito forte da bancada ruralista e da indústria do agrotóxico também”. Fontes no Ministério Público disseram ao EL PAÍS que, ainda que a Justiça determine a suspensão desses ingredientes, eles só saem de circulação depois que os fabricantes esgotam os estoques.

O consumo de alimentos orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo, é uma alternativa para se proteger dos agrotóxicos. Porém, ela ainda é pouco acessível à maioria da população. Em média 30% mais caros, esses alimentos não estão disponíveis em todos os lugares. O produtor Rodrigo Valdetaro Bittencourt explica que o maior obstáculo para o cultivo desses alimentos livres de agrotóxicos é encontrar mão de obra. “Não é preciso nenhum maquinário ou acessórios caros, mas é preciso ter gente para mexer na terra”, diz. Ele cultiva verduras e legumes em seu sítio em Juquitiba, na Grande São Paulo, com o irmão e a mãe. Segundo ele, vale a pena gastar um pouco mais para comprar esses alimentos, principalmente pelos ganhos em saúde. “O que você gasta a mais com os orgânicos, você vai economizar na farmácia em remédios”, diz. Para ele, porém, a popularização desses alimentos e a acessibilidade ainda levarão uns 20 anos de briga para se equiparar aos produtos produzidos hoje com agrotóxico.

Bittencourt vende seus alimentos ao lado de outras três barracas no Largo da Batata, zona oeste da cidade, às quartas-feiras. Para participar desse tipo de feira, é preciso se inscrever junto à Prefeitura e apresentar todas as documentações necessárias que comprovem a origem do produto. Segundo Bittencourt, há uma fiscalização, que esporadicamente aparece nas feiras para se certificar que os produtos de fato são orgânicos.

Segundo um levantamento da Anvisa, o pimentão é a hortaliça mais contaminada por agrotóxicos (segundo a Agência, 92% pimentões estudados estavam contaminados), seguido do morango (63%), pepino (57%), alface (54%), cenoura (49%), abacaxi (32%), beterraba (32%) e mamão (30%). Há diversos estudos que apontam que alguma substâncias estão presentes, inclusive, no leite materno.

Em nota, a Anvisa afirmou que aguarda a publicação oficial do estudo realizado pela OMS, Inca e IARC para “determinar a ordem prioritária de análise dos agrotóxicos que demandarem a reavaliação”.
Os alimentos mais contaminados pelos agrotóxicos

Em 2010, o mercado brasileiro de agrotóxicos movimentou 7,3 bilhões de dólares e representou 19% do mercado global. Soja, milho, algodão e cana-de-açúcar representam 80% do total de vendas nesse setor.


Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), essa é a lista da agricultura que mais consome agrotóxicos:

Soja (40%)
Milho (15%)
Cana-de-açúcar e algodão (10% cada)
Cítricos (7%)
Café, trigo e arroz (3 cada%)
Feijão (2%)
Batata (1%)
Tomate (1%)
Maçã (0,5%)
Banana (0,2%)

As demais culturas consumiram 3,3% do total de 852,8 milhões de litros de agrotóxicos pulverizados nas lavouras brasileiras em 2011.

*Por Marina Rossi

 

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*Fonte: elpais

Como o trigo ‘domesticou’ a humanidade – e vice-versa

Do pãozinho de cada dia ao macarrão de domingo, o trigo é um dos alimentos mais consumidos no mundo atual. Mas o que não paramos para pensar entre um bocado e outro é que esse cereal, em suas variedades contemporâneas, é praticamente artificial.

Não fosse a ação do Homo sapiens, o trigo não seria assim.

Não fosse a evolução provocada pelo ser humano, esses tipos de trigo simplesmente não existiriam.

Mas, para muitos pesquisadores, o inverso também é verdade: não fosse o trigo ter conquistado nossos ancestrais, o homem não teria se tornado sedentário, não teria feito a chamada Revolução Agrícola, não teria se aglomerado em cidades.

O trigo domesticou a humanidade de tal forma que não é exagero dizer que ele acabou sendo o combustível – até mesmo literalmente, em forma de calorias ingeridas – para que as civilizações fossem criadas.

Era só mato

Por volta de 18 mil anos atrás, com o fim da última Era Glacial, o aquecimento global provocou um período de fortes e intensas chuvas. Essa mudança climática favoreceu uma gramínea na região do Oriente Médio.

Era trigo, mas não como o conhecemos hoje. As sementinhas eram ralas e pequenas. O vento conseguia espalhá-las – e, assim, a planta se multiplicava. Os ancestrais humanos daquela época viviam em bandos nômades. Eram caçadores-coletores – alimentavam-se basicamente de carne e frutas.

Em algum momento dessa história – ou em vários momentos, já que uma descoberta assim não ocorre de forma tão linear -, os Homo sapiens perceberam que havia animais que se alimentavam de gramíneas. E decidiram experimentar.

Conforme relata o historiador Heinrich Eduard Jacob (1889-1967) em seu livro Seis Mil Anos de Pão – A Civilização Humana Através de Seu Principal Alimento, começaram colocando sementes na carne. E viram que suavizava o sabor. Caía bem.

