Falta de sono está tornando sociedade mais egoísta; entenda relação

A explicação para o egoísmo humano pode estar na cama: mais precisamente, no sono. Uma série de estudos realizados por cientistas da Universidade da Califórnia concluiu que uma noite mal dormida, com uma quantidade insuficiente de horas de sono, afeta diretamente a probabilidade de alguém ajudar outra pessoa.

O estudo foi publicado na revista científica PLOS Biology no dia 23, e trabalhou com um banco de dados e análise da atividade cerebral de 124 participantes.

O estudo foi dividido em três fases com 124 participantes, além de um imenso banco de dados

Horário de verão
A primeira parte do trabalho se debruçou sobre informações de três milhões de pessoas em um banco de dados a respeito de doações de caridade realizadas entre 2001 e 2016.

De acordo com a pesquisa, após o horário de verão houve uma queda de 10% nas doações, tendência que não foi observada em regiões que não alteram os relógios no período. Na segunda parte da pesquisa, 24 pessoas tiveram suas atividades cerebrais observadas através de ressonância magnética após noites diversas de sono.

Noites sem dormir ou de baixa qualidade de sono se revelaram determinantes para nossa generosidade
Pouco sono ou de baixa qualidade se revelaram determinantes para nossa generosidade

Os participantes foram submetidos a uma noite plena com oito horas de sono e, em seguida, uma noite sem dormir, e os resultados mostraram que a rede neural pró-social, parte do cérebro responsável por considerar as necessidades e emoções de outras pessoas, ficou menos ativa após a noite em vigília.

“Mesmo apenas uma hora de perda de sono foi mais do que suficiente para influenciar a escolha de ajudar outra pessoa”, afirmou Eti Ben Simon, pós-doutoranda em psicologia no Center for Human Sleep Science e uma das líderes do estudo.

O sono interfere na rede neural pró-social, parte do cérebro responsável pelas relações

Por fim, a terceira parte da pesquisa estudou o sono de 100 pessoas por três a quatro noites, para concluir, através de um questionário, que, mais do que a quantidade de horas, a qualidade do sono é determinante para “ativar” a generosidade em nosso cérebro.

“Essas descobertas podem sugerir que, uma vez que a duração do sono aumenta acima de uma quantidade nominal básica, então parece ser a qualidade desse sono que é mais crítica para ajudar e apoiar nosso desejo de ajudar outras pessoas”, afirmou Simon.

Epidemia global
Segundo Matthew Walker, professor e diretor do Centro de Ciências do Sono Humano da universidade e também líder do estudo, a conclusão da pesquisa é especialmente relevante diante do que chama de “epidemia global de perda de sono”, na qual mais da metade das pessoas em países dito desenvolvidos dormem pouco durante os dias de trabalho.

Excesso de uso de telas, especialmente próximo à hora de dormir, pode prejudicar o sono

Segundo Walker, a perda do sono “altera radicalmente como somos enquanto seres sociais e emocionais”, dado que ele aponta como parte da “própria essência da interação humana e o que significa viver uma existência humana plena e significativa”.

*Por Vitor Paiva
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*Fonte: hypeness

Brasil está longe do topo em lista com melhores e piores países para ser mulher

O relatório “Women, Peace and Security Index” (WPS Index), desenvolvido pelo Instituto para Mulheres da Universidade de Georgetown, foi divulgado no último dia 8 de março. O documento, que estuda quais são as condições de vida das mulheres ao redor do planeta, rankeia quais são os melhores países para as mulheres no mundo. O Brasil ficou em 80º na lista, um pouco acima da média mundial em equidade de gênero.

O estudo compara condições de trabalho – como igualdade salarial -, com inclusão na política e na sociedade como um todo, além de levar em consideração proteção contra violência, acesso à justiça e segurança, em index que ao todo soma 11 índices.

Impacto da covid-19 nas desigualdades
O índice é bianual e, em comparação com o biênio 2019-2020, as condições de vida das mulheres pioraram ao redor de todo o planeta e a desigualdade entre os países aumentou drasticamente. Os piores países para ser mulher no mundo são, de acordo com o WPS Index, o Afeganistão, a Síria e o Iêmen. Todos estas nações estão em um processo de guerra civil contínua há pelo menos uma década.

“As tendências do Índice WPS mostram que o avanço global do status das mulheres diminuiu e as disparidades aumentaram entre os países”, diz o documento.

Entretanto, os dados apontam que a pandemia – e seus impactos econômicos e sociais – tornaram a vida das mulheres mais difícil.

“A pandemia catalisou diversas crises e os desafios para as mulheres pioraram em diversos campos; além do aumento da desigualdade de renda e da intensificação do trabalho de cuidado não remunerado, o confinamento também intensificou casos de violência doméstica ao redor do mundo”, explica o relatório.

O Brasil no ranking
O Brasil ficou mal colocado no ranking, figurando na 80ª posição de 170. O país ainda sofre com desigualdade salarial, violência doméstica em índices altíssimos e ínfima participação de mulheres dentro da política institucional.

Nosso parlamento é o mais desigual na questão de gênero em comparação com todos os outros países da América Latinae do Caribe, mostrando que, em 2022, essa situação precisa mudar.

Além disso, toda a nossa região possui um baixo índice de segurança comunitário, com dois terços das mulheres se sentindo ameaçadas ao andar à noite no seu próprio bairro. A nível de comparação, na Noruega, 90% das mulheres se sente segura nesse tipo de situação.

Uma pesquisa do Datafolha mostrou que 25% das mulheres brasileiras sofreram alguma violência de gênero durante o ano de 2020. De acordo com o estudo, 17 milhões de adultas foram vítimas de agressões físicas, verbais, sexuais e psicológicas no ano retrasado.

O Brasil pontuou 0.734 no índice, um pouco acima da média global de 0.721, mostrando que ainda há muito o que ser feito no país nos próximos anos. E um bom exemplo é olhar para os países que foram bem no WPS Index.

Os melhores países para ser mulher no mundo
Os países onde a desigualdade de gênero se mostrou menos violenta foram os nórdicos. Islândia, Noruega, Finlândia e Dinamarca são os quatro primeiros colocados no ranking. Veja a lista completa:

Noruega (0.922)
Finlândia (0.909)
Islândia (0.907)
Dinamarca (0.903)
Luxemburgo (0.899)
Suíça (0.898)
Suécia (0.895)
Áustria (0.891)
Reino Unido (0.888)
Holanda (0.885)

De acordo com a pesquisa, esses países pontuam bem porque possuem políticas públicas que garantem segurança para mulheres e porque combatem a desigualdade através da legislação, além de possuírem forte participação política feminina em suas casas parlamentares.

Essa é Sanna Marin, primeira ministra da Finlândia; país figura em segundo no ranking de igualdade de gênero

“As grandes conquistas nas frentes de inclusão e justiça podem ser atribuídas, pelo menos em parte, a políticas públicas que promovem um modelo de dupla renda. Nos países nórdicos, as diferenças de gênero na participação da força de trabalho são pequenas. Também garantem a licença parental para mães e pais”, explica a pesquisa.

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*Fonte: hypeness

“A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos”, Mia Couto.

“A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos”, Mia Couto.

SÃO DEMASIADO POBRES OS NOSSOS RICOS

“A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.

Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.

A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos «ricos». Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.

Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-rícos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas, muito convexos e estradas muito concavas.

A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças.

Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam. O fausto das residências não os torna imunes. Pobres dos nossos riquinhos!

São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam de ser sustentadas com dispendiosos mimos.

O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído”.

O POBRE RICO, QUE USA A RIQUEZA APENAS PARA SEU BENEFÍCIO PRÓPRIO É MAIS POBRE DO QUE AQUELE QUE NÃO TEM DINHEIRO ALGUM. IARA FONSECA

*DA REDAÇÃO RH. Via – Mia Couto, in ‘Pensatempos’.

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*Fonte: resilienciamag

A incrível sociedade das pessoas cansadas

A obsessão em ter todas as horas do dia preenchidas, o absoluto controle sobre tudo e a conexão constante aumentam os níveis de estresse e ansiedade, e adoecem o corpo e a mente.

Mais do que conhecimento e preparo, a vida hoje exige velocidade. Para conciliar os vários papéis — profissional, pessoal, social e espiritual — mais do que rapidez, precisamos também de competência. Na verdade, a competência não basta, precisamos ter alta performance. Isto é: não basta abraçar todos os papeis, precisamos exercê-los com competência e rapidez e, ainda, subir mais um nível. E achamos esse apelo muito normal. Afinal, temos a tecnologia que facilita tudo.

Estamos conformados com o excesso de exigências. O estilo de viver acelerado é bem visto. Hoje, valoriza-se muito o individuo estressado e hiperativo. Há quem adore exibir a agenda cheia — é um indicador de carreira bem-sucedida. Há um prazer quase ostensivo na afirmação“não tenho tempo para nada”. Aquele que estabelece um horário para encerrar o expediente, é visto como pouco comprometido, profissional de segunda categoria.

É assim mesmo.

O filósofo sul-coreano, radicado na Alemanha, Byung-Chul Han — descreveu essa realidade na obra Sociedade do Cansaço — e explica que essa forma de viver não precisa mais da coerção externa, como o sistema capitalista que cobra e empurra para a aceleração. “Somos nós que exercemos pressão sobre nós mesmos”, explica. E é onde estamos hoje. Somos explorados — muitos não têm vida além da profissional — e achamos que estamos nos realizando.

Até aqui nada novo. A notícia é que está pior — e o filósofo Han já se deu conta e acrescentou o novo capítulo “a sociedade do esgotamento” ao livro. A competição — devido a escassez de trabalho no mundo — acrescida da pandemia, trouxeram para dentro de casa a era do trabalho. Os líderes — temerários no início, pois pensavam que seus colaboradores fugiriam ao controle e trabalhariam menos — estão satisfeitos. Além da redução de custos, notaram que a produtividade aumentou. Afinal, sem o tempo de deslocação entre casa e trabalho, trabalha-se mais horas a partir de casa.

Comemora-se?

E, claro, está tudo bem. Afinal, não são todos os trabalhos que são possíveis remotamente e os que não tiveram a sorte de entrar nessa categoria perderam os seus empregos. Como reclamar? A crença de que esse é o funcionamento normal está disseminada em todo o globo. Precisamos ser positivos, produtivos (competentes), empreendedores (pró-ativos), inovadores (criativos)… A romantização do trabalho árduo e a sensação do dever cumprido fazem o resto. Estamos completamente exaustos, no limite das forças, mas achamos que estamos no caminho certo.

O que ocorre é que o ritmo desse estilo de vida está nos adoecendo. Han parte da constatação de que vivemos na sociedade do esgotamento e do sofrimento psíquico. Todos os dias sofremos de uma espécie de “violência neuronal”. E essa é a grande denúncia de Han. Para ele, desde o século XX, no panorama patológico, estão as doenças neuronais, como depressão, Alzheimer, transtorno de deficit de atenção e hiperatividade, transtornos de personalidade (bipolaridade e borderline), anorexias, compulsões, Síndrome de Burnout (estado físico, emocional e mental de exaustão extrema).

Quem é o agressor?

O agente agressor somos nós mesmos. A causa da doença, a violência neuronal, é feita por nós e para nós. É uma autoagressão. A pessoa cobra-se cada vez mais para apresentar melhores resultados, torna-se, ela própria, vigilante e carrasca de suas ações. Explora-se a si mesma. E é por essa razão que há recordes históricos de depressão e ansiedade, transtornos de personalidade e doenças autoagressivas, como as compulsões e os transtornos alimentares. Na sociedade do desempenho todas as atividades humanas passam pelo filtro da eficiência, o que torna o homem hiperativo e hiperneurótico.

É claro que o estímulo e a ambição são importantes e têm o seu papel. O problema é o excesso. Quando eles ultrapassam os limites e passamos a nos comportar como hamsters que correm na roda. Trabalhamos arduamente, fazemos cursos de especialização, cuidamos do nosso espaço, levamos os nossos filhos para cursos disso e daquilo (eles também precisam ter alta performance) e, mesmo assim, não atingimos os objetivos. Apesar do cansaço extremo e da frustração, os resultados não aparecem. Então, achamos que não estamos nos empenhando o suficiente — a culpa é nossa — e redobramos os esforços para arrastar o fardo.

Porém, não vai adiantar porque o trabalho extenuante não é garantia de carreira bem-sucedida. É o contrário. Férias de 30 dias ou mesmo um ano sabático podem fazer muito mais pela sua carreira do que dedicação exclusiva e em tempo integral.

Mudanças lentas

Porém, nem tudo são más notícias. Há muitos que estão finalmente acordando desse pesadelo — e outras tantas estão tentando despertar os que ainda dormem. Um pouco por todo lado, sentimos os ventos da mudança. Nas livrarias já há muitos títulos que tentam desmontar esse mundo “perfeito” e de alta performance, com títulos como os benefícios do fracasso, da vulnerabilidade e da imperfeição.

Sem contar o relato de experiências de quem resolveu dar um basta e cortar radicalmente com esse estilo de vida. Alguns, antes de uma mudança real, decidiram “experimentar” sabáticos ou licenças temporárias. A parte os ensaios, muitos estão buscando outros caminhos. Há muitos que estão mudando das cidades grandes e estressantes para a calma das cidades pequenas. Outros tantos que não abrem mão da urbanidade, mudaram-se para sociedades mais humanizadas — infelizmente fora do Brasil.

Eu mesma sou um exemplo deste movimento. Sempre amei São Paulo, mas é uma cidade dura, veloz, excessiva. Sentia um cansaço permanente e antes que a cidade me engolisse, resolvi experimentar o ritmo de Lisboa. Lembro-me que nos primeiros meses fiquei em estado de encantamento, feliz com a minha escolha. Entre muitas novidades, achava o máximo que grande parte das lojas do meu bairro, Alvalade, fechava a hora do almoço. Pensava que isso, em São Paulo, seria impensável e sentia que eu realmente estava no lugar certo.

Mudança radical

É verdade que muitos não querem ou não podem fazer mudanças tão radicais. Mas um bom começo passa pela mudança interna. Olhe para a sua vida com olho crítico e reflita. A reflexão funciona como uma vacina e ajuda a assentarmos os pés na terra. O tédio, a solidão, a introspecção e a contemplação viraram os grandes vilões da vida acelerada. Eles não são. Traga-os para a sua vida. Assuma: hoje não vou fazer nada. Encerre o seu dia de trabalho uma hora mais cedo do que o habitual e use essa hora como um bônus para uma caminhada sem destino pelas ruas. Separe momentos do seu dia para refletir, pensar, abstrair. Dê-se tempo livre, reserve momentos para não fazer nada produtivo.

Comece com pequenos ensaios. Desligue-se do mundo de vez em quando. A obsessão em ter todas as horas do dia preenchidas, saber tudo o que acontece, ter o controle de tudo, aumentam os níveis de ansiedade, sobrecarregam a mente, adoecem o corpo e trazem um enorme cansaço para a vida. Descanse!

*Por Margot Cardoso

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*Fonte: vidasimples

A mudança no comportamento das gerações: tecnologia de A a Z

Somos influenciados pelos acontecimentos de nosso tempo e por aqueles que nos antecedem. No caso da Geração Z, a tecnologia teve papel fundamental em sua formação. Entender de que forma essa influência se deu e que características gerou nesse grupo nos guiará em direção ao futuro e à próxima geração.

Popularização da internet, lançamento do Playstation, estreia dos sites de busca Google e Yahoo. Você sabe em que década esses acontecimentos ocorreram? Anos 1990. Mundialmente falando, um período de avanços científicos, tecnológicos e consolidação da globalização. Uma época propícia para o desenvolvimento e disseminação de eletrônicos e digitais.

Muitos dos avanços que ocorreram nos anos 90 foram impulsionados pela Guerra Fria (1947 e 1991), que apesar de todo o conflito político, ideológico e econômico entre Estados Unidos e União Soviética (URSS), resultou também em um saldo tecnológico e científico. Alguns exemplos são: a criação da NASA, utilização de satélites em sinais de telecomunicação e o surgimento da Internet, nos anos 60. Mas, naquela época, a tecnologia era restrita ao uso militar e só se tornou popular outras décadas mais tarde. No Brasil, podemos citar que ela foi disponibilizada para uso comercial em 1994.

Dessa maneira, diversas invenções começaram a emergir a partir do avanço tecnológico: as mensagens de texto SMS, o DVD, o Super Nintendo e a Google foram algumas das criações dos anos 90, e quem nascia naquele contexto começava desde muito cedo a “falar” a língua da tecnologia, a linguagem dos computadores, celulares, games e da internet. Para Marc Prensky, escritor americano e palestrante em educação, esses indivíduos são os nativos digitais, ou seja, aqueles que já nasceram imersos no mundo digital. Essa geração de nativos engloba também aqueles que fazem parte da Geração Z, que é a idade sociológica dos indivíduos que nasceram entre os anos 1990 e 2010.

Em linhas gerais, o conceito de gerações é definido por um grupo de pessoas que nasceram na mesma época e compartilham de hábitos, cultura, comportamentos e experiências de vida semelhantes. Alguns estudiosos afirmam que elas podem mudar a cada 25 anos, mas que este intervalo não deve ser levado como uma máxima para essas definições. Inclusive, a Geração Z é um exemplo de que não existe um consenso sobre o período do seu início, em outras literaturas, é possível encontrar esse começo definido também pelos anos 1995. Antes dos Zs, temos a Geração Y, que é formada por pessoas que nasceram a partir do ano de 1980, que podem ser chamados também de Millennials, outra fase de avanços tecnológicos e crescente globalização, mas no Brasil, período de certa instabilidade econômica.

A classificação das gerações não para por aí, a Geração X também foi estudada e engloba indivíduos que nasceram entre 1965 e 1978, são pessoas que trabalham bem em grupo e individualmente, e buscam a independência financeira desde cedo, eles também podem ser chamados de filhos dos Baby Boomers. “Baby Boom” significa explosão de bebês e é a geração composta por pessoas nascidas entre 1946 e 1964, um período de grande crescimento populacional do pós-Segunda Guerra Mundial. Antes disso, também podemos citar a Geração dos Veteranos ou Tradicionais que inclui pessoas que nasceram de 1922 até 1945, elas nasceram e viveram em períodos de guerra, por esse motivo tem um comportamento diferente das outras gerações, acreditam no trabalho em equipe, entretanto, são influenciados pelo modelo de militarismo ao exercer posições de liderança.

Com esses dados, é possível perceber que o comportamento de cada geração é influenciado pelos acontecimentos que as antecedem, que vigoram e que perduram, e vimos que a tecnologia teve um importante impacto nas últimas gerações, especialmente na Geração Z.

Não é à toa que o grupo de pessoas nascidas a partir de 1990 recebeu esse título. O “Z” vem do termo zapear, ou seja, mudar os canais de TV de forma constante e rápida. O termo “Zap” vem do inglês e pode ser traduzido como “fazer algo rapidamente”. É a geração da velocidade, eles aprendem rápido, são dinâmicos, exigentes e já nasceram acompanhando boa parte das tecnologias, são conectados e autodidatas. A Fast Company — uma revista sobre tecnologia — fez uma projeção que até o final de 2020 essa geração já representaria 40% dos consumidores, por isso é tão importante estudá-los, a fim de oferecer soluções e ferramentas que se adequem às suas necessidades e expectativas.

Eles são consumidores exigentes e querem conhecer os produtos antes de comprá-los, por isso, fazem pesquisas na internet e em redes sociais sobre o que vão adquirir, afinal, são nativos digitais e usam a rede para facilitar a vida e otimizar o tempo, também por isso são um dos públicos que mais usufruem do comércio eletrônico. Além disso, por gostarem da experimentação, as tecnologias de Realidade Virtual e Realidade Aumentada podem cativar ainda mais esses consumidores no e-commerce, já que por meio delas torna-se possível ter a sensação de “experimentar” uma peça de roupa, por exemplo. Atualmente, o eBay — um dos maiores sites de comércio eletrônico do mundo — possui um aplicativo de realidade virtual na Austrália. Para usufruir da tecnologia é necessário um smartphone e um óculos de realidade virtual. Neste assunto, cabe relatar que grande parte das vendas dos e-commerces acontecem pelos smartphones. Uma pesquisa feita pela Opinion Box, empresa de pesquisa de mercado, mostrou que 85% dos brasileiros com smartphone compram online. Outra estratégia que se mostrou eficaz para o comércio eletrônico foram as live commerces, que são transmissões de vídeo ao vivo, com apresentação de produtos de uma loja ou marca. O objetivo delas é a venda instantânea desses itens por meio de uma plataforma integrada com o e-commerce.

A forma de relacionamento e consumo dos Zs também foi muito influenciada pela crescente nos aplicativos, segundo um relatório de 2017 divulgado pelo site Mobile Time, essa geração passa em média 4h17 por dia na internet no celular e instala cerca de 9 aplicativos por mês em seus smartphones. Um relatório divulgado este ano pela companhia de análise de mercado mobile App Annie mostrou que os aplicativos mais baixados por eles, no quesito social, foram o TikTok, Snapchat e o Twitch. Mas não é somente para o entretenimento que essa geração tem utilizado as aplicações mobile, os apps de delivery de comida como o Ifood, Uber Eats, 99 Food e outros, fazem parte do dia a dia deles.

Além desses, devemos lembrar também o quanto os Zs utilizam os apps de economia compartilhada, no que diz respeito à mobilidade urbana. Em um cenário de crescimento desordenado dos grandes centros urbanos e aumento de veículos particulares motorizados, fez-se necessário pensar formas de garantir uma mobilidade sustentável, neste ponto, a tecnologia foi fundamental. Com auxílio das plataformas online, os aplicativos de mobilidade compartilhada passaram a fazer parte da vida dessa geração: carros, bicicletas e patinetes pertencem à rotina dessas pessoas. Ressalto que, apesar do serviço de mobilidade compartilhada mais popular no Brasil ter chegado em 2014, com a Uber, o conceito começou nos anos 60, na Holanda, por meio de bikes compartilhadas. Naquela época, não havia custo para utilizar as bicicletas, entretanto, o modelo não se mostrou sustentável, além de ter sido alvo de vandalismo. Mas hoje, com o avanço da tecnologia, podemos usufruir desses serviços e sobretudo, contando com usuários que têm o mindset de colaboração. Neste sentido, podemos ainda citar exemplos como o Airbnb, Dog Hero ou sites de financiamento coletivo como o Catarse e o Benfeitoria, todos esses impulsionados pelas plataformas digitais.

A mentalidade colaborativa da Geração Z vai além. Os coworkings são outro exemplo de como eles têm lidado bem compartilhando também o espaço de trabalho com pessoas de diferentes empresas e lugares, o termo cunhado pelo designer de jogos Bernie DeKoven, descreve um novo modelo de trabalho que estava em ascensão junto da tecnologia, e para quem pensa que os avanços tecnológicos poderiam afastar os trabalhadores, os coworkings vieram para mostrar que nem sempre será assim.

Fato é que essa geração é muito mais propensa para trabalhar em um modelo remoto. Segundo uma pesquisa divulgada pela Globo, apenas 16% dos Zs preferem trabalhar em escritórios corporativos, entretanto, a maioria deles, 38% afirmam que o local não faz diferença, seguido por 26% que prefere trabalhar em coworkings e outros 20% em home office. É preciso ficar cada vez mais atento aos anseios e hábitos dessa geração em relação ao mercado de trabalho, porque, segundo a Mckinsey, até 2022, eles representarão cerca de 10% da força de trabalho.

Como nativos digitais, lidam muito bem com a tecnologia no mercado de trabalho e mesmo que não desenvolvam diretamente uma atividade relacionada a ela, eles têm um bom desenvolvimento no assunto, aprendendo facilmente a manusear novos softwares e plataformas, além de serem mais abertos às mudanças de tecnologias. Além disso, com toda evolução tecnológica, novas possibilidades de carreira começam a surgir, e essa geração passa a considerar profissões que sequer existiam há alguns anos: UX design, gestor de mídias sociais, desenvolvedor mobile, analista de cibersegurança, até blogueiro, youtuber ou influenciador digital.

