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Micro gerador usa a correnteza dos rios para produzir energia
O Brasil é especialista em usar a força das águas para gerar eletricidade, ocupando a lista dos maiores produtores de energia hidrelétrica. Apesar de ser considerado renovável, tais estruturas têm grandes impactos socioambientais. A boa notícia é que tem surgido micro usinas hidrelétricas que podem ajudar a aproveitar o potencial aquático sem causar tantos danos. Exemplo disso é o Waterotor, um pequeno gerador que pode ser usado até mesmo nas águas calmas de um rio.
Desenvolvido pela empresa canadense Waterotor Energy Technologies, o dispositivo produz energia hidrocinética, isto é, aproveita a própria correnteza dos rios para gerar energia. Desta forma, não é preciso construir barragens e formar lagos. A velocidade necessária para captar energia pode ser tão baixa como 3,2 km por hora, sendo que em 6,5 km por hora o produto atinge o desempenho ideal.
Além disso, não precisa de combustível, funciona 24 horas por dia e é capaz de converter mais de 50% da energia disponível na água corrente em eletricidade. “É barato, simples, robusto, facilmente instalável e não prejudica a vida aquática”, garante a empresa desenvolvedora que já patenteou a tecnologia.
Pessoas que não têm acesso a eletricidade – mais de 800 milhões de pessoas, segundo relatório do Banco Mundial -, estão entre o público-alvo que a companhia almeja alcançar. O Waterotor pode ser instalado em córregos, rios, canais e vias navegáveis.
*Por Marcia Sousa
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*Fonte: ciclovivo
Concentrações de antibióticos em rios excedem níveis em até 300 vezes
Descobertas recentes indicam que 20% das gaivotas-prata na Austrália carregam bactérias patogênicas resistentes a antibióticos, o que está aumentando o receio de que bactérias causadoras de doenças possam se espalhar das aves para os seres humanos e animais domésticos. As gaivotas coletam bactérias, como a E. coli, de águas residuais, esgotos e lixões.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência a antibióticos é hoje uma das maiores ameaças à saúde, à segurança alimentar e ao desenvolvimento global. Numerosas infecções, como pneumonia, tuberculose, gonorreia e salmonelose, estão se tornando mais difíceis de tratar, à medida que os antibióticos usados tornam-se menos eficazes. A resistência a antibióticos leva a internações hospitalares mais longas, custos médicos mais altos e aumento da taxa de mortalidade.
A resistência aos antibióticos ocorre quando as bactérias mudam em resposta ao uso de tais medicamentos. Essas bactérias podem infectar humanos e animais, e as infecções que causam são mais difíceis de tratar do que aquelas causadas por bactérias não resistentes.
Embora a resistência a antibióticos ocorra naturalmente, o uso indevido de antibióticos em humanos e animais está acelerando o processo, segundo a OMS.
Antibióticos também parecem estar se espalhando no meio ambiente. Um estudo global recente descobriu que as concentrações de antibióticos em alguns rios do mundo excedem os níveis “seguros” em até 300 vezes.
“Os pesquisadores procuraram 14 antibióticos comumente usados em rios de 72 países, em seis continentes, e encontraram antibióticos em 65% dos locais monitorados”, diz um relatório recente da Universidade de York.
“O metronidazol, usado para tratar infecções bacterianas, incluindo infecções de pele e da boca, excedeu os níveis seguros pela maior margem, com concentrações 300 vezes maiores que o nível ‘seguro’ em uma área em Bangladesh.”
“No rio Tâmisa e um de seus afluentes em Londres, os pesquisadores detectaram uma concentração total máxima de antibióticos de 233 nanogramas por litro (ng/l), enquanto em Bangladesh a concentração foi 170 vezes maior”, diz o estudo global.
Os antibióticos são apenas um dentre uma variedade de produtos farmacêuticos, produtos de higiene pessoal e outros contaminantes ambientais, cada vez mais presentes nas águas residuais e nos lixões, que podem ter efeitos adversos à saúde. Essas substâncias são conhecidas como “poluentes emergentes”.
