Mudanças climáticas estão alterando eixo de rotação da Terra; entenda

Fenômeno que desvia a orientação de giro do nosso planeta é observado desde a década de 1990 e está relacionado ao derretimento de geleiras, segundo pesquisa

A crise climática altera o modo como o mundo gira, literalmente. O eixo de rotação terrestre está se movendo de lugar conforme o aquecimento global derrete geleiras nos polos Norte e Sul do nosso planeta. Esse mecanismo preocupante é apontado em novo estudo, publicado na revista acadêmica Geophysical Research Letters em março.

Os autores do artigo, vinculados à Academia Chinesa de Ciências (CAS) e à Universidade Técnica da Dinamarca (DTU), dizem que o eixo da Terra tem mudado desde a década de 1990, em um fenômeno que é chamado de deriva polar. Ele ocorre quando os polos magnéticos vagam pela superfície do planeta.

A causa por trás disso é nebulosa, mas estudos anteriores já haviam apontado que o Polo Norte está se movendo para longe do Canadá e em direção à Rússia de modo natural, devido ao ferro derretido no núcleo do nosso planeta. Todavia, os cientistas mostraram agora que as mudanças climáticas causadas pela humanidade também contribuem para deslocar o eixo terrestre.

Acontece que a forma como a água é distribuída na superfície da Terra contribui para a deriva polar, dando mais velocidade ao processo. Conforme as geleiras derretem, o líquido subterrâneo armazenado em nossos continentes altera a direção do vagar dos polos, mudando o eixo de rotatória terrestre um pouco para o leste.

Para entenderem esse mecanismo, os pesquisadores usaram dados da missão espacial Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE), da Nasa e do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), que enviou em 2002 dois satélites em órbita com a Terra para a obtenção de medidas precisas do campo gravitacional do planeta.

Além disso, os especialistas usaram informações sobre geleiras e calcularam a perda total de água do solo na década de 1990, antes do início da missão GRACE. Eles viram que, em 1995, a direção da deriva polar começou a mudar de sul para leste.

Já de 1995 a 2020, a velocidade do fenômeno aumentou em cerca de 17 vezes, quando comparada à do período de 1981 a 1995. “As descobertas oferecem uma pista para estudar o movimento polar impulsionado pelo clima no passado”, conta Suxia Liu, pesquisadora da CAS e coautora do estudo, em comunicado.

Embora o grau de mudança do eixo da Terra não possa ser sentido por nós a ponto de afetar nossa vida diária, a pesquisa sugere que as mudanças climáticas podem ter repercussões sérias nos recursos naturais, inclusive no ciclo da água.

Liu indica que as implicações do estudo afetam a nossa compreensão sobre o armazenamento hídrico ainda no século 20. Como os cientistas coletaram 176 anos de dados sobre a deriva polar, eles esperam usá-los para estimar quanto de água foi perdida nos últimos anos devido às alterações climáticas.

……………………………………………………………………….
*Fonte: revistagalileu

Ansiedade com mudanças climáticas afeta a vida de 45% dos jovens no mundo

Pesquisa com 10 mil pessoas de 16 a 25 anos em dez países — incluindo o Brasil — indica que os mais novos consideram o futuro “assustador” e inação de governos é a principal causa

Os impactos ambientais das mudanças climáticas já são bastante estudados pela ciência. Mas eles não se restringem à natureza. Há indícios de que as alterações do clima e suas consequências afetam também a saúde mental dos mais jovens. É o que indica uma pesquisa publicada no periódico Science Direct.

Estudiosos das universidades de Bath, Helsinki e East Anglia entrevistaram 10 mil jovens com idades entre 16 e 25 anos, de dez países diferentes — incluindo o Brasil. O objetivo era entender como eles são afetados pelas mudanças climáticas .

Os participantes responderam a questionários sobre seus pensamentos e sentimentos a respeito da emergência climática e do posicionamento de governos frente a ela. A partir dos dados coletados, eles avaliaram se o sofrimento, a ansiedade, os pensamentos negativos e a angústia dos voluntários em relação ao clima estavam ligados às medidas dos governantes.

Os resultados indicaram que 59% dos entrevistados se mostraram muito ou extremamente preocupados com as mudanças climáticas, e mais da metade relatou sentir tristeza, ansiedade, raiva, impotência e culpa sobre essas questões.

Quanto às ações dos governantes sobre as mudanças climáticas, os jovens tampouco estão satisfeitos: 61% alegaram que a forma como os governos lidam com as alterações do clima não protege o planeta, a geração atual ou as futuras.

Cerca de 75% dos entrevistados veem o futuro como assustador, e mais de 45% consideram que seus sentimentos sobre as mudanças climáticas afetam negativamente sua vida diária. Além disso, muitos admitiram um alto número de pensamentos negativos e sensação de ansiedade e angústia relacionados com as respostas inadequadas do governo de seus países.

“Este estudo mostra um quadro horrível de ansiedade climática generalizada em nossas crianças e jovens. E sugere, pela primeira vez, que altos níveis de sofrimento psicológico em jovens estão ligados à inação do governo”, comenta Caroline Hickman, da Universidade de Bath e coautora principal do estudo, em nota.

Para os estudiosos, medidas para minimizar o sofrimento dos jovens devem partir dos governos e governantes, os responsáveis por adotar ações de combate aos efeitos do clima com intuito de “proteger a saúde mental de crianças e jovens por meio de ações éticas, coletivas e baseadas em políticas contra as mudanças climáticas”.

………………………………………………………………
*Fonte: revistagalileu

Aquecimento global e noites mal dormidas podem impactar nossa imunidade

Pesquisador alerta que pessoas de baixa renda e idosos são os que mais registram queixas de problemas de saúde associados a mudanças climáticas e distúrbios do sono

Uma nova revisão da literatura sobre mudanças climáticas e desordens de sono pode ajudar a entender quais como o aquecimento global e noites mal dormidas podem impactar o sistema imunológico humano. Produzido por Michael Irwin, professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), o relatório foi publicado na edição de agosto da revista científica Temperature.

“Ninguém havia anteriormente reunido essa noção de que a atual crise climática está contribuindo para os distúrbios do sono e que possivelmente está contribuindo para o risco alterado de doenças infecciosas que estamos vendo”, comenta, em nota, Michael Irwin, também diretor do Cousins ​​Center for Psychoneuroimunology, da UCLA.

Segundo o pesquisador, a relação entre uma noite mal dormida e uma tendência a doenças vem do fato de que o sono ajuda o corpo a se proteger de possíveis lesões ou infecções que possam ocorrer no dia seguinte.