Os Zs valorizam também gestores e lideranças que sejam próximas e abertas ao diálogo. Além disso, ambientes diversos e colaborativos são mais apreciados. Essa combinação de predileções leva muitos a quererem trabalhar em startups, já que são ambientes mais dinâmicos, inovadores e ágeis. A agilidade é uma constante para a Geração Z, são imediatistas e autônomos e por isso, podem vir a ter mais facilidade em trabalhar com metodologias ágeis como o método Scrum e o Kanban.

Outra mudança de mentalidade em relação ao trabalho diz respeito às expectativas em relação às empresas contratantes, uma pesquisa da Deloitte mostrou que 38% espera que as empresas também se preocupem com a saúde do funcionário, incluindo um bom ambiente de trabalho. Outros 34% esperam alguma atividade relacionada a mentoria ou treinamento. Isso mostra que são pessoas que querem desenvolver suas carreiras e acreditam que o aprendizado faz parte desse processo.

Sobre esse assunto, vale salientar, que a forma de aprender dos Zs também se modificou, ela acontece de forma mais acelerada, eles são autodidatas e muitas vezes, aprendem sozinhos diversos conteúdos com o auxílio da internet. Além disso, o ensino a distância também foi um facilitador, por meio de plataformas EAD é possível absorver o conteúdo e interagir com colegas e professores. Segundo o último censo (2018/2019) Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), a modalidade EAD no Brasil soma 9 milhões de estudantes.

Então, o que esperar da Geração Z e como lidar com ela?

No âmbito educacional, voltarei a citar Marc Prensky, que, além de apresentar o conceito de nativos digitais, traz também quem seriam os imigrantes digitais, ou seja, aqueles que nasceram antes das tecnologias. No caso da educação, os professores. O escritor explica que eles, assim como os imigrantes, aprendem a “nova língua” (da tecnologia), entretanto, não a pronunciam como os nativos, eles mantêm um certo “sotaque”. Para resolver essa equação, os professores precisam estar abertos aos novos métodos de ensino e práticas que se adequam à realidade dos nativos digitais. Para isso, é preciso ouvi-los e aprender ao máximo sobre essa nova linguagem, além de tentar introduzir ferramentas que representem o contexto deles, como o gamification, por exemplo.

Enquanto consumidores, a Geração Z está buscando produtos mais tecnológicos, mais informações sobre os produtos, mais inovação e outros tantos “mais”. Mas, as marcas e empresas não devem ficar restritas a isso, é preciso gerar valor para essa geração, eles buscam marcas que se engajem com causas sociais, que sejam sustentáveis, diversas e plurais. Contudo, não se deve esquecer que esses consumidores querem praticidade, comprar em poucos cliques e receber em um curto prazo. Nesta última, soluções de entregas rápidas como os drones, podem ser uma boa aposta. Sem esquecer de utilizar a tecnologia a fim de facilitar todo o processo de compra do usuário.

No mercado de trabalho, as empresas precisam aprender cada vez mais com a Geração Z. Eles tendem a ser menos burocráticos, menos resistentes às mudanças, mais ágeis e mais colaborativos, além de tudo, claro, mais tecnológicos. Ouvi-los pode ajudar a implementar novas possibilidades de culturas inovadoras dentro das organizações. Afinal, a evolução tecnológica e a transformação digital são caminhos sem volta (ainda bem!) e nada melhor do que aprendermos essas mudanças com os Zs no mercado de trabalho hoje, pois, daqui a pouco chega uma nova geração para ocupar posições importantes: a Geração Alpha, a geração das telas. A melhor forma de lidarmos com os Zs e aguardar os Alphas é escutá-los, além de ter sempre em mente que, por mais que não sejamos todos nativos digitais, devemos nos esforçar sempre para ser imigrantes eficientes, curiosos e aprendizes constantes.

*Por Gustavo Caetano

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*Fonte: mittechreview

O medo de enxergar a verdade provoca a força da ignorância

Permanecer ou sair da caverna? Uma questão que atravessa a história desde que os homens se compreendem como homens. É melhor desfrutar de uma realidade fantasiosa, mas confortável ou vivenciar a verdade com toda a sua dureza? Viver como sujeito consciente tem um alto preço psicológico. No próprio mito da caverna, percebemos que os homens tendem a preferir se contentar com as sombras, do que conhecer o lado de fora, afinal, por mais falsas que as sombras sejam, elas estão sob a proteção constante das rochas da caverna. Isso significa que, ao decidir sair, não há mais volta, pois as rochas que o olhar de servo entende como de proteção — para os que despertam — representam aprisionamento.

O desconhecido magnetiza pelo medo. Dessa forma, na maior parte das vezes, preferimos permanecer onde estamos, por mais adversa que a situação seja, uma vez que o velho goza do benefício do conhecimento e da permanência, o que o torna menos temido do que o novo, o qual ainda não se conhece e não se sabe o que cobrará de nós. Dito de outro modo, ainda que a situação que vivenciamos seja adversa, tendemos ao comodismo pelo medo do que ainda não se conhece e, portanto, pode ser pior do que o que já se vivencia.

Esse comodismo ou complacência, entretanto, não se restringe ao medo do desconhecido, mas também a própria falta de vontade em esforçar-se para que a condição seja modificada, o que, consequentemente, faz com que os elementos e institutos aplicados com a finalidade de manutenção do status quo sejam bem-sucedidos. Não à toa vivemos na era da servidão voluntária.

No entanto, se vivemos em um mundo “fantasioso”, não é possível que a alcunha de “era da servidão voluntária” possa ser exposta de maneira clarividente. É necessário que ela seja transformada, melhor: ressignificada – para usar um termo de Baudrillard, filósofo que tão bem falou sobre a nossa Matrix – e, assim, a servidão voluntária se transforma em admirável mundo novo, lugar em que a técnica, com todo o seu esplendor, consegue suprir todas as necessidades humanas.

Evidentemente, as revoluções técnicas que aconteceram, grosso modo nos últimos duzentos anos, trouxeram importantes conquistas, descobertas e aperfeiçoamentos que tornaram a nossa vida melhor em vários aspectos. Contudo, a história nos mostra que entre a real capacidade dessas revoluções e o que delas se extrai (e como se extrai) há um grande abismo. Sendo assim, a nossa realidade se aproxima muito mais das grandes distopias do século XX do que de um éden 3D.

Embora essa realidade esteja mais do que clara, o que se observa, ao contrário do seu questionamento, é o fortalecimento da mesma. Nesse sentido, o avanço técnico é fundamental, já que quanto mais os sistemas de controle se desenvolvem, maior é a capacidade de “gerir” a vida dos subordinados. À vista disso, é interessante perceber que o indivíduo administrado se acha bem atendido nas suas necessidades, o que hoje, resume-se em grande parte, ou na totalidade, em consumir.

Com um sistema posto para que os indivíduos se sintam “confortáveis” ou, no mínimo, em uma potencial condição de satisfazer as suas “necessidades” e, por conseguinte, sentir-se “confortáveis” e “bem-atendidos”, uma vez que o consumo (pedra angular da satisfação e do controle) está sempre ao alcance das mãos (aliás, nem é preciso sair do lugar para entrar na roda de felicidade do consumo); torna-se extremamente fácil manter a sociedade em ordem.

E como estamos falando de uma sociedade de controle, não é preciso dizer que existe dura repressão para todos os que fogem à ordem posta, os quais são vistos como “inadequados” ou como prefere Huxley em sua obra – “selvagens”. Todavia, como todo bom sistema que evolui, a repressão não ocorre de modo explícito ou através de chicotes, e sim, de maneira “invisível”, a partir da “liberdade” que gozamos, posto que a repressão mais perfeita é aquela que não precisa acontecer, pois é introjetada pelo próprio indivíduo em si mesmo.

Diante de tantas condições favoráveis à escravidão e dissociadas, portanto, da liberdade, torna-se fácil compreender o porquê da maior parte de nós preferir continuar na caverna e tomar o ilusório como real. Da mesma maneira que se compreende o motivo de sermos agentes repressivos contra os que fogem do sistema, sejam os outros, sejam nós mesmos. O que implica dizer que glorificamos a mentira e tomamos por impostores os que se dedicam à verdade, afinal, como disse Orwell: “Quanto mais a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia aqueles que a revelam”.

Posto isso, há de se considerar que ao aceitar o modo como a sociedade se organiza e todos os seus ditames, automaticamente decidimos permanecer na caverna e contribuir para a manutenção de um sistema de organização social que por trás de alegria, gozo e satisfação, esconde exploração, desigualdade e ignorância. Apesar de não haver condições próprias para que haja um despertar do indivíduo da sua situação de ignorância, como já exposto, é imperioso que se entenda que o modo hierárquico da sociedade não se modificará de cima para baixo, de tal forma que é necessário a cada indivíduo, dentro das suas oportunidades, tentar buscar pontos de luz que o ajudem a encontrar a saída da sua ignorância e, por conseguinte, da sua condição escrava.

Se o desconhecido magnetiza pelo medo, é apenas o conhecimento e a liberdade que nos permitem enfrentá-lo, sabendo que todo aquele que desperta sempre apontará para as correntes daqueles que permanecem presos. Todavia, também devemos ter em mente que muitos, por mais oportunidades que recebam, irão preferir permanecer na sua ignorância, na caverna, na Matrix ou qualquer palavra que representa o antônimo da liberdade, pois o estado de espectador é sempre mais cômodo, já que, ainda que no filme apresentado os exploradores sejam os protagonistas, sempre há pipoca e refrigerante suficientes para manter os explorados de boca fechada.

Assim sendo, levantar do cinema, ser um selvagem ou tomar a pílula vermelha, continuam sendo atos de coragem, espalhados e diminutos, pois como disse Nietzsche: “Por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade, porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas”. Entretanto, é necessário destruir as nossas belas e confortáveis ilusões para que possamos ser sujeitos autônomos e livres, porque é o medo que possuímos da verdade que provoca a força da ignorância e permite o nosso controle.

*Por Erick Moraes

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*Fonte:

Síndrome de Zorro: fazer o bem e não contar pra ninguém

Com o seu silêncio, o Zorro perde a chance rara de fazer uma bela campanha de divulgação, séria, responsável. Sem comunicação, o Zorro não presta contas de seus feitos, não aumenta sua credibilidade, não recruta adesão, não constrói sua imagem de marca, não se diferencia dos heróis concorrentes.

O vilarejo em apuros, a comunidade em pânico. Vilões assaltam o único banco, saqueiam as lojas, põem fogo nas casas. Surram os homens, desorganizados, sem liderança e sem uma defesa articulada. Espancam as crianças, estupram as mulheres. Os vilões atuam livremente, diante das forças policiais inoperantes, porque incompetentes ou despreparadas ou apenas desinteressadas.

Mas eis que chega o Zorro e faz a sua parte. Afugenta os bandidos, mata alguns talvez. Recupera o dinheiro do banco, devolve as mercadorias das lojas, apaga os incêndios. Salva as mulheres e as crianças. O Zorro atua diante do olhar passivo das forças policiais inoperantes, porque incompetentes ou despreparadas ou apenas desinteressadas. Para falar a verdade, muitas vezes o Zorro atua também contra as forças policiais inoperantes, que teimam em atrapalhar seu trabalho em defesa da comunidade.

Final feliz. Todos se abraçam, todos se emocionam, dão graças aos Céus e voltam-se para agradecer àquele mascarado maravilhoso. Cadê o cara?

Do alto de uma colina, contentando-se com a sensação egocêntrica de quem acredita ter cumprido com o seu dever imediato, Zorro empina o cavalo e se despede. Egoisticamente feliz, como quem cumpriu com sua obrigação, não fez nada de mais. Afinal, é da sua índole, é da sua natureza ser discreto. Ele tem lá seus problemas.

Por que? Ele é sinceramente tímido? Orgulhoso, pero encabulado? Falso-modesto, aguardando a multidão gritar “Fica! Fica! Fica!”. Herói cheio de complexo de culpa, que se envergonha dos aplausos? Celebrar não faz parte do core-business do Zorro? Será falta de tempo? Será falta de verba? Será falta de um trabalho consistente?

De qualquer forma, o Zorro é um herói mascarado maravilhoso, mas nada exemplar.

Por que ele não trabalhou estruturalmente com a comunidade, depois que sua ação emergencial resolveu aquele problema pontualmente? Por que ele desperdiçou seu carisma, não reuniu o povo agradecido e discutiu o ocorrido, pedagogicamente? Por que ele não se preocupou em identificar os líderes naturais daquela gente e não os mobilizou? Por que ele não ensinou o vilarejo a se organizar para um próximo ataque? Por que ele não usou sua competência para capacitar a população nas artes da defesa coletiva? Por que ele não aprofundou sua ação, não buscou formar uma estrutura que permitisse à comunidade construir sua própria auto-sustentabilidade (ou auto-defensibilidade, no caso)? Por que ele só teve um gesto salvador de bravura momentaneamente e não construiu algo que permanecesse pra sempre naquele vilarejo?

Este é o sintoma número 1 da Síndrome de Zorro: contentar-se com a ação em si, que se esgota nela mesma, com seus efeitos imediatos e efêmeros.

O sintoma número 2 da Síndrome de Zorro começa na própria máscara: o Zorro não mostra a cara. O Zorro não divulga seus atos. O Zorro omite suas idéias. O Zorro esconde seu jogo. O Zorro acredita que sua ação social será reconhecida espontaneamente e, se isso não acontecer, tudo bem, não lhe fará falta.

Este tipo de comportamento calado e inseguro é natural, conseqüência da Síndrome número 1 (atuar isolada e pontualmente). Pode parecer arrogância ou inocência, que são irmãs de pecado. Mas, no caso do Zorro, é falta de foco mesmo. Ele não se sente responsável pelo que acontece com o povoado. Ele é apenas um assistencialista caridoso. Ele só ampara, socorre.

O Zorro não comunica o que faz, porque não o faz estrategicamente. Porque sua atuação social é tática e errática. Ela não está integrada a um pensamento corporativo ou a um plano de negócios de longo prazo, em parceria comprometida com o Terceiro e o Primeiro Setor. Porque sua atuação social não faz parte do negócio em si. Portanto, nada é planejado, nada é auditado, os resultados são pequenos e ao acaso. O Zorro trava batalhas avulsas, não uma guerra pensada.

Com o seu silêncio, o Zorro perde a chance rara de fazer uma bela campanha de divulgação, séria, responsável. Sem comunicação, o Zorro não presta contas de seus feitos, não aumenta sua credibilidade, não recruta adesão, não constrói sua imagem de marca, não se diferencia dos heróis concorrentes.

E o pior de tudo: sem comunicação, o Zorro despreza sua força inspiradora. Zorro não estimula o surgimento de novos Zorros, que se entusiasmem com seu sucesso, repliquem seu trabalho e atuem em rede com ele. O Zorro não entende nada de exemplaridade.

Tem gente que diz que o Zorro é assim mesmo, solitário e na dele, prefere atuar sozinho e sem alarde. Dizem que ele acha cabotino e oportunista, que é muito feio se promover às custas de suas ações a favor do Bem.

Sei lá, para mim o Zorro é um tonto.

*Por Percival Caropreso

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*Fonte: updateordie

A capitalização dos sentimentos

Cada dia que passa, aumenta a convicção que na sociedade atual, por mais que as pessoas tenham tendência a aflorar sentimentos positivos frente às diversas situações, o sistema capitaliza toda e qualquer expressão de boa vontade.

Somos bombardeados diariamente com a promoção da catástrofe frente a uma relativização das boas ações. Você não gosta o suficiente se não é capaz de dar um bom (caro) presente; você não é um bom cidadão consumindo menos que a maioria; seu carro (considerando que precise de um) pode estar perfeito, com a mecânica em dia, funilaria boa, ou seja: em perfeitas condições. Ainda assim teimam em lhe empurrar que depois de três anos o mesmo já está ultrapassado. Até mesmo os “vintage” estão superestimados, tudo vale mais do que a grande maioria da população mundial pode pagar.

Cabe aqui um aparte do provável surgimento da inflação nos preços de praticamente todos os produtos.

Por que uma pintura custa milhões? Porque determinados serviços que poderiam ser de baixo custo são elevados a preços altíssimos? A resposta pode ser mais simples do que parece. Deve-se ao fato de a sociedade capitalista perceber que por mais que as elites acumulassem fortunas, isso ainda não os tornava tão diferentes da massa pobre. Precisavam de um diferencial. Necessitavam ter onde e como gastar as fortunas acumuladas com base na exploração dos menos favorecidos.

Milionários, bilionários, precisam estampar as revistas e os jornais com suas mais novas aquisições. Pode ser uma obra de um pintor famoso, um carro exclusivo ou uma grande propriedade.

Não estou questionando a genialidade de pintores, mas duvido muito que quando eles fizeram suas obras era com o intuito de serem vendidas a preços exorbitantes. Ainda mais em uma sociedade que tanta gente morre de fome (leia-se falta de nutrientes, tendo em vista que milhões de pessoas no mundo são obrigadas a sobreviverem com uma dieta de um ou dois alimentos somente). Também não estou questionando o trabalho de engenheiros e designers de carros de luxo. Ao menos não estou questionando suas capacidades. A questão é: por que desenvolver carros caríssimos que só servirão a uma mínima parcela da sociedade?

O resultado disso tudo é que para a elite exploradora manter seu nível vida, fazem com que os lucros de seus investimentos sejam sempre maiores, estourando a conta de quem nem consegue pagar suas contas e se alimentar bem. Aumenta-se o lucro proporcionalmente à diminuição da qualidade de vida.

Finalmente chegamos ao ponto em questão: a capitalização dos sentimentos. Não satisfeitos com a exploração, com a fome e com a baixa qualidade de vida da grande maioria das pessoas, agora atacam no subconsciente. A maioria das pessoas acha louvável quando um milionário doa 0,0001% do que tem (só doa quando é publicado nas mídias: televisão, jornal, revistas etc.), mas quando um vizinho procura desenvolver ações em prol de uma melhora na qualidade de vida de pessoas próximas, diz que não fez mais que a obrigação. Ou quem sabe questiona se o mesmo pediu “autorização” para tal benfeitoria.

Defende com unhas e dentes quem os explora, enquanto elege culpados entre os iguais. Reclama de ações assistencialistas que não comprometem a economia, ao mesmo tempo em que não sabe que instituições financeiras ficam com um terço do PIB de países latino-americanos. E ainda tem os que sabem destes fatos, mas solenemente ignoram. Apesar de todos esses elementos ainda acredito que após décadas manipulação é complicadíssimo ao menos favorecido compreender esta situação.

Deveríamos destinar um momento de reflexão em nossas vidas, para que, portanto, sejamos capazes de compreender mais elementos dentre os que compõem nossa sociedade. Mesmo que ainda seja pouco, já é um pequeno passo em prol de uma melhora. Diariamente poderíamos refletir acerca das situações que influenciam diretamente em nossas vidas e de nossos semelhantes. Talvez quando formos capazes de reconhecer nossos próprios erros, poderemos então (con)viver em uma sociedade mais justa.

*Por Leonardo Onofre

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*Fonte: obviousmag

O Brasil finalmente encontrou a solução para a pandemia: ligar o foda-se

Bares lotados, praias abarrotadas e uma vida cotidiana tocada como se nada estivesse acontecendo. Excetuadas as poucas almas que insistem em permanecer em suas casas e em usar máscaras ao sair, seria impossível notar que o Brasil atravessa a maior crise de saúde de sua história. Ora, após quase cinco meses de um isolamento fictício, não há dúvida de que a fadiga e a necessidade de sair em busca do ganha-pão iriam forçar a população engaiolada a voltar às ruas e retomar ostensivamente sua liberdade.

Bastante conhecida no teatro e no cinema, a solução deus ex machina — que, em uma tradução livre, seria algo como “deus que surge da máquina” — é antiga e remete à falta de criatividade em um roteiro. Ao surgirem problemas cujas soluções seriam extremamente complexas, por haver “pontas soltas” no enredo, uma força externa aparece, do nada, e resolve as questões da maneira mais improvável. A expressão em latim vem do teatro clássico grego, que frequentemente usava esse recurso: quando as histórias pareciam não ter mais como serem resolvidas, um mecanismo no teto fazia descer ao palco, repentinamente, um deus que milagrosamente sanava todos os conflitos.

Um exemplo bastante evidente do recurso no cinema está em “Superman: o filme”, de 1978. Quando tudo parece perdido e Lois Lane é morta, o Homem de Aço começa a girar em volta da Terra, fazendo o tempo voltar e, assim, salvando o dia — e sua amada — de uma maneira fantástica e aleatória, nada convencional. O mesmo ocorre na franquia “Senhor dos Anéis”, na qual, em um dos momentos mais tensos da trilogia, Gandalf surge com águias gigantescas, nunca antes mencionadas no enredo, em uma cena bem conveniente e que aparenta não fazer muito sentido (se eles tinham essa alternativa, por que já não foram voando de águia desde o começo para a região de Mordor?). Poderíamos citar ainda as inúmeras histórias que terminam com o protagonista acordando e vendo que tudo não passava de um sonho.

Pois não foi outra a resposta tupiniquim para extirpar de vez o mal que assombra seus filhos. Mátria frátria, como um dia desejou Caetano, a nação acostumada a dar jeitinho em tudo não iria decepcionar no enfrentamento à pandemia. A solução homeopática, com ares de seriedade, é a flexibilização com base na ocupação dos leitos de UTI. Sensato, mas insuficiente. Andar sem máscara e promover aglomerações é mais emocionante do que a tediosa fórmula de se precaver e aguardar pelo socorro da ciência. No imaginário popular, incentivado por muitos blogueiros e gurus do caos, o fim do isolamento ocorre como se a doença tivesse simplesmente desaparecido. As festas clandestinas eclodem país afora e a espantosa maneira de o brasileiro lidar com o vírus é simplesmente tocar o foda-se para a sua existência. Deus ex machina: por ignorância popular, o vírus ficou no passado.

Não é preciso dizer que esse “novo normal” à brasileira contribui fortemente para a estabilização e o prolongamento da alta taxa de mortalidade do país. Mas quem se importa? Apesar do número estratosférico de infectados, as perdas são diminutas em comparação com as vidas salvas, e o povo precisa mesmo é tocar a vida. Viver no foda-se é a solução deus ex machina que o brasileiro encontrou para não ter que suportar o tédio de encarar de forma séria uma crise mundial. Segue o jogo.

Já dizia Mario Quintana: “ser lembrado é como evocar-se um fantasma”. O fantasma brasileiro, pois, é seu próprio senso de empatia com o próximo. Ou a falta disso.

*Por Matheus Conceição

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*Fonte: revistabula

Por que cidades precisam mais do que nunca de árvores

Por que cidades precisam mais do que nunca de árvores

Megacidades como Paris e Londres têm projetos ambiciosos para se tornarem mais verdes. Algo indispensável, segundo ecologistas, para frear os efeitos das mudanças climáticas nas cada vez mais populosas áreas urbanas.

Não muito tempo atrás, muita gente não tinha certeza se as árvores deveriam ter um lugar nas cidades. Pedestres, carros, casas e prédios compunham áreas urbanas – não havia muito espaço para a natureza.

Mas as árvores agora têm um lugar fundamental em muitas grandes cidades do mundo, diz Sonja Dümpelmann, historiadora da paisagem da Universidade da Pensilvânia – mesmo que, na maioria delas, ainda estejam lutando por espaço.

Para colher os benefícios das paisagens urbanas, ecologistas dizem que é fundamental que as árvores sejam vistas como mais do que uma mera adição estética às cidades. Isso é especialmente verdade agora que metade da população mundial vive em espaços urbanos – até 2050, estima-se que outras 2,5 bilhões de pessoas se mudarão para cidades.