Poluentes emergentes
“As águas residuais municipais, industriais e, mais recentemente, domésticas são as principais fontes de poluentes emergentes no ambiente aquático”, afirma Birguy Lamizana, especialista em águas residuais do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Produtos químicos e compostos que apenas recentemente foram identificados como ameaças potenciais ao meio ambiente e ainda não são amplamente regulamentados pela legislação nacional ou internacional são conhecidos como “poluentes emergentes”. Eles são classificados como “emergentes”, não porque os próprios contaminantes sejam novos, mas por causa do crescente nível de preocupação gerada.
“A lista de compostos que são qualificados como poluentes emergentes é longa e cresce cada vez mais”, diz um estudo do PNUMA sobre produtos farmacêuticos e produtos de higiene pessoal no ambiente marinho: uma questão emergente.
“A categoria inclui uma variedade de compostos: antibióticos, analgésicos, anti-inflamatórios, medicamentos psiquiátricos, esteroides e hormônios, contraceptivos, fragrâncias, filtro solar, repelentes de insetos, microesferas, microplásticos, anti-sépticos, pesticidas, herbicidas, surfactantes e metabólitos de surfactantes, retardantes de chama, aditivos e produtos químicos industriais, plastificantes e aditivos para combustíveis, entre outros.”
A deposição atmosférica é uma fonte significativa de poluentes emergentes em águas abertas. No entanto, a maioria desses poluentes não está incluída em acordos internacionais com programas de monitoramento de rotina; portanto, seu impacto no meio ambiente não é bem conhecido.
Desreguladores endócrinos
Um grupo de contaminantes emergentes são os desreguladores endócrinos. Os desreguladores endócrinos são substâncias químicas que inibem ou aumentam artificialmente a função dos mensageiros químicos naturais do corpo.
Peixes e anfíbios próximos a fontes de água poluída mostraram anormalidades reprodutivas e deformidades físicas, e acredita-se que isso seja resultado de contaminantes causadores de desregulação endócrina.
“Mais pesquisas são necessárias para determinar os possíveis efeitos à saúde de desreguladores endócrinos de baixo nível no esgoto e no abastecimento da água doméstica”, diz Lamizana. “No entanto, é razoável supor que em áreas secas ou durante a estação seca os corpos d’água são mais propensos a conterem proporções mais altas desses contaminantes”.
O estudo do PNUMA diz que o princípio da precaução deve orientar as respostas aos poluentes emergentes. “Ao promover pesquisas, programas de monitoramento, reduções de resíduos e química verde, deve se tornar possível prevenir e mitigar os impactos negativos dos produtos farmacêuticos sem comprometer sua disponibilidade, eficácia ou acessibilidade econômica, particularmente em países onde o acesso a importantes serviços de saúde ainda é limitado”.
“Os ecossistemas naturais de água doce são desvalorizados e sobre-explorados. Precisamos mudar as nossas estruturas de incentivo do estímulo à poluição, à degradação do ecossistema e à exploração excessiva dos recursos naturais para comportamentos pró-conservação. As ferramentas adequadas para isso já estão à nossa disposição, mas precisamos garantir que os tomadores de decisões as levem em devida consideração e ajam”, afirma Jacqueline Alvarez.
Uma resolução adotada pela Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente em março de 2019 incitou os governos e todas as outras partes interessadas, incluindo agências, fundos e programas da ONU, “a apoiar plataformas relevantes de interface de políticas científicas, incluindo contribuições da comunidade acadêmica; melhorar a cooperação nas áreas de meio ambiente e saúde; e chegar a maneiras de fortalecer a interface ciência-política, incluindo sua relevância para a implementação de acordos ambientais multilaterais em nível nacional”.
As informações são da ONU Meio Ambiente.
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*Fonte: ciclovivo
Só um terço dos rios do mundo permanece como “rio de curso livre”
Apenas um terço – cerca de 37% – dos 246 grandes rios do mundo ainda pode ser considerado um “rio de curso livre”, que é o status de conservação em que mais oferece benefícios ambientais e serviços ecossistêmicos, mostra um estudo publicado nesta quinta-feira, dia 9, na revista cientifica Nature.
Esse estudo, feito por um grupo de 34 cientistas do WWF, da McGill University, do Canadá, e de outras instituições, é resultado de um trabalho de compilação e organização de dados e informações que vem sendo feito desde 2015.
Foram analisados aproximadamente 12 milhões de quilômetros de rios de todo o mundo, construindo o primeiro mapeamento a respeito do local e extensão dos grandes rios de curso livre existentes no planeta.