Portanto, quando se tem uma interrupção no sono, há um aumento do risco de inflamação, provocando uma diminuição na capacidade do corpo de combater infecções. O papel das noites quentes na análise está relacionado com o fato delas serem um fator que dificulta noites de sono adequadas.

Dados de cerca de 765 mil pessoas nos Estados Unidos mostram que altas temperaturas durante a noite aumentam os registros de queixas de noites mal dormidas, que são mais frequentes durante o verão e entre pessoas de baixa renda e idosos.

Ademais, a literatura sobre sono e sistema imune também aponta que as atividades bacterianas também são afetadas pela regularidade do descanso noturno. Pesquisas básicas indicam que noites de sono mais longas levam a uma diminuição na carga bacteriana, por exemplo.

“Assim como a pandemia está impactando desproporcionalmente grupos étnicos e desfavorecidos socioeconômicos com resultados mais mórbidos, pode ser que o aumento da temperatura ambiente que estamos vendo esteja aumentando ainda mais esses perfis de risco”, comenta Irwin.

Para o futuro, Irwin acredita que pesquisas que abordam tópicos de saúde, como infecções virais ou bacterianas, devem avaliar também questões climáticas e distúrbios do sono. O pesquisador ainda alerta o aumento da temperatura ambiente pode afetar comunidades diversas e desfavorecidas.

………………………………………………………
*Fonte: revistaGalileu

Arco-íris se tornarão cada vez mais frequentes. E esta não é uma boa notícia

No futuro, os arco-íris aparecerão com maior frequência colorindo os céus do planeta – mas, para além da beleza natural e do deleite visual, isso não é uma boa notícia, mas um indício do agravamento das mudanças climáticas. É esta a conclusão de um estudo realizado por cientistas de diversas instituições de pesquisa ambiental, prevendo um aumento de até 5% na ocorrência dos fenômenos óticos até o ano de 2100, a partir de uma premissa perigosa. O planeta mais quente e com mais quantidade de chuva oferece maior propensão ao surgimento dos arcos coloridos.

Publicado na revista científica Global Environmental Change, o estudo foi realizado por pesquisadores que utilizam modelos computacionais e pesquisas para medir impactos inesperados das mudanças. A partir de uma simples pesquisa no Flickr atrás de imagens de arco-íris publicadas nos últimos 10 anos, o grupo estabeleceu uma base de lugares e incidências do fenômeno, relacionando a condições climáticas devidas para o surgimento: chuva e sol, nas quantidades e intensidades corretas. A partir de tais bases, modelos foram aprimorados e aprofundados, para prever as ocorrências aproximadamente pelos próximos 80 anos.

Os resultados sugerem que ocorrerá uma redução na incidência de arco-íris em 21% a 34% das regiões do planeta, mas, por outro lado, um aumento das aparições em 66% a 71% da Terra. Os modelos apontam a elevação principalmente em áreas de altitude elevada e próximos aos polos, como Rússia, Canadá, Alasca e o planalto do Himalaia. Nas partes mais populosas e poluídas do planeta, porém, as aparições se tornarão menos frequentes. O aumento no Ártico é exemplar sobre o efeito das mudanças climáticas, já que, com uma maior temperatura, a água que costumava cair como neve, cada vez mais se tornará chuva na região.

O arco-íris se forma com chuva e sol, e as mudanças climáticas ampliarão os dois fatores

Um arco-íris acontece quando a luz branca do sol é interceptada pela “lente” da chuva, e se dispersa em cores do espectro visível pelo céu. Regiões da África, da América do Sul e do Mediterrâneo se tornarão, no entanto, mais secas e, por isso, com menos arco-íris nos céus.

“As mudanças climáticas afetam os arco-íris. Agora sabemos que isso é fato”, afirmou Kimberly Carlson, da Universidade de Nova York, e principal autora do estudo. “As mudanças terão efeitos muito invasivos na vida humana, mas mudanças mais intangíveis, como na luz e no som, também merecem atenção dos pesquisadores”, concluiu.

*Por Vitor Paiva
……………………………………………………………
*Fonte: hypeness

Mudanças climáticas: ondas de calor são desafio para gestão das cidades

Altas temperaturas na Europa mostram que mudanças climáticas já chegaram. As cidades estão preparadas?

Cidades mais resistentes a altas temperaturas passaram a ser uma necessidade dos países tropicais e devem ser a realidade do mundo em um ambiente de mudanças climáticas. E a necessidade é urgente, como tem indicado a maior onda de calor da história, que está assolando a Europa.

A Inglaterra viu os termômetros passarem dos 40ºC pela primeira vez. Na Espanha, a temperatura chegou a 45ºC. A população está sentindo na pele os efeitos do calor extremo e tais cenários não devem ser pontuais. Segundo especialistas, a probabilidade de haver calor extremo no continente europeu é 10 vezes maior por causa das mudanças climáticas.

Mais ventilação
De acordo com o pesquisador e especialista em mudanças climáticas da London School of Economics, Bob Ward, em artigo publicado no The Guardian, “o próprio tecido de nossas áreas urbanas as torna propensas ao superaquecimento”. Isso porque, as superfícies escuras, o concreto, os edifícios e as estradas tendem a absorver luz do sol e reter calor. O resultado é a temperatura das áreas urbanas ser mais alta.

“Não podemos simplesmente demolir nossas cidades e reconstruí-las de uma maneira que seja mais adequada ao nosso clima em aquecimento, por isso temos que reajustá-las e adaptá-las”, argumenta Ward.

Tal adaptação não significa, simplesmente, aumentar a quantidade de equipamentos de ar-condicionado em espaços e prédios públicos. Afinal, essa medida acabaria transferindo o problema do aquecimento para outros lados da cidade. “Em vez de remover desesperadamente o excesso de calor dos prédios da cidade, precisaremos impedir que os raios do sol criem o problema em primeiro lugar. Escritórios e residências precisarão de vidros coloridos ou persianas instaladas para impedir a entrada da luz solar. E os telhados brancos devem se tornar padrão para refletir os raios do sol em vez de absorvê-los”, explica Ward.

Espaços verdes são aliados no controle das mudanças climáticas

Cultivar espaços verdes é uma das principais formas de reduzir os efeitos negativos das altas temperaturas, pois as árvores e a grama conseguem ajudar a refração da luz, diminuindo a área que recebe o calor direto do sol. Mas, enquanto plantar árvores é a saída para as calçadas, existem outras partes da cidade para as quais é preciso dar um pouco mais de atenção, é o caso da infraestrutura.