Árvores são chave quando se trata de regular os microclimas, filtrando a poluição do ar, fornecendo sombra, absorvendo CO2, ajudando a evitar inundações repentinas. Além disso, atuam como um antídoto importante para o efeito de ilha de calor urbana, que torna as cidades muito mais quentes do que as áreas rurais vizinhas.

“As árvores podem fazer uma enorme diferença na temperatura de uma cidade”, diz Tobi Morakinyo, climatologista urbano que pesquisa o efeito de resfriamento de árvores em Akure, sudoeste da Nigéria. Segundo ele, o uso de árvores para gerar sombra em edifícios pode resfriá-los em até 5°C.

Em cidades quentes da África subsaariana como Akure, onde as temperaturas médias máximas de verão podem chegar a 38°C, esse efeito de resfriamento é uma ferramenta importante. Segundo Morakinyo, as cidades podem empregar árvores tanto contra o estresse térmico quanto contra os custos de resfriamento.

“Além dos serviços ecológicos que as árvores urbanas proporcionam, há também as qualidades que não podemos colocar em valor monetário”, acrescenta Cris Brack, ecologista florestal da Universidade Nacional Australiana e diretor do Arboretum Nacional em Camberra. “São a biodiversidade, a estética e nossa necessidade visceral de experimentar a natureza”, completa Brack, referindo-se ao conceito de ‘biofilia’ – a ideia de que os seres humanos têm um desejo inato de se conectar com a natureza.

Evidências sugerem que habitantes de regiões com mais árvores experimentam níveis mais baixos de estresse e doenças mentais.

Luta contra o cimento

A necessidade de árvores nas cidades é cada vez maior, mas elas frequentemente lutam contra ambientes urbanos opressivos. Abaixo do solo suas raízes podem ser sufocadas por tubos de água, estradas e estacionamentos subterrâneos, e acima pela poluição, linhas de energia e tráfego. Árvores também enfrentam danos causados por carros, condições climáticas cada vez mais extremas e remoções para dar lugar a canteiros de obras.

Talvez o desafio moderno mais duro para as árvores da cidade, diz Somidh Saha, ecologista florestal urbana do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, na Alemanha, seja a estiagem. Após a onda de calor sem precedentes na Europa em 2018, um estudo coassinado por Saha constatou que 30% das árvores plantadas em Karlsruhe, no sudoeste da Alemanha, nos quatro anos anteriores haviam morrido – tanto direta quanto indiretamente por falta de água.

“Sem água suficiente, as árvores se tornam fracas e isso as torna vulneráveis a doenças”, diz Saha. Ao mesmo tempo, o declínio das populações urbanas de aves e mamíferos arborícolas, como morcegos, deixa as populações de insetos sem controle, e as árvores locais mais vulneráveis.

Projetos em megacidades

Projetos ecológicos ambiciosos surgiram em várias megacidades ao redor do mundo nos últimos anos – Nova York plantou um milhão de árvores entre 2007 e 2015; o prefeito de Londres, Sadiq Khan, espera tornar verde mais da metade da capital até 2050; Paris, por sua vez, anunciou que construirá quatro florestas urbanas ao longo de 2020.

Mas fora da Europa, em lugares como a Índia e a Nigéria, onde faltam recursos e vontade política para tornar o verde urbano uma prioridade, as árvores nas cidades são muito mais escassas.

Como a mudança climática traz temperaturas mais quentes e chuvas mais imprevisíveis, as cidades estão exigindo um novo tipo de resiliência das árvores urbanas. Para muitas cidades do mundo, os ecologistas dizem que isso significa plantar espécies mais exóticas.

A ideia, porém, encontra bastante resistência. Os ecologistas Brack e Saha argumentam, no entanto, que espécies alternativas geralmente se adaptam melhor ao ambiente artificial de uma cidade – especialmente diante do aumento das ondas de calor. O bordo de três dentes, nativo da China, Coreia e Japão, é uma espécie que poderia aparecer em maior número em outras partes do mundo à medida que a temperatura global aumenta.

Há também uma distinção importante a ser feita entre árvores “exóticas”, o que significa apenas que não são locais, e as “invasivas”, que são prejudiciais, espalhando-se muito rapidamente e dominando o meio ambiente.

Quanto à vida selvagem local, estudos contínuos estão sendo realizados em lugares como Canberra, onde quase todas as espécies de árvores da cidade são exóticas. Ali, os pássaros comem com prazer frutas de plantas não nativas, e os mamíferos encontram casas onde quer que haja um buraco apropriado.

Empenho cidadão

Uma solução para preservar as árvores urbanas que tem crescido em popularidade nos últimos anos é o envolvimento dos moradores. O programa de poda de Nova York permite que os habitantes da cidade tenham aulas para se tornarem cuidadores oficiais das árvores, e Berlim – um lugar que normalmente tem excluído os cidadãos de cuidar da flora urbana – está agora permitindo que os residentes solicitem licenças para manter canteiros e propôs que eles reguem árvores no verão.

O envolvimento dos cidadãos tem seus prós e contras, diz Dümpelmann, e estes tipos de programas podem ou não ser eficazes dependendo da cultura local. Mas até mesmo regar árvores sozinho “demonstrou ser um esforço de manutenção realmente relevante”, comenta.

Embora o plantio de árvores em espaços urbanos seja uma forma eficaz e bastante eficiente de adaptação às mudanças climáticas, Dümpelmann enfatiza que não é uma solução holística. “É algo em que devemos trabalhar ao mesmo tempo em que abordamos as causas fundamentais da mudança climática”, diz.

Além de usar as árvores como ferramenta de geoengenharia, ecologistas urbanos ressaltam que mais árvores nas cidades poderiam mudar as perspectivas da vida urbana e dar às pessoas uma maior compreensão de como valorizar a natureza como parte de uma cidade sustentável e habitável – não separada dela.

Isso significa ver as árvores como seres vivos, em crescimento, diz Brack, não paradas no tempo, ou imunes aos estresses da vida em ambientes urbanos.

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*Fonte: DW

É muito desagradável a pessoa jogar na nossa cara o que fez pela gente

A gratidão faz um bem enorme, tanto para quem a oferta, quanto para quem a recebe, isso é fato. Quando somos reconhecidos pelo que fizemos, a gente se sente super bem. Quando reconhecemos o que o outro fez por nós, também nos sentimos bem. No entanto, nada disso poderá ser forçado, carregado de cobranças, simplesmente porque nada do que tiver que acontecer por insistência tem muito valor.

Não precisamos ficar provando o nosso valor para os outros. Não merecemos ter que convencer as pessoas de que temos algo a oferecer, de que somos importantes para elas. O nosso coração tem que estar tranquilo e a nossa consciência tem que estar em paz. Se estivermos seguros em relação ao que somos, a aprovação alheia será irrelevante. Ajudemos e ofertemos o nosso melhor, sem esperar nada em troca, afinal, o bem que fizermos sempre ficará em nós também.

Caso a pessoa ajude esperando reconhecimento, muito provavelmente sofrerá e se decepcionará, afinal, nem todo mundo possui gratidão dentro de si. Nós geralmente nos decepcionamos porque esperamos que o outro faça por nós o que faríamos por ele, mas não é sempre assim. Algumas pessoas, inclusive, acham que temos a obrigação de ajudá-las, ou seja, ainda se voltarão contra nós na primeira oportunidade em que não pudermos ajudá-las.

E, caso fiquemos aguardando demonstrações explícitas de gratidão por parte das pessoas, iremos acumular muita mágoa dentro do peito. Então, uma ou outra hora, aquilo tudo que nos incomoda virá à tona, da pior forma possível, quando cobraremos reconhecimento por parte do outro, listando todas as vezes em que o ajudamos, acusando-o de ser ingrato e insensível. E provavelmente o faremos de uma maneira indelicada e ríspida.

É desanimador quando nada do que fazemos pela pessoa é reconhecido. Mas também é muito chato quando a pessoa joga na cara da gente algo que ela fez por nós e usa de chantagem emocional, para se sentir superior. Se a pessoa sempre age pensando no que receberá em troca, o problema é dela, as expectativas são dela. Ninguém tem a obrigação de corresponder às expectativas alheias. O natural é haver gratidão, mas sem cobranças. Continue fazendo o bem, afinal, ninguém perde por ajudar, perde quem acha que o mundo é seu empregado. Siga no bem, não tem erro.

*Por Marcel Camargo

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*Fonte: contioutra

Pensar é difícil, é por isso que as pessoas preferem julgar

“Pensar é difícil, é por isso que as pessoas preferem julgar “, escreveu Carl Gustav Jung. Na época da opinião, onde tudo é julgado e criticado, muitas vezes sem uma base sólida, sem uma análise prévia e sem um profundo conhecimento da situação, as palavras de Jung assumem maior destaque, tornando-se quase proféticas.

Julgar nos empobrece

Identificar o ato de pensar com o ato de julgar pode nos levar a viver em um mundo distópico mais típico dos cenários imaginados por George Orwell do que da realidade. Quando os julgamentos suplantam o pensamento, qualquer indício se torna evidência, a interpretação subjetiva torna-se uma explicação objetiva e a mera conjectura adquire uma categoria de evidência.

À medida que nos afastamos da realidade e entramos na subjetividade, corremos o risco de confundir nossas opiniões com os fatos, tornando-nos juízes incontestáveis – e bastante parciais – de outros. Essa atitude empobrece o que julgamos e empobrecemos como pessoas.

Quando estamos muito focados em nós mesmos, quando deixamos de acalmar o ego, e ele adquire proporções excessivas, ou simplesmente temos muita pressa para nos impedir de pensar, preferimos julgar. Adicionamos rótulos duplos para catalogar coisas, eventos e pessoas em um espectro limitado de “bom” ou “ruim”, tomando como medida de comparação nossos desejos e expectativas.

Agir como juízes não apenas nos afasta da realidade, mas também nos impede de conhecê-la – e desfrutá-la – em sua riqueza e complexidade, transformando-nos em pessoas hostis – e não muito empáticos. Toda vez que julgamos algo, simplificamos a expressão mínima e fechamos uma porta para o conhecimento. Nós nos tornamos mero animalis iudicantis.

Pensar é um ato enriquecedor

Na sociedade líquida em que vivemos, é muito mais fácil julgar, criticar rapidamente e passar para o próximo julgamento. O que não ressoa em nosso sistema de crenças nós julgamos como inútil ou estúpido e passamos para o seguinte. Na era da gratificação instantânea, o pensamento exige um esforço que muitos não estão dispostos – ou não querem – a assumir.

O problema é que os juízos são tarefas interpretativas que damos a eventos, coisas ou pessoas. Cada julgamento é um rótulo que usamos para atribuir um valor – profundamente tendencioso – já que é um ato subjetivo baseado em nossos preconceitos, crenças e paradigmas. Julgamos com base em nossas experiências pessoais, o que significa que muitas críticas são um ato mais emocional que racional, a expressão de um desejo ou uma decepção.

Pensar, pelo contrário, exija reflexão e análise. Mais uma dose de empatia com o que foi pensado. É necessário separar o emocional dos fatos, lançar luz sobre a subjetividade adotando uma distância psicológica essencial.

Para Platão, o homem sábio é aquele que é capaz de observar tanto o fenômeno quanto sua essência. Uma pessoa sábia é aquela que não apenas analisa as circunstâncias contingentes, que geralmente são mutáveis, mas é capaz de rasgar o véu da superficialidade para alcançar o mais universal e essencial.

Portanto, o ato de pensar tem um enorme potencial enriquecedor. Através do pensamento, tentamos chegar à essência dos fenômenos e das coisas. Vamos além do percebido, superamos essa primeira impressão para mergulhar nas causas, efeitos e relacionamentos mais profundos. Isso exige uma árdua atividade intelectual através da qual crescemos como pessoas e expandimos nossa visão de mundo.

Pensar significa parar. Fazer silêncio. Prestar atenção. Controle o impulso de julgar precipitadamente. Pesar as possibilidades. Aprofundar nas coisas, com racionalidade e da empatia.

O segredo está em “ser curioso, não crítico”, como disse Walt Whitman.

*Texto originalmente publicado no Rincon Psicología, livremente traduzido e adaptado pela equipe da Revista Saber Viver Mais

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*Fonte: sabervivermais

Vírus capaz de eliminar todos os tipos de câncer começa a ser testado em humanos

Cientistas projetaram um novo vírus, baseado na varíola bovina, capaz de eliminar todos os tipos conhecidos de células cancerígenas em uma placa de Petrie.

Verificou-se que o tratamento chamado CF33 encolhe tumores em camundongos e espera-se que seja testado em em outros pacientes com câncer no início do próximo ano.

Projetado pelo especialista em câncer dos EUA, o Professor Yuman Fong, o tratamento está sendo desenvolvido pela empresa de biotecnologia australiana Imugene, que licenciou a inovação.

O estudo, a ser realizado na Austrália e em outros países, registrará pacientes com câncer de mama triplo negativo, melanoma, câncer de pulmão, bexiga, câncer de estômago e intestino. Os pesquisadores acreditam que isso mostrará onde o tratamento é mais eficaz.

O professor Fong está esperançoso que o tratamentpo vá surtir efeitos em seres-humanos, porque uma série de outros vírus mais específicos para eliminar o câncer já estão se mostrando eficazes no combate ao câncer em humanos.

Cientistas americanos transformaram o vírus que causa o resfriado comum em um tratamento para combater o câncer no cérebro – em alguns pacientes o câncer desapareceu por anos antes de retornar, em outros ele encolheu consideravelmente os tumores.

Uma forma modificada do vírus da herpes está sendo usada para tratar o melanoma. Ajuda o sistema imunológico do corpo a reconhecer e destruir tumores e, em seguida, encontra outras células de melanoma por todo o corpo e as mata.
O professor Yuman Fong que projetou o vírus Foto: News360

O pesquisador australiano Tom John, do Instituto de Pesquisa de Câncer Olivia Newton John, testou recentemente outro tratamento contra vírus em combinação com a imunoterapia Keytruda em 11 pacientes com câncer de pulmão e 3 pacientes viram seus tumores encolherem.

O professor Fong disse que a varíola bovina é inofensiva em humanos e a misturou com vários outros vírus que os testes mostraram que poderiam matar o câncer.

O tratamento inovador fará com que os pacientes com câncer injetem o vírus diretamente em seus tumores, onde é esperado que infectem as células cancerígenas e as explodam.

Espera-se que o vírus alerte o sistema imunológico de que existem células cancerígenas no corpo e o leve a procurar e eliminar outras células doentes.

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*Fonte: psicologiasdobrasil

Como o coronavírus vai mudar nossas vidas: dez tendências para o mundo pós-pandemia

A Covid-19 mudou nossas vidas. Não estou falando aqui simplesmente da alteração da rotina nesses dias de isolamento, em que não podemos mais fazer caminhadas no Minhocão ou ir aos nossos bares e restaurantes preferidos. Sim, tudo isso mudou nosso cotidiano —e muito. Mas o meu convite para você é para pensarmos nas mudanças mais profundas, naquelas transformações que devem moldar a realidade à nossa volta e, claro, as nossas vidas depois que o novo coronavírus baixar a bola. Por isso talvez seja melhor mudar o tempo verbal da frase que abre este texto e dizer que o coronavírus vai mudar as nossas vidas. Mas como? Que cenários prováveis já começam a emergir e devem se impor no mundo pós-pandemia?

O mundo pós-pandemia será diferente

Entender que mundo novo é esse é importante para nos prepararmos para o que vem por aí. Porque uma coisa é certa: o mundo não será como antes, conforme nos alertou o biólogo Átila Iamarino.

“O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronavírus) não existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou essa nova realidade”, disse nesta entrevista para a BBC Brasil Átila, que é doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Universidade Yale. “Mudanças que o mundo levaria décadas para passar, que a gente levaria muito tempo para implementar voluntariamente, a gente está tendo que implementar no susto, em questão de meses”, diz ele.

Pandemia marca o fim do século 20

Ainda nessa linha, havia uma visão entre especialistas de que faltava um símbolo para o fim do século 20, uma época altamente marcada pela tecnologia. E esse marco é a pandemia do coronavírus, segundo a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, professora da Universidade de São Paulo e de Princeton, nos EUA, em entrevista ao Universa. “[O historiador britânico Eric] Hobsbawm disse que o longo século 19 só terminou depois da Primeira Guerra Mundial [1914-1918]. Nós usamos o marcador de tempo: virou o século, tudo mudou. Mas não funciona assim, a experiência humana é que constrói o tempo. Ele tem razão, o longo século 19 terminou com a Primeira Guerra, com mortes, com a experiência do luto, mas também o que significou sobre a capacidade destrutiva. Acho que essa nossa pandemia marca o final do século 20, que foi o século da tecnologia. Nós tivemos um grande desenvolvimento tecnológico, mas agora a pandemia mostra esses limites”, diz Lilia.

Coronavírus, um acelerador de futuros

Vários futuristas internacionais dizem que o coronavírus funciona como um acelerador de futuros. A pandemia antecipa mudanças que já estavam em curso, como o trabalho remoto, a educação a distância, a busca por sustentabilidade e a cobrança, por parte da sociedade, para que as empresas sejam mais responsáveis do ponto de vista social.

Outras mudanças estavam mais embrionárias e talvez não fossem tão perceptíveis ainda, mas agora ganham novo sentido diante da revisão de valores provocada por uma crise sanitária sem precedentes para a nossa geração. Como exemplos, podemos citar o fortalecimento de valores como solidariedade e empatia, assim como o questionamento do modelo de sociedade baseado no consumismo e no lucro a qualquer custo.

“A vida depois do vírus será diferente”, disse ao site Newsday a futurista Amy Webb, professora da Escola de Negócios da Universidade de Nova York. “Temos uma escolha a fazer: queremos confrontar crenças e fazer mudanças significativas para o futuro ou simplesmente preservar o status quo?”

Efeitos do coronavírus devem durar quase dois anos

As transformações são inúmeras e passam pela política, economia, modelos de negócios, relações sociais, cultura, psicologia social e a relação com a cidade e o espaço público, entre outras coisas.

O ponto de partida é ter consciência de que os efeitos da pandemia devem durar quase dois anos, pois a Organização Mundial de Saúde calcula que sejam necessários pelo menos 18 meses para haver uma vacina contra o novo. Isso significa que os países devem alternar períodos de abertura e isolamento durante esse período.

Diante dessa perspectiva, como ficam as atividades de lazer, cultura, gastronomia e entretenimento no centro e em toda a cidade durante esse período? O que mudará depois? São questões ainda em aberto, mas há sinais que nos permitem algumas reflexões.

Para entender essas e outras questões e identificar os prováveis cenários, procurei saber que tendências os futuristas, pesquisadores e bureaus de pesquisas nacionais e internacionais estão traçando para o mundo pós-pandêmico. A partir dessas leituras e também de um olhar para as questões que dizem respeito ao centro de São Paulo e à vida urbana em geral, fiz uma lista com algumas dessas tendências, que você pode ler a seguir.
Confira as 10 tendências para o mundo pós-pandemia

1. Revisão de crenças e valores

A crise de saúde pública é definida por alguns pesquisadores como um reset, uma espécie de um divisor de águas capaz de provocar mudanças profundas no comportamento das pessoas. “Uma crise como essa pode mudar valores”, diz Pete Lunn, chefe da unidade de pesquisa comportamental da Trinity College Dublin, em entrevista ao Newsday.

“As crises obrigam as comunidades a se unirem e trabalharem mais como equipes, seja nos bairros, entre funcionários de empresas, seja o que for… E isso pode afetar os valores daqueles que vivem nesse período —assim como ocorre com as gerações que viveram guerras”.

Já estamos começando a ver esses sinais no Brasil —e no centro de São Paulo, com vários exemplos de pessoas que se unem para ajudar idosos, por exemplo.

2. Menos é mais

A crise financeira decorrente da pandemia por si só será um motivo para que as pessoas economizem mais e revejam seus hábitos de consumo. Como diz o Copenhagen Institute for Futures Studies, a ideia de “menos é mais” vai guiar os consumidores daqui para frente.

Mas a falta de dinheiro no momento não será o único motivo. As pessoas devem rever sua relação com o consumo, reforçando um movimento que já vinha acontecendo. “Consumir por consumir saiu de ‘moda’”, escreve no site O Futuro das Coisas Sabina Deweik, mestre em comunicação semiótica pela PUC e pesquisadora de comportamento e tendências.

O outro lado desse processo é um questionamento maior do modelo de capitalismo baseado pura e simplesmente na maximização dos lucros para os acionistas. “O coronavírus trouxe para o contexto dos negócios e para o contexto pessoal a necessidade de revisitar as prioridades. O que antes em uma organização gerava resultados financeiros, persuadindo, incentivando o consumo, aumentando a produção e as vendas, hoje não funciona mais”, diz Sabina.

“Hoje, faz-se necessário pensar no valor concedido às pessoas, no impacto ambiental, na geração de um impacto positivo na sociedade ou no engajamento com uma causa. Faz-se necessário olhar definitivamente com confiança para os colaboradores já que o home office deixou de ser uma alternativa para ser uma necessidade. Faz-se necessário repensar a sociedade do consumo e refletir o que é essencial.”

3. Reconfiguração dos espaços do comércio

A pandemia vai acentuar o medo e a ansiedade das pessoas e estimular novos hábitos. Assim, os cuidados com a saúde e o bem-estar, que estarão em alta, devem se estender aos locais públicos, especialmente os fechados, pois o receio de locais com aglomeração deve permanecer.

“Quando as pessoas voltarem a frequentar espaços públicos, depois do fim das restrições, as empresas devem investir em estratégias para engajar os consumidores de modo profundo, criando locais que tragam a eles a sensação de estar em casa”, diz um relatório da WGSN, um dos maiores bureaus de pesquisas de tendências do mundo.

Eis um ponto de atenção para bares, restaurantes, cafeterias, academias e coworkings, que devem redesenhar seus espaços para reduzir a aglomeração e facilitar o acesso a produtos de higiene, como álcool em gel. Os espaços compartilhados, como coworkings, têm um grande desafio nesse novo cenário.

4. Novos modelos de negócios para restaurantes

Uma das dez tendências apontadas pelo futurista Rohit Bhatgava é o que ele chama de “restaurantes fantasmas”, termo usado para descrever os estabelecimentos que funcionam só com delivery. Como a possibilidade de novas ondas da pandemia num futuro próximo, o setor de restaurantes deve ficar atento a mudanças no seu modelo de negócios, e o serviço de entrega vai continuar em alta e pode se tornar a principal fonte de receita em muitos casos.

5. Experiências culturais imersivas

Como resposta ao isolamento social, os artistas e produtores culturais passaram a apostar em shows e espetáculos online, assim como os tours virtuais a museus ganharam mais destaque. Esse comportamento deve evoluir para o que se pode chamar de experiências culturais imersivas, que tentam conectar o real com o virtual a partir do uso de tecnologias que já estão por aí, mas que devem se disseminar, como a realidade aumentada e virtual, assistentes virtuais e máquinas inteligentes.

De acordo com o estudo Hype Cycle, da consultoria internacional Gartner, as experiências imersivas são uma das três grandes tendências da tecnologia. Destacamos aqui a área cultural, mas isso também se estende a outros setores, como esportes, viagens a varejo, conforme indica o relatório A Post-Corona World, produzido pela Trend Watching, plataforma global de tendências.

6. Trabalho remoto

O home office já era uma realidade para muita gente, de freelancers e profissionais liberais a funcionários de companhias que já adotavam o modelo. Mas essa modalidade vai crescer ainda mais. Com a pandemia, mais empresas —de diferentes portes— passaram a se organizar para trabalhar com esse modelo. Além disso, o trabalho remoto evita a necessidade de estar em espaços com grande aglomeração, como ônibus e metrôs, especialmente em horários de pico.