“As pessoas começaram a comer mais trigo e, sem querer, favoreceram seu crescimento e difusão”, afirma o historiador Yuval Noah Harari, no best-seller Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. “Como era impossível comer grãos silvestres sem antes escolhê-los, moê-los e cozinhá-los, as pessoas que coletavam esses grãos os carregavam a seus acampamentos temporários para processá-los.”

Mas os grãos de trigo eram pequenos e numerosos. “Alguns deles inevitavelmente caíam a caminho do acampamento e se perdiam”, pontua Harari. “Com o tempo, cada vez mais trigo cresceu perto dos acampamentos e dos caminhos preferidos pelos humanos.”

Jacob frisa que, naquele tempo, trigo era só mato. Ou gramíneas. “Todos os cereais eram primitivamente plantas herbáceas selvagens”, escreve. “Todos os cereais foram originariamente herbáceas cujas sementes tinham um sabor de que o homem primitivo gostava. Mas o homem tinha, para além dos insetos, um rival bem mais temível que lhe estragava a colheita dessas plantas. Era o grande criador do tapete verde de ervas. O vento.”

Se o vento espalhava as sementes – e isto garantia a perpetuação do trigo -, ele atrapalhava o homem: afinal, não era possível colher o cereal maduro, este “voava” embora antes.

Seleção artificial: a domesticação do trigo

Sem entender nada de genética, nossos ancestrais acabaram interferindo na evolução do trigo. “O primeiro objetivo do homem teve de ser portanto o de conseguir fazer com que as espécies que eram mais do seu agrado não perdessem os grãos com tanta facilidade. E foi o que efetivamente sucedeu, já que o homem ao longo de milhares de anos foi cultivando apenas aqueles exemplares que guardavam os grãos durante mais tempo na espiga”, diz Jacob.

“Nasceram assim, a partir das herbáceas selvagens, devidamente protegidos pelos seus elmos, os heróis da nossa epopeia da alimentação”, completa o historiador, referindo-se às versões do cereal que, evoluídas, “têm frutos que se fixam tão bem ao eixo da espiga que só se desprendem com golpes ou sob pressão, ou seja, por intermédio de uma ação voluntária, aquilo a que chamamos a debulha.”

Como efeito disso, o trigo contemporâneo não sobrevive sem a mão humana. “A questão é precisamente o campo de batalha entre a robustez da espiga e o desejo que o homem tem de obter a farinha”, sintetiza Jacob. “Os ‘cereais domésticos’ morreriam amanhã se o homem desaparecesse.”

Harari conta que os acampamentos daqueles nômades começaram a se fixar ao redor de locais onde havia mais trigo. Para facilitar, eles “limpavam” o entorno, derrubando árvores e promovendo queimadas. Sem conhecer nem os rudimentos da agricultura, acabavam favorecendo justamente as gramíneas: que podiam crescer sem concorrência, livres das sombras das grandes árvores.

Foi o início do sedentarismo. O princípio da chamada Revolução Agrícola. “No começo, talvez eles acampassem por quatro semanas durante a colheita. Na geração seguinte, com a multiplicação e o alastramento do trigo, o acampamento da colheita talvez durasse cinco semanas, depois seis, até que se tornou um assentamento permanente”, conta Harari. “Evidências de tais acampamentos foram encontradas em todo o Oriente Médio, sobretudo no Levante, onde a cultura natufiana floresceu de 12,5 mil a.C. a 9,5 mil a.C.”

Os natufianos ainda eram caçadores-coletores, mas viviam em assentamentos permanentes. Inventaram ferramentas – como pilões de pedra para moer trigo -e armazenavam os cereais para épocas de necessidade.

Seus descendentes descobriram que podiam semear. Além disso, se enterrassem os grãos sob o solo, tinham resultados mais interessantes do que se simplesmente os espalhassem pela superfície.

Descobertas recentes apontam para a provável localização geográfica em que primeiro aconteceu esse fenômeno. Por meio de análises genéticas, cientistas descobriram que pelo menos a variedade Triticum monococcum começou a ser domesticada na região de Karaca Dag, no leste da atual Turquia, há cerca de 9 mil anos.

“À medida que dedicavam mais esforços ao cultivo de cereais, havia menos tempo para coletar e caçar espécies silvestres”, relata Harari. “Os caçadores-coletores se tornavam agricultores.”

No ano de 8,5 mil a.C., o Oriente Médio estava cheio de povoados fixos. O excedente de alimentos fez com que a população crescesse.

E o homem também acabou domesticado

No livro Sapiens, Harari apresenta uma visão interessante sobre essa evolução concomitante homem-trigo. Para ele, se a Revolução Agrícola aumentou o total de alimentos à disposição da humanidade, isso não se refletiu em uma dieta melhor – tampouco em uma vida melhor. “Em média, um agricultor trabalhava mais que um caçador-coletor e obtinha em troca uma dieta pior. A Revolução Agrícola foi a maior fraude da história”, diz ele.

“Quem foi o responsável? Nem reis, nem padres, nem mercadores”, completa. “Os culpados foram um punhado de espécies vegetais, entre as quais o trigo, o arroz e a batata. As plantas domesticaram o Homo sapiens, e não o contrário.”