A infraestrutura da cidade sofre tanto com as temperaturas quanto as calçadas e as pessoas. Na Europa, a recente onda de calor conseguiu deformar trilhos de trem e rodovias. Como a substituição de materiais não é possível nesse caso, a saída tem sido pintar os trilhos de trem de branco, o que ajuda a resfriar as barras.

Nas estradas, a alta temperatura amolece o asfalto, bem como favorece os focos de incêndio. As pistas de aeroportos, feitas de asfalto, sofrem o mesmo problema. Em Londres, o aeroporto Luton teve que suspender voos porque uma grande parte da pista ficou deformada com a temperatura.

Repensar o material de toda a infraestrutura da cidade, além de redesenhar os prédios históricos, bem como as construções das estações de metrô, portanto, será necessário.

Chief Heat Officer
Para lidar com o aumento das temperaturas impulsionado pelas mudanças climáticas, cidades ao redor do mundo estão criando um novo cargo: o Chief Heat Officer (CHO).

Seguindo a tendência de gestores focados em área específicas e estratégicas, como o Chief Citizen Experience Officer e o Chief Resilience Officer, o objetivo do CHO é aumentar a conscientização sobre os riscos extremos de calor para proteger os cidadãos mais vulneráveis em sua cidade. Eles planejam e coordenam respostas de curto e longo prazos às ondas de calor, bem como implementam projetos de redução de risco. Em resumo, os chefes de aquecimento têm a tarefa de encontrar soluções para resfriar seus ambientes urbanos.

Os caminhos são diversos, indo desde facilitar para os formuladores de políticas a implementação de medidas de emergência até iniciativas de plantio de árvores. Na Europa, Atenas foi a primeira cidade a ter um CHO, anunciado no meio do ano passado. Localizada no sul do continente, a capital grega é uma das mais vulneráveis à oscilação de temperatura.

“As mudanças climáticas para nossa cidade significam temperaturas extremas mais frequentes e perigosas para moradores e turistas, que são críticos para nossa economia. Infelizmente, Atenas não é única – o calor é uma emergência para as cidades da Europa e do mundo”, comentou o prefeito ateniense, Kostas Bakoyannis, em julho do ano passado ao The Guardian.

…………………………………………………………………………
*Fonte: habitability

IPCC: não estamos prontos para os impactos das mudanças climáticas

É urgente implementar medidas eficientes de adaptação às mudanças climáticas que já estão acontecendo

A conscientização sobre os riscos climáticos e as ações para reduzi-los aumentaram globalmente. A implementação de medidas de adaptação, contudo, ainda é insuficiente diante da magnitude dos impactos das mudanças climáticas que já têm sido observados em todas as regiões habitáveis do planeta e que podem se agravar em um cenário de aquecimento global acima de 1,5 ºC dos níveis pré-industriais.

A avaliação é de um grupo internacional de cientistas autores do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade, lançado nesta segunda-feira (28/02).

Entre os autores estão cinco cientistas brasileiros, dos quais quatro participaram da elaboração do Sumário para os Tomadores de Decisão (SPM) publicado conjuntamente com o relatório.

“Há uma série de medidas que foram adotadas nos últimos anos em diferentes regiões do mundo com o objetivo de reduzir os riscos climáticos, mas que estão mais associadas à mitigação, como a redução das emissões de gases de efeito estufa”, diz à Agência FAPESP Jean Ometto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e autor-líder do capítulo 12 e do capítulo especial sobre florestas tropicais do relatório.

“As medidas de adaptação, porém, têm sido muito pontuais e localizadas”, afirma Ometto, que também é membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

Sobrevoo em Sena Madureira sob inundação (Acre, Brasil). Foto: © Alexandre Noronha | Greenpeace
Na avaliação dos autores da publicação, os governos nacionais e locais, bem como as empresas e a sociedade civil, têm reconhecido a crescente necessidade de adaptação às mudanças climáticas. Pelo menos 170 países – entre eles o Brasil – e muitas cidades, como São Paulo, incluíram a adaptação em suas políticas e processos de planejamento relacionados ao clima.

O progresso nesse tema, no entanto, tem sido desigual e há grandes lacunas entre as medidas de adaptação tomadas e as que são necessárias em muitas regiões do mundo, especialmente em países com menor renda. Essas lacunas são causadas pela falta de financiamento, compromisso político, informações confiáveis e senso de urgência. Isso tem tornado as pessoas e ecossistemas mais vulneráveis a serem atingidos pelos impactos das mudanças do clima, sublinham os cientistas.

“A adaptação tem de ser uma ação objetiva e efetiva. E para que aconteça é preciso primeiro reconhecer que os impactos das mudanças climáticas já estão ocorrendo”, diz Ometto.

Também há grandes lacunas na compreensão da adaptação às mudanças climáticas, como quais ações têm o potencial de reduzir o risco climático e se podem ter consequências não intencionais ou efeitos colaterais, causando mais malefícios do que benefícios – chamadas de má adaptação.

Entre essas ações está a construção de muros marítimos, que podem proteger em curto prazo áreas costeiras do avanço do mar, mas podem destruir durante as obras ecossistemas inteiros, como recifes de coral.

“A má adaptação pode ser evitada com planejamento e implementação de ações de adaptação flexíveis, multissetoriais, inclusivas e de longo prazo, com benefícios para muitos setores e sistemas”, ressaltam os cientistas.

Limites à adaptação
Os autores do relatório também apontam que a adaptação é essencial para reduzir danos, mas, para ser eficaz, deve ser acompanhada de reduções ambiciosas das emissões de gases de efeito estufa uma vez que, com o aumento do aquecimento, a eficácia de muitas opções de adaptação diminui ou pode tornar-se inviável.

“Há algumas regiões no mundo que já estão vivendo uma situação de não retorno, apresentando uma margem de manobra para adaptação muito baixa”, diz Ometto.

A pobreza e a desigualdade, que são questões sensíveis a países como o Brasil, também impõem limites de adaptação significativos, resultando em impactos inevitáveis para mulheres, jovens, idosos, minorias étnicas e religiosas, além de povos indígenas e refugiados, destacam os cientistas.

“A desigualdade, não só socioeconômica, mas também de acesso a serviços básicos como água e saneamento, aumenta a vulnerabilidade de núcleos sociais. Sociedades com altos níveis de desigualdade são menos resilientes às mudanças climáticas”, diz Ometto.

De acordo com números apresentados no relatório, quase metade da população global – entre 3,3 e 3,6 bilhões de pessoas – vive hoje em países com alta vulnerabilidade humana a mudanças climáticas.