Entre outros achados, os pesquisadores detectaram: apenas 21 dos 91 grandes rios do mundo –com mais de 1 mil quilômetros de extensão- que correm para o oceano mantém uma conexão direta de sua nascente até o mar.
Além disso, a maior parte dos rios de curso livre remanescentes estão localizados em regiões específicas, como o Ártico, a Bacia Amazônica e a Bacia do Congo.
Importância dos rios
Um “rio de curso livre” é um rio no qual as funções e serviços ecossistêmicos não foram afetados por mudanças em sua conectividade (como com a construção de hidrelétricas ou com a exploração mineral) e preservam suas características naturais de vazão, biodiversidade e qualidade de água. Via de regra, eles são considerados rios “íntegros” e “saudáveis”.
Rios íntegros fornecem estoques pesqueiros que promovem a segurança alimentar de milhões de pessoas, transportam sedimentos que mantém os deltas dos rios acima do nível do mar, mitigam os impactos de secas e alagações extremas, evitam a erosão e possibilitam a existência de flora e fauna saudáveis.
Interromper a conectividade dos rios diminui, ou por vezes até elimina, esses serviços ecossistêmicos. Proteger os rios de curso livre remanescentes é crucial também para manter a biodiversidades dos rios de água doce.
O Relatório Planeta Vivo 2018, mostrou que, das 16.704 espécies analisadas em todo o planeta, os vertebrados que vivem nas bacias de rios de água doce sofreram o mais vertiginoso declínio dos últimos 50 anos, com redução de até 83% de suas populações desde 1970.
Descobertas
Atualmente, as hidrelétricas e seus reservatórios são algumas das piores ameaças aos grandes rios, reduzindo drasticamente os diversos benefícios que eles fornecem para as pessoas e a natureza ao redor do globo.
O estudo mostra que existem cerca de 60 mil hidrelétricas no mundo e mais 3,7 mil delas estão planejadas ou em construção. Normalmente, elas são planejadas e construídas uma a uma, o que dificulta a avaliação dos impactos acumulados que elas trazem a uma bacia hidrográfica.
Contribuição brasileira
Uma das autoras do estudo é a especialista de conservação do WWF-Brasil e Doutora em Ecologia Paula Hanna Valdujo. De acordo com ela, o WWF-Brasil apoiou o refinamento dos conceitos do estudo apresentado hoje a partir de sua experiência em bacias na Amazônia e no Pantanal.
“Nós auxiliamos no desenvolvimento de um protocolo para identificar o que seria um rio de curso de livre. Analisamos as cargas de sedimento e poluição para saber se eram excessivas ou não, a existência de hidrelétricas e barramentos e a existência de estradas que interferissem ou não no fluxo dos rios. Nosso conhecimento ajudou a elaborar o modelo que está sendo apresentado”, explicou.
Alto Paraguai e Amazônia
A cientista afirmou ainda que, de maneira geral, foram identificados poucos rios íntegros e saudáveis também no Brasil. “A maior parte dos nossos rios estão fragmentados ou têm sua vazão regulada por reservatórios de hidrelétricas. Muitos sofrem o impacto do desmatamento e da ocupação de suas margens com pastagens, mineração e plantações, que aumentam a quantidade de poluentes e sedimentos e afetam a qualidade da água e a saúde do ecossistema”, afirmou Paula.
Atualmente, o WWF-Brasil se dedica a aplicar o modelo deste estudo para fazer uma análise mais profunda da bacia Amazônica e da bacia do Alto Paraguai. “Este primeiro estudo é global, então você não consegue entrar muito nos detalhes de cada bacia hidrográfica. O que estamos fazendo agora é um estudo mais focado e que nos permite ver com mais detalhes uma região específica”, explicou Paula.
Ameaça ao turismo
Ambas as regiões estão altamente ameaçadas por iniciativas que comprometem a vazão natural dos rios. Na bacia do Tapajós, na Amazônia, existem mais de 100 projetos hidrelétricos de pequeno ou grande porte, que ameaçam a integridade dos rios.
Tais projetos podem trazer graves consequências para as espécies de peixes que se reproduzem nas lagoas que se formam nas margens dos rios e para os peixes que vivem nas corredeiras. Além disso, eles também impedem a migração de espécies importantes para a pesca, que sustenta as comunidades ribeirinhas.