7. Morar perto do trabalho

Essa já era uma tendência, e morar no centro de São Paulo se tornou um objeto de desejo para muitas pessoas justamente por conta disso, entre outros motivos. Mas, com o receio de novas ondas de contágio, morar perto do trabalho, a ponto de ir a pé e não usar transporte público, deve se tornar um ativo ainda mais valorizado.

8. Shopstreaming

Com o isolamento social, as lives explodiram, principalmente no Instagram. As vendas pela Internet também, passando a ser uma opção também para lojas que até então se valiam apenas do local físico. Pois pense na junção das coisas: o shopstreaming é isso. Uma versão Instagram do antigo ShopTime.

9. Busca por novos conhecimentos

Num mundo em constante e rápida transformação, atualizar seus conhecimentos é questão de sobrevivência no mercado (além de ser um prazer, né?). Mas a era de incertezas aberta pela pandemia aguçou esse sentimento nas pessoas, que passam, nesse primeiro momento, a ter mais contato com cursos online com o objetivo de aprender coisas novas, se divertir e/ou se preparar para o mundo pós-pandemia. Afinal, muitos empregos estão sendo fechados, algumas atividades perdem espaço enquanto outros serviços ganham mercado.

10. Educação a distância

Se a busca por conhecimentos está em alta, o canal para isso daqui para frente será a educação a distância, cuja expansão vai se acelerar. Neste contexto, uma nova figura deve entrar em cena: os mentores virtuais. A Trend Watching aposta que devem surgir novas plataformas ou serviços que conectam mentores e professores a pessoas que querem aprender sobre diferentes assuntos.

*Por Clayton Melo

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*Fonte: elpais

Sem educação emocional, não adianta saber resolver equações – Alerta um professor

Os jovens com maior domínio de suas emoções têm melhor desempenho acadêmico, maior capacidade de cuidar de si e dos outros, predisposição para superar as adversidades e menor probabilidade de se engajar em comportamentos de risco.

De acordo com Rafael Guerrero, que é um dos poucos professores da Universidade Complutense de Madrid a ensinar seus alunos de Magistério, que serão futuros professores, as técnicas da educação emocional..

Ele o faz voluntariamente porque o programa acadêmico dos mestrados em Educação Infantil e Primária de Bolonha não inclui nenhum assunto com esse nome.

“Muitos dos problemas dos adultos se devem às dificuldades em regular as emoções e isso não é ensinado na escola”, explica Guerrero.

Trata-se de ensinar futuros professores a entender e regular suas próprias emoções para que possam direcionar crianças e adolescentes nessa mesma tarefa.

“Meus alunos me dizem que ninguém lhes ensinou como se regular emocionalmente e que desde jovens, quando tinham que enfrentar um problema, se trancavam em uma sala para chorar, essa era a maneira deles de se acalmar”, diz o professor.

Insegurança, baixa auto-estima e comportamentos compulsivos são algumas das conseqüências da falta de ferramentas para gerenciar emoções.

“Quando atingem a idade adulta, eles têm dificuldade em se adaptar ao ambiente, tanto ao trabalho quanto às relações pessoais. Temos que começar a treinar professores com a capacidade de treinar crianças no domínio de seus pensamentos “.

Sem educação emocional, não serve saber como resolver equações O cérebro precisa ficar animado para aprender

Inteligência emocional é a capacidade de sentir, entender, controlar e modificar o humor de si mesmo e dos outros, de acordo com a definição daqueles que cunharam o termo no início dos anos 90, os psicólogos da Universidade de Yale Peter Salovey e John Mayer.

A inteligência emocional é traduzida em habilidades práticas, como a habilidade de saber o que acontece no corpo e o que sentimos, o controle emocional e o talento para nos motivar, assim como empatia e habilidades sociais.

“Quando pensamos no sistema educacional, acreditamos que o importante é a transmissão de conhecimento de professor para aluno, ao qual ele dedica 90% do tempo. O que há de errado com o equilíbrio emocional? Quem fala disso na escola? ”, Diz Rafael Bisquerra, diretor do Programa de Pós-Graduação em Educação Emocional da UB e pesquisador do GROP.

Os jovens com maior domínio de suas emoções apresentam melhor desempenho acadêmico, maior capacidade de cuidar de si e dos outros, predisposição para superar as adversidades e menor probabilidade de se engajar em comportamentos de risco – como o uso de drogas -, segundo a resultados de diversos estudos publicados pelo GROP.

“A educação emocional é uma inovação educacional que responde às necessidades que os assuntos acadêmicos comuns não cobrem.”

“O desenvolvimento de competências emocionais pode ser mais necessário do que saber como resolver equações de segundo grau “, diz Bisquerra.

Os objetivos da educação emocional, de acordo com as diretrizes de Bisquerra, são adquirir um melhor conhecimento das próprias emoções e dos outros, para prevenir os efeitos nocivos das emoções negativas – o que pode levar a problemas de ansiedade e depressão -, e desenvolver a capacidade de gerar emoções positivas e auto-motivação.

*Por Rafael Guerrero

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*Fonte: pensarcontemporaneo

“Pessoas felizes não precisam consumir”, a afirmação brutal do filósofo Serge Latouche

O ideólogo do decrescimento analisa como nossa sociedade criou uma religião em torno do crescimento e do consumismo.

Nascido em Vannes (França) há 70 anos, diante de uma platéia que escutava sentada nos corredores de acesso ao salão do Colegio Larraona de Pamplona, ​​salientando que o ritmo atual de crescimento da economia global é tão insustentável como a deterioração e a falta de recursos no planeta.

Convidados pelo coletivo Dale Vuelta-Bira Beste Aldera, sob o título de sua palestra “A diminuição, uma alternativa ao capitalismo?”, Ele afirmou que a sociedade estabelecesse uma autolimitação do seu consumo e exploração ambiental. Do seu ponto de vista, não se trata de propor uma involução, mas de acoplar a velocidade do gasto dos recursos naturais com a sua regeneração.

Especialista em relações econômicas Norte/Sul, o prêmio europeu de sociologia e ciências sociais Amalfi, seu movimento decrescentista, nascido nos anos 70 e estendido na França, defende a sobriedade na vida e a preservação dos recursos naturais antes de sua exaustão.

Em sua opinião, se a queda não for controlada, “a queda que já estamos experimentando” será o resultado do colapso de uma forma insustentável de capitalismo, e também será excessiva e traumática.

Uma bomba semântica. Serge Latouche afirma que o termo decrescimento é um slogan, “uma bomba semântica causada para neutralizar a intoxicação do chamado desenvolvimento sustentável”, uma forma de pensar, sustentabilidade, estendida pelo economismo liberal dos anos 80, e que favorece o pagamento de tudo.

“Por exemplo, no caso do trigo, obriga-nos a pagar pelo excedente, pelo seu armazenamento e também temos de pagar para destruir o excedente.”

“Devemos falar sobre o A-crescimento”, ele disse como um convite para refletir sobre nosso estilo de vida, incluindo a exibição do supérfluo e do enriquecimento excessivo.

Do seu ponto de vista “vivemos fagotizados pela economia da acumulação que leva à frustração e a querer o que não temos e não precisamos”, o que, diz ele, leva a estados de infelicidade.

“Detectamos um aumento de suicídios na França em crianças”, acrescentou ele, para referir-se à concessão por bancos de empréstimos ao consumidor para pessoas sem salários e ativos, como aconteceu nos Estados Unidos no início da crise econômica global. . Para o professor Latouche, “pessoas felizes geralmente não consomem”.

Seus números como economista dizem que ele está certo: todos os anos há mais habitantes no planeta, enquanto os recursos estão diminuindo, sem esquecer que consumir significa produzir resíduos e que o impacto ambiental de uma pessoal equivale a 2,2 hectares, e que a cada ano 15 milhões de hectares de floresta são consumidos “essenciais para a vida”.

“E se vivemos nesse ritmo, é porque a África permite isso”, enfatizou. Para o professor Latouche, qualquer tipo de escassez, alimentos ou petróleo, levará à pobreza da maioria e ao maior enriquecimento das minorias representadas nas grandes empresas petrolíferas ou agroalimentares.

Trabalhe menos e produza de forma inteligente.

Tachado de ingênuo por seus detratores, postulou trabalhar menos e distribuir melhor o emprego, mas trabalhar menos para viver e cultivar mais a vida, insistiu.

A partir de um projeto qualificado como “ecossocialista”, além de consumir menos, a sociedade deve consumir melhor, para qual propos que se produzisse perto de onde mora e de forma ecológica evitar que por qualquer fronteira entre Espanha e França circule até 4 mil caminhões uma semana “com tomates da Andaluzia cruzando com tomates holandeses”.

Ele terminou com um louvor ao estoicismo representada em Espanha por Seneca: “A felicidade não é alcançada se não podemos limitar nossos desejos e necessidades.”

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*Fonte:

Crise hídrica pode assolar o Brasil em 2030, afetando milhões de pessoas

Em 2030, aumento da demanda de água poderá conduzir milhões de brasileiros a uma crise hídrica, aponta relatório.

No dia Mundial da Água (22/3), a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) lançou o relatório temático “Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil”. O Brasil é o país com a maior reserva mundial de água, concentrando 12% da disponibilidade hídrica superficial do planeta, vastos reservatórios de água subterrânea e uma circulação atmosférica que distribui umidade entre diversas regiões, sendo capaz de regular o clima de todo o continente sul-americano. Embora a pujança neste recurso, o estudo aponta que diferenças regionais e o mal-uso causam escassez e baixa qualidade da água no país. De acordo com o documento, em 2030, a demanda de água terá aumentado 2000% em relação aos últimos 100 anos, o que conduziria milhões de brasileiros a uma crise hídrica, caso nenhuma ação seja tomada.

A economia brasileira é extremamente dependente de seus recursos hídricos e da biota aquática. Cerca de 65% da energia no país é gerada por meio de usinas hidrelétricas e a agricultura, que contribui com 25% do PIB nacional, consome aproximadamente 750 mil litros de água por segundo, sem considerar o abastecimento humano e o uso da água pela indústria. O estudo aponta que a distribuição e a demanda são muito desiguais no país pelos mais diferentes aspectos, tais como ocorrência de secas, inundações, ameaças à biodiversidade, aplicação de instrumentos políticos, além do monitoramento da qualidade e quantidade das águas superficiais e subterrâneas.

O relatório foi preparado por 17 especialistas vinculados a instituições públicas e privadas de diversos setores relacionados à temática. No documento são apontadas as principais ameaças (mudanças climáticas, mudanças no uso do solo, fragmentação de ecossistemas e poluição) e direções para um melhor manejo e conservação dos recursos hídricos no país (mudanças na gestão, integração entre agências e setores envolvidos e desenvolvimento de estratégias de conservação focadas nos múltiplos usos da água).

O trabalho aborda a questão da água sob a dimensão de sua importância como recurso hídrico, mas também como um componente-chave da biodiversidade. Estima-se que cerca de 40% do território nacional possua níveis de moderado a elevado para a biodiversidade aquática. Cerca de 10% das espécies de peixes continentais está sob risco de extinção e mais de 50% das espécies identificadas como ameaçadas no país são de peixes e invertebrados aquáticos. O diagnóstico é acompanhado pelo Sumário para Tomadores de Decisão, documento que traz as principais informações-chave para gestores púbicos e privados.

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*Fonte: socientifica

Sentindo-se mais cansado do que o habitual durante a quarentena? Os psicólogos explicam por que

Muitas pessoas estão publicando nas redes sociais dizendo que se sentem mais cansadas do que o habitual em tempos de quarentena. Muitos estão indo dormir mais tarde do que de costume. Muitos estão se perguntando como pode isso se estão fazendo menos coisas.

Os sentimentos de fadiga que você está enfrentando têm mais probabilidade de estar relacionados à carga de trabalho mental associada ao COVID-19 do que à carga física. A fadiga pode ter causas físicas e não físicas. Depois de concluirmos uma corrida de 5 quilômetros, merecemos um descanso, ou após uma doença, podemos nos sentir esgotados e cansados ​​por algumas semanas.

Mas pesquisas também mostraram que o cansaço pode ser causado por estados psicológicos, como estresse e ansiedade. Na situação atual, pode até ser a monotonia da situação que nos faz sentir cansados.

Portanto, lidar com a tensão psicológica associada ao coronavírus pode estar nos esgotando. Então, como vamos recuperar nossa energia?

As fases do ajuste

Quando analisamos grandes mudanças, como estudantes que ingressam na universidade ou pessoas que se mudam para um novo país, é necessário um período de adaptação e transição. Isso leva tempo e vem em fases.

A primeira semana de adaptação envolve se desvincular dos modos anteriores de viver e trabalhar e estabelecer novas interações. Estes são geralmente alcançados no quarto ou quinto dia, após o qual a vida começa a se tornar mais estável e previsível.

As pessoas nas primeiras semanas de quarentena podem sentir-se diminuídas e podem ficar sentimentais. Este é um estágio de adaptação normal. Por favor, não se preocupe muito, mas tenha certeza de que isso passará para a maioria das pessoas e na próxima semana você se sentirá melhor.

A transição para um novo ambiente pode ser ajudada escrevendo um diário reflexivo. Pode ser útil anotar seus pensamentos e sentimentos. Você pode revisar seu progresso e ver como se ajusta.

A adaptação funcional completa a um novo modo de vida ocorrerá após cerca de três meses. No entanto, existe um período em que isso pode ocorrer três semanas após o início, quando uma pessoa pode sucumbir abruptamente a um período de melancolia.

A preocupação nesse caso pode ser que a situação de quarentena tenha se tornado permanente. Mas depois que essa fase passa, esses sentimentos de desânimo tendem a não voltar.

Priorizando o planejamnrto

A próxima lição sobre como manter sua energia vem da observação de pessoas em situações de sobrevivência. Para evitar um desvio para um estado de apatia e se sentir desanimado e desmotivado, é importante estabelecer uma estrutura clara para o seu dia.

Planejamento nos permite ganhar algum controle sobre nossas vidas. Isso ajuda a evitar um acúmulo de tempo “vazio” que pode torná-lo muito consciente do confinamento e causar uma sensação crescente de “desvio”. Isso pode fazer as pessoas se sentirem retraídas e apáticas, dormirem mal e negligenciarem sua higiene pessoal.

Um caso extremo do mundo da sobrevivência mostra os benefícios da estrutura quando de repente nos deparamos com tempo para preencher. Em 1915, quando o navio Endurance, de Sir Ernest Shackleton, ficou preso no gelo antártico, impôs rotinas rígidas à sua tripulação.

Ele estava ciente de um navio de expedição anterior, o RV Belgica, que ficou preso durante o inverno no gelo antártico em 1898. O capitão não estabeleceu nenhuma rotina e, como resultado, a tripulação sofria de baixa estima.

Shackleton insistiu em refeições rigorosas e ordenou que todos fizessem alguma ativada recreativa. Essas atividades programadas impediram uma monotonia social que pode ocorrer quando um pequeno grupo de pessoas fica confinado por períodos significativos.

Portanto, embora possa parecer bom ter uma manhã estranha, é melhor que seus níveis de energia configurem seu dia com uma estrutura clara e reservem tempo para atividades sociais, mesmo que elas precisem ser realizadas online.

Outra causa não-física de fadiga é a ansiedade. A pandemia deixou as pessoas confusas e incertas e deu uma certa sensação de apreensão. Todos esses sentimentos podem levar à má qualidade do sono, que por sua vez pode tornar as pessoas mais cansadas e ansiosas.

Para quebrar esse ciclo, o exercício é uma ferramenta útil. Indo para uma caminhada ou fazendo uma aula de exercícios online pode fazer você se sentir fisicamente cansado, mas, a longo prazo, reduzirá a sensação de fadiga à medida que sua qualidade do sono melhorar.

Planejar com antecedência e estabelecer metas agora é possível e necessário. Procure uma data futura definida para a liberação da quarentena, mas esteja preparado para redefinir essa data conforme necessário. Ser otimista em relação ao futuro e ter coisas para esperar também pode ajudar a reduzir a ansiedade e a fadiga.

*Por Ademilson Ramos

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*Fonte: engenhariae

Chomsky: “coronavírus é algo sério o suficiente, mas há algo mais terrível se aproximando”

Do Dossiersul – Acompanhe, entrevista do filósofo e linguista americano Noam Chomsky. Hoje com 92 anos e tendo vivido como testemunha muitos dos grandes fatos que marcaram o século XX e o início do XXI, ele analisa o cenário da crise do coronavírus e traça um quadro nada animador para os próximos anos. No entanto, cita que o isolamento social destes tempos deve ser usado para fortalecer os laços sociais e desenvolver projetos de resistência. A entrevista foi concedida no fim de março de 2020, uma conversa com o filósofo e co-fundador do DiEM25, Srecko Horvat. Acompanhe.

Srecko Horvat: Você nasceu em 1928 e escreveu seu primeiro ensaio quando tinha 10 anos de idade sobre a Guerra Civil Espanhola, após a queda de Barcelona em 1938, o que parece bem distante. Sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, testemunhou Hiroshima e muitos eventos históricos e políticos importantes, da Guerra do Vietnã, a crise do preço do petróleo, a queda do muro de Berlin, Chernobyl, testemunhou o momento histórico que levou ao 11 de setembro e o crash financeiro de 2007/2008. Com esse background e sendo um ator da maioria desses processos, como vê a atual crise do coronavírus, algo sem precedente histórico. Surpreende você? Como observa isso tudo?

Noam Chomsky: Devo dizer que as memórias mais tenras que me assombram agora são dos anos 1930, o artigo que você mencionou sobre a queda de Barcelona foi sobre, aparentemente, a inexorável propagação da praga fascista sobre a Europa e como chegou ao fim. Descobri muito mais tarde, quando os documentos internos vieram à publico que os analistas do governo americano, na época e nos anos seguintes esperavam que a guerra terminasse com mundo dividido entre regiões dominadas pelos EUA e uma região dominada pela Alemanha.

Meus medos infantis não estavam completamente errados. E essas memórias voltam agora. Quando era criança, posso lembrar, ouvindo comício de Hitler em Nuremberg no rádio, podia não compreender as palavras, mas podia facilmente entender o clima daquilo tudo, e tenho que dizer que quando escuto os discursos de Trump hoje, soa algo parecido. Não que ele seja fascista, não tem muito de uma ideologia, é apenas um sociopata, um indivíduo preocupado consigo mesmo, mas o clima e o medo é similar e a ideia de que o destino do país e do mundo está nas mãos de um sociopata bufão é chocante.

O coronavírus é algo sério o suficiente, mas vale lembrar que há algo muito mais terrível se aproximando, estamos correndo para o desastre, algo muito pior que qualquer coisa que já aconteceu na história da humanidade e Trump e seus lacaios estão à frente disso, na corrida para o abismo. De fato, há duas ameaças imensas que estamos encarando. Uma é a crescente ameaça de guerra nuclear, exacerbada pela tensão dos regimes militares e claro pelo aquecimento global. Ambas podem ser resolvidas, mas não há muito tempo e o coronavírus é terrível e pode ter péssimas consequências, mas será superado, enquanto as outras não serão. Se nós não resolvermos isso, estaremos acabados. As memórias da infância continuam voltando para me assustar, mas em uma dimensão diferente. A ameaça de guerra nuclear não fazia sentido com o mundo onde está, mas olhando para o passado recente, em janeiro, o relógio do juízo final é ajustado a cada ano com os ponteiros dos minutos a uma certa distância da meia noite, que seria o fim. Desde que Trump foi eleito, o ponteiro tem se movido para mais perto da meia noite. Ano passado estava a dois minutos da meia noite. O mais próximo já alcançado. Esse ano os analistas retiraram os “minutos” e movem agora o ponteiro em segundos, 100 segundos para a meia noite, o mais próximo que já estivemos. Observando três questões: A ameaça da guerra nuclear, a ameaça do aquecimento global e a deterioração da democracia, essa última que não está tendo espaço aqui, mas é a única esperança que temos para a superação da crise. Para que as pessoas tenham controle sobre seu destino, se isso não acontecer, estamos condenados.

Se deixarmos nosso destino com sociopatas bufões, será o fim. E isso está próximo, Trump é o pior, por causa do poder dos EUA, que é esmagador. Estamos falando do declínio dos EUA, mas você olha para o mundo e não vê quando os EUA impõem sanções, assassinatos, sanções devastadoras, é o único país que pode fazer isso, mas todo mundo tem de segui-lo. A Europa pode não gostar das ações odiosas contra o Irã, mas tem que acompanhar, deve seguir o mestre, ou será chutada do sistema financeiro internacional. Não é uma lei da natureza, é uma decisão na Europa estar subordinada ao mestre em Washington, outros países não tem nem tem mesmo como escolher. Voltando ao coronavírus, um dos mais chocantes e severos aspectos disso, é o uso de sanções para maximizar a dor, intencionalmente, o Irã está em uma zona com enormes problemas internos pelo estrangulamento do arrocho das sanções, que são intencionalmente desenhadas, para fazer sofrer mais e mais agora. Cuba vem sofrendo, desde o momento em que ganhou sua independência, mas é surpreendente que tenha sobrevivido, mas ficaram resilientes e um dos elementos mais irônicos desta crise do vírus, é que Cuba está ajudando a Europa. Quero dizer, isso é tão chocante, que você não sabe como descrevê-lo. Que a Alemanha não pode ajudar a Grécia, mas Cuba pode ajudar a Europa. Se você parar pra pensar sobre o que significa isso, todas as palavras não servirão. Quando você vê milhares de pessoas morrendo no Mediterrâneo, fugindo de uma região que foi devastada por séculos e sendo enviadas para morrrer ali, você não sabe que palavras usar. A crise civilizacional do ocidente neste ponto é devastadora, pensar nisso e trazer memórias de infância de ouvir Hitler no radio enrouquecer as multidões, faz você pensar se esta espécie é mesmo viável.

Você mencionou a crise da democracia. Neste momento acho que devemos nos encontrar em um momento sem precedentes no sentido de que cerca de 2 bilhões de pessoas estão de uma forma ou de outra confinadas em casa, em isolamento, auto-isolamento ou quarentena. Ao mesmo tempo o que nós podemos observar é que a Europa, mas também outros países perto de suas fronteiras, internas ou externas, há um estado de exceção em todos os países em que possamos pensar, em regressão em lugares como França, Servia, Espanha, Itália e outros, exército nas ruas… e quero perguntar a você como linguista. A linguagem que circula nesse momento: Ouvindo não apenas Trump, se você ouvir Macron ou alguns outros políticos europeus, constantemente escutará que eles falam sobre Guerra. Mesmo na mídia se fala sobre “frontliners” e o vírus sendo tratado como inimigo. O que me lembra também Victor Klemperer em “Lingua Tertii Imperii”, livro em que falou da linguagem do Terceiro Reich e como a linguagem e a ideologia foram impostas. Sob sua perspectiva , o que esse discurso sobre guerra representa, para legimitar um estado de exceção, ou algo mais profundo neste discurso?

Eu penso que não é exagero. O significado é se nós lidamos com a crise, estamos nos movendo para uma mobilização como as de tempos de guerra. Se você pensar, pegue um país rico, como os Estados Unidos que tem recursos para superar a questão econômica de imediato. A mobilização para a 2ª guerra Mundial deixou o país com uma grande dívida que está completamente saldada hoje e a mobilização foi bem sucedida, praticamente quadruplicou a indústria dos Estados Unidos, acabou com a depressão e deixou o país com mais capacidade para crescer.

Isso é menos do que precisamos provavelmente, não naquela escala, isso não é uma guerra mundial, mas nós precisamos da mentalidade desse movimento, nessa crise que essa é severa aqui nós também podemos lembrar da epidemia da gripe suína em 2009, originada nos Estados Unidos. Centenas de milhares de pessoas se recuperaram do pior, mas tem que lidar com isso em um país rico como os Estados Unidos.

Agora dois bilhões de pessoas, a maioria está na Índia. O que acontece para os indianos, eles vivem “da mão para a boca”, estão isolados e morrem de fome. O que irá acontecer? Em um mundo civilizado os países ricos dariam assistência, aqueles que estivessem em necessidade ao invés de estrangulá-los, que é o que estamos fazendo particularmente na Índia e em muitos dos países no mundo.