Concentrações globais de alta vulnerabilidade estão surgindo em áreas transfronteiriças que abrangem mais de um país como resultado de questões interligadas relativas a saúde, pobreza, migração, conflito e desigualdade.

Desde 2008, mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo foram deslocadas anualmente por condições extremas relacionadas a eventos de clima, sendo as tempestades e inundações as causas mais comuns.

“A diminuição da disponibilidade de água e da capacidade de cultivo agrícola em algumas regiões já tem induzido movimentos migratórios em algumas regiões do mundo”, afirma Ometto.

Globalmente, a exposição a impactos causados pelo clima, como ondas de calor, precipitação extrema e tempestades, em combinação com a rápida urbanização e falta de planejamento estão aumentando a vulnerabilidade de populações urbanas marginalizadas.

A pandemia de COVID-19 deverá aumentar as consequências adversas das mudanças climáticas, uma vez que os impactos financeiros levaram a uma inversão nas prioridades e restringiram a redução da vulnerabilidade, indica o relatório.

O relatório completo e o sumário para decisores políticos podem ser acessados AQUI

*Por Elton Alisson
…………………………………………………………………….
*Fonte: ciclovivo

Mudanças climáticas: bebês de hoje enfrentarão 7 vezes mais ondas de calor no mundo que seus avós

Um bebê recém-nascido ainda nem teve tempo de contribuir – como todos nós fazemos, com nossos hábitos de consumo e alimentares e uso de combustíveis – para as emissões de gases poluentes que causam o aquecimento global.

Apesar disso, esse bebê vai sofrer exponencialmente mais do que seus avós com as mudanças climáticas em curso no planeta.

Na prática, crianças nascidas em 2020 devem enfrentar, ao longo de sua vida, uma média de sete vezes mais ondas de calor extremo do que alguém que nasceu em 1960. Em alguns países, esse aumento é de até dez vezes.

As conclusões são de um estudo recente publicado na revista Science, a partir de projeções sobre tamanho e idade da população global, temperaturas futuras e eventos climáticos extremos, com base nas informações do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC na sigla em inglês).

Se, além das ondas de calor, outros tipos de eventos climáticos extremos forem colocados nessa conta, estima-se que a nova geração passará por uma incidência média 2 a 7 vezes maior de queimadas, secas, enchentes, tempestades tropicais e quebras de safras (colheitas menos proveitosas) ao longo de suas vidas, em comparação com a geração nascida 60 anos atrás.

“Quanto mais jovem você for, maior será o aumento da exposição a extremos climáticos. Ou seja, as gerações mais jovens são as que têm mais a perder, especialmente os recém-nascidos”, explica à BBC News Brasil o principal autor do estudo, o cientista climático Wim Thiery, da Universidade Vrije de Bruxelas (Bélgica).

“Também podemos pensar ao contrário: quanto mais jovem você for, mais você pode se beneficiar se aumentarmos nossas ambições e reduzirmos o aquecimento global”, principalmente se for possível manter o aquecimento dentro do limite de até 1,5°C estabelecido no Acordo Climático de Paris em 2015, que tem se tornado uma meta cada vez mais remota, na visão de muitos observadores climáticos.

“Para as gerações mais jovens, aumentar as ambições tem um efeito direto sobre suas vidas”, conclui Thiery.

Do calor de quase 50°C no verão do Canadá a enchentes na Alemanha e secas mais prolongadas no Brasil, os eventos climáticos extremos são uma das principais consequências diretas das mudanças climáticas.

Segundo um importante relatório do IPCC divulgado em agosto, todo o planeta já enfrenta alterações no ciclo da água, que provocam desde chuvas mais volumosas – e enchentes -, até secas mais intensas.

“Sob um aquecimento global de 1,5°C, haverá aumento de ondas de calor, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas”, explicou o painel da ONU em agosto.

Se esse aumento da temperatura global for ainda maior, sob 2°C, “extremos quentes vão, com mais frequência, alcançar limites de tolerância para a agricultura e a saúde”.

‘Vida sem precedentes’

Se, por terem mais tempo de vida pela frente, as crianças serão as mais afetadas, Thiery e seus colegas afirmam que o aquecimento global já deixa toda a população global sujeita a uma “vida sem precedentes”.

“Descobrimos que todas as pessoas que têm entre zero e 60 anos hoje viverão uma vida sem precedentes, sob mais ondas de calor e quebra de safra, independentemente de sua idade ou do alcance das mudanças climáticas”, diz o cientista.

“Os que têm menos de 40 anos, além disso, sofrerão com muito mais enchentes e secas, mesmo no cenário mais ambicioso de aquecimento de até 1,5°C. Os mais jovens são os que têm mais a perder, mas todos os que estão vivos hoje estão sob condições que chamamos de um ‘território ainda não navegado’.”

Para mostrar isso de modo mais concreto, a Universidade Vrije criou uma calculadora chamada My Climate Future (meu futuro climático).

Nela, uma pessoa pode prever o aumento dos eventos climáticos em sua vida a partir do ano em que nasceu, do lugar onde vive e com base em três cenários – o mais otimista, de um planeta 1,5°C mais quente; o mediano, em média 2,4°C mais quente, com base na trajetória atual e nas promessas e compromissos climáticos assumidos até agora; e um mais pessimista e altamente quente.

As regiões do mundo onde o sofrimento vai ser mais agudo e sentido por mais pessoas, segundo os cálculos de Thiery, são o Oriente Médio e o norte da África e a África Subsaariana.

Mas as estimativas para o resto do mundo estão longe de serem animadoras.

Na América Latina, uma criança nascida em 2020 vai enfrentar, em relação a alguém nascido em 1960:

– 50% mais chances de sofrer com incêndios

– Duas vezes e meia mais chances de viver sob quebras de safras

– O dobro de secas e enchentes

– 4,5 vezes mais ondas de calor

“E temos motivos científicos para crer que os números estão subestimados. Porque nós só analisamos mudanças na frequência em eventos extremos, mas eles também mudam em intensidade (como furacões mais intensos) e em duração (como ondas de calor mais longas e mais quentes)”, prossegue Wim Thiery.


Injustiças climáticas

Os efeitos disso são sentidos em cadeia: ondas de calor prejudicam a saúde, deixando crianças e idosos, em especial, mais sujeitos a hospitalizações. Quebras de safras afetam o preço e a oferta de comida. Enchentes, inundações e secas intensificam movimentos migratórios globais.

E, novamente, quanto mais jovens e mais pobres forem as pessoas afetadas, maior será o seu fardo.