O historiador afirma que, para passar de gramíneas insignificantes a cereais onipresentes, o trigo “manipulou” o ser humano “a seu bel-prazer”. “Esse primata vivia uma vida confortável como caçador-coletor até por volta de 10 mil anos atrás, quando começou a dedicar cada vez mais esforços ao cultivo do trigo. Em poucos milênios”, ressalta, “os humanos em muitas partes do mundo estavam fazendo não muito mais do que cuidar de plantas de trigo do amanhecer ao entardecer.”

“Nós não domesticamos o trigo; o trigo nos domesticou”, enfatiza. “A palavra domesticar vem do latim ‘domus’, que significa casa. Quem é que estava vivendo em uma casa? Não o trigo. Os sapiens.”

Pesquisador do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o bioquímico Juliano Lindner corrobora a tese: para ele o trigo foi o principal motivo que levou a humanidade a se tornar sedentária.

“Quando o Homo sapiens deixou de ser coletor e passou a domesticar plantas e animais, o trigo foi um dos primeiros cultivos a serem controlados e se tornou uma das plantas mais prósperas na história do planeta”, diz ele, em entrevista à BBC News Brasil. “Esse momento da evolução, pelo simples efeito que a domesticação de animais e plantas gerou na possibilidade da sociedade se organizar sem a necessidade vital do nomadismo, ocasionou o grande salto da civilização humana.”

Tal tipo de relação entre homem e trigo, em que ambas as espécies sofrem um processo de transformação resultante da relação entre elas, é abordado pela médica e escritora Alice Roberts no livro Tamed – Ten Species That Changed Our World (Domesticadas – Dez Espécies que Mudaram O Nosso Mundo, em tradução livre). Além do trigo, a pesquisadora aponta que fenômenos semelhantes ocorreram com a vaca, o cachorro, o milho e a maçã, entre outras espécies.

Onipresença x pouca variedade

Saltemos para o século 20. A civilização humana, alimentada com derivados de trigo, chegou a um estágio de desenvolvimento industrial e científico intenso. O cultivo do estimado cereal, aliás, desde então cobre 2,25 milhões de quilômetros quadrados do globo – nove vezes o tamanho do Estado de São Paulo.

Harari conclui que o trigo “não ofereceu nada para as pessoas enquanto indivíduos, mas concedeu algo ao Homo sapiens enquanto espécie”. “O cultivo de trigo proporcionou muito mais alimento por unidade de território e, com isso, permitiu que o Homo sapiens se multiplicasse exponencialmente”, afirma o historiador.

A população da humanidade, atualmente na casa dos 7,7 bilhões de habitantes, confirma isso. E, sozinho, o trigo fornece 15% do consumo calórico global. De acordo com informações relatadas pelo pesquisador Juliano Lindner, da UFSC, mais de 75% das calorias ingeridas pela humanidade hoje são resultantes de plantas domesticadas milhares de anos atrás – além do trigo, o milho, o arroz, a batata, entre outros.

Mas ao mesmo tempo em que é onipresente, o trigo representa pouca variedade. Estudo publicado na quarta-feira (29) pelo periódico Science Advances analisou geneticamente 4506 amostras de trigo de todo o mundo – incluindo cepas regionais -, recolhidas em 105 países diferentes.

Os cientistas constataram que, se por um lado o trigo ajuda a traçar os antigos caminhos migratórios humanos, da Ásia para a Europa e, mais tarde, para a América, por outro lado a transformação do cereal em commodity dizimou sua variedade.

Sobretudo no período seguinte à Segunda Guerra Mundial, quando a chamada Revolução Verde passou a empregar tecnologia para incrementar a produção agrícola mundial, o chamado pool genético do trigo acabou modificado: atualmente, praticamente toda a produção em escala de trigo remonta a variedades que se desenvolveram na Europa – nas regiões sudeste, mediterrânea e ibérica.

“Nossa pesquisa traz novos olhares sobre a difusão e a diversidade genética mundial do trigo”, afirma à BBC News Brasil um dos autores do estudo, o geneticista François Balfourier, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas da França. “Recentes seleções e disseminações levaram a um germoplasma moderno que é altamente desequilibrado em comparação com os ancestrais.”

Do ponto de vista da produção de trigo, seria estratégico entender e caracterizar as pouco exploradas comercialmente versões asiáticas do trigo, afirma o cientista. “Caracterizar melhor esses recursos genéticos podem resultar em exploração eficiente dos mesmos em programas de melhoramento, obtendo benefícios de sua resistência natural a estresses bióticos e abióticos”, comenta Balfourier.

*Por Edison Veiga

 

 

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*Fonte: bbc-brasil

Brasileiros não sabem quais agrotóxicos estão na água que consomem

A produção agrícola responde por nada menos do que 70% do consumo mundial de água. Mas, ao mesmo tempo que depende desse recurso vital, a atividade também contribui para sua degradação. A poluição hídrica causada por práticas agrícolas insustentáveis, marcadas pelo abuso de​ agrotóxicos que escoam para rios, lagos e reservas subterrâneas, é um problema crescente em todo o mundo.