Se a atual tendência persiste no sul da Ásia, se tornará inabitável em poucas décadas. A temperatura alcançou 50 graus no Rajastão, neste verão está aumentando. A questão das águas agora pode piorar, há dois núcleos de poder que irão lutar por recursos reduzidos de água. Eu digo que que o coronavírus é muito sério, nós não podemos subestima-lo, mas nós temos que lembrar que isso é uma pequena fração da crise que está vindo. Pode talvez não ameaçar a vida o que o coronavírus faz hoje mas, (tais fatos) irão perturbar a vida ao ponto de tornar a espécie inviável em um futuro não muito distante.

Então nós temos que lidar com muitos problemas, problemas imediatos, o coronavírus é sério, como muitos outros maiores, vastamente maiores, e que são eminentes. Agora há uma crise civilizacional, temos que ver o lado bom do coronavírus, o que pode fazer as pessoas pensarem sobre que tipo de mundo nós queremos? Nós queremos um mundo que nos leva a isso? Devemos pensar sobre a origem desta crise, por quê há uma crise do coronavírus? É uma falha colossal do mercado, leva direto a essência dos mercados exacerbados pelo neoliberalismo selvagem, a intensificação neoliberal, os problemas socioeconômicos. Isso era sabido há muito tempo, que a pandemia era muito provável, entendemos muito bem a probabilidade da pandemia do coronavírus, uma modificação epidemia da SARS, que foi superado há 15 anos atrás, o vírus foi identificado, sequenciado, vacinas estavam disponíveis, laboratórios ao redor do mundo poderiam trabalhar diretamente em desenvolver uma proteção para uma potencial pandemia do coronavírus.

Por que não fizeram isso? As companhias farmacêuticas. Nós temos entregado nosso destino a tiranias privadas, corporações, que são inexplicadas para o público, nesse caso, o Big Farma. Para eles fazer novos cremes corporais é mais lucrativo do que encontrar uma vacina que proteja as pessoas da destruição total. É possível para o governo entrar nisso, voltar às mobilizações dos tempos de guerra, foi o que o que aconteceu com a pólio naquele tempo, eu posso me lembrar muito bem, a terrível ameaça que foi extinta pela descoberta da vacina Salk, por uma instituição do governo, apoiada pela administração Roosevelt. Sem patentes, disponível a todos. Que pode ser feito agora, mas a praga neoliberal bloqueia isso. Estamos vivendo sobre uma ideologia para qual os economistas tem uma boa parte de responsabilidade, que vem do setor corporativo. Uma ideologia que é tipificada por aquilo que Ronald Reagan colocou no script, pelo seu Mestres corporativos com seus sorrisos reluzentes, dizendo que governo é o problema. Vamos nos livrar do governo que quer dizer “vamos deixar as decisões nas mãos das tiranias privadas que não tem responsabilidade com o público”. Do outro lado do Atlântico Margaret Thatcher nos mostra que há uma sociedade, em que apenas indivíduos jogados dentro do mercado podem sobreviver de alguma forma e para além disso não há alternativa. O mundo tem sofrido sob o poder dos ricos por anos, e agora é o ponto onde as coisas podem estar acabadas. Com intervenção direta do governo no escopo da invenção da vacina salk, mas que é bloqueado por razões ideológicas da praga neoliberal e o ponto é que essa epidemia de coronavírus poderia ter sido prevenida.

A informação estava ali para ser lida era bem conhecida em outubro de 2019 logo antes do surto. Houve uma grande simulação em escala nos Estados Unidos para uma possível pandemia Mundial deste tipo. Nada foi feito, agora a crise ficou bem pior pela traição do sistema político. Nós não prestamos atenção a informação que estavam cientes em 31 de dezembro, a China informou À OMS sobre uma pneumonia com sintomas com etiologia desconhecida. Uma semana depois eles identificaram, alguns cientistas chineses, como um coronavírus, também sequenciaram e deram a informação ao mundo pelos seus virologistas, outros que ficaram incomodados em ler o report da OMS. Os países naquela área, China, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura começaram a fazer algo e contiveram o surgimento da crise. Na Europa o que aconteceu, Alemanha foi capaz de agir de maneira egoísta, não ajudando os outros. Outros países apenas ignoraram. Um dos piores deles o Reino Unido e o pior de todos, os Estados Unidos, que disseram um dia que não havia crise, diziam “ser apenas uma gripe”, e no dia seguinte era uma terrível crise, que sabiam de tudo. No dia seguinte: “nós temos que tratar de negócios, porque tenho que vencer a eleição…”

A ideia de que o mundo está nessas mãos é chocante, mas, o ponto é que começou com uma, novamente, colossal falha do mercado ao ponto fundamental da ordem econômico-social deixada muito pior pela praga neoliberal e ela continua por causa do colapso nas estruturas institucionais que poderiam lidar com isso, se estivessem funcionando.

Esses são os pontos que nós temos que pensar seriamente e pensando mais profundamente digo, em que tipo de mundo nós queremos viver? Se superarmos de qualquer forma haverá opções. O alcance das opções vão da instalação de Estados altamente autoritários por todas as partes até a reconstrução da sociedade em termos mais humanos, preocupados com as necessidades humanas ao invés do lucro privado. Isso é o que nós devemos ter em mente, que estados altamente autoritários e viciados são bastante compatíveis com o neoliberalismo, os teóricos do neoliberalismo como Hayek e o resto eram perfeitamente felizes com o estado massivo de violência apoiada pela economia. O neoliberalismo tem suas origens em 1920 em Viena.. no estado proto fascista austríaco que esmagou a união dos trabalhadores e a social-democracia austríaca e fez parte do governo proto fascista e louvou o fascismo e sua economia protecionista. Quando Pinochet instalou ditadura assassina brutal no Chile eles amaram, eles lutaram lá, auxiliando esse “milagre maravilhoso”, que que trouxe “solidez da economia”, grandes lucros, para uma pequena parte da população.

Não é errado pensar que sistema neoliberal selvagem pode ser reinstalado por auto-proclamados liberais por forte violência do Estado, um pesadelo que pode vir. mas é necessário a possibilidade de que as pessoas se organizem, se tornem engajados para um mundo muito melhor, que também enfrentará os enormes problemas que estamos lidando… Problema da guerra nuclear que está mais próximo do que nunca esteve, o problema da catástrofe ambiental do qual pode não haver retorno uma vez que chegamos em tal estágio e não está em uma distância tão grande, a menos que nós arranjamos decisivamente. Então é um momento crítico da história humana não apenas por causa do coronavírus, mas deve nos trazer a consciência das profundas falhas, de forma mais profunda, as características disfuncionais de todo sistema sócio-econômico. Pode ser um sinal de alerta em uma lição para nos prevenir de uma explosão, mas pensando sobre isso e como essas vai nos levar a mais crises piores que essas com um preço extra a se pagar.

Como se dará a resistência em tempos de distanciamento social e o que se esperar de um futuro pós-coronavírus?

Primeiro de tudo nós devemos ter em mente que há, desde poucos anos atrás, uma forma de isolamento social que é muito danosa. Você vai ao McDonald’s e vê adolescentes sentados ao redor da mesa comendo hambúrguer e o que você vê é uma conversa rasa de uns ou alguns outros mexendo no seu próprio celular com algum indivíduo remoto, isso tem atomizado e isolado as pessoas em uma extensão extraordinária. As redes sociais tem tornado as criaturas muito isoladas, especialmente os jovens. Atualmente, as universidades nos Estados Unidos onde os passeios tem placas dizendo “olhe para frente” porque cada jovem ali está grudado em si mesmo, essa é uma forma de isolamento social auto-induzido, o que é muito prejudicial. Estamos agora em situação real de isolamento social. Que deve ser superada com recreação, laços sociais e tudo que puder ser feito. Qualquer coisa que puder ajudar as pessoas em necessidades, desenvolvendo organizações, expandindo análises… Fazendo planos para o futuro trazendo as pessoas para perto… Procurando soluções para os problemas que encaram e trabalhar neles. Estender e aprofundar atividades, pode não ser fácil, mas os humanos tem encarado seus problemas. Soberania para todas as pessoas em português.

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*Fonte: dialogosdosul

 

Quarentena é o novo Big Brother. Depois do confinamento haverá mais divórcios ou nascimentos?

A humanidade vive um período ímpar na sua história. Em razão de uma pandemia de consequências assustadoras, os governos da maioria dos países determinaram um confinamento doméstico compulsório para a população. Esse toque de recolher de escala global restringiu famílias a seus lares diuturnamente, em uma experiência que reacende um interessante debate: após um período de imersão contínua, com possíveis meses de enclausuramento, haveria uma maior incidência de nascimentos ou de separações?

Antes de entrar no mérito do assunto, é preciso reafirmar que, sim, o covid-19 passou de uma ameaça remota para um inimigo devastador em escala global. Ratificar essa informação pode parecer desnecessário. Porém, em um país onde ignorantes de todo tipo classificam o novo vírus como uma gripe comum, de baixa letalidade, que apenas mataria idosos portadores de doenças preexistentes, reiterar a gravidade da situação é, na verdade, imprescindível. Infelizmente, a modernidade e suas tecnologias possibilitaram que vetustos gurus da verborragia descerebrada perpetuassem seus ideais absurdos a ponto de cooptar e alienar um sem-número de cegos discípulos. É triste, mas é uma realidade de nossos tempos.

São assustadores os vídeos de grandes cidades como Madri, Paris e Milão totalmente vazias, como se fossem desabitadas. A imposição do isolamento social acabou sendo a medida adotada para tentar estancar a sangria progressiva das contaminações comunitárias, fazendo da casa de cada pessoa o centro de concentração de todas as suas atividades. Com a presença no local de trabalho suspensa e sem previsão de volta, a convivência entre os que dividem o mesmo teto se estreitou ao máximo, permitindo uma maior interação entre pais, filhos, parentes e, particularmente, casais.

Essa convivência forçada traz uma variedade de sensações que acompanham a progressão dos impactos da pandemia. Poder-se-ia, inclusive, descrever um padrão desses sentimentos, fazendo analogia com o que ocorre na casa do Big Brother. Em um primeiro momento, a incredulidade causa dúvidas sobre a seriedade da situação, na qual não se está certo de estar vivendo a realidade ou um devaneio. Um segundo período observável é o do apoio mútuo, com manifestações de felicidade induzidas, amizades repentinas com desconhecidos e alegrias compartilhadas — no caso da doença, apenas por detrás de sacadas e janelas, como ocorreu na Itália. A partir do momento em que se chega ao ápice, não há mais razão para tais atividades, restando, principalmente, angústias, tensões e muitos medos. E é nesse período que a ficha cai.

De dentro de seus casulos, no intervalo dos acontecimentos, os companheiros apaixonados se deparam com uma inusitada situação de extrema proximidade. A nova rotina é uma antípoda precisa do que comumente ocorreria nos tempos normais. Sem a necessidade de sair de casa para trabalhar, os casais têm todo o tempo para estarem juntos, o que parece, ao se tentar ver as coisas sempre pelo lado bom, um aspecto positivo da restrição do ir-e-vir. Isso apenas na teoria, claro, uma vez que também transbordam as rusgas, com ampliação enfática dos defeitos. Nesse diapasão, as redes sociais acabam se tornando uma estante de aparências, com narrativas maquiadas e um aumento considerável nas postagens de várias vertentes.

É possível antever que o período de quarentena gerará duas realidades antagônicas: ou os casais irão aprofundar e avivar seus sentimentos amorosos ou os dissabores da convivência ininterrupta irão minar o compromisso. Não é difícil imaginar que muitas pessoas utilizem as jornadas de trabalho como válvula de escape para “empurrar com a barriga” relacionamentos que já não estão em seus melhores dias. Nestes casos, a quarentena pode funcionar como um oportuno estopim para marcar de vez o fim inevitável. Por outro lado, àqueles que se ajudam na construção constante de uma nada fácil vida a dois, o confinamento pode vir no timing preciso para fortalecer a união. Para estes, bebês podem ser consequência da reclusão compulsória.

É certo que as mazelas do coronavírus alterarão de forma contundente a realidade da população. Superadas as conspirações dos ignorantes sobre a pandemia, imaginam-se fortes efeitos sobre os arranjos familiares. Nesse cenário, uma pesquisa realizada na cidade chinesa de Shaanxi pode ajudar a elucidar a questão: lá, após o declínio das contaminações, houve um número recorde de divórcios. Por certo, a experiência um tanto claustrofóbica não foi das mais sadias para os casais. No Brasil atual, cheio de relações já mutiladas pelos entraves ideológico-partidários pós-eleições, talvez o paredão já esteja montado para o mesmo desfecho. Em nosso mundo sem estalecas, a realidade não parece ser das mais esperançosas para bebês produzidos em tempos obscuros. A ver.

*Por Matheus Conceição

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*Fonte: revistabula

A simplicidade é a maior ostentação da vida!

Poucas são as pessoas que podem dar-se o luxo de viverem – e serem felizes- na simplicidade. Não é pra qualquer um.
Não é mesmo pra qualquer um, viver sem dar tanta importância ao que estão falando de você. Sem precisar TER para SER. Sem precisar SER, o tempo todo, algo à mais do que verdadeiramente se é.

Não é para qualquer um assumir-se. Simplesmente assumir-se, e não ter a necessidade de impressionar ninguém.

Assumir as origens; As escolhas (incluindo as erradas); Assumir que é normal, certas vezes, não ter grandes planos e ambiciosos projetos. Assumir que não gosta de lagosta ou pratos franceses, que prefere uma pizza e uma boa omelete; Que não curte praias badaladíssimas e que não almeja ser CEO de lugar nenhum e nem comprar um carro importado nos próximos meses.

Ser feliz com o que se tem é um risco tremendo. A maioria de nós (me incluo nessa) está sempre de olho no que ainda falta. Uma espécie de falsa “motivação” para os dias monótonos. A gente não se permite estar em paz e satisfeito com o que temos, pois achamos que desse jeito estagnaremos por completo.

Cuidado! Se você disse que não quer fazer MBA no exterior e que não precisa de um apartamento de alto valor, será chamado de falso e hipócrita pelos “yupies” modernos. Essa geração que não se importa em vivenciar nada, de fato, que só se importa em ganhar, contra o próprio ego, a disputa de “ quem tem mais”. Onde o objetivo nunca foi ser realmente feliz, e sim, causar “Inveja” nos demais, para quem sabe dessa forma compensar suas frustrações pessoais.
A simplicidade é a maior ostentação dessa vida.

Não é todo mundo que conquista isso.

Quem descobrir o quão divino e delicioso pode ser um café da manhã em casa num domingo qualquer, com pão fresquinho, bolo caseiro e uma xícara de café, descobrirá a porta para a verdadeira felicidade.

E eu não estou falando de riqueza ou pobreza. Estou falando do luxo da singeleza. Do inestimável preço de alegrar-se com chuva na janela de manhã cedo.

Com um bichinho fazendo graça na rua… Com a alegria de escutar, várias vezes, a sua música predileta enquanto caminha pro trabalho.

Estou falando da magnificência que é, fazer o teu amor sorrir num dia conturbado. Em tomar um cappuccino bem quente num dia frio e nublado. Do entusiasmo ímpar de matar a vontade de um beijo apaixonado.

Troco todo o meu ouro por uma paixão fugaz! Porque da escassez do ouro a gente se refaz, de um amor perdido… Jamais.

Feliz não é quem acorda necessariamente num palácio em lençóis de seda, pra mim, feliz é quem acorda a hora que quer e com quem se ama do lado.

Do que adianta ser escravo de um trabalho que te paga muito, mas que te cobra muito mais? Que te cobra TEMPO, o bem mais precioso aqui na Terra. Que te dá status e te faz perder a apresentação da tua filha no colégio. Que te dá “sucesso”, mas te tira o sono. Que te dá muito dinheiro e muita dor de cabeça; Que te dá conforto, mas que te leva a LIBERDADE?

Pompa mesmo é quem pode tomar uma água de coco, sem pressa, de chinelo, às 3 da tarde…

Nos vendemos por tão pouco. Somos tão baratos que só pensamos em dinheiro. Dispensamos aquilo que de tão valioso, não está à venda. Amor genuíno; Amizade de infância; Colo materno. Historinhas para as crianças, antes de dormir…

Ensinar o seu filho a fazer panquecas. A gente sobrevive a um colégio mediano e a roupas velhas, mas raramente nos refazemos de pais ausentes e caros presentes, sem ternura alguma. A gente vive bem sem ir a Paris 1 vez por ano, mas não se vive bem sem arroz, feijão e o pão nosso de cada dia. Aprendamos a agradecer por isso.

Conheço mansões sem capricho algum e sem parecer conter uma alma dentro, e já tive a sorte de estar em casas simplórias com muito esmero e que me acolheram, muito melhor que hotéis 5 estrelas.

Como é bom colher flores e colocar num vasinho, como é bom chegar cansado em casa e encontrar um bilhetinho. Como é fantástico chegar tarde e ver que alguém deixou o teu jantar pronto, separado e quentinho.

Cobrir quem amamos numa madrugada fria; Fazer planos com o teu melhor amigo da faculdade, para uma viagem que nem sabemos se ao menos faremos, um dia.

Como é bom acordar com o canto dos passarinhos! Regar o jardim! Sorrir pra um bebê e vê-lo sorrir de volta. Como é bom saber que temos em casa alguém que nos ama, nos esperando para abrir a porta…

O esplendor da vida se dá na sutileza cotidiana de pequenos oásis tímidos, abscônditos em um mar de infinitas grandezas.

Ache os seus.

*Por Bruna Stamato

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*Fonte: resilienciamag

Seja inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude

A vida contemporânea cheia de regras e adestramento fez com que houvesse uma padronização completa das pessoas, de tal maneira que todos se comportam do mesmo modo, falam das mesmas coisas, se vestem mais ou menos do mesmo jeito, possuem as mesmas ambições, compartilham dos mesmos sonhos, etc.

Ou seja, as particularidades, as idiossincrasias, aquilo que os indivíduos possuem de único, inexistem diante de um mundo tão pragmático e controlado.

Vivemos engaiolados, tendo sempre que seguir o padrão, que se encaixar em normas pré-determinadas, como se fôssemos todos iguais. Sendo assim, a vida acaba se transformando em uma grande linha de produção, em que todos têm que fazer as mesmas coisas, ao mesmo tempo e no mesmo ritmo, de modo a tornar todos iguais, sem qualquer peculiaridade que possa definir um indivíduo de outro e, por conseguinte, torná-lo especial em relação aos demais.

Somos enjaulados em vidas superficiais e nos tornamos seres superficiais, totalmente desinteressantes, inclusive, para nós mesmos. Sempre conversamos sobre as mesmas coisas com quer que seja, ouvindo respostas programadas pelo padrão, o qual nos torna seres adequados à vida em sociedade.

Entretanto, para que serve uma adequação que transforma todos em um exército de pessoas completamente iguais e chatas, que procuram sucesso econômico, enquanto suas vidas mergulham em depressões?

Qual o sentido de adequar-se a uma sociedade que mata sonhos, porque eles simplesmente não se encaixam no padrão? Uma sociedade que prefere teatralizar a felicidade a permitir que cada um encontre as suas próprias felicidades. Uma sociedade que possui a obrigação de sorrir o tempo inteiro, porque não se pode jamais demonstrar fraqueza. Uma sociedade que retira a inteligência das perguntas, para que nos contentemos com respostas rasas. Então, por que se adequar?

Os nossos cobertores já estão ensopados com os nossos choros durante a madrugada. O choro silencioso para que ninguém saiba o quanto estamos sofrendo. Para manter a farsa de que estamos felizes. Para fazer com que mentiras soem como verdade, enquanto, na verdade, não temos sequer vontade de levantar das nossas camas.

O pior de tudo isso é que preferimos vidas de silencioso desespero a romper com as amarras que nos aprisionam e nos distanciam daquilo que grita dentro de nós, esperando aflitamente que o escutemos, a fim de que sejamos nós mesmos pelo menos uma vez na vida sem a preocupação de agradar aos outros.

Somos uma geração com medo de assumir as rédeas das próprias vidas. E, assim, temos permitido que outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem para retomá-las e viver segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo que sejamos vistos como loucos, pois só assim conseguiremos sair das depressões que nos encontramos.

É preciso sacudir as gaiolas, já que, como diz Alain de Botton: “As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas”. E, sobretudo, é preciso ser inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude.

*Por Erik Morais

 

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*Fonte: contioutra

Quando a ignorância critica, a sabedoria observa e sorri

Orson Welles disse que “muitas pessoas são educadas demais para falar com a
boca cheia, mas não se preocupam em fazê-lo com a cabeça vazia”. O diretor
americano não foi o primeiro a se referir à ignorância e seus ataques.

O escritor espanhol Baltasar Gracián havia dito ” o primeiro passo da ignorância é
presumir saber ” e Antonio Machado afirmou que ” tudo o que é ignorado é
desprezado “. A ignorância não é uma doença, mas podemos classificá-la como tal
porque seus efeitos são tão incapacitantes que impedem a pessoa de crescer
enriquecendo-se com novas perspectivas. A armadilha da ignorância é que ela
envolve a pessoa em uma gaiola de ouro, na qual ele está tão confortável que nem
percebe que está prisioneiro da rigidez de seu pensamento.

Como são pessoas ignorantes?

Ignorância não é propriedade exclusiva de pessoas que não tiveram acesso à
educação. De fato, podemos encontrar pessoas que não têm estudos, mas são
profundamente sábias e de mente aberta, assim como podemos encontrar
professores e cientistas que são profundamente ignorantes.

O filósofo inglês Karl Popper explica o porquê: “a ignorância não é a ausência de
conhecimento, mas a recusa em adquiri-lo “. Isto é, a ignorância implica abraçar um
pensamento rígido, idéias preconcebidas e rejeitar o resto. Esse modo de entender
a ignorância é um sinal de alerta que nos diz para permanecermos vigilantes
porque todos e cada um de nós podem adotar atitudes ignorantes.

Ignorância é rejeitar argumentos ou idéias das quais não sabemos nada ou sobre
as quais não temos dados para chegar a conclusões lógicas. Nesse caso, em vez
de nos esforçarmos para captar e compreender todo o quadro, preferimos nos
apegar ao pequeno fio de “verdade” que achamos que temos. Entrincheirados
nessa posição, não apenas atacamos os outros, mas também semeamos as
sementes da intolerância, já que a ignorância sempre rejeita o que é diferente, o
que não compreende.

Ignorância emocional

Não é uma ignorância que faz ainda mais danos: a ignorância emocional das
pessoas mais próximas que julgam e criticam-nos sem ter andado em nossos
sapatos ou saber todos os detalhes da situação de uma visão parcial da realidade.

Há uma ignorância que causa ainda mais danos: a ignorância emocional das pessoas mais próximas a nós que nos julgam e criticam sem ter andado com nossos sapatos ou nem conhece todos os detalhes da situação, a partir de uma visão parcial da realidade.

Essas pessoas não são capazes de se colocar no lugar do outro e nem sequer
tentam conhecer sua história, necessidades e ilusões para entender o porquê de
seu comportamento. Essa ignorância dói muito mais e deixa feridas emocionais
profundas, já que normalmente a opinião dessas pessoas é geralmente importante.

Em face da ignorância, é melhor agir com cautela

Um estudo muito interessante de PsychTests analisou como 3.600 pessoas
responderam a críticas. Esses psicólogos descobriram que 70% admitem que se
sentem magoados quando recebem uma crítica e 20% a rejeitam com raiva.
Apenas 10% das pessoas refletem sobre críticas e deixam ir quando não
contribuem com nada.