“Embora não quantifiquemos isso em nosso estudo, não há dúvidas de que esse aumento na exposição a mudanças climáticas tem consequência, por exemplo, na habilidade de aprender, na saúde, na mortalidade e na produtividade laboral”, aponta Thiery.

“Por isso dizemos que limitar o aquecimento global é uma questão de proteger o futuro das jovens gerações.”

As conclusões do cientista e seus colegas ajudaram a embasar um relatório da ONG Save the Children a respeito do peso desigual e injusto das mudanças climáticas sobre quem contribuiu menos com a crise.

“Quando ranqueados por renda, os países 50% mais ricos são responsáveis por 86% do cumulativo das emissões globais de CO2, enquanto a metade mais pobre é responsável por apenas 14%”, diz a ONG.

“Apesar disso, são as crianças de países de renda média e baixa que vão enfrentar o maior peso das perdas e danos à saúde e ao capital humano, à terra, à herança cultural, ao conhecimento indígena e local e à biodiversidade que resultam das mudanças climáticas. (…) Elas herdaram um problema que não foi causado por elas.”

Thiery usa mais números para evidenciar esse peso desigual, primeiro sobre as crianças e, em segundo lugar, sobre as crianças pobres, em regiões que ainda estão em fase de crescimento populacional.

“Na Europa e na Ásia Central, nasceram 64 milhões de crianças entre 2015 e 2020. Essas crianças vão enfrentar quatro vezes mais extremos climáticos nas condições atuais do que alguém que vivesse num mundo sem mudanças climáticas”, diz.

“No entanto, nesse mesmo período de 2015 a 2020, nasceram 205 milhões de crianças na África Subsaariana, que vão enfrentar seis vezes mais extremos climáticos. Então elas não apenas sofrerão mais, como também são um grupo mais numeroso.”

Por isso, argumenta o cientista, mitigar os efeitos das mudanças climáticas é uma questão de “justiça intergeneracional e internacional”.

A conferência mais recente do clima (COP26), em Glasgow, foi concluída em 13 de novembro com avanços e limitações.

De um lado, o acordo final do evento fala em cortar as emissões de CO2 em 45% até 2030 em comparação com 2010 e exige que os países apresentem já no ano que vem novos compromissos de redução de gases do efeito estufa.

No entanto, não houve consenso em torno de pôr fim ao uso do carvão e a subsídios a combustíveis fósseis, um dos principais “vilões” do aquecimento global.

De modo geral, a percepção de ambientalistas é de que os compromissos assumidos até o momento pelos países parecem ser insuficientes para assegurar que a Terra não vai esquentar mais de 1,5°C.

Não por acaso, argumenta Thiery, os formuladores desses compromissos são pessoas mais velhas, que não terão tempo de sentir na pele a maior parte dos efeitos climáticos do futuro.

“Por isso os mais jovens viraram organizadores de protestos e greves pedindo políticas climáticas mais ambiciosas – porque as pessoas que hoje ocupam os espaços de poder não devem sentir as consequências de suas decisões, gerando um potencial conflito intergeracional”, afirma.

Ele lembra que já existe uma onda internacional de processos judiciais de cunho climático sendo abertos contra governos de várias partes do mundo – muitos desses processos movidos por jovens que se sentem feridos em seus direitos humanos por conta de políticas climáticas.

De modo geral, diz o cientista, tem mudado a percepção de que as mudanças climáticas são um problema de um futuro distante, que prejudicarão pessoas abstratas, ainda não nascidas.

“Os dados mostram que é (um problema que) está aqui, agora, afetando todas as pessoas do mundo: todas as gerações vivendo hoje, em todos os países, especialmente os mais jovens, sofrerão as consequências negativas”, ele agrega, para concluir:

“As perspectivas são sombrias, mas há também uma mensagem clara de que se reduzirmos as mudanças climáticas, vamos reduzir essa escalada de extremos climáticos e proteger o futuro de pessoas reais, que já estão vivas.”

………………………………………………………………………
*Fonte: epocanegocios

O que são os ciclos de Milankovitch e como afetam o clima da Terra

Em 1920 um cientista chamado Milutin Milankovitch formulou hipóteses de que variações na órbita da Terra podiam resultar em variações cíclicas da energia solar que atingia o planeta, e isso influenciaria os padrões climáticos da Terra.

Desde então evidências têm corroborado com a hipótese de Milankovitch. Tais evidências são observadas estudando rochas e gases presos em bolhas de ar sob o gelo. Uma das mais recentes foi a confirmação da existência de um ciclo de 405.000 anos que, nesse caso, é causado por interações gravitacionais da Terra com Júpiter e Vênus.

As variações do ciclo de Milankovitch

Excentricidade: É a variação da órbita da Terra com o Sol. Ela pode variar em uma órbita mais elíptica (oval) ou menos elíptica. A excentricidade da Terra tem um período de cerca de 100 mil anos.

Obliquidade: É o movimento de inclinação do eixo de rotação em relação ao Sol. Sendo mais claro, imagine um sino de uma igreja. Quando esse sino esta parado ele está na vertical, quando o balançamos ele se inclina de um lado para o outro. Com o efeito de Obliquidade da terra o mesmo acontece. entretanto a variação dessa inclinação no planeta é entre 22,5° e 24,5º e acontece a cada 41 mil anos.

Precessão: A precessão também é uma variação dos ciclos. Enquanto na rotação a Terra gira no próprio eixo e na translação ela gira em torno de sua estrela, na precessão ela faz um giro no eixo de forma inclinada, é como se misturássemos o efeito de obliquidade com a rotação da terra. Esse movimento leva cerca de 25 mil anos.

Mudanças Climáticas

Os ciclos acima são conhecidos por causar variações na insolação, ou seja, por afetar o nível de radiação recebido do Sol.

A diferença da energia que o planeta recebe pode causar eras com climas mais intensos ou mais amenos. Além da insolação, as variações das orbitas também alteram a distribuição da radiação no globo.

Se, por exemplo, pensarmos em um modelo onde os ciclos combinam em seus extremos – a Terra longe do sol, o ângulo do eixo no máximo de 24,5° – teríamos estações de inverno extremamente frias e verões muito quentes.

Quando se compara variações orbitais dos ciclos com as antigas eras glaciais e interglaciais, é possível ver uma relação entre os dois fatores.

E o aquecimento global?

É comum observar a negação do aquecimento global antropogênico (causado por humanos) com o argumento de que na Terra é normal haverem eras quentes e frias. Entretanto, uma das características do método científico é eliminar variáveis.

