Sabe a história de que quem bebe uma taça de vinho por dia vive mais? É mentira

Nos últimos anos, temos sido bombardeados pela mídia comercial com “estudos” que comprovariam os benefícios para a saúde de consumir pequenas quantidades de bebidas alcoólicas, como o vinho. E se você descobrisse que, na verdade, esses pseudoestudos foram patrocinados pela indústria do álcool e que, na verdade, tomar um copo de bebida alcoólica toda noite encurta sua vida? E que apenas meio copo diário de álcool aumenta o risco de uma mulher ter câncer de mama?

Um estudo feito pela Universidade de Cambridge e divulgado pela revista científica The Lancet na semana passada enterra de vez a lenda urbana de que a bebida pode trazer algum bem, mesmo em pequenas quantidades. O consumo superior a 12,5 unidades de álcool por semana, o equivalente a cinco canecas de cerveja ou cinco taças de vinho semanais, ajuda a diminuir seus dias na Terra. Ou seja, o álcool encurta a expectativa de vida em vez de prolongá-la.

Ciência ou lobby da indústria?

“A mensagem central de nosso trabalho é que, se uma pessoa já consome álcool, beber menos a ajudará a viver mais e a ter um menor risco de contrair doenças cardiovasculares graves”, disse Angela Wood, diretora da pesquisa. E isso inclui rum, cerveja, vinho ou qualquer outra bebida. Todas elas estão associadas a um maior risco de AVC, aneurisma fatal, insuficiência cardíaca e morte.

O consumo de cinco canecas de cerveja ou cinco taças de vinho semanais ajuda a diminuir seus dias na Terra. Ou seja, o álcool encurta a expectativa de vida em vez de prolongá-la

Em um comunicado, os pesquisadores comentaram que sua descoberta desafia justamente a crença implantada pelo lobby da indústria de bebidas de que o consumo moderado de álcool seja benéfico ao coração e ao sistema circulatório.

Os autores analisaram o histórico clínico de 600 mil adultos de 19 países do mundo que não se definiam como “abstêmios”. E descobriram que consumir 25 ou mais unidades de álcool por semana reduz a esperança de vida em um ou dois anos. Beber 18 canecas de cerveja ou vinho por semana reduziria a esperança de vida entre quatro e cinco anos.

Na última semana, a revista Mother Jones publicou uma profunda investigação sobre a relação entre o consumo de álcool e o câncer de mama, a partir da experiência vivida pela própria autora, Stephanie Mencimer. Aos 47, Stephanie não estava no grupo de risco (amamentou suas crianças, fazia exercícios regularmente), não tinha histórico familiar nem estava acima do peso quando descobriu ter câncer. A repórter bebia regularmente, e ficou espantada que nenhum médico tivesse feito a associação entre o hábito e a doença.

Mulheres que bebem mais de dois drinques por dia têm 15% de chances a mais de ter câncer de mama, 25% a mais do que as que não bebem

Os números a que Stephanie chegou são espantosos: mulheres que bebem acima de dois drinques por dia têm 15% de chances a mais de ter câncer de mama, 25% a mais do que as que não bebem. “Enquanto os médicos frequentemente me advertiram a não pôr creme no meu café para não entupir minhas artérias –uma correlação que já foi bastante rebatida– nem uma só vez algum deles sugeriu que eu teria um risco maior de câncer se não cortasse o álcool. Preenchi dezenas de formulários médicos durante anos perguntando quanto eu bebia por semana, e a resposta sempre foi: ‘então você bebe socialmente’”, relata.

A repórter descobriu que, em 1988, a OMS já havia colocado o álcool no grupo 1 dos elementos cancerígenos, o que significa que está provado que causa câncer. Não há dose segura de álcool em humanos, segundo a entidade da ONU, e ele está associado a pelo menos sete tipos de câncer, mas mata mais mulheres de câncer nos seios do que qualquer outro. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer estima que para cada drinque bebido diariamente, o risco de câncer de mama cresce 7%.

Ao mesmo tempo, ao longo dos anos, o dinheiro utilizado nos EUA pela indústria da bebida para fazer lobby só aumentou, gerando os tais “estudos” afirmando que o álcool em quantias moderadas pode fazer “bem”. Também aumentou a utilização de mulheres na propaganda para vender bebidas, mesmo com o álcool associado ao câncer de mama. No Brasil, por exemplo, a “gostosa”, a “boa” da cerveja já virou lugar comum, em que pesem os protestos feministas.

Os gastos da indústria de bebidas com lobby. Fonte: OpenSecrets

A conclusão da repórter, óbvio, é que não tem como saber se foi realmente o álcool quem a levou a ter câncer no seio. Mas ela gostaria de ter sido informada dos riscos que corria, como acontece com os fumantes. “Pelo menos eles tiveram uma escolha, sabiam dos riscos que estavam correndo. Como muitas mulheres, eu não tive essa escolha, e uma indústria poderosa trabalhou para que as coisas continuassem assim.”

 

 

 

 

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*Fonte:

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