Também foi apreciado que as mulheres são duas vezes mais propensas a aceitar
as críticas como algo pessoal e a assumi-las como uma demonstração de que elas
não são capazes de fazer algo certo. Pelo contrário, os homens tendem a pensar
que a crítica está errada e a responder agressivamente.

No entanto, o mais interessante é que as pessoas que adotam uma atitude
defensiva em relação às críticas são também aquelas que se sentem menos
felizes, têm baixa auto-estima e apresentam um desempenho pior no trabalho.

Aparentemente, quando as pessoas têm baixa auto-estima, elas bloqueiam a parte
construtiva da crítica e se concentram apenas nos aspectos negativos. Por outro
lado, aqueles que se defendem das críticas muitas vezes sentem que estão
perdendo o controle, o que afeta ainda mais sua autoconfiança.

Portanto, quando a crítica vem da ignorância, a coisa mais sábia é responder com
calma.

Para palavras tolas, ouvidos inteligentes

Como a crítica ignorante pode causar muitos danos, é essencial não cair no seu
jogo. As palavras nocivas, as críticas maliciosas e as opiniões infundadas não
devem encontrar um terreno fértil em nossa mente. Devemos lembrar que ninguém
pode nos prejudicar sem o nosso consentimento. Portanto, o melhor é não dar
crédito a eles.

O problema das pessoas ignorantes é que elas não estão abertas para ouvir outras
opiniões, portanto, qualquer tentativa de se defender ou fazê-las cair em seus
sentidos é muitas vezes deixada de lado. Isso nos fará desperdiçar energia
inutilmente e é provável que no final ficaremos com raiva. É por isso que é quase
sempre melhor aprender a ignorá-los.

O sábio sabe que batalhas valem a pena lutar, ele não desperdiça sua energia. Ele
também está ciente de que a crítica muitas vezes diz mais sobre quem critica do
que sobre quem é criticado, então ele assume uma atitude desinteressada, valoriza
a verdade que a opinião contém e, se considerar irrelevante e prejudicial, não
permite que isso o afete.

E quando é necessário responder à ignorância, as pessoas sábias fazem isso com
firmeza e respeito. A melhor maneira de superar a ignorância é provar a ele que ele
não tem poder sobre nós.

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*Fonte: pensarcontemporaneo

A ignorância motivada: não nascemos ignorantes, aprendemos a ser ignorantes

Nós sempre pensamos que ignorar é um verbo passivo. Ignorância é a falta de conhecimento, um estado de desinformação ou falta de compreensão. Portanto, qualificamos uma pessoa como “ignorante” quando ela não sabe ou não entende alguma coisa.

Esse caráter passivo implica que, de certa forma, essa pessoa não é responsável por sua ignorância, ele simplesmente carrega consigo aquela “falta”. É curioso, no entanto, que não se aplique a qualificação de ignorantes às crianças, mesmo que elas geralmente não dominem o mesmo conhecimento dos adultos.

Isso significa que a ignorância começa com um pressuposto: algo que devemos saber, mas não sabemos, um caminho pelo qual deveríamos ter percorrido, mas não o fizemos. Então a ignorância abandona seu significado passivo para ter um significado ativo que implica não reconhecer algo ou agir como se não fosse conhecido. Nós caímos no que é conhecido como “ignorância motivada”.

O que é ignorância motivada?

A ignorância motivada é quando escolhemos, mais ou menos conscientemente, não saber mais, não nos aprofundar, não entender. Essa ignorância é terrivelmente perigosa porque tende a levar a posições extremas e reduz nossa capacidade de continuar crescendo e amadurecendo. Quando decidimos ser ignorantes, alguém decidirá em nosso lugar. Nós nos tornamos manipuláveis.

Goethe já havia dito: “não há nada mais terrível que a ignorância ativa”. O filósofo Karl Popper pensava o mesmo: “A verdadeira ignorância não é a ausência de conhecimento, mas a recusa em adquiri-lo”.

Essa ignorância motivada pode ocorrer em todas as áreas de nossas vidas. Algumas pessoas começam a se sentir mal, mas ao invés de ir ao médico para receber um diagnóstico, elas preferem se refugiar na ignorância assumindo que está tudo bem. Outras pessoas suspeitam que seu parceiro é infiel, mas, em vez de esclarecer suas dúvidas, escolhem permanecer ignorantes. O mesmo acontece no nível político ou social: quando já temos uma ideia formada, optamos por não escutar ou valorizar os argumentos contrários.

Por que escolhemos a ignorância motivada?

Um experimento realizado na Universidade de Winnipeg e na Universidade de Illinois mostrou quão forte e irracional nossa tendência para a ignorância motivada pode ser. Esses psicólogos recrutaram 200 pessoas e deram a elas duas opções: ler e responder perguntas sobre uma opinião (casamento gay) com as quais concordavam ou ler um ponto de vista oposto.

Aqueles que decidiram ler a opinião com a qual concordaram ganhariam $ 7; mas se eles escolhessem a opinião contrária, ganhariam 10 dólares. Surpreendentemente, 63% das pessoas preferiram ler a opinião com a qual concordaram, rejeitando a possibilidade de ganhar mais dinheiro.

Nesse caso, escolhemos ser ignorantes para evitar a dissonância cognitiva. Nós desenvolvemos uma concepção do mundo que manipula nossas idéias e crenças, e tememos que opiniões contrárias possam desestabilizar aquele castelo de cartas. É por isso que preferimos ignorar tudo o que não corresponde à nossa visão. E isso significa que, no fundo, a ignorância motivada é uma expressão de medo.
Como nós instilamos esse medo?

“O medo da nossa ignorância é uma sensação de que fomos sistematicamente inculcados durante o período escolar. É sobre a sensação de que não sabemos algo que muitos conhecem, por isso é melhor ficar quieto e se acomodar ”, disse o filólogo Igor Sibaldi.

Na escola, a ignorância é revestida com um halo negativo. Começa a apontar o dedo para o ignorante. E isso gera um paradoxo porque, para superar a ignorância, devemos primeiro reconhecê-la, mas não podemos reconhecê-la por medo de ser rotulado como ignorante. O escritor Baltasar Gracian disse que “o primeiro passo da ignorância é presumir saber”.

Livrar-se da ignorância não é realmente difícil, basta informar-se, “mas esse comportamento é impossível para a grande maioria das pessoas porque o hábito de se sentir ignorante se tornou algo mais forte do que o desejo de aprender”, segundo Sibaldi.

A ignorância se torna uma zona de conforto em que nos sentimos muito à vontade para sair. Ou talvez nem nos sintamos tão confortáveis, mas o medo do que está fora, tudo o que desafia nossas crenças, é tão forte que nos mantém paralisados naquela zona de conforto. Assim escolhemos a ignorância.

Escolha saber

O ignorante não é aquele que não conhece, mas aquele que não quer saber. Portanto, o primeiro passo para expulsar a ignorância é desenvolver uma mentalidade de crescimento, uma mente aberta que nos permita explorar o maior número de possibilidades.

Não podemos nos livrar de nossos estereótipos e crenças da noite para o dia, mas podemos questioná-los e olhar além do que sempre consideramos garantido. Deveria nos deixar mais receosos de morrer todos os dias em uma zona de conforto que se estreitará mais e mais do que sair para descobrir o mundo, por mais diferente ou incerta que seja.

 

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*Fonte: pensarcontemporaneo

Idosos são mais propensos a espalhar notícias falsas, diz estudo

Um estudo apontou que pessoas com mais de 65 anos são mais propensas a divulgar na internet notícias falsas, também chamadas de “fake news”.

O artigo – assinado por Andrew Guess, da Universidade Princeton, e Jonathan Nagler e Joshua Tucker, da Universidade de Nova York (NYU), ambas nos EUA – foi publicado pela revista científica Science Advances na última quarta-feira (9). Nele, os autores analisaram as publicações de um grupo de usuários do Facebook durante a campanha presidencial americana, em 2016.

A pesquisa concluiu que, de forma geral, o “compartilhamento de artigos de sites de notícias falsas foi uma atividade rara”. “A ampla maioria dos usuários do Facebook no nosso banco de dados (91,5%) não divulgou nenhum artigo de portais de notícias falsas em 2016”, dizem os autores.

Três casos de fake news que geraram guerras e conflitos ao redor do mundo
Um Brasil dividido e movido a notícias falsas: uma semana dentro de 272 grupos políticos no WhatsApp

Mas o estudo identificou que os usuários na faixa etária mais velha, acima dos 65 anos, compartilharam sete vezes mais artigos de portais de notícias falsas do que o grupo etário mais jovem (18 a 29 anos).

Dentre os que divulgaram notícias falsas, havia mais eleitores do Partido Republicano (38 usuários) – grupo político do presidente Donald Trump – do que do Partido Democrata (17). Ao todo 18,1% dos eleitores republicanos analisados pelo estudo divulgaram notícias falsas, ante 3,5% dos eleitores democratas.

Para definir quais sites eram difusores de “fake news”, os autores se basearam em listas de acadêmicos e jornalistas, entre os quais uma elaborada pelo jornalista Craig Silverman, do portal BuzzFeed.
Influência de “fake news” em eleições

A eleição de Trump – assim como a de Jair Bolsonaro (PSL) no Brasil – foi marcada por discussões sobre a possível influência das chamadas “fake news” – conteúdos falsos divulgados como se fossem notícias verdadeiras, muitas vezes para gerar receitas publicitárias.

Alguns analistas afirmaram que esses conteúdos tiveram um impacto que pode ter afetado o resultado eleitoral nos EUA em 2016. Os autores do artigo dizem, porém, que estudos indicam que esses argumentos “são exagerados”.

A pesquisa afirma ainda que as pessoas que compartilhavam mais notícias eram em geral menos propensas a divulgar conteúdos falsos. “Esses dados são consistentes com a hipótese de que pessoas que compartilham muitos links têm mais familiaridade com o que elas estão vendo e são mais aptas a distinguir notícias falsas de notícias reais”, diz o estudo.

Os autores apontam, porém, que não foi possível descobrir se os participantes sabiam que estavam divulgando notícias falsas.

Os pesquisadores dizem também que os achados indicam que questões demográficas devem ser mais enfocadas em pesquisas sobre o comportamento político, conforme a população americana envelhece e a tecnologia muda com grande velocidade.

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*Fonte: bbc-brasil

O reconhecimento facial abre caminho para o pesadelo de George Orwell

Alguém pode tirar sua foto na rua e conseguir saber quem você é para contatá-lo. Acontece na Rússia. Alguém pode atravessar a faixa de pedestres quando não for permitido e ver que as autoridades lhe multam e pegam sua foto atravessando indevidamente nas paradas de ônibus após identificá-lo com a imagem captada por uma câmera de segurança. Acontece na China. Uma pessoa pode receber a visita inoportuna da polícia porque o algoritmo falhou e a identificou erroneamente. Aconteceu nos Estados Unidos, em cinco ocasiões, com cinco pessoas, em 2015, como admitiu a polícia de Nova York. Tudo isso pode ter acontecido em outros momentos da história, mas nunca foi tão fácil como agora. A tecnologia do reconhecimento facial tem inúmeras comodidades, sim, de promessas de uma maior segurança, certo. Mas, paralelamente, a expansão de toda uma indústria de segurança que gira em torno dela transforma o pesadelo orwelliano de uma sociedade de pessoas controladas em algo mais do que uma possibilidade futura.

Derivada da inteligência artificial, ela deu seus primeiros passos em meados dos anos sessenta. Aquelas primeiras tentativas de usar um computador para reconhecer um rosto humano resultaram em uma tecnologia que alcançou um nível de plenitude assombroso. Prova disso é o iPhone X, que realiza algo que anos atrás pertencia ao domínio da ficção científica: desbloquear um celular com a imagem de nosso rosto. “Quando você encontra uma tecnologia como essa em um aparelho de consumo como o celular”, afirma Enrique Dans, professor de Inovação no IE Business School, “quer dizer que já se pode fazer de tudo com ela”.

Na China, país que fixou como meta se transformar no líder em pesquisa e aplicativos de inteligência artificial em 2030, as pessoas já podem escanear o rosto com o aplicativo para celular Xiaohua Qianbao e pedir um empréstimo ao banco virtual operado pela Xiaohua; ir a um Kentucky Fried Chicken da cidade de Hangzhou e pagar com um sorriso – o Smile to Pay (“sorria para pagar”) é o mais recente sistema desenvolvido pela empresa de pagamentos online Alipay −, e controlar a frequência às aulas de alunos da Universidade de Comunicações de Nanquim.

Ali, a tecnologia avança com os passos firmes da Face++, startup chinesa que derrotou no fim de outubro equipes do Facebook, Google e Microsoft em provas de reconhecimento de imagem na Conferência Internacional de Visão por Computador realizada na Itália. Naquele mesmo mês, a companhia levantou 460 milhões de dólares (1,5 bilhão de reais) em uma rodada de financiamento.

Mas a expansão do fenômeno não se limita a esse território. Lojas de Toronto utilizam a tecnologia para detectar ladrões. O Facebook a usa faz tempo para etiquetar quem aparece nas fotos. De fato, em 2015 já anunciou que podia identificar uma pessoa com 83% de sucesso sem ver sua cara: o tipo de corpo, o penteado e a postura são elementos suficientes. Agora, o novo desafio dos pesquisadores é conseguir identificar pessoas que usem óculos escuros, véu, máscara, balaclava (espécie de gorro com finalidades esportivas): na Universidade da Basileia, Suíça, o professor Bernhard Egger trabalha em um sistema que cria um padrão do rosto em 3D a partir das zonas descobertas da face.

Assim, o mercado do reconhecimento facial já movimenta mais de 3,3 bilhões de dólares (10,6 bilhões de reais) no mundo e poderia chegar a 7,7 bilhões de dólares (24,8 bilhões de reais) em 2022, segundo a consultora MarketsandMarkets. Bancos, companhias aéreas, telefônicas, fabricantes de computadores, todos se abrem a esta nova forma de identificação biométrica que significa um salto à frente em comparação com a impressão digital e a íris.

Mas o rosto não é a mesma coisa que a impressão digital. Quando vamos renovar nosso documento de identidade, concordamos em ceder esse dado biométrico às autoridades. Mas nosso rosto pode ser captado por qualquer um sem nosso consentimento. Por meio de qualquer câmera na rua, em qualquer lugar.

Esta tecnologia tem duas modalidades básicas, como explica por telefone de Michigan o grande especialista Anil K. Jain, professor de engenharia informática e diretor do grupo de pesquisas biométricas da Universidade de Michigan. Uma é a de autenticação ou detecção de rosto (face detection), na qual o sistema compara duas imagens: a que temos armazenada no telefone − no caso do iPhone − e um modelo em 3D criado a partir do rosto que se apresenta diante da tela. E a outra é a de busca de rosto (face search), na qual se cruza uma imagem com as que estão armazenadas em um banco de dados para ver se coincidem − para identificar desconhecidos. “Nesta segunda é muito mais fácil cometer erros”, explica Jain. “São necessários computadores potentes e grandes bancos de dados com milhões de rostos.”

Essa segunda modalidade foi a que desencadeou um debate inflamado sobre a privacidade e as liberdades. Sua combinação com a crescente autoexposição nas redes sociais está acabando com a era do anonimato. O melhor exemplo é dado pelo aplicativo FindFace, que no ano passado causou muita polêmica na Rússia: uma pessoa pega o celular e tira uma foto do passageiro à sua frente no metrô; o algoritmo do aplicativo compara a imagem com as existentes na rede social Vkontakte (que conta com mais de 400 milhões de perfis) e, com uma eficácia de 70%, permite saber quem é essa pessoa. Uma ferramenta perigosa em tempos marcados pelo assédio.

Tecnologia permite identificar em tempo recorde terroristas que acabam de cometer um atentado

E tem mais. Em 2014, os professores Alessandro Acquisti, Ralph Gross e Fred Stutzman demonstraram com o estudo Reconhecimento Facial e Privacidade na Era da Realidade Aumentada o quanto é fácil identificar um desconhecido na era das redes sociais. Com uma webcam e um bom programa de reconhecimento facial, puderam identificar um de cada três alunos que circulavam pela Universidade Carnegie Mellon. Tiveram apenas de cruzar a imagem obtida com as oferecidas pelo mecanismo de busca do Google ou pelos perfis do Facebook. Em alguns casos, o algoritmo permitia até mesmo acessar o número do Seguro Social da pessoa fotografada.

Dito isso, nem tudo é perigoso. O aperfeiçoamento dos algoritmos e das técnicas de análise de dados e a ampliação exponencial dos bancos de imagens de rostos têm proporcionado às forças de segurança um instrumento formidável para identificar em tempo recorde criminosos e terroristas que acabam de cometer um atentado. O professor Anil K. Jain, de fato, publicou em 2013 um trabalho científico no qual demonstrou que era possível identificar um dos dois irmãos que detonaram duas bombas na maratona de Boston em abril de 2013 usando, simplesmente, as imagens divulgadas pelos canais de televisão. “A precisão da detecção de rostos chega às vezes a 90% com as imagens analisadas nas delegacias”, diz. Ou seja, na modalidade de face detection. No entanto, quando se trabalha com imagens de uma câmara de vídeo de segurança da rua (face search), a coisa muda. “Aí tudo dependerá da qualidade da imagem que se obtenha.”

Para que o aparato de segurança que está sendo configurando neste início do século XXI funcione a plena capacidade, são necessários algoritmos cada vez mais precisos, sim. Mas a chave é manter os bancos de dados bem abastecidos. De rostos. E a China já dispõe de um banco de dados com um bilhão de fotos de seus cidadãos, o maior do mundo. O gigante asiático conta, além disso, com uma ampla rede de câmeras para captar imagens na rua. A Face++, segundo o Financial Times, está ajudando o Governo chinês a rastrear o 1,3 bilhão de habitantes do país através de imagens de câmeras de segurança. Escanear placas de carro, escanear rostos. O pesadelo imaginado por Orwell em seu livro 1984 vai tomando forma.

Os norte-americanos não ficam atrás. Um relatório feito no ano passado pelo Law’s Center on Privacy and Technology, o centro sobre privacidade e tecnologia da faculdade de direito da Universidade de Georgetown, estima que 117 milhões de cidadãos já estejam nos bancos de dados que a polícia pode usar. Em conversa telefônica de Nova Iorque, o diretor executivo do centro, Álvaro Bedoya, afirma que o total a esta altura já chega a 125 milhões. “Isto nunca ocorreu na história dos EUA”, protesta. “Os bancos de dados de DNA e impressões digitais eram compostos por pessoas com antecedentes penais. Está sendo criado um banco de dados biométricos de pessoas que respeitam a lei, atravessou-se o Rubicão.”

Bedoya, um destacado jurista, considera que a tecnologia só deve ser usada para crimes graves, não de forma ilimitada: “Na Rússia ela é usada para identificar manifestantes. Nos EUA, também. Caminhamos para uma sociedade de controle. Pode-se identificar qualquer um, a qualquer momento, por qualquer motivo”.

A tecnologia também é usada em ações de policiamento preventivo. O uso de inteligência artificial permite seguir alguém através das câmeras de segurança existentes em espaços públicos e analisar seus movimentos, sua linguagem corporal. Com essa enorme coleta de dados se pretende, por meio de modelos estatísticos, prever onde pode ocorrer um crime e quem pode cometê-lo.

“Na Rússia ela é usada para identificar manifestantes. Nos EUA, também”, alerta o jurista Álvaro Bedoya

O problema é onde vai parar nosso rosto. O jornal britânico The Guardian teve acesso a documentos que indicam que o procurador-geral da Austrália manteve conversas com empresas telefônicas e bancos para o uso privado de seu serviço de verificação facial em 2018. E os especialistas em proteção de dados se preocupam com o uso que as empresas possam fazer dos bancos de rostos de seus clientes. Uma investigação do jornal The Washington Post revelou em novembro que Apple estava compartilhando informações de rostos com alguns aplicativos e, como consequência da investigação jornalística, realizou uma mudança, exigindo que um aplicativo informasse seus usuários sobre isso em sua política de privacidade.

Facebook, Google e Snapchat, por sua vez, são três das empresas que já foram processadas em Illinois por capturar e armazenar imagens dos usuários sem seu consentimento. Por acaso podemos confiar em que as empresas da nova economia digital não comercializarão nossos rostos?

“O problema é que há uma total falta de transparência”, diz Kelly Gates, professora da Universidade da Califórnia em San Diego e autora do livro Our Biometric Future: Facial Recognition Technology and the Culture of Surveillance (“nosso futuro biométrico: tecnologia do reconhecimento facial e a cultura da vigilância”). “A polícia, assim como o Exército, experimenta, mas não sabemos o que estão fazendo.”

Essa pesquisadora, que agora estuda as técnicas de análise forense de vídeo, ressalta que há uma proliferação de vídeos e dados procedentes de drones, câmeras de rua e de estabelecimentos comerciais cuja análise é terceirizada para empresas privadas. “Os cientistas dizem que é uma tecnologia com a qual se cometem muitos erros. Não há uma ciência que a respalde e, mesmo assim, ela continua sendo utilizada”, assinala Gates.

Que seja feito tudo para que não aconteça na realidade o que ocorre na distopia assinada por Terry Gilliam, Brazil, filme de 1985 no qual um erro de dados leva à detenção do senhor Buttle quando o objetivo era deter o senhor Tuttle. Algo que, nas mãos de um integrante do Monty Python, é muito engraçado, mas no mundo real, não tem graça nenhuma. Gates é incisiva: “Está sendo buscada uma segurança perfeita que nunca será alcançada. Pensar que, em contextos de violência, tudo isto é a grande solução é como comprar mais aparelhos de ar condicionado para resolver os problemas representados pela mudança climática”.

No fim das contas, a questão é em quais mãos recai o uso desta tecnologia e de nossos dados. Com ela, países com problemas de direitos humanos e restrições às liberdades têm um tremendo instrumento de perseguição de dissidentes. O controle, como se não fosse suficiente aquele que pode ser exercido por meio dos dispositivos que já temos, atravessa uma nova fronteira. Alguém imagina esta tecnologia nas mãos de um Governo de extrema direita na Europa? Ou em um país governado por fundamentalistas muçulmanos?

*Por Joseba Elola

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*Fonte: elpais

Brasil é o país onde mais se mata com armas de fogo no mundo

Em tempos que pessoas defendem um menor controle na venda de armas, um estudo recente traz dados alarmantes: em 2016, 43,2 mil pessoas foram mortas por armas de fogo no Brasil, número que o coloca no indigesto primeiro lugar do ranking mundial de mortalidade por armas publicado pelo Global Burden Disease, órgão da Organização Mundial da Saúde que pesquisa as causas de morte pelo mundo.

Mas o Brasil não está sozinho. É seguido de perto pelos Estados Unidos, onde as armas mataram 37,2 mil pessoas. Juntos, os dois países são responsáveis por 32%, quase um terço, de todo mundo que morreu a bala.

Se juntar os números do México, Colômbia, Venezuela e Guatemala, o volume de assassinatos vai para 50,5%. Mais da metade das 251 mil mortes aconteceram nesses países da América que, juntos, não somam nem 10% da população mundial.

De acordo com o estudo, homicídios são a maior causa de mortalidade em consequência de lesão por arma de fogo dos 195 países pesquisados, com 64% do total. Seguido por suicídio, com 27% das mortes, e 9% foram por disparo acidental.

“90% das mortes violentas ocorrem fora das situações de conflito. Em todo o mundo, armas de fogo são frequentemente o meio letal em casos de homicídio, suicídio e lesões não intencionais, indicando um importante problema de saúde pública, com custos sociais e econômicos que se estendem além da perda imediata da vida”, escreveram os autores.

A pesquisa também associou o acesso às armas e o número de pessoas que possuem armas ao número de mortes. “Vários fatores estruturais foram identificados como contribuintes, incluindo pobreza, desigualdades sociais”, diz a publicação.

“Violência na interseção desses fatores culturais, juntamente com uma alta disponibilidade geral de armas de fogo , combinam-se para produzir altas taxas de mortalidade através da letalidade inerente ao uso de armas de fogo.”