Os ciclos de Milankovitch são conhecidos há pelo menos 100 anos, e quando a comunidade científica afirma que as mudanças atuais são causadas por nós, podemos ter certeza que a possibilidade de ser apenas um ciclo já foi uma variável descartada.

Atualmente as mudanças têm ocorrido em um período extremamente curto, ainda mais quando comparamos com os ciclos naturais da Terra que duram milhares de anos.

*Por Wesley Oliveira de Paula

……………………………………………………………………………
*Fonte: socientifica

Várias simulações sobre mudança climática entraram em modo apocalíptico

Vários modelos computacionais que tentam prever o futuro das mudanças climáticas tiveram uma guinada negativa radical recentemente. Equipes diferentes tiveram como resultado de suas análises que o planeta vai se aquecer de forma muito mais catastrófica do que o antecipado.

Dezenas de modelos climáticos apontavam que a ação humana provavelmente iria causar um aquecimento médio de 3°C, e isso já seria um cenário terrível para o nosso modo de vida.

Em 2019, porém, esses modelos começaram a mostrar que a temperatura média deve subir em 5°C, um cenário apocalíptico para a humanidade e incontáveis outras formas de vida.

Estranhando essas projeções, eles começaram a entrar em contato com outros grupos de pesquisadores para comparar resultados. O principal grupo de pesquisa do Reino Unido, o Met Office Hadley Centre, concluiu que uma duplicação de CO2 liberado provocaria um aquecimento de 5,5 °C. Uma equipe do Departamento de Energia dos EUA terminou com 5,3 °C e o modelo canadense alcançou 5,6 °C. O Centro Nacional de Pesquisas Meteorológicas da França viu sua estimativa subir para 4,9 °C a partir de 3,3 °C.

Este trabalho de confirmação das projeções ainda vai levar alguns meses para ser encerrado, e ainda não há um acordo sobre como interpretar os modelos.

O mais preocupante em relação a este fenômeno é que esses modelos conseguiram projetar o aquecimento global de forma correta desde 1970. Eles continuam a utilizar dados oficiais de governos e objetivos de emissão de gases de efeito estufa, incluindo o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática mais atualizado da ONU.

O que esses modelos estão dizendo é que a mesma quantidade de poluição climática pode trazer um aquecimento mais rápido que imaginado anteriormente, e a humanidade teria menos tempo para evitar os piores impactos ambientais, econômicos e de saúde pública.

Uma estimativa com maiores temperaturas “provavelmente não é a resposta correta”, aponta Klaus Wyser, pesquisador sênior do Instituto Sueco de Meteorologia e Hidrologia. O modelo de Wyser produziu um resultado de 4,3°C de aquecimento, um aumento de 30% em relação à atualização anterior. “Esperamos que esta não seja a resposta correta”, diz ele.

Esses modelos ajudam cientistas a testarem ideias sobre o impacto do derretimento de geleiras, umidade do solo, correntes marítimas e nuvens.

Há mais de cem modelos usados para prever a relação entre o dióxido de carbono e o aquecimento, desenvolvidos por cerca de 25 grupos independentes.

Esses cálculos complexos são feitos em supercomputadores que criam modelos para o ar, terra e mar e analisa as interações entre eles. Caso haja consenso entre os pesquisadores de que as estimativas estão corretas, isso pode alterar a forma que governos e empresas respondem ao risco climático. [Bloomberg]

*Por Juliana Blume

……………………………………………………………………
*Fonte: hypescience

Quem nega as mudanças climáticas justificam com esses motivos

A indústria de combustíveis fósseis, lobistas e partes da mídia passaram os últimos 30 anos semeando dúvida sobre a veracidade da atual mudança climática. A estimativa mais recente realizada pela Forbes mostrou que empresas de petróleo e gás investiram em média US$200 milhões por ano em lobby para controlar, adiar ou bloquear políticas em favor do meio ambiente.

Veja abaixo cinco tipos de negação das mudanças climáticas:

5. Negação da ciência

Esse tipo de negação envolve o argumento de que esta mudança climática que vivemos atualmente é um ciclo natural, não influenciado pela ação humana.

Alguns argumentam que os modelos climáticos não são confiáveis ou que são muito sensíveis ao dióxido de carbono. Outros acreditam que o CO2 é uma parte tão pequena da atmosfera que nem causaria um efeito de aquecimento.

Já outras pessoas acreditam que os cientistas estão sabotando as pesquisas para apresentarem resultados que não são reais.

Todos esses argumentos são falsos e existe um consenso global entre cientistas sobre as causas das mudanças climáticas.

4. Negação econômica

A ideia de que a mudança climática custaria muito dinheiro para ser freada é outra forma de negação climática. Economistas, porém, calculam que poderíamos conseguir frear as mudanças gastando apenas 1% do produto interno bruto mundial. Mas se não agirmos agora, em 2050 isso vai nos custar 20% do PIB mundial.

3. Negação humanitária

Alguns grupos da Europa e Estados Unidos acreditam que a mudança climática e o aquecimento da zona temperada tornariam a agricultura desses locais mais produtiva. Esses ganhos locais, porém, vão pelo ralo para pagar pelas contas de verões mais secos e aumento da frequência de ondas de calor nessas mesmas áreas.

É também importante apontar que 40% da população global vive em zonas tropicais, e um aumento na desertificação nesses locais seria uma catástrofe.

2. Negação política

Quem nega a mudança climática argumenta que não se pode tomar nenhuma ação porque outros países não estão tomando nenhuma ação. Mas nem todos os países são igualmente culpados por causar a atual mudança climática.

Por exemplo, 25% do CO2 produzido pela humanidade é gerado pelos EUA, e outros 22% são produzidos pela União Europeia. Depois vêm a China (13%), Rússia (7%), Japão (4%) e Índia (3%). A África inteira produz apenas 5%.

Portanto, os países mais desenvolvidos têm uma responsabilidade ética de liderar o caminho para o corte de emissões. Isso não significa que os países em desenvolvimento estão livres desse esforço: todos os países precisam agir para que a emissão humana de CO2 chegue à zero até 2050.

Para isso, precisamos de muito mais veículos elétricos e de uma economia verde que traga benefícios e crie empregos.

1. Negação da crise

O argumento final é que não deveríamos correr para mudar a forma que as coisas são feitas enquanto não tivermos certeza absoluta sobre todas as informações.