A regulação da vazão dos rios que formam o Tapajós ameaça ainda a existência de um dos mais importantes pontos turísticos da Amazônia, que são as praias de Alter do Chão.
Ausência de avaliações
No Alto Paraguai, o problema é a instalação de pequenas centrais hidrelétricas – que ameaçam tanto os rios barrados, em função do isolamento, quanto o regime de inundações do Pantanal, que depende dos pulsos naturais de seca e cheias dos rios. Além de perda de conectividade, a interrupção dos fluxos naturais dos rios ameaça todo o ecossistema que existe abaixo, na Planície Pantaneira.
A ausência de avaliações ambientais estratégicas, que levem em consideração o impacto cumulativo de múltiplos empreendimentos nas bacias, assim como a transferência da responsabilidade do licenciamento dos órgãos federais para os estaduais, dificulta ainda mais o planejamento adequado para a manutenção dos poucos trechos remanescentes de rios livres no país.
*Por WWF, Jorge Eduardo Dantas
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*Fonte: thegreenestpost
Em 2 meses, cientista despoluiu lagoa por completo usando nanotecnologia
Em 2010, o cientista Marino Morikawa deu início a um ambicioso projeto em prol do meio ambiente: a despoluição da lagoa El Cascajo, no Peru, que havia sido transformada em depósito ilegal de lixo.
Após realizar análise aquática da região e contar com a ajuda da comunidade para trabalhos manuais de retirada de resíduos, Morikawa apostou na ciência e, usando a nanotecnologia, criou bombas e biofiltros que despoluíram a lagoa em apenas 2 meses.
Para colocar o projeto em prática, o pesquisador inventou um dispositivo que gera nanobolhas, invisíveis a olho nu, que capturam e eliminam as bactérias que poluem a água. Sua experiência ganhou destaque até em palestras do TEDx Talks.
A redução de contaminantes e matéria orgânica que roubavam o oxigênio da água da lagoa foi tão drástica que, em sete meses, peixes e aves já começaram a voltar ao local, antes abandonado pelos animais.
*Por Paulo Nobuo
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*Fonte: wix
O que são os ‘rios voadores’ que distribuem a água da Amazônia
Neste momento, rios poderosos levam umidade para vastas regiões da América do Sul. Mas eles não são rios comuns. São “rios voadores”.
É assim que são popularmente conhecidos os fluxos aéreos maciços de água sob a forma de vapor que vêm de áreas tropicais do Oceano Atlântico e são alimentados pela umidade que se evapora da Amazônia.
Eles estão a uma altura de até dois quilômetros e podem transportar mais água do que o rio Amazonas.
Esses rios de umidade, que atravessam a atmosfera rapidamente sobre a Amazônia até encontrar com os Andes, causam chuvas a mais de 3 mil km de distância, no sul do Brasil, no Uruguai, no Paraguai e no norte da Argentina e são vitais para a produção agrícola e a vida de milhões de pessoas na América Latina.
Mas como eles nascem e se movem? E quais efeitos podem ter?
Para entender isso, a BBC Mundo falou com José Marengo, meteorologista e coordenador geral de pesquisa e desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), e Antonio Nobre, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ambos do Brasil.
Alta velocidade
“O oceano Atlântico tropical norte é um oceano quente e sua evaporação é muito intensa”, explica Marengo.
Os voluntários que se arriscam salvando vidas na ‘rodovia da morte’
“Você pode imaginar que existam ventos mais ou menos fortes, os ventos alísios, que transportam toda essa umidade nos níveis mais baixos da atmosfera”, diz.
“Em qualquer rio, há áreas muito tranquilas e outras de alta velocidade, que chamamos de jatos de rio”, conta o especialista.
“Quando um rio voador se encontra com os Andes, ele adquire uma maior velocidade em seu núcleo que constitui um low jet level – ou jato de baixo nível – , aquele que transporta uma maior quantidade de umidade mais rápido”.
“Então, ele faz uma curva para o sudeste e chega à Bacia do Rio da Prata, causando chuvas no local”.
Árvores que transpiram
Outro componente essencial dos rios voadores é a umidade produzida pelas árvores da floresta amazônica.