O Brasil, uma potência em agricultura industrial, é um dos maiores consumidores de agrotóxicos no mundo. Só em 2017, cerca de 540 mil toneladas de ingredientes ativos desses produtos foram consumidas.

Hoje (22) é Dia Mundial da Água. Água potável segura é um direito humano, o que inclui o direito de as pessoas saberem o que tem na água que estão bebendo. A legislação brasileira define que os fornecedores de água – sejam eles empresas estatais, privadas ou governos municipais – são responsáveis por testar 27 agrotóxicos específicos, a cada seis meses, nos sistemas que gerenciam e devem relatar esses resultados ao governo federal.

Para a professora da Faculdade de Tecnologia da Unicamp, Gisela de Aragão Umbuzeiro, “a quantidade de agrotóxicos que hoje consta nesta portaria é pequena e não é representativa dos agrotóxicos que estão sendo usados no Brasil e poderiam causar algum efeito adverso”, levando em conta que o número de ingredientes ativos registrados no Brasil, 306, é 11 vezes maior do que os 27 analisados na água para consumo.

Outro ponto importante é a periodicidade dessas análises que ocorrem semestralmente, “elas são feitas muitas vezes fora ou distante da época do uso do agrotóxico na cultura, isso pode contribuir para que os resultados encontrados não correspondam à real situação da presença de agrotóxico na água”, acredita a médica sanitarista Telma Nery.

A atrazina está banida da União Europeia desde 2004, mas aqui é o sexto pesticida mais comercializado com quase 29 mil toneladas, apenas em 2017. Ela também é o contaminador mais comumente encontrado na água. “A atrazina tem um importante efeito no sistema hormonal do ser humano, como também nos sistemas endócrino, reprodutor e neurológico. Quando em uma exposição crônica, ela pode trazer efeitos [negativos] nesses sistemas”, diz Nery.

Resistência

Um desafio complexo como a poluição hídrica pela agricultura requer múltiplas respostas. Segundo a FAO, organização ligada a Nações Unidas, em sua publicação “Mais pessoas, mais alimentos, água pior?”, a maneira mais eficaz de reduzir a pressão sobre ecossistemas aquáticos é atenuar a poluição na fonte.

São apontadas políticas de instrumentos regulatórios tradicionais, como padrões de qualidade da água, licenças de descarga de poluição, avaliações de impacto ambiental para certas atividades agrícolas e limites à comercialização e venda de produtos perigosos, entre outras intervenções.

“As grandes corporações são as que mais consomem água. Todo mundo sabe que quase 70% de toda a água disponível é usada para o agronegócio, e a contrapartida do ponto de vista de geração de emprego, de garantia de alimentos saudáveis é inversamente proporcional”, comenta Edson Aparecido da Silva, secretário executivo do Observatório Nacional dos Direitos a Água e ao Saneamento (ONDAS) e assessor de Saneamento da Fundação Nacional dos Urbanitários (FNU).

Silva esteve presente no Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), criado em 2018, que reuniu organizações e movimentos sociais que lutam mundialmente em defesa da água como direito elementar à vida. Este Fórum se contrapõe ao autodenominado Fórum Mundial da Água (FMA), um encontro promovido pelos grandes grupos econômicos que defendem a privatização das fontes naturais e dos serviços públicos de água. Entre as corporações interessadas na apropriação desse recurso e que patrocinaram o evento, estavam Ambev, Nestlé e Coca-Cola.

“Esse modelo de desenvolvimento da lógica do capital se sobrepõe a lógica da garantia dos direitos humanos e da preservação dos bens comuns. As articulações dos movimentos populares dos atingidos por grandes empreendimentos, como o caso do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), ou da luta do Movimentos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que garantem uma produção sustentável sem agrotóxico e que dá condições dignas de vida para a população do campo, têm que ser cada vez mais fortalecidos”, afirmou Aparecido da Silva.

*Por: Aline Carijo / Nadine Nascimento

 

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*Fonte: brasildefato

França é primeiro país a banir todos os cinco pesticidas ligados à morte de abelhas

As abelhas já foram declaradas os seres vivos mais importantes do planeta e pesquisas apontam que elas podem estar viciadas em agrotóxicos. A França é o primeiro país a tomar uma atitude real para a preservação da espécie, ao banir todos os cinco pesticidas ligados à morte destes animais, cuja extinção pode acabar com a humanidade.

Tudo começou quando a União Europeia votou pela proibição dos três principais responsáveis pela extinção destes insetos, os agrotóxicos conhecidos como clotianidina, imidacloprida e tiametoxam. Ao se adequar à medida, o governo francês decidiu banir mais dois pesticidas que têm contribuído para a diminuição na população de abelhas, o tiaclopride e a acetamiprida.

Festa na colmeia: França proíbe uso de agrotóxicos associados à morte das abelhas

Os venenos em questão são da família dos neonicotinoides e possuem uma estrutura similar à da nicotina. Eles funcionam atacando o sistema nervoso central dos insetos – entre eles, as abelhas. Estudos citados pelo jornal britânico The Telegraph indicam que os neonicotinoides podem confundir habilidades de memória e direção das abelhas, além de reduzir a sua contagem de espermatozóides.