No Brasil, esse tipo de morte aumentou muito desde 1990, indo de uma estimativa de 27,3 mil para os 43,2 mil registrados em 2016. No entanto, após uma explosão de mortalidade até meados dos anos 2000, houve uma redução no índice, que manteve sua estabilidade desde o Estatuto do Desarmamento.

“Os padrões documentados na África do Sul e no Brasil também apoiam uma ligação entre restrições regulatórias ao acesso de armas de fogo e subsequentes reduções nas taxas de mortes por elas”, aponta o documento.

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*Fonte: revistagalileu

Trabalho escravo: moda é o segundo setor que mais explora pessoas

Comprar roupas pode ser uma forma de investir na autoestima e, para alguns, representa até um momento terapêutico. No entanto, pouco se fala sobre a origem dos produtos comercializados. Grande parte dos itens é feita às custas de trabalho escravo e, muitas vezes, o consumidor não imagina ou não se importa com o que houve antes de obter a mercadoria final.

Segundo a pesquisa The Global Slavery Index 2018, da fundação Walk Free, divulgada recentemente, a moda é a segunda categoria de exportação que mais explora o trabalho forçado.

Na escravidão moderna, as vítimas trabalham em condições precárias e recebem valores indevidos. De acordo com o estudo, cerca de 40,3 milhões de pessoas estão nessa situação, das quais 71% são mulheres. No mundo, 24,9 milhões de indivíduos exercem profissões forçadamente.

A moda fica atrás apenas do setor de tecnologia, no ranking de exploração. Em seguida, aparecem os ramos de cana-de-açúcar, peixe e cacau. A estatística foi desenvolvida em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Internacional de Migração (OIM).

O índice também mostra que as empresas envolvidas movimentam cerca de US$ 354 bilhões em exportação para os países do G20 – o grupo constituído por ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo e da União Europeia.

Fundação Walk Free
A Walk Free foi criada com o objetivo de buscar informações e gerar dados sobre a escravidão moderna. Além disso, a instituição impulsiona ações de mudança nas legislações dos principais países, em prol de punições mais duras para quem explora mão de obra forçada.

*Por Ilca Maria Estevão

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*Fonte: metropoles

Primeiro desenho animado totalmente em libras é lançado no YouTube

A surdez atinge quase dez milhões de pessoas no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. E faltam alternativas na indústria cultural infantil para esse público. Pensando nisso, Paulo Henrique dos Santos, que trabalha com animação há sete anos, decidiu criar um desenho inteiramente em libras (língua brasileira de sinais). Ele teve a ideia quando precisou se comunicar com uma pessoa surda, mas não conseguiu. Em cada um dos capítulos, serão ensinados cinco sinais de libras.

O conteúdo é voltado para crianças de três a seis anos e tem o objetivo de educar e mostrar que as crianças surdas também se divertem e têm as mesmas necessidades daquelas com a audição preservada. O episódio piloto foi lançado no YouTube nessa quarta-feira, data marcada pelo Dia do Surdo. “Cada um tem a sua língua. O gato fala ‘gatês’, o elefante fala ‘elefantês’, e por aí vai. Mas com tantas línguas diferentes, é difícil entender o outro”, diz a animação.

O canal ainda não tem patrocínio mas, se conseguir, Paulo Santos pretende produzir e lançar mais 13 episódios para a primeira temporada. Ele já participou da produção de desenhos como “Turma da Mônica” e “Sítio do Pica-pau Amarelo”.

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*Fonte: correiodopovo

Brasil dá vexame em pesquisa sobre mobilidade social no mundo

Desigualdade brasileira não tem paralelo em outros países, conforme revelam relatórios da Oxfam

Está cada vez mais difícil algúem nascer na pobreza e conseguir melhorar de vida, atingindo um padrão médio – chegar ao topo então, onde confraternizam-se os ricos, nem pensar. Foi o que constatou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 35 nações desenvolvidas e algumas outras convidadas, ao estudar a mobilidade social no mundo desde a década de 1990. Segundo reportagem da revista Carta Capital, a OCDE constatou que a distância entre ricos e pobres vem aumentando preocupantemente, principalmente a partir da crise financeira de 2008. No Brasil, a situação consegue ser um pouco pior: penúltimo lugar na lista de 30 países, exibe uma desigualdade social e econômica gritante.

De cada 10 filhos de famílias brasileiras miseráveis, 3,5 morrerão e somente um tem chance de chegar ao topo.

A reportagem revela ainda como os que estão no grupo do 1% mais rico do Brasil não se enxergam como tal, muitas vezes se considerando ‘apenas’ como classe média, e traz reflexões sobre como investimentos em saúde e educação, e uma boa reforma no sistema tributário brasileiro, que taxa mais o consumo do que a renda e propriedade, podem ajudar a reduzir drasticamente as desigualdades no país.

A gritante desigualdade brasileira tem sido tema constante do trabalho da Oxfam Brasil, porque a consideramos como um dos principais entraves ao pleno desenvolvimento do país e razão das muitas injustiças que atingem principalmente jovens e mulheres negras. Parte de nosso trabalho tem sido lançar relatórios, estudos e pesquisas que jogam luz sobre o problema e apresentam algumas soluções. Queremos com isso contribuir para o debate público sobre as desigualdades e a pobreza, e ficamos felizes em vez que três de nossos relatórios foram usados como fontes nessa reportagem da revista Carta Capital: A Distância Que Nos Une, sobre a desigualdade no Brasil, lançado em setembro do ano passado; Recompensem o Trabalho, Não a Riqueza, lançado em janeiro deste ano às vésperas da reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos; , e Hora de Mudar, lançado no último dia 21 de junho, sobre desigualdade e sofrimento humano na cadeia de fornecimento dos supermercados.

Trecho da reportagem:

Em janeiro, às vésperas de outro convescote da elite global em Davos, nos Alpes suíços, a Oxfam, uma rede 20 organizações atuante em 90 países, divulgou mais um relatório sobre concentração de renda no mundo. Com base em estudos do bancão Credit Suisse e de dados compilados pela revista Forbes, a Oxfam informou que havia 2.043 bilionários no mundo no ano passado, dos quais 43 eram brasileiros (12 a mais do que em 2016).

As fortunas nacionais tinham no pelotão de frente o empresário Jorge Paulo Leman, dono de 27 bilhões de dólares, e seus sócios de AmBev Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, o banqueiro Joseph Safra, o jovem Eduardo Saverin, do Facebook, a família Moreira Salles, do Itaú Unibanco, os irmãos Marinho, Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto, trio das Organizações Globo.

Juntos, os cinco primeiros do ranking (Leman, Safra, Telles, Sicupira e Saverin) controlavam o mesmo que a metade mais pobre do País, 100 milhões de pessoas. Até 2016, eram seis, como Boulos disse à Jovem Pan.

Outro estudo da Oxfam sobre o Brasil, “A Distância Que nos Une”, de setembro de 2017, mostrava um exemplo um pouco mais concreto de concentração de riqueza no País. Na cidade de São Paulo, 25% de todos os imóveis registrados estão nas mãos de 1% dos proprietários, um total de 22,4 mil pessoas.

Quando se vê a mesma situação a partir do valor dos imóveis, a concentração é ainda maior. O 1% controla 45%, cada indivíduo do 1% possui, em média, 34 milhões de reais em imóveis. Um novo documento, divulgado na quinta-feira 21, trouxe mais uma ilustração. Esse documento mostra como os supermercados têm esmagado os pequenos produtores rurais fornecedores de comida vendida nas gôndolas.

Hoje em dia, de cada quatro copos de suco de laranja consumidos no mundo, um sai do Brasil. O preço desse produto encareceu mais de 50% nos supermercados norte-americanos e europeus desde a década de 1990, mas o valor recebido pelos camponeses brasileiros equivale a apenas 4% do preço final.

>> Leia reportagem da revista Carta Capital na íntegra [ AQUI ]

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*Fonte: oxfam

A idiotização da sociedade como estratégia de dominação, por Fernando Navarro

As pessoas estão tão comprometidas com o sistema estabelecido, que são incapazes de pensarem em alternativas contrárias aos critérios impostos pelo poder.

Para conseguir isso, o poder se vale do entretenimento a partir do vazio, com o objetivo de aumentar nossa sensibilidade social fazendo com que nos acostumemos a ver a vulgaridade e a estupidez como as coisas mais normais do mundo, incapacitando-nos para alcançarmos uma consciência crítica da realidade.

No entretenimento vazio, o comportamento desagradável e desrespeitoso é considerado positivo, como vemos constantemente na televisão, nos programas que são lixos chamados “do coração”, e nos encontros de espetáculos em que os gritos e a falta de respeito são a norma, o futebol, a forma mais completa e eficiente que o sistema estabeleceu para converter a sociedade.

Nesta subcultura do entretenimento vazio, o que é promovido é um sistema baseado nos valores do individualismo possessivo, no qual a solidariedade e o apoio mútuo são considerados ingênuos. No entretenimento vazio, tudo é projetado para que o indivíduo suporte estoicamente o sistema estabelecido sem questionar. A história não existe, o futuro não existe; apenas o presente e a satisfação imediata que o entretenimento vazio procura. Por isso não é estranho que se proliferem os livros de autoajuda, autêntica porcaria psicológica, o misticismo à Coelho, ou variantes infinitas do clássico “como se tornar um milionário sem esforço”.

Em última análise, o que está envolvido no entretenimento vazio é convencer-nos de que nada pode ser feito: que o mundo é como está e é impossível mudá-lo e que o capitalismo e o poder opressivo do Estado são tão naturais e necessários como a força da própria gravidade. Por isso, é comum ouvir: “É algo muito triste, é verdade, mas sempre houve oprimidos pobres e ricos opressores e sempre haverá. Não há nada que possa ser feito.”.

O entretenimento vazio alcançou o feito extraordinário de fazer com que os valores do capitalismo também sejam os valores daqueles que são escravizados por ele. Isso não é algo recente, La Boétie, naquele distante século XVI, viu claramente, expressando seu estupor em seu pequeno tratado de servidão voluntária, no qual ele declara que a maioria dos tiranos perdura apenas por causa da aquiescência dos próprios tiranizados.

O sistema estabelecido é muito sutil, com suas estupidezes, forja nossas estruturas mentais, e para isso, usa o púlpito que todos temos em nossas casas: a televisão. Nela não há nada que seja inocente; em todos os programas, em todos os filmes, em todas as notícias, sempre inculta os valores do sistema estabelecido, e sem perceber, fazendo com que as pessoas acreditem que a vida real é assim. Desta forma, introduz os valores que se deseja em nossas mentes.

O entretenimento vazio existe para esconder a evidente relação entre o sistema econômico capitalista e as catástrofes que assolam o mundo. Por isso, é necessário que exista o espetáculo do tipo vácuo: para que enquanto o indivíduo se autodegrada revirando-se no lixo que a televisão exerce sobre ele, nao veja o óbvio, não proteste e continue permitindo que os ricos e poderosos aumentem seu poder e riqueza, enquanto os oprimidos do mundo continuam sofrendo e morrendo em meio às existências miseráveis.

Se continuarmos permitindo que o entretenimento vazio continue modelando nossa consciência e, portanto, o mundo à sua vontade, acabará destruindo-nos. Porque seu objetivo não é senão criar uma sociedade de homens e mulheres que abandonem os ideais e aspirações que os fazem rebeldes, para se contentar com a satisfação das necessidades induzidas pelos interesses das elites dominantes.

Assim, os seres humanos são despojados de toda personalidade, transformados em animais vegetativos, com a desativação da antiga noção de lutar contra a opressão, se tornam atomizados em um enxame de desenfreados egoístas, desta forma, as pessoas ficam sozinhas e desvinculadas entre elas mais do que nunca, absorvidas na auto-exaltação.

Assim, desta forma, os indivíduos não têm mais energia, mudam as estruturas opressivas (que não são percebidas como tais), não têm mais a força ou a coesão social para lutarem por um mundo novo.

No entanto, se queremos reverter esta situação de alienação a que estamos sujeitos, nos resta lutar, como sempre; somente nos toca nos opor aos outros valores diametralmente opostos aos do show vazio, de modo que uma nova sociedade emerge. Uma sociedade em que a vida dominada pelo absurdo do entretenimento vazio seja apenas uma lembrança dos tempos estúpidos, quando os seres humanos permitiram que suas vidas fossem manipuladas tão obscenamente.

 

 

 

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*Fonte: revistaprosaeverso

Uma nova classe de pessoas deve surgir até 2050: a dos inúteis

Com o avanço da inteligência artificial, os humanos serão substituídos na maioria dos trabalhos que hoje existem. Novas profissões irão surgir, mas nem todos conseguirão se reinventar e se qualificar para essas funções. O que acontecerá com esses profissionais? Como eles serão ocupados? Yuval Noah Harari, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e autor do livro Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, pensa ter a resposta.

Em artigo publicado no The Guardian, intitulado O Significado da Vida em um Mundo sem Trabalho, o escritor comenta sobre uma nova classe de pessoas que deve surgir até 2050: a dos inúteis. “São pessoas que não serão apenas desempregadas, mas que não serão empregáveis”, diz o historiador.

De acordo com Harari, esse grupo poderá acabar sendo alimentado por um sistema de renda básica universal. A grande questão então será como manter esses indivíduos satisfeitos e ocupados. “As pessoas devem se envolver em atividades com algum propósito. Caso contrário, irão enlouquecer. Afinal, o que a classe inútil irá fazer o dia todo?”.

Uma das possíveis soluções, apontadas pelo professor, são os games de realidade virtual em 3D. “Na verdade, essa é uma solução muito antiga. Por centenas de anos, bilhões de humanos encontraram significados em jogos de realidade virtual. No passado, chamávamos esses jogos de ‘religiões’”, afirma Harari. “Se você reza todo dia, ganha pontos. Se você se esquece de rezar, perde pontos. Se no fim da vida você ganhou pontos o suficiente, depois que morrer irá ao próximo nível do jogo (também conhecido como céu)”.

Mas a ideia de encontrar significado na vida com essa realidade alternativa não é exclusividade da religião, como explica o professor.

“O consumismo também é um jogo de realidade virtual. Você ganha pontos por adquirir novos carros, comprar produtos de marcas caras e tirar férias fora do país. E, se você tem mais pontos que todos os outros, diz a si mesmo que ganhou o jogo”.

Para o escritor, um exemplo de como funcionará o mundo pós-trabalho pode ser observado na sociedade israelense. Alguns judeus ultraortodoxos não trabalham e passam a vida inteira estudando escrituras sagradas e realizando rituais religiosos. Esses homens e suas famílias são mantidos pelo trabalho de suas esposas e subsídios governamentais. “Apesar desses homens serem pobres e nunca trabalharem, pesquisa após pesquisa eles relatam níveis de satisfação mais altos que qualquer outro setor da sociedade israelense”, afirma Harari.

Segundo o professor, o significado da vida sempre foi uma história ficcional criada por humanos, e o fim do trabalho não irá necessariamente significar o fim do propósito. Ao longo da história, muitos grupos encontraram sentido na vida mesmo sem trabalhar. O que não será diferente no mundo pós-trabalho, seja graças à realidade virtual gerada em computadores ou por religiões e ideologias. “Você realmente quer viver em um mundo no qual bilhões de pessoas estão imersas em fantasias, perseguindo metas de faz de conta e obedecendo a leis imaginárias? Goste disso ou não, esse já é o mundo em que vivemos há centenas de anos”.

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*Fonte: epocanegocios

Pessoas que preferem ficar em casa são mais inteligentes, segundo estudo

Um estudo científico afirma que as pessoas que preferem ficar em casa em vez de sair para festejar são as mais inteligentes. Esta análise, realizada pela revista científica British Journal of Psychology, valida o estilo de vida dos mais introvertidos. Eles explicam que, apesar dos indivíduos que socializam mais serem proporcionalmente mais felizes, isso não se aplica para os mais inteligentes, que são os que ficam mais em casa. Já podemos dar essa desculpa para cancelar todos os nossos planos de fim de semana?

A pesquisa estudou 15 mil pessoas de uma ampla variedade de lugares, religiões, etnias, situação financeira, gênero etc. O resultado final foi que o desejo de ficar em casa coincide muito frequentemente com um QI maior, o suficiente para associar ambos os fatores. “Os seres mais inteligentes experimentam uma satisfação menor com o aumento do contato interpessoal com seus amigos ou conhecidos”, foi uma das conclusões dos psicólogos.

A equipe de especialistas, liderada pelos psicólogos Satoshi Kanazawa e Norman Li, também descobriu que, enquanto as pessoas que vivem em áreas com alta densidade populacional são menos felizes do que aqueles que vivem em comunidades menores, passar tempo com amigos deu a maioria dos participantes sentimentos de prazer e satisfação. No entanto, quando deixaram aqueles com QIs elevados em casa experimentaram os mesmos sentimentos de prazer e satisfação.

Os inteligentes não têm muita “satisfação” se socializando e preferem estar sozinhos. Essas descobertas podem nos tornar mais conscientes da maneira como nossos cérebros foram desenvolvidos para enfrentar estilos de vida modernos. Com base em sua análise sobre “a teoria da felicidade da savana”, os pesquisadores chegaram à teoria de que o modo de vida de nossos antepassados caçador-coletor ainda tem uma influência sobre a forma como vivemos no mundo.

A vida na savana africana, por exemplo, seria drasticamente diferente da vida da cidade. Pensa-se que as pessoas viviam então em grupos dispersos de aproximadamente 150 indivíduos e que a socialização dentro da sua própria tribo era crucial para a sobrevivência em termos de alimentação e reprodução. São esses princípios e sistemas de nossos antepassados que Kanazawa e Li basearam suas últimas conclusões.

Embora uma grande parte da sociedade consiga conforto, prazer e satisfação nas mesmas coisas, como um pequeno grupo com o qual possa se socializar e compartilhar espaços de lazer, os resultados do estudo sugerem que aqueles com maiores coeficientes intelectuais se desenvolveram além dessas necessidades. As mudanças nos cérebros e os requisitos do “extremamente inteligente” vieram com as constantes mudanças e exigências dos tempos modernos.

“Os indivíduos mais inteligentes possuem níveis mais elevados de QI e, portanto, uma maior capacidade de resolver problemas evolutivamente inovadores”, explicaram os pesquisadores. “[Eles] enfrentam menos dificuldade para entender e lidar com situações evolutivamente novas”, disse Kanazawa para a mídia. Embora dependamos mais do que nunca de nossa conexão com o mundo, parece que o cérebro está se preparando para uma vida na solidão.

Em outras palavras, de acordo com Kanazawa e Li, as pessoas mais inteligentes preferem passar o tempo no conforto de sua casa porque suas mentes se adaptaram melhor ao estilo de vida moderno, separado dos hábitos de nossos antepassados.

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*Fonte: portalraizes

“São demasiado pobres os nossos ricos” – por Mia Couto

A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.

A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos «ricos». Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-rícos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas, muito convexos e estradas muito concavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam. O fausto das residências não os torna imunes. Pobres dos nossos riquinhos!

São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam de ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.

*Por Mia Couto, in ‘Pensatempos’

 

 

 

 

 

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*Fonte: revistapazes

Nove algoritmos que podem estar tomando decisões sobre sua vida – sem você saber

Um vídeo que mostra o médico David Dao sendo removido de um voo da United Airlines em um aeroporto de Chicago, nos Estados Unidos, viralizou em abril passado.

O episódio gerou prejuízos à imagem da empresa americana, cuja tripulação queria que Dao cedesse seu lugar a um funcionário para que ele fosse ao destino do voo, Louisville, para render a equipe local. Mas quase nenhuma das críticas tratou de um elemento crucial do ocorrido: a necessidade de retirar o médico do voo foi decidida por uma máquina, mais especificamente por um programa de computador.

É exemplo clássico de como esses programas, conhecidos como algoritmos, estão tomando decisões que afetam nossas vidas, muitas vezes sem que a gente sequer saiba disso.

Especialistas já manifestaram sua preocupação com a falta de transparência no uso de sistemas de inteligência artificial nesta tomada de decisões. Mesmo assim, seu uso está se popularizando: um algoritmo já pode decidir se você será escolhido para uma entrevista de emprego ou se conseguirá um empréstimo, com quem você se relacionará e até mesmo quanto tempo de prisão um criminoso “merece”.

Reunimos a seguir alguns exemplos de como sua vida já pode estar sendo afetada por algoritmos.

1. O computador decide se você fará ou não uma entrevista de emprego

Currículos são cada vez mais descartados sem sequer passar por mãos humanas. Isso porque as empresas estão empregando sistemas automatizados em seus processos seletivos, principalmente na análise de centenas de milhares de inscrições.

Nos Estados Unidos, estima-se que mais de 70% dos candidatos sejam eliminados antes de serem avaliados por pessoas. Para as companhias, isso economiza dinheiro e tempo, mas alguns questionam a neutralidade dos algoritmos.

Em um artigo na revista Harvard Business Review, Gideon Mann e Cathy O’Neil argumentam que esses programas não são desprovidos de preconceitos humanos, então, isso pode levar a decisões tendenciosas por parte da inteligência artificial.

2. Quer dinheiro emprestado? Seu perfil na rede social pode afetar isso

Historicamente, quando alguém pede dinheiro a uma instituição financeira, a resposta vai depender da análise das chances do empréstimo ser pago, com base na proporção entre a dívida e a renda desta pessoa e seu histórico de crédito.

Não é mais assim: agora, algoritmos reúnem e analisam dados de múltiplas fontes, que vão desde padrões de compra a buscas na internet e sua atividade em redes sociais.

O problema é que esse método usa informações coletadas sem o conhecimento ou colaboração de quem pede o dinheiro. Também há uma questão em torno da transparência do código do algoritmo e seu comportamento tendencioso.

3. Um algoritmo pode te ajudar a achar um amor, mas pode não ser quem você espera

Não é uma surpresa que sites de namoro usam algoritmos para identificar duas pessoas compatíveis. É um dos seus principais apelos para o público, na verdade.

Mas a forma como isso é feito não é muito clara, especialmente após o eHarmony, um dos principais deste mercado, ter revelado no ano passado que fez ajustes na preferências de seus clientes para aumentar suas chances de encontrar um par ideal, algo que pode incomodar quem perdeu tempo para respoder às 400 perguntas necessárias para se ter um perfil no site.

Mas até mesmo em alternativas como o aplicativo Tinder, em que as variáveis são bem menos complexas (geografia, idade e orientação sexual), as combinações não são tão simples assim.

Quem usa o serviço recebe uma nota secreta sobre o quanto essa pessoa é “desejável”, calculada para “permitir melhores combinações”, segundo o Tinder. A fórmula é mantida em segredo, mas os executivos da empresa por trás do aplicativo já indicaram que o número de vezes que o perfil de alguém é curtido ou rejeitado tem um papel crucial sobre isso.

4. Um programa pode determinar se você é viciado em drogas e se conseguirá contratar um plano de saúde

O mal uso de medicamentos e drogas é a principal causa de mortes acidentais nos Estados Unidos, e especialistas com frequência se referem a esse problema como uma epidemia.

Para lidar com isso, cientistas e autoridades estão se unindo em projetos baseados em dados. Recentemente, no Estado do Tennessee, nos Estados Unidos, a operadora de planos de saúde Blue Cross e a empresa de tecnologia Fuzzy Logix anunciaram a criação de um algoritmo para analisar nada menos do que 742 variáveis e, assim, avaliar o risco de um comportamento abusivo com medicamentos.

Isso levantou uma questão ética: os dados analisados incluem o histórico médico e até mesmo o endereço residencial. O argumento a favor desse tipo de intervenção é que isso pode salvar vidas e mitigar prejuízos ao sistema de saúde – viciados em opioides têm, por exemplo, 59% mais chances de serem usuários de alto custo.