Em artigos, Nobre relatou a incrível função que estas árvores cumprem. “Medimos a evaporação da floresta em milímetros, como se estivéssemos medindo a espessura de uma folha de água acumulada no chão”.
“No caso da Amazônia, o número é de cerca de 4 milímetros por dia. Isso significa que, em um metro quadrado haveria quatro litros de água. Podemos usar esses dados para calcular quanto transpira uma árvore no mesmo período apenas calculando a área ocupada pela sua copa”, disse Nobre à BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC).
Uma árvore frondosa, com uma copa de 20 metros de diâmetro, transpira mais de 1.000 litros em um único dia, acrescenta.
“Na Amazônia, temos 5,5 milhões de quilômetros quadrados ocupados por florestas nativas, com aproximadamente 400 bilhões de árvores dos mais variados tamanhos”.
“Nós fizemos a conta, que também foi verificada de forma independente, e surgiu o incrível número de 20 bilhões de toneladas (ou 20 bilhões de litros) de água que são produzidos todos os dias pelas árvores da Bacia Amazônica”.
O enigma do desmatamento
Mas muitas dessas árvores estão em perigo. Os últimos dados divulgados pelo Inpe indicam que o desmatamento está no seu nível mais alto desde 2008.
E uma das grandes incógnitas é o efeito que isso pode ter sobre os rios voadores. Os dados existentes não permitem que isso seja determinado.
“O que foi identificado é que as chuvas estão mais intensas”, disse Marengo à BBC Mundo.
“Imagine um ônibus que vai parando de lugar em lugar. Agora imagine um ônibus expresso que não para do início ao fim. O que estamos vendo é que as chuvas estão cada vez mais concentradas em alguns dias no sul do Brasil, norte da Argentina, Uruguai”, explicou o meteorologista.
“Parece que os ventos estão mais fortes, que o jato, os rios estão mais fortes. São as conclusões das projeções dos modelos climáticos para o futuro”.
“Isso que nos preocupa. Se houver chuvas mais intensas em áreas vulneráveis como São Paulo ou Rio de Janeiro, a possibilidade no futuro de desastres naturais associados a fortes chuvas, como deslizamentos de terra e inundações em áreas urbanas e rurais, também aumenta”, adverte.
“No Brasil, esses fenômenos causam grandes perdas de vida”.
Chuva em outras frentes
Mas nem toda chuva na região centro-sul da América do Sul ocorre por causa dos rios voadores.
“A chuva do Uruguai, por exemplo, não é exclusivamente da Amazônia. Uma parte vem da Amazônia e outra das frentes frias do sul”, disse Marengo.
“Algo que não poderíamos identificar é o quanto de chuvas vem de uma determinada região. Por exemplo, para o sul do Brasil saem da Amazônia e de outras fontes, como as frentes frias ou brisa do oceano. Ou até mesmo por evaporação de regiões agrícolas do Centro-Oeste e Pantanal”.
“É uma das maiores questões: poder quantificar a água que sai da Amazônia para a Bacia do Prata, que inclui Uruguai, norte da Argentina e sul do Brasil.”
Mas quando a chuva cai em um campo do Uruguai ou Argentina, talvez muitas pessoas não imaginam que parte dessa água começou sua viagem a milhares de quilômetros.
Neste sistema de interconexões tão delicado e profundo, fica claro por que é tão vital para todos proteger a floresta amazônica.
A importância destes fluxos de água se popularizou no Brasil graças ao projeto Rios Voadores, criado pelo aviador e ambientalista Gerard Moss.
Ele se inspirou nas investigações de Marengo e Nobre e voou milhares de quilômetros seguindo as correntes de ar, pegando amostras de vapor de água.
Moss queria que o conhecimento sobre esses fluxos chegasse ao sistema educacional. Seu programa já alcançou cerca de 900 mil crianças no Brasil.
“Fico feliz em ver que, depois de passar pelo programa, uma criança nota pela primeira vez uma grande árvore na frente de sua escola”, disse Moss à BBC Mundo.
“Antes, nem crianças nem adultos tinham a noção de que, sem os rios do céu, secam os rios da terra”, diz, por sua vez, Antonio Nobre.
“Não se entendia que os rios de vapor são tão vulneráveis às perturbações humanas como outros rios”, acrescentou.