 

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*Fonte: hypeness

60% das espécies de café correm risco de extinção

Estudo de cientistas do Royal Botanic Gardens destaca que mais da metade das espécies de café selvagem estão em risco de extinção. Isso deve-se ao desmatamento, às mudanças climáticas e à disseminação e ao aumento de pragas e fungos patogênicos.

Foi a primeira vez, que o estudiosos avaliaram detalhadamente as espécies de café incluídas na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). E o resultado, de mais de 20 anos de pesquisa, foi de preocupação com o futuro da produção global de café. Lista inclui o Coffea arabica, o café preferido e mais amplamente comercializado no mundo.

Grande parte do trabalho foi realizado em locais selvagens, principalmente nas florestas remotas da África e na ilha de Madagascar. Em 2012, pesquisadores já revelaram uma imagem sombria para o arábica selvagem. Usando modelagem por computador, eles puderam projetar como mudanças climáticas afetariam as espécies na Etiópia, mostrando que o número de locais onde o arábica cresce poderia diminuir em até 85% até 2080. Em 2017, a equipe voltou sua atenção à influência das mudanças climáticas na cafeicultura, mostrando que até 60% da terra usada para a produção de café da Etiópia pode se tornar inadequada para uso até o final do século.

Esta pesquisa mais recente afirma que entre os 60% sob ameaça de extinção estão espécies que podem ser fundamentais para o futuro da produção de café. Atualmente, o comércio global de café depende de apenas duas espécies – Arábica (cerca de 60%) e Robusta (cerca de 40%) -, mas devido às ameaças emergentes e agravantes, outras espécies de café provavelmente serão necessárias.

“Entre as espécies ameaçadas de extinção estão aquelas que têm potencial para serem usadas no desenvolvimento dos cafés do futuro, incluindo aquelas resistentes a doenças e capazes de resistir à piora das condições climáticas. O uso e o desenvolvimento dos recursos do café silvestre podem ser fundamentais para a sustentabilidade a longo prazo do setor cafeeiro”, afirma Dr Aaron Davis, líder de pesquisa de café do Royal Botanic Gardens.

O estudo “Alto risco de extinção de espécies de café silvestre e implicações para a sustentabilidade do setor cafeeiro” pode ser consultado [ AQUI ] .

*Por Marcia Sousa

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*Fonte: ciclovivo

Projeto de lei quer proibir agricultores de produzir, armazenar e distribuir sementes

O Projeto de Lei (PL) 827/2015, também chamado de Projeto de Lei de Proteção aos Cultivares, quer passar para as grandes empresas o controle sobre o uso de sementes, plantas e mudas modificadas, tirando do agricultor o poder sobre o armazenamento, distribuição e produção de sementes.

A PL determina que a comercialização do produto que for obtido na colheita dependerá da autorização do detentor das cultivares, grupo de plantas que tiveram algum tipo de modificação pela ação humana.

O projeto é de autoria do deputado ruralista Dilceu Sperafico (PP-PR) e foi criado em 2015, A PL também aumenta o número de cultivares protegidas, aquelas que não podem ser utilizadas livremente.

Até 2015, 3.796 pedidos de proteção de cultivar foram feitos 2.810 títulos para cultivares foram concedidos. O site de agricultura do governo data a última modificação em novembro de 2017.

A PL segue em tramitação ordinária na Câmara dos Deputados. No dia 5 deste mês, estava marcada uma sessão de votação do parecer do relator do deputado federal Nilson Aparecido Leitão (PSDB-MT), mas a pauta dividiu a bancada ruralista. Com o recesso, o projeto só deve seguir agora em 2018.

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Os humanos inventaram a agricultura para fazer cerveja

A pré-história europeia escrita por a jornalista científica Karin Bojs (Lundby, Suécia, 1959) começa com um estupro. Um esbarrão sexual entre duas espécies humanas diferentes ocorrido há 55.000 anos na região hoje ocupada por Israel. O caráter consentido ou não da relação pode ser objeto de especulação, mas o sexo entre neandertais e Homo sapiens já foi comprovado cientificamente graças ao trabalho do geneticista sueco Svante Pääbo. Esse pioneiro da análise de DNA antigo conseguiu sequenciar o genoma completo da espécie extinta e agora sabemos que 2% de nossos genes são fruto daquele cruzamento.

Em seu livro Min Europeiska Familj (“minha família europeia”, ainda inédito no Brasil), Bojs reúne a informação mais atualizada sobre a vida dos habitantes do continente antes do surgimento da escrita. Os dados acumulados por diferentes métodos de pesquisa, da arqueologia mais clássica às inovações científicas introduzidas por profissionais como Pääbo, sugerem que os europeus de hoje são fruto de três ondas migratórias. A primeira, pouco depois do encontro com os neandertais no Oriente Médio, trouxe os caçadores e, provavelmente, acarretou a extinção daquela que até então era a espécie humana da Europa. Uma segunda onda trouxe os agricultores do que hoje é Síria e, com eles, seu conhecimento do cultivo das plantas. Por último, há 5.000 anos, partindo do sul do que hoje é a Rússia, chegou um povo de pastores que trouxe consigo as línguas indo-europeias atualmente faladas na Europa, os cavalos e uma sociedade patriarcal e estratificada.
Pergunta. Antes do conhecimento que o sequenciamento do DNA antigo proporcionou, acreditava-se que a agricultura foi inventada em muitos lugares ao mesmo tempo.