Muitas pessoas têm medo de mudanças, especialmente aquelas que são mais ricas ou que têm mais poder. Argumentos muito parecidos foram usados para atrasar o fim da escravidão, o direito do voto feminino, o fim da segregação racial e até a proibição de cigarro em locais fechados e públicos. [Science Alert]

*Por Juliana Blume

…………………………………………………………
*Fonte: hypescience

Efeito dominó irreversível das mudanças climáticas já pode estar em curso

Você sabe bem o que acontece quando enfileiramos um punhado de peças de dominó e a última delas é derrubada: ela arrasta junto todas as outras. Quanto mais nosso entendimento em sustentabilidade avança, mais claro fica que a habitabilidade da Terra funciona como uma gigantesca fileira de dominós. E vários indícios apontam que não é só uma peça que ameaça tombar — são nove.

Especialistas de renomadas instituições de pesquisa pelo mundo publicaram nesta quarta (27) na revista Nature um artigo com a conclusão de que metade dos “pilares” de sustentação da estabilidade climática global parecem começar a desabar. Cientistas da área chamam essas “peças de dominó” de tipping points: pontos de ruptura que, se ultrapassados, ameaçam desestabilizar todo o sistema terrestre.

Esse conceito foi criado há cerca de 20 anos pelo IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU. Naquela época, os pesquisadores achavam que só haveria risco de efeito cascata caso as temperaturas globais subissem 5°C acima dos níveis pré-industriais – o que deve acontecer até o final do século, se nada mudar. É motivo de consternação ver que a situação é mais grave do que se pensava.

“Não é só que as pressões humanas na Terra continuam crescendo a níveis sem precedentes”, disse em comunicado o co-autor Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático. “Também se trata de que conforme a ciência avança, nós precisamos admitir que subestimamos os ricos do desencadeamento de mudanças irreversíveis, em que o próprio planeta amplia o aquecimento global.”

E isso com apenas 1°C de aumento na temperatura. Os nove tipping points que aparentam ter sido ativados ficam nas geleiras do Ártico, da Groenlândia e da Antártida, nas florestas boreais, nas correntes do Oceano Atlântico, na Amazônia, em recifes de corais e no permafrost (o solo permanentemente congelado do Ártico). São todos elementos vitais para manter aspectos básicos do nosso planeta funcionando da forma como funciona hoje.

“Cientificamente, isso fornece evidências fortes para declarar um estado de emergência planetária, para desencadear ação mundial e acelerar o caminho adiante para um mundo que possa continuar evoluindo em um planeta estável”, afirma Rockström.

Mas como é possível que ecossistemas tão diversos e distantes estejam encadeados numa mesma fileira de dominó? Bem, por maior que a Terra nos pareça, ela não é tão grande assim.

Muitos dos ciclos e processos que ocorrem em escala regional afetam o equilíbrio do sistema na escala global. As florestas tropicais, as boreais e o permafrost, por exemplo, são tipping points especialmente catastróficos. A vegetação, quando queimada, emite CO2 na atmosfera – bem como gelo siberiano, que ao derreter libera gases de efeito estufa que antes estavam retidos no solo. Já a perda total das geleiras da Groenlândia e da Antártida causaria um aumento de 10 metros no nível do mar — com danos irreparáveis às populações costeiras do planeta.

Nem tudo está perdido, contudo.

“É possível que nós já tenhamos passado do limiar para um efeito cascata de tipping points inter-relacionados”, disse outro co-autor da análise, Tim Lenton, da Universidade de Exeter, no Reino Unido. “No entanto, a taxa nas quais eles progridem, e portanto o risco que eles oferecem, podem ser reduzidos se cortarmos nossas emissões.” No artigo, os cientistas analisam tal efeito no derretimento das geleiras.

Contendo o aquecimento global a 1,5°C, a perda total das estruturas e o consequente aumento de 10 metros no nível do mar levariam 10 mil anos para acontecer. Caso a temperatura suba 2°C, a estimativa cai para mil anos. Nossa única esperança para manter a Terra e a civilização humana minimamente estáveis é largar de vez os combustíveis fósseis até 2050. Só assim teremos tempo de nos adaptar para as mudanças que virão.

*Por A. J. Oliveira

……………………………………………………………..
*Fonte: superabril

A mudança climática pode aumentar as doenças transmitidas por alimentos através do estímulo às moscas

Primaveras e verões mais quentes podem tornar as moscas domésticas (Musca domestica) mais despertas, espalhando bactérias causadoras de diarréia em mais lugares. Como resultado, as infecções causadas pela bactéria Campylobacter, transmitida por alimentos contaminados, poderão aumentar com a mudança climática, propõe a epidemiologista Melanie Cousins, da Universidade de Waterloo, no Canadá.

Uma simulação computacional criada por Cousins, ainda na versão beta, foca em entender como o tempo quente afeta o típico aumento durante as estações primavera e verão de infecções alimentares por Campylobacter. Sob um cenário de verão com 2,5 graus Celsius mais quente do que em 2003, a simulação prevê um aumento de 28 por cento nos casos de Campylobacter na província canadense de Ontário até 2050, de acordo com um estudo publicado por ela e seus colegas em 13 de fevereiro na Royal Society Open Science.

As infecções por Campylobacter são frequentemente causadas por alimentos contaminados por uma mosca que passeou em outro alimento contaminado ou por um animal infectado ou por fezes e que veio a pousar no alimento a ser ingerido. A maioria das pessoas se recuperam da infecção dentro de dez dias.

As bactérias são a causa mais comum de doença gastrointestinal no Canadá. Na província de Ontário, são registrados, em média, três mil casos por ano. Os Estados Unidos têm cerca de 1,3 milhão de infecções em um ano.

Para configurar uma simulação de fácil compreensão, Cousins ​​usou dados de 2005 sobre infecções por Campylobacter em Ontário para estimar as taxas de transmissão e as taxas de nascimento e morte. Ela então ligou essas taxas na simulação para prever as infecções por Campylobacter nos anos seguintes. Esses resultados chegaram perto dos dados reais disponíveis até 2013 e permitiram que ela previsse futuras infecções sob diferentes cenários de aquecimento. A simulação supõe que as moscas se tornam mais ativas com a mudança climática, já que, como outros insetos, elas dependem da temperatura ambiente para se aquecerem ou se resfriarem. Cousins também relacionou o crescimento da proliferação bacteriana provocado por temperaturas mais elevadas.

O estudo é o mais recente a destacar as consequências do aquecimento global no comportamento dos insetos. Outros estudos previram como a mudança climática pode aumentar os ataques de pragas em plantações e afetar a saúde pública, como a doença de Lyme, uma doença causada pela bactéria Borrelia burgdorferi e transmitida pela picada de carrapato, no Canadá.