“E, principalmente, muitas pessoas não sabiam que as florestas que bombeiam umidade são essenciais para que os rios voadores sigam cruzando a atmosfera”.
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*Fonte: bbc-brasil
A lei da física que controla discretamente sua vida – e pode ajudar a melhorá-la
Por que um cacto tem a forma ideal para viver em um habitat sem água? Por que muitos rios formam curvas ao avançar rumo à sua foz?
Há uma teoria da física que explica isso. Na verdade, não só isso, mas também o comportamento de qualquer coisa em movimento, seja inanimada ou animada.
Trata-se de uma lei da física bem recente e ainda pouco conhecida pelo público em geral: chama-se Lei Constructal e foi formulada em 1996 por Adrian Bejan, professor de Engenharia Mecânica da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
Bejan quis torná-la o mais acessível possível para as massas em seu livro A Física da Vida: A evolução de tudo, publicado em 2016. Mas como ela pode explicar praticamente tudo?
Tudo flui sob o mesmo princípio
A essência da teoria é que todo processo em movimento, seja de um ser vivo, como uma planta, ou algo mais intangível ou inanimado, como uma rota migratória ou a comunicação entre computadores, avança rumo a uma maior eficácia.
Esse avanço gera mudanças morfológicas e ajustes que respondem ao mesmo princípio de otimização, da evolução rumo a algo melhor. E isso, segundo escreveu Bejan em seu livro, se aplica a fluxos tão díspares como o “trânsito de uma cidade, o transporte de oxigênio dos pulmões e a fluidez dos pensamentos na arquitetura do cérebro”.
Bejan diz que toda a natureza é formada por sistemas de fluxo que mudam e evoluem com o tempo para se tornarem melhores. Assim, segundo a Lei Constructal, a tendência é sempre a uma fluidez mais fácil e, com o tempo, os fluxos se tornam maiores. E, quanto maiores o fluxos, mais inerentemente eficazes eles se tornam.
Lei ou teoria?
Na física, há muitas teorias, tantas quantas a mente puder imaginar, mas poucas leis. Uma lei deve explicar ou resumir um fenômeno universal, como as leis da dinâmica de Newton. Além disso, segundo o engenheiro, uma lei deveria ser “obedecida” por qualquer sistema imaginável: corpos, rios, máquinas.
Por sua vez, as teorias são previsões sobre como algo deve se dar e estão baseadas em uma lei. Para Bejan, a Lei Constructal explica o funcionamento de qualquer sistema dinâmico e é o motor de campos tão distintos como a evolução, a engenharia e o design.
O engenheiro se inspirou para concebê-la enquanto desenhava um sistema de refrigeração de computadores portáteis: ele se deu conta que as canalizações se ramificavam como se fossem árvores e, a partir daí, nasceu o conceito de sua lei.
Agora, sua proposta está ganhando grande aceitação nos círculos científicos e, segundo disse Bejan em entrevistas, até o momento não foi refutada por publicações especializadas.
Ele acaba de receber a prestigiosa medalha Benjamin Franklin, em parte por sua “teoria constructal, que prevê o design natural e sua evolução nos sistemas engenharia, científicos e sociais”. Segundo o engenheiro, entender melhor essa lei pode nos ajudar a antecipar mudanças, por exemplo, em dinâmicas sociais, nos governos ou na economia.
E como pode melhorar sua vida?
Se uma dinâmica se torna mais eficaz quanto mais fluida e livre for, então, a moral para nossas vidas bem que poderia ser “não pare”.
Bejan, que nasceu e cresceu na Romênia sob um governo comunista, diz que sua Lei Constructal, se aplicada de maneira prática ao nosso dia a dia e ao nosso trabalho, sugere que quanto mais livres, flexíveis e dinâmicos nos tornamos, mais eficazes somos. Da mesma forma, a inação interromperia esse fluxo e deteria o processo de optimização natural.
Segundo disse Bejan há alguns anos à revista Forbes, sua teoria tem incontáveis aplicações, “porque coloca o design biológico e a evolução dentro do campo da física, junto a tudo mais até agora existia sob o guarda-chuva da ‘ciência dura’: a economia, as dinâmicas sociais, os negócios e o governo”.