“A agricultura foi inventada uma vez e chegou à Europa com os povos que a haviam inventado”

Resposta. Sim, era como uma espécie de dogma. A teoria segundo a qual a agricultura veio da Síria com a migração dos próprios agricultores que a haviam inventado, que agora parece a correta, era chamada de “migracionismo” com um tom pejorativo. Os filhos da geração de 68 viveram uma reação ao nazismo. Antes da Segunda Guerra Mundial, a arqueologia e a história estiveram muito influenciadas pelos nazistas, e, quando chegou a reação, foi um pouco exagerada. Rejeitou-se tudo, negou-se que houvesse influência das migrações ou dos genes, tudo era cultura e sociologia, e afirmavam que os caçadores se reeducaram e decidiram que não queriam mais ser caçadores e passaram a ser agricultores. Se você pratica a agricultura, sabe que é muito difícil. São necessários muitos anos para aprender a cultivar. Havia uma minoria de arqueólogos que queria explicar a aparição da agricultura na Europa através da migração, e o DNA provou que esta minoria estava certa.

P. Mas parece que a agricultura apareceu em muitos lugares separados sem contato aparente, como na América e na Índia.

R. Isso foi um pouco depois, e de fato não podemos ter certeza. O que sim sabemos pelos dados da Europa é que a agricultura chegou acompanhada dos humanos que a conheciam e que migraram com ela através de grandes distâncias.

P. Em seu livro, você também fala da hipótese que propõe que a agricultura foi inventada, entre outras coisas, para produzir bebidas alcoólicas.

R. Arqueólogos alemães encontraram em um lugar chamado Göbekli Tepe, na parte leste da atual Turquia, taças e grandes baldes do tamanho de uma banheira onde viram enzimas que seriam restos da fabricação de cerveja. Eles estão convencidos de que havia um culto neste local erguido por culturas tardias de caçadores. As pessoas vinham de muito longe, até centenas de quilômetros, a fim de se reunir ali para celebrações. Esses arqueólogos acreditam que o consumo de cerveja era uma parte importante dessas celebrações, e isso faz sentido. Não acredito que comer purê fosse um impulso suficientemente importante para começar uma nova cultura e um novo estilo de vida.

“As pessoas vinham de muito longe a fim de se reunir ali para celebrações. Não acredito que comer purê fosse um impulso suficientemente importante para começar novo estilo de vida”

Os grãos já eram parte da dieta durante muitos anos antes da aparição da agricultura. Coletavam trigo e cevada, isso era parte do processo, mas se de repente você precisa de grandes quantidades de grão para produzir cerveja, acredito que seja um incentivo interessante. A agricultura obviamente foi um processo muito complicado, e também tem a ver com a mudança climática. Houve uma mudança climática muito brusca quando acabou a última glaciação e o Oriente Médio se tornou mais úmido e facilitou o cultivo. Se você havia tentado cultivar algumas plantas, estava no lado ganhador quando se produziu essa mudança de condições.

P. Alguns cientistas propõem que adotar a agricultura foi o pior erro da humanidade, que piorou suas condições de vida. Você discorda.

R. Não gosto dessa ideia. Acho que há vários divulgadores científicos que também insistem em que a agricultura foi uma catástrofe e que os caçadores viviam em um estado feliz e natural, e que a agricultura e o gado foram uma catástrofe. Acredito que seja uma forma muito simplista de analisar a mudança. Se você olha para a pré-história, há altos e baixos no nível de vida, no período dos caçadores e nos períodos da agricultura. Como outras invenções, não é algo que surgiu de uma decisão premeditada. Tratava-se de ir resolvendo pequenos problemas na vida daquelas pessoas. Por exemplo, a cerveja pode ter surgido assim. Sabemos que você pode ficar um pouco alterado se ingere uma substância, e os agricultores fizeram isso. E então pensaram em produzir mais disso que gostavam, e para fazê-lo precisavam cultivar. E assim se acumularam muitas soluções para pequenos problemas práticos que acabaram por produzir uma grande transformação.

P. Em seu livro, você considera provável que nossa espécie tivesse um papel importante na extinção dos neandertais, mas fala de uma convivência pacífica entre a primeira onda de caçadores que chegou à Europa e a dos agricultores.

R. Como a arqueologia só nos oferece alguns vestígios, não se pode saber com certeza, mas não há achados que indiquem que havia grandes enfrentamentos. Faz sentido, porque, se você for um caçador, precisa de animais para matar ou de peixes para comer. Se for um agricultor, precisa de um bom solo. Parece que eles conviveram bem. Ao cabo de um tempo, houve uma fusão. Os caçadores e os agricultores se encontraram e tiveram filhos. E isso pode ser visto muito claramente na Espanha.