*Por Giovane Almeida

 

………………………………………………………………………………..
*Fonte: ciencianautas

Mudanças climáticas poderão extinguir 10% das espécies de anfíbios da Mata Atlântica

Peter Moon | Agência FAPESP – O aquecimento global poderá levar à extinção de até 10% das espécies de sapos, rãs e pererecas endêmicas da Mata Atlântica em cerca de 50 anos. Isso porque regimes de temperatura e chuva previstas para ocorrer entre 2050 e 2070 serão fatais para espécies com menor adaptação à variação climática, que habitam pontos específicos da Mata Atlântica.

Essa é uma das conclusões de um estudo que analisa a distribuição presente e futura de anfíbios (anuros, ou seja, sapos, rãs e pererecas) na Mata Atlântica e no Cerrado, à luz das mudanças climáticas em decorrência do contínuo aquecimento global.

O estudo foi publicado na revista Ecology and Evolution. O trabalho teve como autor principal o herpetólogo Tiago da Silveira Vasconcelos, da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Bauru, e foi feito com apoio da FAPESP no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

Colaboraram Bruno Tayar Marinho do Nascimento, também da Unesp, e Vitor Hugo Mendonça do Prado, da Universidade Estadual de Goiás.

“O objetivo maior da pesquisa foi fazer um levantamento de todas as espécies de anfíbios do Cerrado e da Mata Atlântica e caracterizar suas preferências climáticas nas diferentes áreas que habitam. Com os dados em mãos, buscamos fazer modelagens para poder projetar cenários de aumento ou de redução das áreas climáticas favoráveis às diferentes espécies, em função dos regimes climáticos estimados para 2050 e 2070”, disse Vasconcelos.

Conhecem-se atualmente 550 espécies de anfíbios na Mata Atlântica (80% delas, endêmicas) e 209 espécies no Cerrado. Vasconcelos trabalhou com os dados de distribuição espacial de 350 espécies da Mata Atlântica e 155 do Cerrado, aquelas encontradas em ao menos cinco ocorrências espaciais diferentes.

“Desse modo, foi possível identificar as áreas com maior riqueza de espécies de anfíbios, ou com composição de espécies únicas, tanto no Cerrado como na Mata Atlântica. Uma vez identificadas tais áreas, avaliamos a comunidade de anfíbios no cenário de clima atual e futuro, de modo a determinar quais são as áreas de clima favorável para cada uma das 505 espécies analisadas, e se haverá expansão ou redução dessas áreas em 2050 e 2070, em função do aquecimento global”, disse Vasconcelos.

Os dados de distribuição espacial das 350 espécies da Mata Atlântica e 155 do Cerrado foram aplicados em duas métricas de ecologia de comunidade. A primeira, denominada diversidade alfa, é a diversidade local, correspondente ao número de espécies em uma pequena área de hábitat homogêneo. A diversidade beta é a variação na composição de espécies entre diferentes hábitats e que revela a heterogeneidade da estrutura de toda a comunidade.

Vasconcelos conta que o passo seguinte foi usar os dados de clima para fazer a modelagem de nicho climático. Foram usados quatro algoritmos diferentes baseados nas características de clima favorável a cada espécie. Trata-se de algoritmos de modelo linear generalizado, de árvore de regressão, de floresta aleatória e de máquina de vetores de suporte.

Os algoritmos serviram para determinar, na Mata Atlântica e no Cerrado, quais são as áreas de climas semelhantes, gerando um mapa da distribuição das áreas atuais onde cada espécie pode sobreviver.

A seguir foi a vez de calibrar os mesmos algoritmos com os cenários de clima futuro, a partir das estimativas feitas disponíveis no portal WorldClim.

“Para cada cenário futuro, em 2050 e 2070, utilizamos dois cenários de emissão de gás carbônico na atmosfera, um cenário mais otimista, com menor aquecimento global, e outro pessimista e mais quente. Também usamos três modelos de circulação global atmosférica e oceânica”, disse Vasconcelos. Os dados são do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

“Para cada uma das 505 espécies analisadas geramos 24 mapas de distribuição [quatro algoritmos x dois cenários de emissões de CO2 x 3 modelos de circulação global]. Ao todo, foram mais de 12 mil mapas”, disse.

A partir dos resultados dos 24 mapas de distribuição para cada espécie, foi gerado um mapa consensual e, então, uma matriz de presença e ausência de espécies, determinando a ocorrência prevista de cada espécie em 2050 e 2070.

“O primeiro impacto esperado da mudança climática nos anfíbios da Mata Atlântica e Cerrado é a extinção de 42 espécies por meio da perda completa de suas áreas climaticamente favoráveis entre 2050 e 2070”, disse Vasconcelos.

Os dados apontam para a extinção de 37 espécies na Mata Atlântica (ou 10,6% do total) e cinco no Cerrado. Das 42 espécies, apenas cinco são atualmente consideradas como em risco de extinção pelo Ministério do Meio Ambiente.

Homogeneização de anfíbios no Cerrado

A maior riqueza de anfíbios da Mata Atlântica ocorre atualmente na porção sudeste, nos estados do Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Já as regiões interioranas da Mata Atlântica são as áreas com menor riqueza de anfíbios.

Embora os resultados do estudo apontem para a perda de espécies em toda a Mata Atlântica, mesmo as taxas mais altas de perdas no sudeste do bioma não deverão alterar o fato de que esta região específica permanecerá como a mais rica em anfíbios.

Por outro lado, no Cerrado haverá perda generalizada, mas também ganho de biodiversidade em determinadas regiões.

“Os resultados da pesquisa indicam uma expansão das áreas climaticamente favoráveis aos anfíbios, dado que em função do aumento das temperaturas se espera uma expansão das áreas de Cerrado nas direções norte e nordeste, ocupando espaços que hoje são de floresta amazônica. A savanização de porções da floresta amazônica abrirá novas áreas para ocupação dos anfíbios do Cerrado”, disse.

Especificamente, a mudança climática não deverá alterar a área de maior riqueza de anfíbios do Cerrado, que fica na margem sul deste bioma, mas uma considerável perda de espécies é esperada no oeste e sudoeste, que faz contato com as terras baixas do Pantanal Mato-Grossense. Por outro lado, poderá haver ganho de espécies em Tocantins, no norte de Minas Gerais e no oeste da Bahia.

“Os cenários futuros de mudança climática sugerem que poderá haver uma homogeneização da fauna de anfíbios ao longo da extensão do Cerrado. Ou seja, aquelas espécies mais generalistas, adaptadas a diferentes hábitats e que suportam uma variação maior de temperatura e umidade, têm a previsão de expandir suas áreas de ocupação”, disse Vasconcelos.

………………………………………………………………
*Fonte: fapesp