Uma das frases que ele mais gosta de repetir em conversas e entrevistas, também recorrente em seus livros, é que “a liberdade é boa para o design”. Assim, a mensagem que ele passa é que devemos fluir mais e melhor para nos tornarmos melhores.
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*Fonte: bbc
Assim é a ‘sopa de plástico’ que asfixia o mundo
Plastiglomerado. Esse é o nome oficial de um novo mineral que não existia antes na natureza, mas agora se tornou frequente. Foi descoberto em 2014, na praia de Kamilo, da ilha do Havaí, e é formado por sedimentos e detritos plásticos. Na era atual, dominada pela ação dos seres humanos, “os perigos decorrentes da produção e uso indiscriminado deste material sintético, derivado da indústria petroquímica, nos perseguirão durante séculos”, diz o cientista político holandês Michiel Roscam Abbing, autor do recém-publicado Atlas da Sopa de Plástico do Mundo, cujo primeiro exemplar foi entregue a Karmenu Vella, comissário (ministro) europeu do Meio Ambiente. A obra diz que só um tratado internacional poderá conter um produto hoje inseparável do nosso cotidiano.
“Os oceanos cobrem 71% da superfície da Terra, e existe a crença errônea de que só há ilhas de plástico flutuando por aí (…), quando o certo é que ele está por toda parte: em terra, mar e ar. Sua acumulação e fragmentação são tamanhas que os danos derivados do plástico superam seus benefícios”, afirma Roscam Abbing. Especialista em meio ambiente e membro da Fundação Sopa de Plástico (Amsterdã), ele cita um exemplo visual para ilustrar uma luta que é de todos – produtores, Governos e consumidores. É a famosa imagem do cavalo-marinho com a cauda enroscada em um cotonete, que delata a responsabilidade mal compartilhada. Foi feita pelo fotógrafo Justin Hoffman, morador do Canadá, enquanto mergulhava na Indonésia, e aparece entre as ilustrações do Atlas.
“Poderia ter sido evitado”, diz o escritor. “Os cotonetes plásticos vão para a privada e então diretamente para as águas superficiais e as praias. Sendo que o fabricante poderia fazê-los de cartolina ou madeira. Mas são mais caros.”
No texto, mostra-se que numa praia qualquer do Reino Unido há em média 24 cotonetes a cada 100 metros. Outros dados: nos Estados Unidos, são jogadas no lixo 2,5 milhões de garrafas de plástico por hora; a cada minuto, usa-se no mundo um milhão de sacolas desse material. E, o pior de tudo, na sua opinião: as embalagens pequenas, fabricadas com diversos tipos de plástico, e usadas uma só vez. “Nos países em desenvolvimento a publicidade do xampu costuma ser assim, porque as pessoas têm uma poder aquisitivo diferente. Acumulam-se em grandes quantidades, e poderia ser incentivado outro tipo de fabricação e um consumo mais responsável, por parte da própria empresa, com embalagens reutilizáveis”. Quanto ao pão, “perdeu-se o costume de levar as tradicionais sacolas de tecido, e são colocados em bolsas de plástico, destinadas ao lixo”, acrescenta.
Uma boa ideia para reduzir a fabricação e uso dos plásticos é a tatuagem a laser na casca de frutas e verduras. “É seguro e sustentável, mantém a etiquetagem obrigatória e foi aprovada pela União Europeia. A Espanha é pioneira nessa tecnologia (Laserfood, de Valência) e economiza pacotes porque a informação essencial é impressa na casca.” Com fotos dessa poluição em lavouras, no fundo dos mares, em redes pluviais e qualquer outro meio ou superfície imaginável, o Atlas recorda que todos os plásticos se degradam. Suas partículas, impossíveis de recolher, são ingeridas por humanos e animais. “Um perigo enorme: entram em organismos vivos e ignoramos seus efeitos”. De qualquer forma, embora a produção responsável, o manejo sustentável de terras e águas e a reciclagem e a cooperação entre o setor público e privado sejam essenciais, a sopa de plástico supera as barreiras nacionais. E há uma lacuna jurídica. “Nada menos que a falta de um tratado internacional no âmbito das Nações Unidas dedicado a conter a própria sopa”, é o conselho que fecha o Atlas.
*Por Isabel Ferrer
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*Fonte: elpais