Na Espanha vivia uma população de caçadores e depois chegaram os agricultores. Chegaram de barco através do Mediterrâneo, há 7.000 anos, e se pode ver que depois de certo tempo se fundem. A população basca da Espanha, e isso se vê também em seu DNA, são ainda os netos desta fusão, da primeira onda, dos caçadores, e da segunda, dos agricultores, mas não da terceira onda, a que trouxe as línguas indo-europeias. Eles falam basco, que não é uma língua indo-europeia. Talvez o basco seja como um vestígio de uma antiga língua dos agricultores.

*Por Daniel Mediavilla

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*Fonte: elpais

O “alarmante” uso de agrotóxicos no Brasil atinge 70% dos alimentos

Imagine tomar um galão de cinco litros de veneno a cada ano. É o que os brasileiros consomem de agrotóxico anualmente, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). “Os dados sobre o consumo dessas substâncias no Brasil são alarmantes”, disse Karen Friedrich, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Desde 2008, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial desse setor cresceu 93%, no Brasil, esse crescimento foi de 190%, de acordo com dados divulgados pela Anvisa. Segundo o Dossiê Abrasco – um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde, publicado nesta terça-feira no Rio de Janeiro, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos. Desses, segundo a Anvisa, 28% contêm substâncias não autorizadas. “Isso sem contar os alimentos processados, que são feitos a partir de grãos geneticamente modificados e cheios dessas substâncias químicas”, diz Friederich. De acordo com ela, mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil hoje são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam, anualmente, 70.000 intoxicações agudas e crônicas.

O uso dessas substâncias está altamente associado à incidência de doenças como o câncer e outras genéticas. Por causa da gravidade do problema, na semana passada, o Ministério Público Federal enviou um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendando que seja concluída com urgência a reavaliação toxicológica de uma substância chamada glifosato e que a agência determine o banimento desse herbicida no mercado nacional. Essa mesma substância acaba de ser associada ao surgimento de câncer, segundo um estudo publicado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) juntamente com o Inca e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Ao mesmo tempo, o glifosato foi o ingrediente mais vendido em 2013 segundo os dados mais recentes do Ibama.

Em resposta ao pedido do Ministério Público, a Anvisa diz que em 2008 já havia determinado a reavaliação do uso do glifosato e outras substâncias, impulsionada pelas pesquisas que as associam à incidência de doenças na população. Em nota, a Agência diz que naquele ano firmou um contrato com a Fiocruz para elaborar as notas técnicas para cada um dos ingredientes – 14, no total. A partir dessas notas, foi estabelecida uma ordem de análise dos ingredientes “de acordo com os indícios de toxicidade apontados pela Fiocruz e conforme a capacidade técnica da Agência”.

Enquanto isso, essas substâncias são vendidas e usadas livremente no Brasil. O 24D, por exemplo, é um dos ingredientes do chamado ‘agente laranja’, que foi pulverizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, e que deixou sequelas em uma geração de crianças que, ainda hoje, nascem deformadas, sem braços e pernas. Essa substância tem seu uso permitido no Brasil e está sendo reavaliada pela Anvisa desde 2006. Ou seja, faz quase dez anos que ela está em análise inconclusa.

O que a Justiça pede é que os ingredientes que estejam sendo revistos tenham o seu uso e comércio suspensos até que os estudos sejam concluídos. Mas, embora comprovadamente perigosos, existe uma barreira forte que protege a suspensão do uso dessas substâncias no Brasil. “O apelo econômico no Brasil é muito grande”, diz Friedrich. “Há uma pressão muito forte da bancada ruralista e da indústria do agrotóxico também”. Fontes no Ministério Público disseram ao EL PAÍS que, ainda que a Justiça determine a suspensão desses ingredientes, eles só saem de circulação depois que os fabricantes esgotam os estoques.

O consumo de alimentos orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo, é uma alternativa para se proteger dos agrotóxicos. Porém, ela ainda é pouco acessível à maioria da população. Em média 30% mais caros, esses alimentos não estão disponíveis em todos os lugares. O produtor Rodrigo Valdetaro Bittencourt explica que o maior obstáculo para o cultivo desses alimentos livres de agrotóxicos é encontrar mão de obra. “Não é preciso nenhum maquinário ou acessórios caros, mas é preciso ter gente para mexer na terra”, diz. Ele cultiva verduras e legumes em seu sítio em Juquitiba, na Grande São Paulo, com o irmão e a mãe. Segundo ele, vale a pena gastar um pouco mais para comprar esses alimentos, principalmente pelos ganhos em saúde. “O que você gasta a mais com os orgânicos, você vai economizar na farmácia em remédios”, diz. Para ele, porém, a popularização desses alimentos e a acessibilidade ainda levarão uns 20 anos de briga para se equiparar aos produtos produzidos hoje com agrotóxico.