O mercado de inteligência artificial em saúde deve crescer de US$ 670 milhões (R$ 2,13 bilhões) em 2016 para quase US$ 8 bilhões (R$ 25,4 bilhões) até 2022, segundo um estudo feito pela consultoria MarketsandMarkets, e essa previsão foi feita antes do anúncio de que a gigante do varejo Amazon entrará neste mercado.

Acredita-se que o uso de algoritmos e da inteligência artificial nesta área deve tornar a tomada de decisões mais eficiente e reduzir o número de erros humanos.

5. Eles determinam até se um filme será feito

Essa não é a primeira vez que alguém dirá que Hollywood tem uma fórmula para produzir sucessos. Mas é diferente do processo baseado na experiência e instinto de produtores ao selecionar um roteiro ou elenco.

Algoritmos são usados para analisar não só as chances de um filme ir bem nas bilheterias, mas também quanto dinheiro ele fará. Esse serviço é oferecido por várias empresas, e Paramount, Universal e Warner Bros, alguns dos principais estúdios de Hollywood, contratam essas consultorias.

Além de comparar um novo filme com uma base de dados de produções passadas, esses serviços afirmam que podem detectar o impacto de mudanças na história e até mesmo entre os atores.

6. Algoritmos influenciam em quem você vota e quem será presidente

Em uma época em que dados tornaram-se mais importantes do que empatia e carisma no mundo da política, algoritmos são cruciais para candidatos em busca de votos.

Não foi só a retórica de Barack Obama que impressionou em sua ascensão rumo à indicação do Partido Democrata para disputar a Presidência dos Estados Unidos em 2008, mas também seu uso desta tecnologia.

A campanha de Obama mirou incessantemente nos eleitores indecisos, usando uma série de informações para individualizar ao máximo os perfis do eleitorado.

Quase dez anos depois, Emmanuel Macron conseguiu uma vitória inesperada na França com uma estratégia similar – algoritmos ajudaram a identificar distritos e bairros que eram os mais representativos do país como um todo. Isso ajudou a guiar sua equipe na realização de 25 mil entrevistas usadas para estabelecer as prioridades e estratégias de sua campanha.

7. A polícia usa algoritmos para prever se você será um criminoso

O sistema de vigilância da China sobre seus 1,3 bilhão de habitantes é bem conhecido, mas parece haver espaço para expandi-lo. O governo anunciou em 2015 o desenvolvimento de um sistema capaz de “prever crimes” com base em dados pessoais, como o histórico médico e entregas de compras.

Grupos de direitos humanos acusaram as autoridades chinesas de violar a privacidade dos cidadãos, dizendo que o real propósito do sistema é monitorar dissidentes.

A China não é, no entanto, o único país a usar algoritmos para prever crimes: o policiamento baseado em dados é aplicado nos Estados Unidos há mais de uma década, e algumas forças de segurança britânicas começaram em 2012 a usar softwares de mapeamento e previsão de crimes.

O programa é bem simples em comparação com algo como o mundo retratado pelo filme Minority Report (2002): dados sobre os tipos de crimes, sua localização, data e hora geram um mapa identificando as áreas onde eles provavelmente voltarão a ocorrer.

Segundo uma pesquisa do centro britânico Royal United Services Institute for Defence and Security Studies, algoritmos podem ter até dez vezes mais chances de prever a localização de um crime futuro em comparação com o policiamento comum.

No entanto, um destes sistemas, o PredPol, usado pela polícia da Grande Manchester, no Reino Unido, gerou uma polêmica. Pesquisas mostraram que ele criava uma distorção em que policiais eram enviados para os mesmos bairros repetidamente, independentemente das reais taxas de criminalidade nestas áreas.

8. Um computador pode te mandar para a prisão

Juízes em ao menos dez Estados americanos estão tomando decisões em casos criminais com a ajuda de um sistema automatizado chamado COMPAS, baseado em um algoritmo de análise de risco para prever a probabilidade de uma pessoa cometer um novo crime.

Um caso famoso nesse sentido ocorreu em 2013, quando um homem chamado Eric Loomis foi condenado a sete anos de prisão por fugir da polícia e dirigir um carro sem a permissão do dono no Estado de Wisconsin.

Antes de a sentença ser proferida, autoridades apresentaram uma avaliação, feita com base em uma entrevista com Loomis e informações fornecidas pelo algoritmo sobre sua probabilidade de reincidência – o resultado indicava que ele tinha um “alto risco de cometer novos crimes”.

Seus advogados questionaram a condenação usando vários argumentos, entre eles que o COMPAS foi criado por uma empresa privada e que informações sobre o algoritmo não foram reveladas. Também afirmaram que os direitos de Loomis foram violados, porque a avaliação levava em conta fatores como gênero e raça.

De fato, uma análise de mais de 10 mil casos na Flórida ao longo de dois anos, publicado em 2016 pela ONG ProPublic, mostrou que a previsão de alto risco de reincidência era mais comum para negros do que para brancos.

9. Eles podem influenciar seu dinheiro

Esqueça as imagens de pessoas gritando na bolsa de valores com telefones nos ouvidos. Transações no mercado de ações estão se tornando cada vez mais um produto de cálculos feitos por algoritmos, que são mais rápidos do que qualquer humano e compram e vendem papéis em questão de segundos.

Defensores desta tecnologia afirmam que uma máquina é imune à volatilidade emocional do mercado e investe mais racionalmente. Isso, no entanto, foi questionado em 2010, quando algoritmos foram apontados como os culpados pelo crash que fez desaparecer temporariamente do mercado de ações americano US$ 1 trilhão.

Um relatório do banco JP Morgan estimou que, em 2017, investimentos com base em algoritmos ou fórmulas computacionais responderam por quase 90% do volume de transações com ações nos Estados Unidos.

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*Fontre: bbc brasil

“Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”

As Torres Gêmeas, edifícios idênticos que se refletem mutuamente, um sistema fechado em si mesmo, impondo o igual e excluindo o diferente e que foram alvo de um ataque que abriu um buraco no sistema global do igual. Ou as pessoas praticando binge watching (maratonas de séries), visualizando continuamente só aquilo de que gostam: mais uma vez, multiplicando o igual, nunca o diferente ou o outro… São duas das poderosas imagens utilizadas pelo filósofo sul coreano Byung-Chul Han (Seul, 1959), um dos mais reconhecidos dissecadores dos males que acometem a sociedade hiperconsumista e neoliberal depois da queda do Muro de Berlim. Livros como A Sociedade do Cansaço, Psicopolítica e A Expulsão do Diferente reúnem seu denso discurso intelectual, que ele desenvolve sempre em rede: conecta tudo, como faz com suas mãos muito abertas, de dedos longos que se juntam enquanto ajeita um curto rabo de cavalo.

“No 1984 orwelliano a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje não temos nem essa consciência de dominação”, alertou em sua palestra no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB), na Espanha, onde o professor formado e radicado na Alemanha falou sobre a expulsão da diferença. E expôs sua particular visão de mundo, construída a partir da tese de que os indivíduos hoje se autoexploram e têm pavor do outro, do diferente. Vivendo, assim, “no deserto, ou no inferno, do igual”.

Autenticidade.
Para Han, as pessoas se vendem como autênticas porque “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”. E é impossível ser verdadeiramente diferente hoje porque “nessa vontade de ser diferente prossegue o igual”. Resultado: o sistema só permite que existam “diferenças comercializáveis”.

Autoexploração.
Na opinião do filósofo, passou-se do “dever fazer” para o “poder fazer”. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito”, e se você não é um vencedor, a culpa é sua. “Hoje a pessoa explora a si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira do neoliberalismo que culmina na síndrome de burnout”. E a consequência: “Não há mais contra quem direcionar a revolução, a repressão não vem mais dos outros”. É “a alienação de si mesmo”, que no físico se traduz em anorexias ou em compulsão alimentar ou no consumo exagerado de produtos ou entretenimento.

‘Big data’.
”Os macrodados tornam supérfluo o pensamento porque se tudo é quantificável, tudo é igual… Estamos em pleno dataísmo: o homem não é mais soberano de si mesmo, mas resultado de uma operação algorítmica que o domina sem que ele perceba; vemos isso na China com a concessão de vistos segundo os dados geridos pelo Estado ou na técnica do reconhecimento facial”. A revolta implicaria em deixar de compartilhar dados ou sair das redes sociais? “Não podemos nos recusar a fornecê-los: uma serra também pode cortar cabeças… É preciso ajustar o sistema: o ebook foi feito para que eu o leia, não para que eu seja lido através de algoritmos… Ou será que o algoritmo agora fará o homem? Nos Estados Unidos vimos a influência do Facebook nas eleições… Precisamos de uma carta digital que recupere a dignidade humana e pensar em uma renda básica para as profissões que serão devoradas pelas novas tecnologias”.

Comunicação.
“Sem a presença do outro, a comunicação degenera em um intercâmbio de informação: as relações são substituídas pelas conexões, e assim só se conecta com o igual; a comunicação digital é somente visual, perdemos todos os sentidos; vivemos uma fase em que a comunicação está debilitada como nunca: a comunicação global e dos likes só tolera os mais iguais; o igual não dói!”.

Jardim.
“Eu sou diferente; estou cercado de aparelhos analógicos: tive dois pianos de 400 quilos e por três anos cultivei um jardim secreto que me deu contato com a realidade: cores, aromas, sensações… Permitiu-me perceber a alteridade da terra: a terra tinha peso, fazia tudo com as mãos; o digital não pesa, não tem cheiro, não opõe resistência, você passa um dedo e pronto… É a abolição da realidade; meu próximo livro será esse: Elogio da Terra. O Jardim Secreto. A terra é mais do que dígitos e números.

Narcisismo.
Han afirma que “ser observado hoje é um aspecto central do ser no mundo”. O problema reside no fato de que “o narcisista é cego na hora de ver o outro” e, sem esse outro, “não se pode produzir o sentimento de autoestima”. O narcisismo teria chegado também àquela que deveria ser uma panaceia, a arte: “Degenerou em narcisismo, está ao serviço do consumo, pagam-se quantias injustificadas por ela, já é vítima do sistema; se fosse alheia ao sistema, seria uma narrativa nova, mas não é”.

Os outros.
Esta é a chave para suas reflexões mais recentes. “Quanto mais iguais são as pessoas, mais aumenta a produção; essa é a lógica atual; o capital precisa que todos sejamos iguais, até mesmo os turistas; o neoliberalismo não funcionaria se as pessoas fossem diferentes”. Por isso propõe “retornar ao animal original, que não consome nem se comunica de forma desenfreada; não tenho soluções concretas, mas talvez o sistema acabe desmoronando por si mesmo… Em todo caso, vivemos uma época de conformismo radical: a universidade tem clientes e só cria trabalhadores, não forma espiritualmente; o mundo está no limite de sua capacidade; talvez assim chegue a um curto-circuito e recuperemos aquele animal original”.

Refugiados.
Han é muito claro: com o atual sistema neoliberal “não se sente preocupação, medo ou aversão pelos refugiados, na verdade são vistos como um peso, com ressentimento ou inveja”; a prova é que logo o mundo ocidental vai veranear em seus países.

Tempo.
É preciso revolucionar o uso do tempo, afirma o filósofo, professor em Berlim. “A aceleração atual diminui a capacidade de permanecer: precisamos de um tempo próprio que o sistema produtivo não nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem nada produtivo a fazer, mas que não deve ser confundido com um tempo de recuperação para continuar trabalhando; o tempo trabalhado é tempo perdido, não é um tempo para nós”.

O “Monstro” da União Europeia

“Estamos na Rede, mas não escutamos o outro, só fazemos barulho”, diz Byung-Chul Han, que viaja o necessário, mas não faz turismo “para não participar do fluxo de mercadorias e pessoas”. Também defende uma política nova. E a relaciona com a Catalunha, tema cuja tensão atenua brincando:

“Se Puigdemont prometer voltar ao animal original, eu me torno separatista”.

Já no aspecto político, enquadra o assunto no contexto da União Europeia: “A UE não foi uma união de sentimentos, mas sim comercial; é um monstro burocrático fora de toda lógica democrática; funciona por decretos…; nesta globalização abstrata acontece um duelo entre o não lugar e a necessidade de ser de um lugar concreto; o especial é incômodo, gera desassossego e arrebenta o regional. Hegel dizia que a verdade é a reconciliação entre o geral e o particular e isso, hoje, é mais difícil…”. Mas recorre à sua revolução do tempo: “O casamento faz parte da recuperação do tempo livre: vamos ver se haverá um casamento entre a Catalunha e Espanha, e uma reconciliação”.

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*Fonte: elpais / Por Carles Geli

Afinal, quantas árvores são necessárias para produzir uma folha de papel?

Você sabe quantas árvores são necessárias para produzir uma folha de papel? Para responder a essa pergunta a partir de uma lógica puramente matemática, é preciso saber quantas folhas é possível produzir a partir de uma única árvore.

Considere que uma árvore padrão na produção de papel, que é o eucalipto, é capaz de produzir 20 resmas de papel. Como cada resma possui 500 folhas, 20 resmas possuem 10 mil folhas tamanho A4 de 75 g/m2 de gramatura por tronco. Se uma árvore é capaz de dar vida a 10 mil dessas folhas, isso significa que para produzir uma folha de papel é necessário 1/10.000 de árvore.

Embora este pareça um número irrelevante, o problema vai muito além de uma simples folha de papel. Isso porque, atualmente, a maior parte do papel produzido no Brasil é oriunda do reflorestamento, o que ajuda a resolver a questão do prejuízo ambiental associado ao desmatamento das florestas e o consequente esgotamento dos recursos naturais. O consumo de papel, na verdade, acarreta problemas associados ao processo de produção e descarte do material.
Descarte de papel: um problema ainda em aberto

O consumo de papel acarreta diversos problemas relacionados com o descarte, uma vez que este material pode demorar de duas semanas a seis meses para se decompor no meio ambiente. Embora pareça pouco, este é um tempo suficiente para causar muito estrago, sobretudo em função da quantidade de papel descartada nos córregos, rios e áreas urbanas, que contribuem para a ocorrência de enchentes e colocam em risco a vida de animais.

Além disso, a própria produção de papel pode causar diversos prejuízos ambientais. A reciclagem de papel, ainda que contribua para a redução do descarte no ambiente, demanda a utilização de mais produtos químicos no processamento, tornando poluente uma atividade que já tem essa característica quando utiliza matéria-prima original.
Qual a melhor solução para o uso de papel?

O reflorestamento resolve parte da questão, enquanto a reciclagem contribui na outra ponta. Além disso, a reutilização do papel pode atrasar a necessidade do descarte, mas é preciso atacar o terceiro vértice do problema — que é justamente a produção. Nesse caso, o caminho é a substituição do papel e redução de sua utilização no dia a dia.

Para que isso ocorra, é preciso que mudem os hábitos da sociedade. Nesse aspecto, o uso da tecnologia pode ser vital: com o aumento do uso da informática, da tecnologia digital e da internet, é possível reduzir bastante o uso de papel na atividade humana. A questão não é quantas árvores são necessárias para produzir uma folha de papel, mas quantas folhas de papel devemos deixar de consumir e produzir?

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*Fonte: pensamentoverde

Tirar selfies obsessivamente agora é conhecido como transtorno mental

No fim do ano passado, os pesquisadores Janarthanan Balakrishnan, da Thiagarajar School of Management em Madura, na Índia, e Mark D. Griffiths, da Nottingham Trent University em Nottingham, no Reino Unido, publicaram um artigo que aponta a obsessão por selfies como um transtorno mental.

O estudo criou uma Escala de Comportamento de Selfitis (Selfitis Behavior Scale) que visa classificar pessoas auto-obcecadas em graus de manifestação de selfies. Em primeiro lugar, os pesquisadores apresentaram um conjunto de 6 fatores que levam as pessoas a tirarem selfie obsessivamente:

Fator 1: aprimoramento ambiental
Fator 2: competição social
Fator 3: busca de atenção
Fator 4: modificação do humor
Fator 5: autoconfiança
Fator 6: conformidade subjetiva

Eles encontraram 225 alunos de duas escolas nas universidades da Índia e classificaram-nos como limítrofes, agudos e crônicos. 9% dos participantes tiraram mais de 8 selfies todos os dias e 25% compartilhavam pelo menos 3 desses selfies nas mídias sociais.

Dos participantes, 34% eram limítrofes, 40,5% eram agudos e 25,5% eram crônicos. Verificou-se que os homens exibiam selfitis a uma taxa mais elevada do que as mulheres – 57,5% em comparação com 42,5%, respectivamente. As pessoas mais jovens da faixa etária dos 16-20 anos também eram as mais suscetíveis.

“Normalmente, aqueles com a condição sofrem de falta de autoconfiança e buscam se ‘encaixar’ com aqueles que os rodeiam e podem exibir sintomas semelhantes a outros comportamentos potencialmente viciantes”, diz Balakrishnan ao New York Post.

Segundo o pesquisador, a existência da condição parece ter sido confirmada, porém, espera-se que novas pesquisas sejam realizadas para entender mais sobre como e por que as pessoas desenvolvem esse comportamento potencialmente obsessivo e o que pode ser feito para ajudar as mais afetadas.

 

 

 

 

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*Fonte: photochannel

Auroville, a cidade onde é possível viver totalmente sem dinheiro

É preciso ter muito senso de humor quando o governo declara que a maioria das notas que você tem na carteira não vale mais nada. Foi o que aconteceu na Índia: no fim do ano passado, o país retirou de circulação as cédulas de alto valor mais alto.

Em um país com 1,2 bilhão de habitantes, a corrida para trocar as notas de 500 (R$ 25) e 1 mil (R$ 50) rúpias ou depositar o valor em contas provocou grandes filas nos bancos – as cédulas que deixaram de valer correspondiam a 85% de todo o dinheiro em circulação no país.

A decisão do governo indiano pretende combater a corrupção, o mercado negro e a evasão de divisas, já que muitos trabalhadores recebem em dinheiro vivo.

 

Em novembro, poucos eram os sinais de revolta nas filas: as pessoas concordavam com a medida. Mas assim que as notas saíram de circulação, os jornais noticiaram que qualquer transação exigia negociações complicadas.

Houve festas de casamento em que convidados tiveram que pagar a conta. O governo chegou a declarar, por exemplo, que os pedágios seriam grátis porque não haveria dinheiro suficiente para troco.

Talvez o único lugar na Índia onde o desaparecimento das cédulas não tenha produzido nenhum efeito seja Auroville, também chamada de “A Cidade do Amanhecer”, localizada próximo a Pondicherry, no sul do país.

A cidade foi fundada a partir dos princípios da ioga integral e é uma comunidade internacional, onde vivem 50 mil pessoas de 50 países, inclusive do Brasil.

A Mãe e a ‘bola de golfe dourada’

Auroville foi fundada em 1968 como um povoado internacional dedicado à busca de uma vida sustentável e harmoniosa.

A fundadora é uma parisiense chamada Mirra Alfassa (1878-1973) – que depois seria conhecida como “a Mãe”.

Filha de mãe egípcia e pai turco, ela nasceu na França e estudou ocultismo na Argélia. Em 1914, conheceu na Índia o poeta, nacionalista e professor de ioga Sri Aurobindo, seu mentor e companheiro.

As regras de Auroville

Para viver na “Cidade do Amanhecer” é preciso conhecer algumas regras:

– Auroville não pertence a ninguém em particular, mas a toda a humanidade. No entanto, para viver em Auroville é preciso ser um servidor voluntário da consciência divina.

– Auroville será o lugar de uma educação infinita, do progresso constante e de uma juventude que nunca envelhece.

– Auroville pretende ser a ponte entre o passado e o futuro, aproveitando todas as descobertas para avançar rumo ao futuro.

– Auroville será o lugar de uma pesquisa material e espiritual que vai resultar na manifestação viva da unidade humana verdadeira.

Alfassa sonhava com uma sociedade sem dinheiro, na qual o trabalho coletivo e a troca de trabalho por serviços tornaria moedas e cédulas irrelevantes.

A comunidade, que ocupa atualmente uma área de 20 quilômetros quadrados, plantou um milhão de árvores e transformou um terreno deserto e abandonado em área verde.

Mas não se pode dizer que a Auroville de hoje é a sociedade ideal que Alfassa imaginou: sua história inclui crimes, conflitos e constantes dúvidas sobre sua transparência financeira.

Mesmo assim, o empreendimento floresce: os aurovilianos têm empresas de todo o tipo, desde tecnológicas até têxteis.

Sonhando com café

No Café dos Sonhadores, perto do centro de informações para visitantes, ofereço um café a uma auroviliana recente em troca da sua história.

“Os sonhadores fazem o melhor café”, me diz a mulher, que prefere ficar no anonimato. “Mas é caro.”

O garçom pede o número da conta dela e ela indica que sou eu quem vai pagar.

“Cada um tem uma conta onde é depositada a sua manutenção. Estou aqui há três meses e, no primeiro ano, cada pessoa tem que financiar a sua estada”, explica.

Muitos residentes têm rendimentos próprios ou o apoio econômico de parentes e amigos.

A manutenção é uma quantia mensal normalmente suficiente para atender as necessidades básicas em Auroville. O valor é pago na unidade comercial ou no serviço comunitário onde eles trabalham.

A nova auroviliana aparenta ter menos que seus 70 anos.

“Isso é por causa da minha dieta e porque ando de bicicleta”, garante.

Com uma bata de algodão e um colar que, explica, simboliza a amizade, ela irradia um grande entusiasmo com a sua nova vida.

“Eu trabalhava com tecnologia da informação na Nestlé, na Suíça… Ainda não posso acreditar”, exclama, entre risos.

O contraste entre a multinacional altamente tecnológica e os centros de saúde e lojas de roupas artesanais é absurdo.

“Mas eu tinha que criar meu filho. Mas passei a procurar uma comunidade e, quando encontrei a página de Auroville na internet, soube imediatamente que este era o lugar em que eu queria estar”, lembra.

“Foi uma energia estranha.”

Em Auroville não existe propriedade privada da terra, de casas ou comércio. Tudo é coletivo.

A página da comunidade na internet afirma que “em Auroville o trabalho não é uma forma de ganhar o sustento, mas sim uma forma de servir ao divino”.

“Minha missão é trazer o transporte elétrico para Auroville”, explicou. “Fiquei horrorizada ao ver tantas motocicletas!”

Por isso, ela está financiando o projeto e atendendo os visitantes no centro de informações. Ela fez amigos e está decidida a passar o resto dos dias na comunidade.

“Existe algo neste lugar que é maior do que a gente”, diz.

Embora não seja devota dos ensinamentos da “Mãe” e seja mais realista do que peregrina, ela fala sobre algo parecido com destino.

“Quando se recebe um chamado, as coisas fluem”, diz.

E o que ela oferece é mais do que tempo de trabalho.

“Tenho uma aposentadoria, assim não preciso que me paguem. Simplesmente quero contribuir com esta ideia.”
Direito de imagem Auroville
Image caption Existem em Auroville mais de uma dezena de fazendas de diferentes tamanhos, onde não só é possível semear, mas aprender a cultivar a terra

“Auroville faz com que as coisas sejam mais fáceis se você tem um sonho”, continua.

No entanto, o sonho de Auroville de libertar-se do dinheiro “ainda não está funcionando muito bem”, admite ela. “Mas não lidamos com dinheiro, o que é agradável.”

“Quem não tem rendimentos recebe ajuda, mas é um valor que dá apenas para viver modestamente. O importante é fazer amigos na comunidade e encontrar uma maneira de contribuir com a sua energia”, conclui.

O intervalo de descanso termina e ela volta ao seu posto no centro de informações.

Em muitas partes do mundo, pessoas relativamente saudáveis e aposentadas contribuem com seu tempo e conhecimento para o sustento das sociedades.

O que me surpreendeu depois de conversar com esta auroviliana é saber que ela vive numa comunidade na qual efetivamente paga para trabalhar.

E, ao que parece, sente uma satisfação que o dinheiro não consegue comprar.

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*Fonte: bbc/brasil