Bittencourt vende seus alimentos ao lado de outras três barracas no Largo da Batata, zona oeste da cidade, às quartas-feiras. Para participar desse tipo de feira, é preciso se inscrever junto à Prefeitura e apresentar todas as documentações necessárias que comprovem a origem do produto. Segundo Bittencourt, há uma fiscalização, que esporadicamente aparece nas feiras para se certificar que os produtos de fato são orgânicos.

No mês passado, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) sancionou uma lei que obriga o uso de produtos orgânicos ou de base agroecológica nas merendas das escolas municipais. A nova norma, porém, não tem prazo para ser implementada e nem determina o percentual que esses alimentos devem obedecer.

Segundo um levantamento da Anvisa, o pimentão é a hortaliça mais contaminada por agrotóxicos (segundo a Agência, 92% pimentões estudados estavam contaminados), seguido do morango (63%), pepino (57%), alface (54%), cenoura (49%), abacaxi (32%), beterraba (32%) e mamão (30%). Há diversos estudos que apontam que alguma substâncias estão presentes, inclusive, no leite materno.

No ano passado, a pesquisadora norte-americana Stephanie Seneff, do MIT, apresentou um estudo anunciando mais um dado alarmante: “Até 2025, uma a cada duas crianças nascerá autista”, disse ela, que fez uma correlação entre o Roundup, o herbicida da Monsanto feito a base do glifosato, e o estímulo do surgimento de casos de autismo. O glifosato, além de ser usado como herbicida no Brasil, também é uma das substâncias oficialmente usadas pelo governo norte-americano no Plano Colômbia, que há 15 anos destina-se a combater as plantações de coca e maconha na Colômbia.

Em nota, a Anvisa afirmou que aguarda a publicação oficial do estudo realizado pela OMS, Inca e IARC para “determinar a ordem prioritária de análise dos agrotóxicos que demandarem a reavaliação”.

 

>> Os alimentos mais contaminados pelos agrotóxicos

Em 2010, o mercado brasileiro de agrotóxicos movimentou 7,3 bilhões de dólares e representou 19% do mercado global. Soja, milho, algodão e cana-de-açúcar representam 80% do total de vendas nesse setor. 

Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), essa é a lista da agricultura que mais consome agrotóxicos:
– Soja (40%)
– Milho (15%)
– Cana-de-açúcar e algodão (10% cada)
– Cítricos (7%)
– Café, trigo e arroz (3 cada%)
– Feijão (2%)
– Batata (1%)
– Tomate (1%)
– Maçã (0,5%)
– Banana (0,2%)

As demais culturas consumiram 3,3% do total de 852,8 milhões de litros de agrotóxicos pulverizados nas lavouras brasileiras em 2011.

 

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*Fonte: elpais

 

Dinamarca – o primeiro país que, por lei, só terá agricultura orgânica

A Dinamarca está se preparando para ter uma agricultura totalmente sustentável. Este é um dos projetos que o atual governo tem intenção de por em prática a de transformar a agricultura dinamarquesa em 100% orgânica.

A primeira meta, a ser alcançada até 2020 é a de se duplicar a quantidade atual de terra cultivada organicamente. Atualmente, a Dinamarca já é o país com maior desenvolvimento e amplitude do comércio de produtos orgânicos. E em 2015 pretende investir mais de 53 milhões de euros para ampliar a agricultura biológica.

A agricultura biológica na Dinamarca está à frente de seu tempo. São já quase 25 anos de existência e aplicação de leis sérias de proteção à natureza, às águas, ao uso de defensivos e outros produtos agrícolas, sendo que 97% da população conhece o seu significado e importância. É um verdadeiro recorde, assim como o fato de que a despesa total de alimentos do país é composta por 8% apenas de produtos certificados. E desde 2007, a exportação de produtos orgânicos na Dinamarca aumentou em 200%.

Com essa ótica, a Dinamarca hoje se propõe trabalhar em duas frentes diferentes: uma delas visa aumentar a quantidade de terras agrícolas que usem agricultura biológica e o outro, estimular uma maior demanda para os produtos de origem comprovadamente orgânica e sustentável.
Assim, serão privilegiados os produtores que quiserem investir na conversão de suas terras, da agricultura convencional para a orgânica e biodinâmica e os projetos que visem o desenvolvimento de novas tecnologias para a promoção da sustentabilidade no campo.
Neste contexto já está em marcha, nas prefeituras locais, a ocupação de áreas antes baldias, com produção de hortaliças sazonais, de forma orgânica.

Como primeiro objetivo, o país pretende oferecer às escolas, cantinas e hospitais, até um 60% de alimentos de origem orgânica. Atualmente essas instituições públicas nacionais servem 800 mil refeições por dia. A mesma política, de servir só refeições de origem orgânica, já está sendo ampliada para os ministérios dinamarqueses em suas cantinas.

Na educação já está sendo prevista uma reforma do sistema atual para incluir cursos de nutrição, alimentação saudável e agricultura natural.

Em suma, o país inteiro, com todas suas instituições, marcha junto para transformar-se em uma região livre de agrotóxicos, onde a alimentação saudável é assunto de estado.Um bom exemplo, desde que a realidade no campo não seja “apagada” pela propaganda enganosa da indústria alimentícia.

*Fonte: Greenme